CASSANDRA
Poema
dramático de Moisés Neto
(dedicado a Conceição
Camarotti )
Ai de ti, cidade maldita! Tua hora se anuncia:
Virá como uma onda enorme:
Uma guerra cruel...
Que a morrinha caia no teu espírito de cabra!
O presente é uma armadilha...
Com fome ardente tudo tu consomes, cadela voraz!
Tudo em mim está terrivelmente destruído...
Mas... cuidado!
Escuta minhas previsões! Não rias...
As serpentes lamberam os meus ouvidos...
ó filho da aurora, ó portador da manhã, vem em meu
auxílio!
ó guardião
noturno do templo faça com que acreditem no grande incêndio.
Tu ris....
A cidade será tomada! Será inútil o que te digo?
Tu!
Não acreditas?
Tu tratas as coisas baixas como se valessem muito:
Nada vale mais do que o preço que nós próprios damos!
Hás de chorar!
Bem sei que são inúteis os meus clamores
Sei bem da inutilidade de todos os meios
Eu sou como estrela que saiu da própria esfera...
Que importa que eu te avise sobre o fim das promessas?
Das alianças..
Sobre o horror dos infantes trucidados.
Devíamos fechar os portões... viver de nós mesmos!
Não me escutas?
O sangue ferverá até a loucura!
O amor porá tudo a perder... Nos fará chorar oceanos,
Viver no fogo,
Comer pedras...
Tu!
Geração de víboras,
Hás de lembrar de mim!
Quando no inferno de dores comeres fezes!
Quando desejares estar tão embaixo da terra quanto em
cima
Eu te entreguei os segredos da natureza e tu... zombaste... de mim?!
Me trocaste de maneira tão miserável na mais rude
pressa!
Que destino maligno este que sufoca assim nossas
despedidas.
Meu coração parece estar sendo arrancado pela raiz!
Não! Não haverá orgulhosas cicatrizes que mereçam
risos ou admiração
Nem restarão ídolos para adoradores idiotas como tu
és!
Geração de víboras!
Tens menos cérebro que cera no ouvido.
Pelo inferno e seus tormentos: não direi mais nada!
Ainda ousas me agredir?
Vida! Como pudeste me pagar tão mal?
Meu coração flamejante no meio dessa devassidão
Ele ainda tem a intenção de manter a tola promessa.
Mas o veneno da vingança se aproxima...
E eu pressinto os teus olhos pálidos, ó geração
desgraçada que não me atendeste!
E me insultaste!
Já vislumbro as tuas feridas sangrando.
No estupor.
Na loucura
No desespero dos grosseiros e aturdidos...
Malvados, tremei!
Adeus.
Já se aproxima a feia noite: assim como o sol no ocaso
a vida se abrevia.
Esta cidade terá medo de si mesma!
Nenhum espaço separará nosso ódio.
Nossas crianças parecerão milhões de peixinhos mortos
sobre este rio poluído.
Chorai,
Geração de víboras!
Não por mim, que sou ninguém...
Mas por teus ossos.
A peste vem aí... Não tarda!
FIM
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