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sábado, 11 de janeiro de 2014

Teatro em Recife: o caso de A Ilha do Tesouro


O mais recente texto montado de Moisés Neto é uma adaptação do clássico da literatura A Ilha do Tesouro, de R.L.Stevenson. Ambientado na Inglaterra do século XVIII, o texto narra as aventuras do adolescente Jim, garoto pobre e órfão de pai que vê sua sorte mudar ao receber de um velho pirata o mapa de um tesouro escondido em uma ilha do Caribe.

A Ilha do Tesouro estreou a 9 de novembro de 2002, no Teatro Armazém, Recife.

FICHA TÉCNICA - Elenco: Gérson Lobo (Jim), Ivo Barreto (Long John), Bobby Mergulhão (Papagaio e Pirata 1), André Ricardo (Juiz), Eduardo Japiassu (Velho e Ben Gunn), Pascoal Filizola (Doutor), Anna Polistchuk, Ana Medeiros, Ilka Porto e Sandra Rino (Coro), Raimundo Branco, Antonio Rodrigues, Valter d'Souza e Bernardo Medeiros (Piratas). Direção : Carlos Bartolomeu; Trilha Sonora e Produção Musical: Ricardo Valença Monteiro; Preparação Vocal: Múcio Callou; Coreografia: Maria Paula Costa Rego; Figurinos: Marcondes Lima e Henrique Celibi; Cenário: Cláudio Cruz e Henrique Celibi; Programação Visual: Cecília Leite e Valdemir Cruz; Iluminação: Beto Trindade; Fotografia: Marcelo Lyra, Hans von Manteufel e Jorge Clésio; Produção Executiva: Simone Figueiredo; Realização: Ilusionistas Corporação Artística e Trupe do Barulho.

A Ilha do Tesouro já ganhou sete prêmios (um nacional e 6 municipais): O EnCena Brasil da FUNARTE, o Auxílio Montagem da Prefeitura do Recife, o projeto aprovado pelo Sistema de Incentivo à Cultura (SIC) e ainda Melhor Ator (Gerson Lobo), Melhor Ator coadjuvante (Pascoal Filizola), Melhor Trilha Sonora (Ricardo Valença Monteiro) e Melhor Figurino (Marcondes Lima e Henrique Celibi), prêmios concedidos pela Associação de produtores em Artes Cênicas de Pernambuco(APACEPE). Além disso, o espetáculo foi escolhido para integrar o projeto do Teatro Armazém sob o patrocínio de grandes empresas (TIM, CHESF, CELPE e outras) e foi convidado para participar com sete apresentações do Festival de Teatro Infantil promovido pelo Shopping Tacaruna (Recife).

 



O MAPA QUE VIROU HISTÓRIA

             Estamos em 1881. É verão na Escócia, mas chove muito e faz frio. Para passar o tempo, Robert Louis Stevenson, então com 31 anos, começa a contar mais uma história de piratas para seu enteado Lloyd, de 12 anos. Desta vez, a história começa a partir de um desenho que os dois fazem juntos. É o mapa de uma ilha, mostrando o local exato de um tesouro enterrado por piratas.
             A história fica na cabeça de Robert e vai ganhando cada vez mais detalhes. Vai para o papel e, ainda em 1881, começa a ser publicada em capítulos numa revista. Pouco tempo depois, sai em livro. Uma das ilustrações, claro, é o mapa da ilha, bem parecido com o que Robert e Lloyd inventaram.

De ouvinte a contador de histórias:

             Nascido em Edimburgo, na Escócia, em 13 de novembro de 1850, Robert Louis Stevenson tinha problemas de pulmão. Tanto que sua família contratou até uma enfermeira, chamada Alison Cummingham, só para cuidar do pequeno Robert. Sorte dele, pois além de ser ótima enfermeira, Alison era uma ótima contadora de histórias.
             De ouvinte para leitor entusiasmado foi só um pulo. Robert passou a devorar (com os olhos, claro) todo tipo de livros. O resto, você já pode imaginar. De leitor para inventor de histórias, foi apenas outro pulo. Começou escrevendo relatos de viagens que fez, de trem, de canoa, no lombo de burros... Numa dessas viagens, em 1876, conheceu sua futura esposa, a americana Fanny Osbourne, que estava se divorciando do marido. Para ficarem juntos, Robert precisou enfrentar a oposição de sua família, muito religiosa e conservadora, que não gostou nada daquela situação.
             Mas, enfim, ele se casou e virou padrasto dos dois filhos que Fanny tinha com o primeiro marido. O mais velho era Lloyd, a quem Stevenson dedica A Ilha do Tesouro. Afinal, foi a partir do mapa que os dois desenharam juntos que surgiu a idéia desta aventura emocionante...

