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sábado, 21 de dezembro de 2013

O recifense Moisés Neto faz um apanhado do teatro para a juventude através dos tempos

O teatro para a juventude
por Moisés Neto

Propomos a realização de uma peça para a juventude  que atraia adultos e crianças e sem necessariamente  ser didática, apenas entretenimento sadio para os cidadãos de amanhã.  Essa a polêmica: teatro para crianças versus texto-educação, é uma discussão que se desenrola  desde a China do século III AC, quando já havia teatro de bonecos para crianças e mulheres ricas. E se avançarmos mais no tempo, veremos que a Commedia dell´ Arte (século XV a XVII) com seu teatro profissional, também é raiz do teatro para criança.


equipe do espetáculo Bruno e o circo. Musical de  Moisés Neto e Paulo Smith, direção Carlos Bartolomeu, produção Simone Figueiredo e Ulisses Dornelas


Queremos trabalhar os medos, as ansiedades que geram reações violentas (e se unem a instintos violentos). Também não queremos um teatro cheio de exageros
 Dom Bosco (1815-1888), fundador da Ordem dos Salesianos, cuidou de fazer teatro (encenação, música, biblioteca dramática, cenários, figurino, etc.) educando com qualidade técnica através da cena. No século XX, Maria Montessori, respeitando a criança, criou móveis em tamanhos e observou as necessidades específicas da infância. 
A Ilha do Tesouro: musical de Moisés Neto e Ricardo Valença



Andersen, Grimm e Maeterlinck foram  escritores que dedicaram bastante atenção aos “pequenos”. E na antiga URSS surgiu em 1918 (um ano depois da Revolução) tinha supervisão de um comitê de educadores e artistas, formado por cidadãos socialistas tudo também em tamanho reduzido (à altura dos baixinhos): poltronas, banheiros, etc., estimulando deste modo, a autonomia das crianças. Além de jogos, havia peças de caráter fantástico e representações do folclore russo.



Sonho de Primavera
musical de Moisés Neto, Rosália Calsavara e paulo Smith
com o Palhaço Chocolate (Ulisses Dornelas)
Sete anos em cartaz no Teatro do Parque, Recife, Teatro com capacidade para quase mil pessoas

Nosso  teatro é indicado como instrumento artístico- pedagógico com uma dramaturgia especializada e profissionalização na produção. Queremos dar às crianças o conforto e sensação de experiência em comum. Formar platéia e reciclagem dos artistas são  objetos das nossas discussões .

NO BRASIL: a origem do teatro para a infância em terras brasileiras está ligada aos bonecos. No século XVIII, um homem só com armação nos ombros manipulava fantoches, rodava o chapéu depois. Às vezes os bonecos se exibiam nas janelas ou nas portas abertas pela metade. Nós trabalharemos com imagens virtuais em interlocução com atores ao vivo. 



Manuel Constantino e Moisés Neto em peça de Sylvia Orthof Gostkorzewicz

Durante um bom tempo, vimos as crianças sendo tratadas como adultos em miniaturas, mas condenadas à passividade e falta de iniciativa. Apresentamos um texto que não seja cheio de moralismos.
Não nos contentamos com maniqueísmos hipócritas, nem com soluções sobrenaturais como fadas, por exemplo.

Em 1950, no Rio de Janeiro, surge o 1º Concurso Nacional de dramaturgia infantil. Em 1951 o 1º Congresso Brasileiro de Teatro lança as bases psicológicas, técnicas e estéticas de forma repensada. Destacava-se o subconsciente das crianças. Júlio Gouveia, numa palestra, disse: “teatro para criança e adolescente, só pode ser pensado como educativo (...) o treino das emoções (...) sempre mediante ingresso adquirido” (LOMARD 1994:48). Dá vontade de rir destes detratores da bilheteria que dizem que o aspecto comercial deve ser ignorado e só se deve pensar na moral. Para eles uma peça infantil sem “ensinamentos” seria de má qualidade. Criança tem que ficar ligada, calada na platéia e bitolada.

