Os Caminhos de Moisés Neto Segundo Raimundo Carrero
Moisés Neto conhece os segredos da invenção, como poucos. Isto é, sabe inventar e sabe, sobretudo, harmonizar esta invenção, quando ela exige perícia e sacrifício. Os textos que tenho lido dele comprovam a habilidade. Não se contenta com o óbvio e com o lugar- comum, vai adiante, investe nas especulações criativas. Reinventa.
O que se tem visto, quase sistematicamente , são escritores, mesmo aqueles mais jovens, repetirem fórmulas antigas, superadas, repetidas. No romance, por exemplo, quase não se avança mais na questão das novas fórmulas. Em Moisés Neto, todavia, o caminho é diferente. Ele é capaz de revolucionar sem provocar dramas no leitor. Sem torturas e mágicas mal elaboradas.
Além do mais sabe ser sutil. As palavras nascem, vêm com leveza, montam a história, num clima quase de sonho, mesmo quando enfocam os caminhos mais cruéis. Esta é a impressão que me ficou de um dos seus textos mais recentes, o romance "Michelle", cheio de truques e arrebatamentos. Uma fábula fabulosa.
No teatro, Moisés tem o domínio do que vem (ou vinha) a se chamar de "carpintaria cênica": Personagens seguros e determinados na criação, diálogos sóbrios e envolventes, cenas seqüenciadas pela lógica da invenção, palavras definitivas e verdadeiras, situações trabalhadas. Inventando ou adaptando conquista pela convicção.
Tudo isso é resultado da extrema familiaridade com o texto literário: Conhece os melhores escritores , estuda diversas técnicas narrativas, elabora novas conquistas, enfim, desenvolve sua capacidade de inventar. Estou seguro de que se trata de um desses autores difíceis de esquecer. Para sempre.
Raimundo Carrero
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