Vida de aventuras

             Apesar de sua saúde fraca, Stevenson adorava viajar. Depois das jornadas pelo continente europeu que resultaram em seus primeiros livros, lançou-se a viagens mais difíceis. Uma delas foi cruzar o Oceano Atlântico a bordo de um navio e depois atravessar os Estados Unidos de trem, para encontrar sua futura mulher, Fanny,  na Califórnia. Na época – a viagem foi em 1879 -, isso era uma verdadeira aventura. Especialmente para uma pessoa doente como Stevenson, que quase não resistiu às dificuldades do trajeto.
             Mas seu espírito desbravador não se amedrontou. Tanto que, em 1889, após várias outras viagens pela Europa, pelos EUA e pelas ilhas do Oceano Pacífico, Stevenson decidiu ir morar numa delas. Mais exatamente, na de Upolu, em Samoe (Oceania). Ficou amigo dos habitantes locais, que pertenciam a tribos com cultura muito diferente da sua. Eles chamavam Stevenson de “Tusitala”, palavra da língua nativa de Upolu que quer dizer “contador de histórias”.
             Upolu foi o último porto do escritor aventureiro. Lá ele ficou até morrer, em 1894, aos 44 anos.

Obra preciosa

             Stevenson deixou uma obra importantíssima. Seus dois livros mais famosos, A Ilha do Tesouro e A estranha história do dr. Jekyll e do sr. Hyde (mais conhecido como O médico e o monstro), foram lidos por milhões de pessoas de várias gerações, em todo o planeta.
             Um dos livros mais famosos do mundo, A Ilha do Tesouro influenciou grande parte das histórias de aventura posteriores. É difícil imaginar piratas sem lembrar imediatamente de Long John Silver, com sua perna de pau e um papagaio no ombro.
             O livro saiu do papel para as telas de cinema em 1908 e, depois disso, ganhou cerca de 50 versões em filmes para cinema e para a televisão, nos mais diversos países.

Bandidos do mar

             Os piratas existem desde que o homem começou transportar riquezas em navios. Ou seja, há mais de 2 mil anos. Mas a pirataria cresceu, mesmo, depois que os espanhóis e portugueses chegaram à América e começaram a levar ouro, prata e brilhantes para seus reinos, no século XVI. A partir de então, os reis da França, Grã-Bretanha e Holanda, que viviam em pé-de-guerra com portugueses e espanhóis, passaram a contratar navegadores para saquear os navios de seus inimigos.
             Esses navegadores ganhavam uma permissão para cometer estes roubos, a carta de corso, e eram chamados de corsários. Eles ficavam com uma parte do tesouro e davam a outra ao rei que os contratou.
             Com o tempo, as nações fizeram acordo de paz e pararam de contratar esses corsários. Mas no século XVIII, quando se passa a história deste livro, muitos marujos já haviam aprendido como praticar a pirataria e continuaram assaltando, por conta própria, os navios em busca de tesouros. Roubavam navios mercantes e os transformavam em naves de guerra. E atacavam até mesmo os reinos para quem tinham servido antes. Suas crueldades ficaram famosas no Caribe, onde saqueavam os navios espanhóis, e até no litoral do Brasil, onde vinham atrás dos navios portugueses.

 

Depoimentos

MOISÉS NETO (Autor):

             “Adaptei o livro de Stevenson para o teatro transformando em versos o texto dele.
             Versos rimados.
             Concentrei vários personagens em um, às vezes, como foi o caso dos piratas.
             Como era uma peça dirigida ao público infanto-juvenil, eu criei um personagem chamado PAPAGAIO, que funciona como contraponto cômico.
             No livro o pássaro pertence ao malvado Long John, na peça são cúmplices.
             O herói da peça é Jim: menino pobre que vê chegar a chance de ficar rico nesta aventura.
             O juiz representa a monarquia, as oligarquias, e o doutor é a classe média, bajuladora dos poderosos. Eles também querem o tesouro.
             O “vilão” é Long John, que quer conseguir o tesouro. Este pirata é cruel, sanguinário e está disposto a tudo para atingir seus objetivos.
             Eu procurei exibir o jogo dos poderosos sobre os pobres e usei isso como motivo que levou Long John à pirataria.
             Outro personagem-arquétipo é Ben Gunn, um pirata que foi abandonado e viveu na Ilha do Tesouro durante anos sem ver ninguém. Tinha a riqueza e não podia gastar. Eu quis enfatizar que o maior tesouro possível de conseguir é o saber, a paz interior.
             Meu texto também favorece o trabalho de equipe do elenco, eu não queria que ninguém saísse de cena e criei as falas do coro. Então temos vozes em uníssono em várias cenas.
             Fiquei muito satisfeito com o trabalho de Carlos Bartolomeu que dirige pela segunda vez um texto meu,  e conhece muitos outros (todos quase) meus.
             Bartolomeu fez um estudo, uma leitura, que me agradou mais uma vez.
             Maria Paula Costa Rego, com quem eu já trabalhei, criou coreografias que me lembram tanto os velhos musicais como os ritmos espanhóis.
             Gerson Lobo criou um Jim bem próximo do que eu imaginei. Do mesmo modo como Ivo Barreto faz um Long John inesquecível.
             Bobby Mergulhão fez do Papagaio um personagem bem marcante.
             Todos os 15 atores criaram para meus versos tipos que eu espero, marquem a cena recifense”.

