O teatro
para a juventude
por Moisés Neto
Propomos a realização
de uma peça para a juventude que atraia
adultos e crianças e sem necessariamente
ser didática, apenas entretenimento sadio para os cidadãos de amanhã. Essa a polêmica: teatro para crianças versus
texto-educação, é uma discussão que se desenrola desde a China do século III AC, quando já havia
teatro de bonecos para crianças e mulheres ricas. E se avançarmos mais no
tempo, veremos que a Commedia dell´ Arte (século XV a XVII) com seu teatro
profissional, também é raiz do teatro para criança.
equipe do espetáculo Bruno e o circo. Musical de Moisés Neto e Paulo Smith, direção Carlos Bartolomeu, produção Simone Figueiredo e Ulisses Dornelas
Queremos trabalhar os medos, as ansiedades que geram reações violentas (e se
unem a instintos violentos). Também não queremos um teatro cheio de exageros
Dom Bosco (1815-1888), fundador da Ordem dos
Salesianos, cuidou de fazer teatro (encenação, música, biblioteca dramática,
cenários, figurino, etc.) educando com qualidade técnica através da cena. No
século XX, Maria Montessori, respeitando a criança, criou móveis em tamanhos e
observou as necessidades específicas da infância.
A Ilha do Tesouro: musical de Moisés Neto e Ricardo Valença
Andersen, Grimm e Maeterlinck
foram escritores que dedicaram bastante
atenção aos “pequenos”. E na antiga URSS surgiu em 1918 (um ano depois da
Revolução) tinha supervisão de um comitê de educadores e artistas, formado por
cidadãos socialistas tudo também em tamanho reduzido (à altura dos baixinhos):
poltronas, banheiros, etc., estimulando deste modo, a autonomia das crianças.
Além de jogos, havia peças de caráter fantástico e representações do folclore
russo.
Sonho de Primavera
musical de Moisés Neto, Rosália Calsavara e paulo Smith
com o Palhaço Chocolate (Ulisses Dornelas)
Sete anos em cartaz no Teatro do Parque, Recife, Teatro com capacidade para quase mil pessoas
Nosso teatro é indicado como instrumento artístico-
pedagógico com uma dramaturgia especializada e profissionalização na produção. Queremos
dar às crianças o conforto e sensação de experiência em comum. Formar platéia e
reciclagem dos artistas são objetos das
nossas discussões .
NO BRASIL: a origem do teatro para a infância em terras brasileiras está ligada
aos bonecos. No século XVIII, um homem só com armação nos ombros manipulava
fantoches, rodava o chapéu depois. Às vezes os bonecos se exibiam nas janelas
ou nas portas abertas pela metade. Nós trabalharemos com imagens virtuais em
interlocução com atores ao vivo.
Manuel Constantino e Moisés Neto em peça de Sylvia Orthof Gostkorzewicz
Durante um bom tempo, vimos as crianças sendo
tratadas como adultos em miniaturas, mas condenadas à passividade e falta de
iniciativa. Apresentamos um texto que não seja cheio de moralismos.
Não nos contentamos
com maniqueísmos hipócritas, nem com soluções sobrenaturais como fadas, por
exemplo.
Em 1950, no Rio de Janeiro, surge o 1º Concurso Nacional de dramaturgia
infantil. Em 1951 o 1º Congresso Brasileiro de Teatro lança as bases
psicológicas, técnicas e estéticas de forma repensada. Destacava-se o
subconsciente das crianças. Júlio Gouveia, numa palestra, disse: “teatro para
criança e adolescente, só pode ser pensado como educativo (...) o treino das
emoções (...) sempre mediante ingresso adquirido” (LOMARD 1994:48). Dá vontade
de rir destes detratores da bilheteria que dizem que o aspecto comercial deve
ser ignorado e só se deve pensar na moral. Para eles uma peça infantil sem “ensinamentos”
seria de má qualidade. Criança tem que ficar ligada, calada na platéia e
bitolada.
