Bel é uma típica garota burguesa, com vida estruturada e objetivos aparentemente claros. Márcio é do subúrbio, mais um fruto de um lar desfeito ( seu pai abandonou a mãe quando ele era pequeno ) e teve de trabalhar desde cedo para sustentar a família. Bel é uma profissional bem sucedida. Márcio tinha tudo para ser delinqüente, mas estudou, trabalhou e conseguiu um emprego razoável. Com a chegada da maturidade, Márcio sente a falta de um amor verdadeiro, mas os fantasmas de seu passado o perseguem : durante a adolescência, ele se prostituiu.
Bel e Márcio estão perdidamente apaixonados um pelo outro, porém uma barreira quase intransponível ergue-se entre eles quando Márcio conta à ela que está soropositivo. "Para 1 Amor No Recife" é a história de duas pessoas que se amam, mas que a insistência de uma delas em seguir as regras do sistema a impede de assumir a paixão pela outra que tem um modo de vida totalmente diferente. "Para 1 Amor No Recife" estreou em Agosto de 1999 e ficou em cartaz até Janeiro de 2000, no Teatro Apolo, em Recife. Elenco : Gustavo Falcão (Márcio), Elaine Kaufmann (Bel) e Márcio Carneiro (vários papéis). Direção : Carlos Bartolomeu; Figurinos : Andrea Monteiro e Marcelo Taulbert ; Cenário : Cláudio Cruz; Assistência de Direção : Vavá Paulino ; Assistência de Produção : Luciene Vilhena ; Cenotécnica : Cristovam Sovagem ; Cabelo : Fernando Costa ; Design e Trilha Sonora : Helder Aragão (DJ Dolores) ; Iluminação : Alexandre Veloso e Beto Trindade ; Administração de Produção : Rec Produtores Associados ; Produção Executiva : Simone Figueiredo e Ivonete Melo; Produção : Ilusionistas Corporação Artística. A montagem ganhou 4 prêmios da Associação de Produtores de Espetáculos de Pernambuco : Melhor Diretor, Melhor Ator (Gustavo Falcão), Melhor Trilha Sonora e Melhor Iluminação. Foi o espetáculo mais premiado do ano de 1999 em Recife. |
Os atores Gustavo Falcão, Márcio Carneiro e Elaine Kaufmann. |
A produtora Simone Figueiredo e os atores na estréia da peça, Teatro Apolo, Agosto de 1999. |
"Existem textos teatrais que nos permitem supor um tempo além de sua época. Digo isso na crença de que "Para Um Amor no Recife", é daqueles documentos que revelarão ao futuro a narrativa de uma sociedade e suas feridas . Duro e apaixonado, assim posso descrevê- lo. Como trabalho de direção escolhi as referências que o texto faz tragicomicamente aos ideais dos anos 70,80 e 90. É como uma farsa onde o sedutor e a "vítima" são surpreendidos na hora da mudança de máscaras. Fantasmagorias do passado irrompem, estabelecendo- se em paralelo com o presente numa mistura de temporalidade , intencionalidade e gestualidade em nome de uma afetividade que se quer concretizar. O jogo proposto pelo texto requer brinquedos, totens, elfos inanimados expulsos da vida adulta, exilados na interioridade . Entretanto o todo excessivo é ambíguo , oscilante entre o amor e a agressividade, o discurso dos amores do passado e a intenção de permanecer perante os amores atuais . Não esquecendo que a "impermanência " aparecerá mais cedo ou mais tarde. Márcio questiona a confiança de Bel em sua própria capacidade amorosa. E tudo é desejo e contenções, enfermidade, vida, sonho e acordar. Neste universo, a proposta da direção reverencia as testemunhas expressas no texto, reconhecendo neles o possível e o verdadeiro; porém desconfia da realidade na qual estão envoltos...histórias apaixonadas são por natureza, gêmeas de outras. Estados íntimos dos amorosos , suas ternuras e tormentos silenciosos obedecem a uma singular coincidência , se parecem em suas individualidades" .
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Carlos Bartolomeu
Diretor de "Para 1 Amor No Recife" |
"Pode ser considerada um dos espetáculos mais atuais da cena pernambucana nos últimos tempos. Exalta a palavra, o diálogo conflituoso de Bel e Márcio. Toda a ação se passa num calçadão da praia de Boa Viagem , na véspera do dia de Natal. Apesar de viverem se digladiando pela impossibilidade de concretizar o seu amor (ele é soropositivo e ela quer ter filhos com o homem com quem se casar ), Bel e Márcio desfrutam de uma cumplicidade especial que lhes permite dividir o mesmo "grilo falante", um terceiro personagem que surge como se fosse a consciência dos dois, um contraponto ora respondendo por um dos personagens, ora questionando. E questionamentos não faltam no texto de Moisés. A ousadia não está somente em discutir o drama da Aids : mas nos desdobramentos secundários da vida de Márcio: marginalidade, álcool, prostituição".
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Janaína Lima
Caderno C (Jornal do Commercio) |
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