RICARDO VALENÇA MONTEIRO (Músicas, Letras e Produção Musical):

             "A trilha sonora é deliberadamente retro, uma homenagem à música pop e aos musicais dos anos sessenta e setenta, de West Side Story aos Embalos de Sábado à Noite - passando, claro, por Hair. Não houve qualquer preocupação em ser fashion, ser da 'cena'."
            
GERSON LOBO (Jim):

             “A Ilha do Tesouro é mais uma grande fase de mudanças. Mudanças de Ouro!!
             Tenho tido experiências com artistas maravilhosos e a “Ilha” vem coroar esta nova fase que passo, fase de amadurecimento envolvido num clima de perfeita harmonia. No fundo, todos se admiram e se gostam.
             Trabalhar com profissionais competentes e comprometidos com a arte, com o lúdico, com o onírico... lindo!
             Um trabalho para todos, para a libertação do Espírito Criador, para o silencioso inconsciente, para os diversos hipotálamos. Vira a Ilha do prazer; do prazer de trabalhar naquilo que se gosta de fazer. Luz para a Ilha do Tesouro. E assim é que tem que ser.
             A generosidade e o desejo de se chegar num objetivo traçado marca a linha de um espírito enérgico e aventureiro revelado pelo otimista Jim.
             Stevenson pontua muito bem as polaridades dos seres humanos em seus definidos personagens pelo qual a adaptação de Moisés Neto delineia com competência para a tradução teatral.
             Uma arrojada produção acompanhada de excelentes profissionais que lançam uma mensagem de fé, alegria e entendimento do espírito humano.

BOBBY MERGULHÃO (Papagaio e Pirata 1):

             “Criar o papagaio e o pirata para a Ilha do Tesouro, tem sido um jogo maravilhoso, com descobertas constantes, das crianças que habitam o núcleo macio da nossa alma.
             Essa brincadeira de ser bom e ser mal, “chapliniando” tudo que há de bom e lúdico; “ser” este inconsciente coletivo movido à luz. O contato com as personagens e as pessoas (colegas, atores e família) desta ilha, traz o sentido mais nobre da minha profissão, que é o aprendizado constante.
             Estou muito feliz por fazer parte desta história e de poder divulgá-la pelos sete mares das artes. Este navio é para sempre, um lar de amor cercado de águas por todos os lados.”

EDUARDO JAPIASSÚ (O Velho e Ben Gunn):

             “Cada realização do fazer teatral é um mapa do tesouro desvendado, uma ilha descoberta, uma arca de madeira velha e muito ouro. Estamos em Recife, somos artistas e temos nossos sonhos como capibaribes e beberibes entrecortando nossa vida real.
             Numa dessas ilhas, um autor, um músico, uma coreógrafa, um diretor, uma equipe de produção do barulho e atores reluzentes como ouro... A Ilha  do Tesouro.
             Agora todas as minhas expectativas nos olhares infantis que estarão na nossa frente, e cada expressãozinha, cada sustinho, cada gargalhadazinha, cada pequeno aplauso somados, justificarão os nossos esforços, o nosso cansaço, a nossa fé no mundo cênico.
             Que se abram as cortinas... o mistério está lançado!”

ILKA PORTO (Coro):

             “Embarcar nessa montagem para mim tem um significado muito especial: a de navegar por mares antes nunca navegados. É a minha primeira experiência profissional no Teatro e estou tendo a sorte de estar acompanhada por passageiros maravilhosos nessa viagem.
             O elenco, a direção, a produção, enfim, todas as pessoas que habitam essa Ilha fazem dessa experiência um tesouro valioso que quero muito dividir com o público”.

 

 

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