A importância do Lúdico
na Construção da Identidade
Cena do espetáculo
Equipe técnica do espetáculo
Ao realizar
a montagem do espetáculo infanto-juvenil Bruno
e o Circo, o dramaturgo pernambucano
Moisés Neto tem como finalidade levar o público jovem à
reflexão sobre o relacionamento
Pai/Filho e Arte/Educação e colocar em questão a importância do lúdico na
formação da criança. (o pai pensa somente numa educação formal, o filho numa
onde o lúdico, através da arte circense, seja incluído. Ele fala sobre
seu novo texto e de como ele visualizou a sua montagem:
“O Teatro
agrupa as pessoas, ajuda na leitura , na fantasia e na imaginação.Com ele ,
aprende-se a respeitar o outro e as diferenças. Uma relação dialética que vem
se desenvolvendo através dos milênios, dos gregos aos índios, e por que não
dizer: ele está presente em quase todas as culturas conhecidas.
Quando penso
na montagem de Bruno e o Circo, penso
em levar o público jovem à reflexão
sobre o relacionamento Pais e Filhos
em interface com a Arte/Educação e
colocar em questão a importância do lúdico na formação da criança. (o pai pensa
somente numa educação formal, o filho numa onde o lúdico, através da arte
circense, seja incluído. Proponho o divertimento a partir de uma história
simples : um garoto, como tantos outros, aventureiro, faz parte de uma família
que mora num complexo espacial. O pai é um empresário, num futuro não
determinado.Ele tem dois filhos: Bruno, um garoto de oito anos com uma
imaginação atiçada pelo mundo do circo (que ele descobriu num antigo notebook) ,
e Bela , uma jovem adolescente que não quer saber de “coisas de crianças “,
pois está prestes a entrar no mundo dos adultos.Resta ao pequeno Bruno
mergulhar em uma nova aventura , mas seu pai o quer envolvido num mundo mais
prático e tecnicista.
A peça tem
como pontos-chaves números (apresentações no contexto da peça) musicais e
circenses em diálogo com a tecnologia. Ao resgate de antigos números e a mãe foi banida por suas idéias ousadas.
Medusa é o nome dela, mantém um circo beneficente com os artistas da Terra,
planeta onde está exilada. Há uma homenagem minha aos circenses e às encenações
nos circos
populares e aos grandes circos internacionais que fizeram a alegria da
minha infância. Mesclam-se aqui, também, as inovações do circo contemporâneo
(vide Cirque du Soleil) que tanto me
fascinam.
Como nas fábulas coloquei os animais com
personalidades humanas (como acontece em boa parte dos desenhos animados que as
crianças adoram): é neste sentido que aparecem os animais no circo do futuro:
como integrantes de um universo fabuloso.
Na verdade são seres mutantes, nativos do planeta Terra, que ainda não
tiveram autorização do Império para atingir níveis superiores. Medusa liderou
uma revolução por direitos iguais para todos no universo, por isso foi expulsa
da Ordem.
Coloquei também a inquietante discussão em torno dos
direitos dos androides, estes seres que
poderão ou não ser aperfeiçoados pelos homens no futuro, a ponto de se
assemelharem a eles em quase tudo (inclusive a paixão: a peça também trata
deste tema: a discussão dos homens com suas maquinas pensantes). Bruno possui
um androide, chamado Curumim, que lhe serve de companhia. Curumim se apaixona
por Bela e se inquieta quando acusado de ser apenas uma máquina.
Quando pensei na música imaginei uma comunicação entre o passado e a projeção de um futuro, num tempo presente dinâmico e
criativo. Quis algo que melodicamente sinalizasse várias
épocas, sendo os violões a representação lúdica do mundo no passado e os
instrumentos eletrônicos o mundo digital o futuro.
A mecânica básica do espetáculo é o movimento com uma mescla de
linguagens que vai das gírias urbanas a
reinvenção da fala pelas crianças, além de elementos cênicos de circo, teatro,
cinema, dança, desenho animado e música. Afinal, como diria Roland Barthes: o
que é literatura senão linguagem? Tratamos desta com respeito à expressão do
jovem, da criança. Houve uma pesquisa muito intensa do nosso grupo neste
sentido.
Qual o
futuro da arte circense? Como o lúdico e a arte podem ajudar na construção de
um futuro mais justo, melhor? Que espécie de família estamos projetando para o
futuro?
Como todo
texto de teatro deve ser: este é para ser representado e não simplesmente lido.
Há nas entrelinhas uma orientação cênica que o une à direção de forma
inextrincável. Ele quer transformar um público. Tentei trabalhar com o caráter
histórico e com as falhas humanas (a alienação em relação a certos problemas
essenciais do ser). Tentei expressar o
mundo a partir do universo da criança, entrelaçando o ético e o pedagógico, na
expressão do querer-ser dos homens e do ser das coisas. É texto ao mesmo tempo
contestador e reconciliador, quer menos exprimir o real do que significá-lo.
Pergunta ao espectador: o que se deve fazer numa situação como esta em que se
encontra a família de Bruno?
A minha
paixão pela música eu compartilho-a com Paulo Smith mais uma vez. Da Figueiredo
vem um lado estético que me acalanta. Do mestre Bartô eu ganho a representação
do inconsciente num espetáculo comprometido com o teatro-dança, neste caso incorporando várias
possibilidades, e fixando no concerto com o diverso, um posicionamento onde a
soma dos contrários é inaugural, e definindo tal realização como exercício e
processo. Legal, não?
Bruno e o Circo é um musical que tem em cada número
uma divertida aventura para todas as idades, discutindo a problemática dos
relacionamentos familiares neste novo milênio que se anuncia cibernético mesmo
que ainda estejamos envolvidos por tantas raízes dos séculos passados e
envoltos ainda num universo não totalmente explicado. Um longo poema para
crianças de todas as idades.”
Moisés
Neto
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