Tentamos romper o tom explicativo de um narrador. Um bom texto, hoje, tem que
valorizar aas diferenças e não as convenções, como no caso do pernambucano
“Hipopocaré”, do psicanalista Antônio Guinho, montado em Recife nos anos 80/90.
Eu mesmo tive três textos infanto-juvenis de minha autoria encenados no Recife:
“Draculin”, “A Maior Bagunça de Todos os Tempos” (ambos com direção de Buarque
de Aquino) e “A Ilha do Tesouro” (direção de Carlos Bartolomeu) e tendo como
produtora Simone Figueiredo, nos três os heróis titubeiam entre o convencional
e a contravenção. Alguns críticos ficam irados com tal atitude, mas fiquei
firme e os três tiveram ótimos públicos, ficando em cartaz durante meses e
meses.
Moisés Neto e Simone Figueiredo em
A maior bagunça de todos os tempos, direção Buarque de Aquino
produção Ilusionistas Corporação Artística
Teatro José Carlos Borges, FUNDAJ, Recife
TEORIAS: Em arte-educação há duas fortes correntes que observamos com cautela:
1)Arte para atingir outros fins (não artísticos): Contextualismo.
2)Arte em função de si mesma: Essencialismo (como faz Viola Spolin).
Outra questão importante é a participação da platéia. Por exemplo: quanto tempo
deve durar um espetáculo que não “inquiete” os baixinhos? Resposta: 50 minutos,
de acordo com o professor Camarotti (UFPE).
Há também que se considerar que a classe média alta forma em grosso o público
do teatro convencional, a não ser que haja um trabalho de responsabilidade
social, que é imprescindível hoje em dia e foi feito na Ilha do Tesouro, por
exemplo. Outro fator que devemos analisar brevemente é o tal “projeto escola”,
desenvolvido no Recife há 20 anos por Paulo André: crianças são levadas às
centenas, da escola para o teatro, sem a família. Isto arruína as temporadas de
fim de semana das outras companhias, mas tem é claro, ou deve ter, algum
aspecto positivo. Porém, perde-se o hábito de debater com os pais.
Questões que poderiam aparecer em peças infantis hoje: o tema do meio ambiente,
relacionamento de família, mídia. O
lúdico é outra questão a ser resolvida, já que criança exige o jogo,
constantemente.
Mas teatro para criança tem que ser sempre divertido? A maioria dos
intelectuais diz que sim. E emocionante, ágil. Temos que contar com as crianças
mais “antenadas” que querem mais do que histórias com bichinhos e ternurinhas. Ora, a criança é um ser de linguagem, leis
próprias e específicas que devem ser trabalhados com cuidado tanto a forma
quanto o conteúdo, um “duplo inseparável e inerente à historicidade do fenômeno
artístico”, como afirma Sonia Khéde.
Trabalhamos com a recepção do público, o
marketing, a percepção da criança na sociedade brasileira/ recifense, são
outras questões que abordaremos posteriormente.
Cena do musical DRACULIN
de Moisés neto (Recife). Teatro Apolo
(foto: Adeilson Amorin)
produção: ILUSIONISTAS CORPORAÇÃO ARTÍSTICA
Nosso Teatro para a
juventude tem LINGUAGEM PRÓPRIA: A
comunicação com a criança poderá ser feita através de associações, personagens
com os quais ela se identifique. “Um personagem poderá se apresentar
fragmentariamente porque representa a crise de identidade, a busca de um (novo)
papel, o desconcerto diante de valores velhos e novos” (KHÉDE, 1986: p. 56),
sem que seja mal construído, é claro.
Atores de "A Maior Bagunça de Todos Os Tempos" , a partir da esquerda : Lucinda Frota, Luciano Rodrigues, Valdeck Lemos e Carlos Mesquita.
