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domingo, 9 de junho de 2013

"Todos os Clássicos estão mortos"( Conto de Moisés Neto, publicado Jornal do Commercio) 

Pompéia, Itália. Século XXI DC

Sinto- me livre . Se eu fosse uma fazenda, hoje não teria cercas. O beijo que me incendiava, hoje me congela. Bloquearam- me as saídas, escapei por uma das entradas . Quebrei todos os meus ídolos guerreiros. Bah! "Guerras não fazem grandes pessoas".

Preservando múmias sem platéias. Foi como eu me senti ao deixar nossa cidade . Só o ódio me aquecia. Enchi os bolsos com um punhado de dólares, um dólar é um dólar em qualquer língua.

O Oceano Atlântico e tanta terra me separa de vocês. A isto, um brinde de Lachryma Christi, o vinho mais pedido aqui em Pompéia, onde estou há mais de uma semana. O sangue de Baco no meu coração pôs- me em estado de escrever, um amigo meu dizia que as musas não se aproximam de um homem sóbrio. O sol italiano mistura minha sombra às sombras destas belas ruínas milenares. Leio grafites na cidade fantasma e olho o devastador Vesúvio adormecido, metáfora da minha arte danada. Sou hóspede de um hotel pròximo, estou abraçando uma mulher com os cabelos cor de fogo , que eu trouxe do Brasil e do nosso quarto vemos a silhueta do vulcão. Observamos os montes enluarados e esta cidade parece um Lázaro redivivo. Fiz promessa de voltar à Italia assim que me apaixonasse novamente e aqui estou. Os pores- do -sol do passado já não me conspurcam mais . Chega de bugiganga .

Hoje bem cedo, fitando esta cidade, veio-me à cabeça uma frase que se repetia sem sentido: "Todos os clássicos estão mortos".

Olhei para o Mar Tirreno. Juntando as pontas do tempo. Comparando Pompéia hoje com os desenhos que me mostram a cidade nos seus áureos tempos, com seu comércio, seus lupanares, sua vida louca , sua tragédia apocalíptica. Escuto ecos , sinto vibrações. Busco tornar minha vida mais digna, melhorar meus costumes, juntar o útil ao doce, corrigir-me, atingir a consciência do que realmente eu sou.

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