A
figura do rebelde
De 1946 a 1947, Aimé Césaire preparava um poema dramático em torno da
figura do líder revolucionário meio-Prometeu, meio-Jesus, que se sacrificasse
pela humanidade futura. Passou a estudar a vida e a obra de
Toussaint-Louverture, chefe revolucionário dos Negros de São Domingo, em 1973. Tentou
compreender porque esse homem, de natureza tão desconfiada, se entregou, de
certo modo, aos franceses e à morte.
Finalmente o herói de sua primeira peça A Tragédia do Rei Cristóvão (1963 e 1970) não será mais
Toussaint-Louverture, por julgá-lo, talvez, muito assimilado, mas Henri
Cristophe (rei do Haiti), personagem histórica mais truculenta, mais plebéia,
porém, mais criativa.
Esse mesmo tema inspirou Césaire na
concepção de Uma estada no Congo (1967),
onde analisou as causas da queda do líder congolês Patrick Lumumba.
Shakespeare e Brecht foram os
dramaturgos que mais influenciaram Aimé Césaire. Sua última peça Uma Tempestade (1969) é uma variação
“negra” dos personagens shakespearianos Caliban e Prospero.
Muitos intelectuais e artistas prestaram homenagem a Césaire enquanto
vivo.
“É a cuba humana levada a seu mais alto grau
de fervor” (André Breton, 1943).
“O único grande poeta de língua francesa que
apareceu nesses últimos vinte anos (...) o primeiro grande poeta que rompeu todas
as amarras e se foi sem se preocupar com nenhuma estrela polar, com nenhum
cruzeiro do sul intelectual, guiado unicamente pelo seu desejo cego” (Benjamin
Péret, 1943).
“Em Césaire a grande tradição do surrealismo
se finaliza, toma seu sentido definitivo e se destrói: o surrealismo, movimento
poético europeu, foi furtado por um Negro que o usou contra os próprios europeus”
(Jean-Paul Sartre).
“A poesia de Césaire é uma poesia rebelde,
uma poesia anterior à lenda que vem da árvore e do leão, uma poesia com grande juba
negra cheia de fogo, o tronco de uma palmeira real” (René Depestre, 1980).
“A um mundo totalmente racista, automutilado
por suas cirurgias coloniais, Aimé Césaire restituiu a África Negra, a África
madura, a civilização negra.” (Jean Barnabé, Patrick Chamoiseau, Raphaël, Confiant, Éloge de la Créolité, 1989).
"Nós temos um Shakespeare e ele é Negro” (Antoine Vitez).
“Através da diversidade das inflexões,
encontramos em Césaire de hoje, como também no de início, o que Breton havia
reconhecido de imediato: essa qualidade superior do tom...” (Michel Leiris:
Qui est A. Césaire).
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