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domingo, 30 de junho de 2013

Ferreira Gullar anda se mostrando contraditório


Pensador aclamado há alguns anos, Ferreira Gullar anda se mostrando contraditório em seus textos, ultimamente. Gosto dele, mas vou te contar: meus olhos já não podem ver. Sobre as manifestações de protesto, ele se diz surpreso, entende o descontentamento pelo sistema, mas não vê isso como fenômeno internacional porque aqui a revolta é contra os políticos do governo e da oposição: “o PT, oportunista como sempre, tentou tirar vantagem da situação e se deu mal. Mas de onde vem esse horror aos políticos?”. Francamente, Gullar, esquecer o papel da atual burguesia, o neoturbocapitalismo, e jogar a culpa só em Lula por conta do Maluf e do bispo Macedo e toda a legião de malditos (partidos corruptos) somando a isto uma “política assistencialista” é, no mínimo REDUCIONISMO.

                                                           Moisés Neto e Ferreira Gullar

Não tenho partido político, mas quero uma visão mais radical. Outra coisa: dizer que a maioria desses manifestantes é de classe média e excluir os pobres dos subúrbios, afirmando que quem está “insatisfeita e revoltada” é a parte da sociedade “que só perdeu com o populismo lulista”, não deixa de ser redundância, como também acusar a CUT e a UNE de cumplicidade com o pernambucano, parece-me  uma rasura nas opiniões anteriores do próprio Gullar. Querer que o “povo desorganizado”, vá às ruas (sem “organizações que deveriam representá-lo”) e não opinar SOBRE SAÍDAS para este impasse, ou aprofundar uma análise parece fazer de Gullar algo menos do que desejamos dele. Te amo, maranhense, mas te quero mais guerreiro.
PRISÃO PARA TODOS OS CORRUPTOS, JÁ, RICOS E POBRES!
O gênero feminino na Literatura: o Local e o Global na formação cultural hoje

                                      
por Moisés Neto




Quando nos referimos ao gênero em literatura, tendemos automaticamente a associar este questionamento à forma e às vezes aos subgêneros contidos em cada uma delas, mas a questão “gênero” também inclui a dicotomia homem/mulher e a questão da voz, no sentido Bakthiniano, de posicionamento frente à organização da sociedade. Esta voz, o ethos, o tom, o sentido, vem sendo cada vez mais observado e os discursos “machistas”, principalmente desde os anos 50, “desconstruídos”. Filósofos franceses como Roland Barthes e Derrida serviram/servem de inspiração para intelectuais como a indiana Gayatri Spivak e outras que se unem em torno do questionamento sobre a posição opressora da voz masculina como dominante nos discursos históricos, antropológicos, psicanalíticos, literários, ideológicos enfim.

Percebendo que em Simone de Beauvoir e seu livro “O segundo sexo” já se começava a tecer a idéia de respeito ao “outro”, hoje vemos que mesmo a idéia do “outro”, no caso das mulheres, às vezes justifica até uma visão patriarcal e que é impossível representar coerentemente este “outro”, isto é, a visão que a mulher tem do homem ou vice-versa, pois será sempre transcrito por um “eu”. A mulher, quer seja na literatura lírica, épica e dramática, atravessou milênios no papel de musa, muitas vezes foi representada no papel de submissa ou traidora como a bíblica Dalila, transgressora como Joana D´Arc, cujo maior delito teria sido travestir-se de homem numa época que proibia as mulheres, inclusive, de morrer pela pátria.