(Foto : Adeilson Amorim)
O lúdico, o humor e o nonsense se entrelaçam num intercâmbio entre conotação e
denotação, buscando driblar o autoritarismo, tão presente na cultura brasileira
como a malandragem (e na relação adulto-criança a questão do autoritarismo é de
fundamental importância). Por isso um personagem que quer mandar na brincadeira
deve, por exemplo, ser mostrado como um chato.
É bom lembrar a criança que ela pode pelo menos tentar mudar as situações que
lhe são impostas no mundo. Ela pode interferir. Devemos fazer o espectador,
criança ou não, avaliar sua identidade no confronto com outras vozes e começar
o intercâmbio com o universo da arte. Quanto aos pais e professores, é bom que
não mergulhem muito na nostalgia ou na idealização da infância. Como já
dissemos, os espetáculos devem se distanciar do pedagogismo e do moralismo. Deseroicizar
os personagens é uma saída.
VIOLÊNCIA: E falar do amor e da violência? Primeiro colocando os verbos no
presente, sempre que possível. Mostrar que a solidariedade é fundamental para o
ser humano. A cooperação, a justiça social (sem clichês!). “Não se pode fazer
boa literatura com maus sentimentos”, dizia Sartre. Isso não significa
entronizar os detentores do poder que exploram os trabalhadores ou os pais que
tratam os filhos com grosserias ou vice-versa.
VERSÃO 2
O teatro para a juventude
Por Moisés Neto
Propomos a realização de uma peça para a juventude que atraia adultos e crianças e sem
necessariamente ser didática, apenas
entretenimento sadio para os cidadãos de amanhã. Essa a polêmica: teatro para crianças versus
texto-educação, é uma discussão que se desenrola desde a China do século III AC, quando já havia
teatro de bonecos para crianças e mulheres ricas. E se avançarmos mais no
tempo, veremos que a Commedia dell´ Arte (século XV a XVII) com seu teatro
profissional, também é raiz do teatro para criança. Seria bom trabalhar os
medos, as ansiedades que geram reações violentas (e se unem a instintos
violentos). Também não queremos um teatro cheio de exageros. Dom Bosco
(1815-1888), fundador da Ordem dos Salesianos, cuidou de fazer teatro
(encenação, música, biblioteca dramática, cenários, figurino, etc.) educando
com qualidade técnica através da cena. No século XX, Maria Montessori,
respeitando a criança, criou móveis em tamanhos e observou as necessidades
específicas da infância. Andersen, Grimm e Maeterlinck foram escritores que
dedicaram bastante atenção aos “pequenos”. E na antiga URSS surgiu em 1918 (um
ano depois da Revolução) tinha supervisão de um comitê de educadores e
artistas, formado por cidadãos socialistas tudo também em tamanho reduzido (à
altura dos baixinhos): poltronas, banheiros, etc., estimulando deste modo, a
autonomia das crianças. Além de jogos, havia peças de caráter fantástico e
representações do folclore russo. O teatro é indicado como instrumento artístico-pedagógico
com uma dramaturgia especializada e profissionalização na produção. Queremos
dar às crianças o conforto e sensação de experiência em comum. Formar plateia e
reciclagem dos artistas são objetos das
nossas discussões .