Tentamos romper o tom explicativo de um narrador. Um bom texto, hoje, tem que valorizar aas diferenças e não as convenções, como no caso do pernambucano “Hipopocaré”, do psicanalista Antônio Guinho, montado em Recife nos anos 80/90. Eu mesmo tive três textos infanto-juvenis de minha autoria encenados no Recife: “Draculin”, “A Maior Bagunça de Todos os Tempos” (ambos com direção de Buarque de Aquino) e “A Ilha do Tesouro” (direção de Carlos Bartolomeu) e tendo como produtora Simone Figueiredo, nos três os heróis titubeiam entre o convencional e a contravenção. Alguns críticos ficam irados com tal atitude, mas fiquei firme e os três tiveram ótimos públicos, ficando em cartaz durante meses e meses.
Moisés Neto e Simone Figueiredo em  
A maior bagunça de todos os tempos, direção Buarque de Aquino
produção Ilusionistas Corporação Artística
Teatro José Carlos Borges, FUNDAJ, Recife


TEORIAS: Em arte-educação há duas fortes correntes que observamos com cautela:

1)Arte para atingir outros fins (não artísticos): Contextualismo.
2)Arte em função de si mesma: Essencialismo (como faz Viola Spolin).

Outra questão importante é a participação da platéia. Por exemplo: quanto tempo deve durar um espetáculo que não “inquiete” os baixinhos? Resposta: 50 minutos, de acordo com o professor Camarotti (UFPE).

Há também que se considerar que a classe média alta forma em grosso o público do teatro convencional, a não ser que haja um trabalho de responsabilidade social, que é imprescindível hoje em dia e foi feito na Ilha do Tesouro, por exemplo. Outro fator que devemos analisar brevemente é o tal “projeto escola”, desenvolvido no Recife há 20 anos por Paulo André: crianças são levadas às centenas, da escola para o teatro, sem a família. Isto arruína as temporadas de fim de semana das outras companhias, mas tem é claro, ou deve ter, algum aspecto positivo. Porém, perde-se o hábito de debater com os pais.

Questões que poderiam aparecer em peças infantis hoje: o tema do meio ambiente, relacionamento de família, mídia.  O lúdico é outra questão a ser resolvida, já que criança exige o jogo, constantemente.

Mas teatro para criança tem que ser sempre divertido? A maioria dos intelectuais diz que sim. E emocionante, ágil. Temos que contar com as crianças mais “antenadas” que querem mais do que histórias com bichinhos e ternurinhas.  Ora, a criança é um ser de linguagem, leis próprias e específicas que devem ser trabalhados com cuidado tanto a forma quanto o conteúdo, um “duplo inseparável e inerente à historicidade do fenômeno artístico”, como afirma Sonia Khéde.

Trabalhamos com a  recepção do público, o marketing, a percepção da criança na sociedade brasileira/ recifense, são outras questões que abordaremos posteriormente.


Cena do musical DRACULIN
de Moisés neto (Recife). Teatro Apolo
(foto: Adeilson Amorin)
produção: ILUSIONISTAS CORPORAÇÃO ARTÍSTICA


Nosso Teatro para a juventude tem LINGUAGEM PRÓPRIA: A comunicação com a criança poderá ser feita através de associações, personagens com os quais ela se identifique. “Um personagem poderá se apresentar fragmentariamente porque representa a crise de identidade, a busca de um (novo) papel, o desconcerto diante de valores velhos e novos” (KHÉDE, 1986: p. 56), sem que seja mal construído, é claro.
Atores de "A Maior Bagunça de Todos Os Tempos" , a partir da esquerda : Lucinda Frota, Luciano Rodrigues, Valdeck Lemos e Carlos Mesquita.
(Foto : Adeilson Amorim)


O lúdico, o humor e o nonsense se entrelaçam num intercâmbio entre conotação e denotação, buscando driblar o autoritarismo, tão presente na cultura brasileira como a malandragem (e na relação adulto-criança a questão do autoritarismo é de fundamental importância). Por isso um personagem que quer mandar na brincadeira deve, por exemplo, ser mostrado como um chato.

É bom lembrar a criança que ela pode pelo menos tentar mudar as situações que lhe são impostas no mundo. Ela pode interferir. Devemos fazer o espectador, criança ou não, avaliar sua identidade no confronto com outras vozes e começar o intercâmbio com o universo da arte. Quanto aos pais e professores, é bom que não mergulhem muito na nostalgia ou na idealização da infância. Como já dissemos, os espetáculos devem se distanciar do pedagogismo e do moralismo. Deseroicizar os personagens é uma saída.

VIOLÊNCIA: E falar do amor e da violência? Primeiro colocando os verbos no presente, sempre que possível. Mostrar que a solidariedade é fundamental para o ser humano. A cooperação, a justiça social (sem clichês!). “Não se pode fazer boa literatura com maus sentimentos”, dizia Sartre. Isso não significa entronizar os detentores do poder que exploram os trabalhadores ou os pais que tratam os filhos com grosserias ou vice-versa.