Esbarramos agora no ponto da teoria: os textos femininos visitados pelos teóricos, quase sempre homens até o início do Século XX, eram vistos como textos de exceção. Contra isso, levantou-se a inglesa Virgínia Woolf que, no ensaio “Um teto todo seu”, fez da literatura o pódio onde sugeria às mulheres que sem independência - inclusive financeira - não haveria possibilidade de “voz”, aqui mais uma vez no sentido Bakthiniano, numa sociedade que as proibia até de freqüentar determinadas instituições. Se observamos não só pelo lado das idéias e preconceitos dos teóricos mas da própria representação literária vemos a mulher apresentada como reprodutora, cujos filhos machos devem desde cedo dela diferenciar-se e serem alertados sobre este necessário distanciamento e o reforço da identidade masculina. As correntes teóricas literárias de hoje sofrem grande influxo dos estudos culturais, como as deHomi Bhabha, por exemplo, e apontam como correção aos antigos erros a sugestão, mais uma vez desconstrucionista, Bhabha serve de influência para intelectuais como Gayatri Spivak, por exemplo. Ela consegue arrancar das palavras o sentido e reescrevê-las em palimpsesto e catacrese, revertendo assim o discurso do machoopressor.

Os discurso pós-coloniais de teóricos como os caribenhos Stuart HallÉdouard Glissant e Fanon, também vêm a cada dia comprovando que a problemática dos gêneros na literatura, a questão da voz, não deve separar-se de outros como raça, etnia, classes sociais, homossexualismo, multiculturalismo enfim. A escritora norte-americana Toni Morrison em seus livros “Amada” e “Paraíso”, só para citar alguns, exibe o panorama da mulher negra na sociedade machista e racista, no primeiro caso da 2ªmetade do Séc. XIX e no 2º o de uma comunidade de negros até os anos 60/70 do Séc. XX nos EUA. Em “Amada” a mulher negra violentada e enlouquecida pelos pesadelos da escravidão e do machismo é levada ao infanticídio e a conviver com o fantasma da sua filha e em “Paraíso” uma comunidade de raiz africana é levada à barbárie pelo preconceito. Morrison tece num discurso não linear as possibilidades de um discurso que apontam para um terceiro espaço: onde nem o “eu” nem o “você” prevalece tranqüilamente.

As teorias feministas francesas apoiaram-se na psicanálise, as anglo-americanas nas questões marxistas, mas o que percebemos é que tais discursos constroem-se com bases num resgate que envolve a história de um silenciamento das mulheres na sociedade, silêncio este que aos poucos rompe suas últimas amarras.

A escritora Heloisa Buarque tem um discurso recheado de ironia quando traça um estranho paralelo entre a mulher de hoje e um Cyborg, ser construído em laboratório. Tal criatura artificial superaria o modelo de família, nem “pais” nem “filhos”, religião metafísica (não voltaria ao pó, pois não veio do barro e como uma salamandra poderia até recompor suas partes físicas que se perdessem). Notamos que os teóricos usam tais exemplos para justificar seus posicionamentos antagônicos quando que se trata de conservadorismo social.

Observando a visão que os escritores transmitiram sobre o gênero feminino na narrativa latino-americana vemos que no México da segunda metade do Século XIX qualquer tipo de transgressão por parte das mulheres, no retrato ficcionista terminava em submissão por parte destas, ou da tragédia, como no caso de “La Malageña”. No Brasil, Euclides da Cunha exibe um Antônio Conselheiro, em “Os Sertões”, completamente avesso aos direitos da mulher. Machado forjou Capitu, Sofia e Marcela no viés do atrevimento, ganância e depravação até uma pequena transgressão dos horizontes de expectativas como em “Helena” é punido como uma morte espalhafatosa.

No teatro o gênero feminino no Brasil também é marcado pela obra de Nelson Rodrigues e suas mulheres traidoras, que dominam quando o “macho” fraqueja.

A crítica, ao recuperar a força da voz feminina sob tais narrativas, vem pouco a pouco tecendo e destecendo, qual Penépole, novos conceitos e usando antigos exemplos como ícones de um anacrônico colonialismo que projetou sua sombra sobre várias áreas e que até hoje sobrevive, como farsa, é óbvio. Pois é sobre Colonialismo e Capitalismo que falaremos agora.