A origem do teatro para a infância em terras brasileiras está ligada aos
bonecos. No século XVIII, um homem só com armação nos ombros manipulava
fantoches, rodava o chapéu depois. Às vezes os bonecos se exibiam nas janelas
ou nas portas abertas pela metade. Nós trabalharemos com imagens virtuais em
interlocução com atores ao vivo. Durante um bom tempo, vimos as crianças sendo
tratadas como adultos em miniaturas, mas condenadas à passividade e falta de
iniciativa. Apresentamos um texto que não seja cheio de moralismos. Não nos
contentamos com maniqueísmos hipócritas, nem com soluções sobrenaturais como
fadas, por exemplo.Em 1950, no Rio de Janeiro, surge o 1º Concurso Nacional de
dramaturgia infantil. Em 1951 o 1º Congresso Brasileiro de Teatro lança as
bases psicológicas, técnicas e estéticas de forma repensada. Destacava-se o
subconsciente das crianças, o treino das emoções. Dá vontade de rir destes
detratores da bilheteria que dizem que o aspecto comercial deve ser ignorado e
só se deve pensar na moral. Para eles uma peça infantil sem “ensinamentos”
seria de má qualidade. Criança tem que ficar ligada, calada na platéia e
bitolada.Tentemos romper o tom explicativo de um narrador. Um bom texto, hoje,
tem que valorizar aas diferenças e não as convenções, Outra questão importante
é a participação da plateia. Por exemplo: quanto tempo deve durar um espetáculo
que não “inquiete” as crianças? Resposta: 50 minutos, já ensinava o professor
Camarotti (UFPE). Mas teatro para criança tem que ser sempre divertido? A
maioria dos intelectuais diz que sim. Emocionante, ágil. Temos que contar com
as crianças mais “antenadas” que querem mais do que histórias com bichinhos e
ternurinhas. Ora, a criança é um ser de
linguagem, leis próprias e específicas que devem ser trabalhados com cuidado
tanto a forma quanto o conteúdo. É bom lembrar a criança que ela pode pelo
menos tentar mudar as situações que lhe são impostas no mundo. Ela pode
interferir. Devemos fazer o espectador, criança ou não, avaliar sua identidade
no confronto com outras vozes e começar o intercâmbio com o universo da arte. Quanto
aos pais e professores, é bom que não mergulhem muito na nostalgia ou na
idealização da infância. Como já dissemos, os espetáculos devem se distanciar
do pedagogismo e do moralismo. Deseroicizar os personagens é uma saída. E falar
do amor e da violência? Primeiro colocando os verbos no presente, sempre que
possível. Mostrar que a solidariedade é fundamental para o ser humano. A
cooperação, a justiça social (sem clichês!). “Não se pode fazer boa literatura
com maus sentimentos”, dizia Sartre. Isso não significa entronizar os
detentores do poder que exploram os trabalhadores ou os pais que tratam os
filhos com grosserias ou vice-versa.
Queremos trabalhar os medos, as ansiedades que geram reações violentas (e se unem a instintos violentos). Também não queremos um teatro cheio de exageros
A Ilha do Tesouro: musical de Moisés Neto e Ricardo Valença
Andersen, Grimm e Maeterlinck foram escritores que dedicaram bastante atenção aos “pequenos”. E na antiga URSS surgiu em 1918 (um ano depois da Revolução) tinha supervisão de um comitê de educadores e artistas, formado por cidadãos socialistas tudo também em tamanho reduzido (à altura dos baixinhos): poltronas, banheiros, etc., estimulando deste modo, a autonomia das crianças. Além de jogos, havia peças de caráter fantástico e representações do folclore russo.
Sonho de Primavera
musical de Moisés Neto, Rosália Calsavara e paulo Smith
com o Palhaço Chocolate (Ulisses Dornelas)
Sete anos em cartaz no Teatro do Parque, Recife, Teatro com capacidade para quase mil pessoas
NO BRASIL: a origem do teatro para a infância em terras brasileiras está ligada aos bonecos. No século XVIII, um homem só com armação nos ombros manipulava fantoches, rodava o chapéu depois. Às vezes os bonecos se exibiam nas janelas ou nas portas abertas pela metade. Nós trabalharemos com imagens virtuais em interlocução com atores ao vivo.
Manuel Constantino e Moisés Neto em peça de Sylvia Orthof Gostkorzewicz
Durante um bom tempo, vimos as crianças sendo tratadas como adultos em miniaturas, mas condenadas à passividade e falta de iniciativa. Apresentamos um texto que não seja cheio de moralismos.
