Pesquisar este blog

terça-feira, 7 de janeiro de 2014


A importância do Lúdico na Construção da Identidade

Cena do espetáculo

Equipe técnica do espetáculo


Ao realizar a montagem do espetáculo infanto-juvenil Bruno e o Circo, o dramaturgo pernambucano Moisés Neto tem como finalidade levar o público jovem à reflexão  sobre o relacionamento Pai/Filho e Arte/Educação e colocar em questão a importância do lúdico na formação da criança. (o pai pensa somente numa educação formal, o filho numa onde o lúdico, através da arte circense, seja incluído. Ele fala sobre seu novo texto e de como ele visualizou a sua montagem:

“O Teatro agrupa as pessoas, ajuda na leitura , na fantasia e na imaginação.Com ele , aprende-se a respeitar o outro e as diferenças. Uma relação dialética que vem se desenvolvendo através dos milênios, dos gregos aos índios, e por que não dizer: ele está presente em quase todas as culturas conhecidas.
Quando penso na montagem de Bruno e o Circo, penso em levar o público jovem à reflexão  sobre o relacionamento Pais e  Filhos em interface com a  Arte/Educação e colocar em questão a importância do lúdico na formação da criança. (o pai pensa somente numa educação formal, o filho numa onde o lúdico, através da arte circense, seja incluído. Proponho o divertimento a partir de uma história simples : um garoto, como tantos outros, aventureiro, faz parte de uma família que mora num complexo espacial. O pai é um empresário, num futuro não determinado.Ele tem dois filhos: Bruno, um garoto de oito anos com uma imaginação atiçada pelo mundo do circo (que ele descobriu num antigo notebook) , e Bela , uma jovem adolescente que não quer saber de “coisas de crianças “, pois está prestes a entrar no mundo dos adultos.Resta ao pequeno Bruno mergulhar em uma nova aventura , mas seu pai o quer envolvido num mundo mais prático e tecnicista.
A peça tem como pontos-chaves números (apresentações no contexto da peça) musicais e circenses em diálogo com a tecnologia. Ao resgate de antigos números  e a mãe foi banida por suas idéias ousadas. Medusa é o nome dela, mantém um circo beneficente com os artistas da Terra, planeta onde está exilada. Há uma homenagem minha aos circenses e às encenações nos circos populares e aos grandes circos internacionais que fizeram a alegria da minha infância. Mesclam-se aqui, também, as inovações do circo contemporâneo (vide Cirque du Soleil) que tanto me fascinam.
Como nas fábulas coloquei os animais com personalidades humanas (como acontece em boa parte dos desenhos animados que as crianças adoram): é neste sentido que aparecem os animais no circo do futuro: como integrantes de um universo fabuloso.  Na verdade são seres mutantes, nativos do planeta Terra, que ainda não tiveram autorização do Império para atingir níveis superiores. Medusa liderou uma revolução por  direitos iguais  para todos no universo, por isso foi expulsa da Ordem.
Coloquei  também a inquietante discussão em torno dos direitos dos androides, estes seres  que poderão ou não ser aperfeiçoados pelos homens no futuro, a ponto de se assemelharem a eles em quase tudo (inclusive a paixão: a peça também trata deste tema: a discussão dos homens com suas maquinas pensantes). Bruno possui um androide, chamado Curumim, que lhe serve de companhia. Curumim se apaixona por Bela e se inquieta quando acusado de ser apenas uma máquina.
Quando pensei na música imaginei uma  comunicação entre o passado e a projeção de um futuro, num tempo presente dinâmico e criativo. Quis  algo que melodicamente sinalizasse várias épocas, sendo os violões a representação lúdica do mundo no passado e os instrumentos eletrônicos o mundo digital o futuro.
A mecânica básica do espetáculo é o movimento com uma mescla de linguagens que vai das  gírias urbanas a reinvenção da fala pelas crianças, além de elementos cênicos de circo, teatro, cinema, dança, desenho animado e música. Afinal, como diria Roland Barthes: o que é literatura senão linguagem? Tratamos desta com respeito à expressão do jovem, da criança. Houve uma pesquisa muito intensa do nosso grupo neste sentido.
Qual o futuro da arte circense? Como o lúdico e a arte podem ajudar na construção de um futuro mais justo, melhor? Que espécie de família estamos projetando para o futuro?
Como todo texto de teatro deve ser: este é para ser representado e não simplesmente lido. Há nas entrelinhas uma orientação cênica que o une à direção de forma inextrincável. Ele quer transformar um público. Tentei trabalhar com o caráter histórico e com as falhas humanas (a alienação em relação a certos problemas essenciais do ser). Tentei expressar  o mundo a partir do universo da criança, entrelaçando o ético e o pedagógico, na expressão do querer-ser dos homens e do ser das coisas. É texto ao mesmo tempo contestador e reconciliador, quer menos exprimir o real do que significá-lo. Pergunta ao espectador: o que se deve fazer numa situação como esta em que se encontra a família de Bruno?
A minha paixão pela música eu compartilho-a com Paulo Smith mais uma vez. Da Figueiredo vem um lado estético que me acalanta. Do mestre Bartô eu ganho a representação do inconsciente num espetáculo comprometido  com o teatro-dança, neste caso incorporando várias possibilidades, e fixando no concerto com o diverso, um posicionamento onde a soma dos contrários é inaugural, e definindo tal realização como exercício e processo. Legal, não?
Bruno e o Circo é um musical que tem em cada número uma divertida aventura para todas as idades, discutindo a problemática dos relacionamentos familiares neste novo milênio que se anuncia cibernético mesmo que ainda estejamos envolvidos por tantas raízes dos séculos passados e envoltos ainda num universo não totalmente explicado. Um longo poema para crianças de todas as idades.”

                                               Moisés Neto




Nenhum comentário:

Postar um comentário