ESTAMOS FUNCIONANDO NUM MUNDO CARACTERIZADO POR OBJETOS, SERES HUMANOS, IDÉIAS, IDEOLOGIAS, IMAGENS, MENSAGENS E MERCADORIAS EM MOVIMENTO: FLUXOS DE PESSOAS, IMAGENS, INFORMAÇÕES, NARRAÇÕES, TECNOLOGIAS, CAPITAL, HISTÓRIAS SEM RAIZES, E DISJUNÇÕES GLOBAIS. O “INTER” É O FIO CORTANTE DA TRADUÇÃO E DA NEGOCIAÇÃO: O ENTRE-LUGAR (SIGNIFICADO DA CULTURA). QUAIS AS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA COMPARADA PARA MAPEAR ESTES FLUXOS DISJUNTIVOS ENTRE O LOCAL E O GLOBAL?


O capitalismo atingiu finalmente o que chamaríamos do seu 3º estágio: o lixo da cultura no mundo. E explodiu em uma estética que se chamou pós-moderna. Cá estamos nós: com o fluxo entre as culturas acelerado pelos meios de comunicação, como a Internet, e por outro lado instaurou-se um capitalismo interligado que não deixa nada nem ninguém escapar desse processo avassalador. Testemunhamos o estilhaçamento, a bricolagem dos antigos valores e a reificação (estratégica) dos sentimentos, a valorização das coisas e a diminuição da importância de quem as usa. Nós estamos justamente no meio do choque provocado pela tentativa no final do século XX de fazer calar a voz a diferença perante o processo de globalização, daí é observarmos essas disjunções e intersecções a partir deste ponto questionarmos os fluxos nas fronteiras, nas encruzilhadas, os deslocamentos e transculturalismos.

Quero analisar melhor as palavras “traduzir” e “negociar” que surgem neste meu texto como epítetos de diversas possibilidades. Vejamos por exemplo como estas idéias expostas até aqui se coadunariam com um projeto de crítica literária pelo qual eu anseio: um processo que envolva a idéia não simplesmente de comparar para achar semelhanças, mas buscar as diferenças haja vista que a literatura comparada serviu para compor a(s) literatura(s) do mundo, como está expresso num termo forjado pelo alemão Goethe. Eu gostaria de ampliar este conceito de forma que servisse de lastro inclusive para possíveis desenvolvimentos de teorias literárias que repensassem os limites do local e do global. Guio-me, por exemplo, por conceitos de cultura de raiz e “cena”, a primeira envolveria os resultados das culturas formados antigamente por camponeses e pelos artesões urbanos e a segunda como fruto da conjunção das possibilidades locais receberem influência de outros lugares, principalmente estrangeiros, estabelecendo assim um conceito de flutuante e não geográfica.

Alguns trabalhos de literatura comparada, como observamos, fazem-nos rever certos conceitos. Por exemplo: a influência de Byron sobre o poeta brasileiro Álvares de Azevedo. Ao comparar as traduções que este faz do poeta inglês percebemos que há contradições que denotam que o brasileiro impôs seus traços sobre os poemas “traduzidos”, que nos levaria usar aqui o conceito de Bhabha sobre “negociação”.

Retrabalhar o discurso do outro, quer seja masculino ou feminino, em busca de estratégias libertárias, comparar tendências e buscar novas estratégias parece-nos um dos caminhos mais adequados nos dias de hoje em que a relação entre os seres e as coisas devem buscar reativar o senso crítico e não a reificação. Proponho algo similar a um palimpsesto que tanto exiba o que estava antes quanto abra caminhos para um novo quadro usando a linguagem para desconstruir o racionalismo e as noções de veralidade.