VERSÃO 2
O teatro para a juventude
Por Moisés Neto

Propomos a realização de uma peça para a juventude  que atraia adultos e crianças e sem necessariamente  ser didática, apenas entretenimento sadio para os cidadãos de amanhã.  Essa a polêmica: teatro para crianças versus texto-educação, é uma discussão que se desenrola  desde a China do século III AC, quando já havia teatro de bonecos para crianças e mulheres ricas. E se avançarmos mais no tempo, veremos que a Commedia dell´ Arte (século XV a XVII) com seu teatro profissional, também é raiz do teatro para criança. Seria bom trabalhar os medos, as ansiedades que geram reações violentas (e se unem a instintos violentos). Também não queremos um teatro cheio de exageros. Dom Bosco (1815-1888), fundador da Ordem dos Salesianos, cuidou de fazer teatro (encenação, música, biblioteca dramática, cenários, figurino, etc.) educando com qualidade técnica através da cena. No século XX, Maria Montessori, respeitando a criança, criou móveis em tamanhos e observou as necessidades específicas da infância. Andersen, Grimm e Maeterlinck foram escritores que dedicaram bastante atenção aos “pequenos”. E na antiga URSS surgiu em 1918 (um ano depois da Revolução) tinha supervisão de um comitê de educadores e artistas, formado por cidadãos socialistas tudo também em tamanho reduzido (à altura dos baixinhos): poltronas, banheiros, etc., estimulando deste modo, a autonomia das crianças. Além de jogos, havia peças de caráter fantástico e representações do folclore russo. O teatro é indicado como instrumento artístico-pedagógico com uma dramaturgia especializada e profissionalização na produção. Queremos dar às crianças o conforto e sensação de experiência em comum. Formar plateia e reciclagem dos artistas são  objetos das nossas discussões .

A origem do teatro para a infância em terras brasileiras está ligada aos bonecos. No século XVIII, um homem só com armação nos ombros manipulava fantoches, rodava o chapéu depois. Às vezes os bonecos se exibiam nas janelas ou nas portas abertas pela metade. Nós trabalharemos com imagens virtuais em interlocução com atores ao vivo. Durante um bom tempo, vimos as crianças sendo tratadas como adultos em miniaturas, mas condenadas à passividade e falta de iniciativa. Apresentamos um texto que não seja cheio de moralismos. Não nos contentamos com maniqueísmos hipócritas, nem com soluções sobrenaturais como fadas, por exemplo.Em 1950, no Rio de Janeiro, surge o 1º Concurso Nacional de dramaturgia infantil. Em 1951 o 1º Congresso Brasileiro de Teatro lança as bases psicológicas, técnicas e estéticas de forma repensada. Destacava-se o subconsciente das crianças, o treino das emoções. Dá vontade de rir destes detratores da bilheteria que dizem que o aspecto comercial deve ser ignorado e só se deve pensar na moral. Para eles uma peça infantil sem “ensinamentos” seria de má qualidade. Criança tem que ficar ligada, calada na platéia e bitolada.Tentemos romper o tom explicativo de um narrador. Um bom texto, hoje, tem que valorizar aas diferenças e não as convenções, Outra questão importante é a participação da plateia. Por exemplo: quanto tempo deve durar um espetáculo que não “inquiete” as crianças? Resposta: 50 minutos, já ensinava o professor Camarotti (UFPE). Mas teatro para criança tem que ser sempre divertido? A maioria dos intelectuais diz que sim. Emocionante, ágil. Temos que contar com as crianças mais “antenadas” que querem mais do que histórias com bichinhos e ternurinhas.  Ora, a criança é um ser de linguagem, leis próprias e específicas que devem ser trabalhados com cuidado tanto a forma quanto o conteúdo. É bom lembrar a criança que ela pode pelo menos tentar mudar as situações que lhe são impostas no mundo. Ela pode interferir. Devemos fazer o espectador, criança ou não, avaliar sua identidade no confronto com outras vozes e começar o intercâmbio com o universo da arte. Quanto aos pais e professores, é bom que não mergulhem muito na nostalgia ou na idealização da infância. Como já dissemos, os espetáculos devem se distanciar do pedagogismo e do moralismo. Deseroicizar os personagens é uma saída. E falar do amor e da violência? Primeiro colocando os verbos no presente, sempre que possível. Mostrar que a solidariedade é fundamental para o ser humano. A cooperação, a justiça social (sem clichês!). “Não se pode fazer boa literatura com maus sentimentos”, dizia Sartre. Isso não significa entronizar os detentores do poder que exploram os trabalhadores ou os pais que tratam os filhos com grosserias ou vice-versa.




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