Moisés (de Melo) Neto, Bárbara Heliodora, Rodrigo Dourado e Fernando Oliveira (TAP)
Bárbara foi implacável: “Não uso estruturalismo, nem semiótica, nem metalinguagem: apenas crítica de teatro. Aos 81 anos, há 15 escrevendo para o Globo, adoro a cena. Assisto a cerca de cem espetáculos por ano, a maior parte de má qualidade, por amor assisto, mas é assustador", fulmina.
E entrega: "Todos são críticos. Os profissionais têm que oferecer respaldo em poucas linhas e no calor da hora. O crítico tem que ser bem informado, não é questão de um curso de poucos meses. Há que freqüentar muito os teatros (o bom e o mau). Curtir os grandes espetáculos. O espectador só concorda com o crítico quando este concorda com ele. Não é só o gosto ou não gosto, nem perseguir ninguém.Ela acha que "tanto faz ver uma peça na estréia ou no último dia, ela tem que estar pronta, se a bilheteria estiver funcionando, de outro modo é desrespeito ao público. O crítico identifica qualidades, é um expectador melhor preparado, exigente. Platéias melhores também ajudam. As regras do jogo para apreciar melhor um trabalho, como no futebol. Um grupo estreante não deveria montar HAMLET ou ÉDIPO, como músicos improvisando a MISSA SOLENE, de BEETHOVEN ou a Paixão de São Mateus, de Bach."E sintetizou: "Ter jeito para teatro não é tudo: tem que dominar a arte e o instrumento. Quem tem que sentir é a platéia, ao citar compete ter imaginação e domínio de si o suficiente para transmitir. O teatro sempre esteve em crise, mas sempre se inovou, inventou e renovou”.
Sábato reclamou: “Os dramaturgos discutem pouco a questão do Brasil de hoje. Não vejo novela, ela não substitui o teatro. O besteirol se acabou, mas a comédia se refaz, mesmo com esta situação de política cultural que parece um túmulo. Devemos usar os recursos da boa dramaturgia. Críticos como MACKSEN LUIZ (RJ), são bem recebidos, assim como Mariângela Alves de Lima. Mas o espaço deles é reduzido na mídia”.
Bárbara reforçou: “Comédia de costumes refletem o Brasil de hoje longe dos acontecimentos mais graves. Há quantidade e não qualidade. Nunca tantos brasileiros foram encenados. Os temas das novelas são superficiais. O teatro tem que ser mais penetrante. A linha mestra da dramaturgia brasileira é a comédia".Ambos concordaram num ponto: “Ninguém substituiu Nélson Rodrigues.”
“Se a crítica não tem um vínculo com os criadores, ela fica no ar, não tem real concreção. Conheci Oswald de Andrade em Belo Horizonte, gosto dos textos dele, mas o Nelson Rodrigues é a unanimidade nacional. Jorge de Andrade e Plínio Marcos foram influenciados por ele. Augusto Boal termina fazendo propaganda reacionária quando diz que todo teatro é político. Acho que a verdadeira política, engajada, seja descobrir o que é o ser humano”, arrematou Magaldi.
Quanto aos anos de chumbo e a apatia que se seguiu, Bárbara depôs: “Não creio que só se escreva bem em crises. Arte é reflexo do mundo. Falta de dinheiro não é desculpa para um mau espetáculo. Confesso minha ignorância a respeito do teatro no Nordeste, mas Ariano Suassuna, é um dos maiores autores do Brasil. Gosto de Silveira Sampaio e Mauro Rasi e do ator Marco Nanini especialmente neste projeto chamado Circo de Rins e fígados”.Touché!
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