Em 1950, no Rio de Janeiro, surge o 1º Concurso Nacional de dramaturgia infantil. Em 1951 o 1º Congresso Brasileiro de Teatro lança as bases psicológicas, técnicas e estéticas de forma repensada. Destacava-se o subconsciente das crianças. Júlio Gouveia, numa palestra, disse: “teatro para criança e adolescente, só pode ser pensado como educativo (...) o treino das emoções (...) sempre mediante ingresso adquirido” (LOMARD 1994:48). Dá vontade de rir destes detratores da bilheteria que dizem que o aspecto comercial deve ser ignorado e só se deve pensar na moral. Para eles uma peça infantil sem “ensinamentos” seria de má qualidade. Criança tem que ficar ligada, calada na platéia e bitolada.
Tentamos romper o tom explicativo de um narrador. Um bom texto, hoje, tem que valorizar aas diferenças e não as convenções, como no caso do pernambucano “Hipopocaré”, do psicanalista Antônio Guinho, montado em Recife nos anos 80/90. Eu mesmo tive três textos infanto-juvenis de minha autoria encenados no Recife: “Draculin”, “A Maior Bagunça de Todos os Tempos” (ambos com direção de Buarque de Aquino) e “A Ilha do Tesouro” (direção de Carlos Bartolomeu) e tendo como produtora Simone Figueiredo, nos três os heróis titubeiam entre o convencional e a contravenção. Alguns críticos ficam irados com tal atitude, mas fiquei firme e os três tiveram ótimos públicos, ficando em cartaz durante meses e meses.
A maior bagunça de todos os tempos, direção Buarque de Aquino
produção Ilusionistas Corporação Artística
Teatro José Carlos Borges, FUNDAJ, Recife
TEORIAS: Em arte-educação há duas fortes correntes que observamos com cautela:
1)Arte para atingir outros fins (não artísticos): Contextualismo.
2)Arte em função de si mesma: Essencialismo (como faz Viola Spolin).
Outra questão importante é a participação da platéia. Por exemplo: quanto tempo deve durar um espetáculo que não “inquiete” os baixinhos? Resposta: 50 minutos, de acordo com o professor Camarotti (UFPE).
Há também que se considerar que a classe média alta forma em grosso o público do teatro convencional, a não ser que haja um trabalho de responsabilidade social, que é imprescindível hoje em dia e foi feito na Ilha do Tesouro, por exemplo. Outro fator que devemos analisar brevemente é o tal “projeto escola”, desenvolvido no Recife há 20 anos por Paulo André: crianças são levadas às centenas, da escola para o teatro, sem a família. Isto arruína as temporadas de fim de semana das outras companhias, mas tem é claro, ou deve ter, algum aspecto positivo. Porém, perde-se o hábito de debater com os pais.
Questões que poderiam aparecer em peças infantis hoje: o tema do meio ambiente, relacionamento de família, mídia. O lúdico é outra questão a ser resolvida, já que criança exige o jogo, constantemente.
Mas teatro para criança tem que ser sempre divertido? A maioria dos intelectuais diz que sim. E emocionante, ágil. Temos que contar com as crianças mais “antenadas” que querem mais do que histórias com bichinhos e ternurinhas. Ora, a criança é um ser de linguagem, leis próprias e específicas que devem ser trabalhados com cuidado tanto a forma quanto o conteúdo, um “duplo inseparável e inerente à historicidade do fenômeno artístico”, como afirma Sonia Khéde.
Trabalhamos com a recepção do público, o marketing, a percepção da criança na sociedade brasileira/ recifense, são outras questões que abordaremos posteriormente.
Cena do musical DRACULIN
de Moisés neto (Recife). Teatro Apolo
(foto: Adeilson Amorin)
produção: ILUSIONISTAS CORPORAÇÃO ARTÍSTICA
Atores de "A Maior Bagunça de Todos Os Tempos" , a partir da esquerda : Lucinda Frota, Luciano Rodrigues, Valdeck Lemos e Carlos Mesquita. (Foto : Adeilson Amorim) |
O lúdico, o humor e o nonsense se entrelaçam num intercâmbio entre conotação e denotação, buscando driblar o autoritarismo, tão presente na cultura brasileira como a malandragem (e na relação adulto-criança a questão do autoritarismo é de fundamental importância). Por isso um personagem que quer mandar na brincadeira deve, por exemplo, ser mostrado como um chato.
