Assisti ao filme novo
de Almodóvar. Nele a Espanha é um avião fora de controle, o mundo hoje nos
parece também algo assim, há muito tempo quando o baile de máscaras começou a
ser anunciado como tal, parece que os humanos estão mais... cínicos (será que não
há atemporalidade nesta afirmação? Perdemos nossas identidades fixas em nome de
uma cibernética que nos é companheira, mãe, irmã, salvadora e algoz madrasta. Pedro
Almodóvar, faz do seu novo filme “Os Amantes Passageiros” , um show de humor
mostrando a vida de modo caricato e a corrupção entrelaçada com o desejo e as
drogas. Para ele a lei do desejo é algo
muito louco que mistura filosofia e religião, política e vida pessoal. Por
causa de um drama íntimo temos toda uma catástrofe social exposta. O desespero dos
passageiros e tripulação num avião fora
de controle nos leva a ficar, enquanto sujeitos à catarse (purificação dos nossos
sentimentos através da experiência,artística, alheia) à beira da morte (logo
anunciada por uma vidente virgem e com desejos sexuais intensificados na
película). Não demora muito e os personagens começam a confessar seus pecados e
vontades. Excêntricos ou não, todos pensam estar quase morrendo e cometem suas “loucuras”, pecadilhos, vontades,
que mesmo a salvo continuarão, até de forma mais intensa. Trata-se de uma caricatura
da carne falando mais alto que o espírito e razão? Sim. Há uma visão
maniqueísta do homossexualismo? Sim. O filme parece muito bobo, às vezes? Sim.
Almodóvar é um mestre? É. Ali estão suas famosas cores e aspirações. É o seu país
(e também o nosso, por que não?) que está indo pelo ralo, mas sabemos que na
desgraça as pessoas se unem com mais força. Afinal, somos todos AMANTES
PASSAGEIROS, não é? Sim, é sempre bom deixar bem claro isso nossa efemeridade
no ser e estar nesta roda da fortuna. Na Primeira classe ou na econômica há
sempre a oportunidade de viver intensamente ou perecer antes de desabrochar
plenamente. As críticas ao filme são em sua maior parte negativas, porém o que
se vê é um artista, que embora tenha descuidado um pouco do ritmo, não tenha se
aprofundado mais no texto, com estilo, o que é coisa rara neste mundinho
pasteurizado da segunda década do 3º milênio.
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