É bom lembrar a criança que ela pode pelo menos tentar mudar as situações que lhe são impostas no mundo. Ela pode interferir. Devemos fazer o espectador, criança ou não, avaliar sua identidade no confronto com outras vozes e começar o intercâmbio com o universo da arte. Quanto aos pais e professores, é bom que não mergulhem muito na nostalgia ou na idealização da infância. Como já dissemos, os espetáculos devem se distanciar do pedagogismo e do moralismo. Deseroicizar os personagens é uma saída.
VIOLÊNCIA: E falar do amor e da violência? Primeiro colocando os verbos no presente, sempre que possível. Mostrar que a solidariedade é fundamental para o ser humano. A cooperação, a justiça social (sem clichês!). “Não se pode fazer boa literatura com maus sentimentos”, dizia Sartre. Isso não significa entronizar os detentores do poder que exploram os trabalhadores ou os pais que tratam os filhos com grosserias ou vice-versa.
A origem do teatro para a infância em terras brasileiras está ligada aos bonecos. No século XVIII, um homem só com armação nos ombros manipulava fantoches, rodava o chapéu depois. Às vezes os bonecos se exibiam nas janelas ou nas portas abertas pela metade. Nós trabalharemos com imagens virtuais em interlocução com atores ao vivo. Durante um bom tempo, vimos as crianças sendo tratadas como adultos em miniaturas, mas condenadas à passividade e falta de iniciativa. Apresentamos um texto que não seja cheio de moralismos. Não nos contentamos com maniqueísmos hipócritas, nem com soluções sobrenaturais como fadas, por exemplo.Em 1950, no Rio de Janeiro, surge o 1º Concurso Nacional de dramaturgia infantil. Em 1951 o 1º Congresso Brasileiro de Teatro lança as bases psicológicas, técnicas e estéticas de forma repensada. Destacava-se o subconsciente das crianças, o treino das emoções. Dá vontade de rir destes detratores da bilheteria que dizem que o aspecto comercial deve ser ignorado e só se deve pensar na moral. Para eles uma peça infantil sem “ensinamentos” seria de má qualidade. Criança tem que ficar ligada, calada na platéia e bitolada.Tentemos romper o tom explicativo de um narrador. Um bom texto, hoje, tem que valorizar aas diferenças e não as convenções, Outra questão importante é a participação da plateia. Por exemplo: quanto tempo deve durar um espetáculo que não “inquiete” as crianças? Resposta: 50 minutos, já ensinava o professor Camarotti (UFPE). Mas teatro para criança tem que ser sempre divertido? A maioria dos intelectuais diz que sim. Emocionante, ágil. Temos que contar com as crianças mais “antenadas” que querem mais do que histórias com bichinhos e ternurinhas. Ora, a criança é um ser de linguagem, leis próprias e específicas que devem ser trabalhados com cuidado tanto a forma quanto o conteúdo. É bom lembrar a criança que ela pode pelo menos tentar mudar as situações que lhe são impostas no mundo. Ela pode interferir. Devemos fazer o espectador, criança ou não, avaliar sua identidade no confronto com outras vozes e começar o intercâmbio com o universo da arte. Quanto aos pais e professores, é bom que não mergulhem muito na nostalgia ou na idealização da infância. Como já dissemos, os espetáculos devem se distanciar do pedagogismo e do moralismo. Deseroicizar os personagens é uma saída. E falar do amor e da violência? Primeiro colocando os verbos no presente, sempre que possível. Mostrar que a solidariedade é fundamental para o ser humano. A cooperação, a justiça social (sem clichês!). “Não se pode fazer boa literatura com maus sentimentos”, dizia Sartre. Isso não significa entronizar os detentores do poder que exploram os trabalhadores ou os pais que tratam os filhos com grosserias ou vice-versa.
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