Autores como Bhabha, Stuart HallBaudrillard, Barthes e Foucault, dentre outros, fazem-nos repensar a globalização, que, contraditoriamente, hoje vem ressaltando diferenças, num mundo onde peles e máscaras se confundem e se separam numa velocidade estonteante, como que um entremez representado no teatro do entre-lugar onde se anuncia que o termo pós-moderno, tão habilmente forjado para anunciar o fim da história e do engajamento, parece não ser mais suficiente para abranger e acalentar vítimas, algozes e passageiros deste fluxo acelerado de informações, de propostas, de imposições, reforço e rasuras nas fronteiras e impedem que passados não-ditos assombrem presentes históricos mal resolvidos.
                     BALADA RECIFENSE
                 (poema de Moisés Neto)

Sem dor ou emoção, visto a roupa justa.
Olho no espelho do quarto
acaricio o corpo que te quer muito
repito a mesma música cinco vezes, bem alto
contra o silêncio da tua  ausência
pela janela a noite estrelada cura quase tudo. Entro na boate te procurando.
Peço uma bebida doce.
Ouço gritos no dancing
como num sonho divertido,
observo  os que dançam/ multicoloridos
corpos & copos  no meio da noite... fumaça.
De repente, como num filme moderninho,
Escuto o teu riso.
Sinto tua presença.
Tuas unhas  me arranham suavemente por trás do pescoço.
Teu perfume está no ar.
Eu me emociono e meu corpo vibra.
Me  viro  e beijo... são lábios úmidos, com gosto de frutas...

Mas... não é você!
Gravei este vídeo para vocês que curtem Graciliano ramos. Adoro este livro (São Bernardo): MOISÉS NETO inerpreta trechos de São Bernardo:
https://www.facebook.com/video/video.php?v=602173786470671&notif_t=video_processed

ALICE UNDERGROUND NO RECIFE



 Fui olhar o trabalho do grupo dirigido por Antônio Rodrigues, no Recife. Trata-se do espetáculo teatral "Alice underground", que através das redes sociais faz boa publicidade, também conta com apoio dos jornais impressos locais. Antônio afirma que se trata de uma versão carnavalizada da Alice (romance de Lewis Carrol). Underground seriam as situações de submundo, (mendigos, travestis etc). Alice é uma morena que percorre seus caminhos, rodeada por um humor jovem de um grupo que se lança com vontade de respirar neste meio rarefeito que se tornou a cena teatral do Recife. O Teatro Eva Herz, da Livraria Cultura, Shopping RIOMAR, é aconchegante e promissor. 

                       Aí estamos, na plateia do teatro Eva Herz, Livraria Cultura, Recife,  à frente o elenco da peça. Foto: Toni Rodrigues 

Que bom que um grupo do comércio apoia o teatro. Está tudo tão esquisito hoje. Só se pensa em projetos para o poder público bancar nossos sonhos e ali está um bando de jovens iniciantes dando sopa. A trilha sonora tem várias músicas em inglês, as caricaturas nas interpretações são inevitáveis (quase, ali), a luz fraquejou, a barulhenta máquina de fumaça (de um lado só) indica que a falta de recursos não é motivo para não se trabalhar na NOSSA CIDADE. E olha: mesmo num dia de decisão de copa com jogo da seleção brasileira estes garotos vão à luta: HOJE tem espetáculo? Tem, sim senhor! Vamos todos ao país dos espelhos e nos maravilhar com o sangue bom deste pessoal. Viva!


Assisti ao filme novo de Almodóvar. Nele a Espanha é um avião fora de controle, o mundo hoje nos parece também algo assim, há muito tempo quando o baile de máscaras começou a ser anunciado como tal, parece que os humanos estão mais... cínicos (será que não há atemporalidade nesta afirmação? Perdemos nossas identidades fixas em nome de uma cibernética que nos é companheira, mãe, irmã, salvadora e algoz madrasta. Pedro Almodóvar, faz do seu novo filme “Os Amantes Passageiros” , um show de humor mostrando a vida de modo caricato e a corrupção entrelaçada com o desejo e as drogas.  Para ele a lei do desejo é algo muito louco que mistura filosofia e religião, política e vida pessoal. Por causa de um drama íntimo temos toda uma catástrofe social exposta. O desespero dos passageiros e  tripulação num avião fora de controle nos leva a ficar, enquanto sujeitos à catarse (purificação dos nossos sentimentos através da experiência,artística, alheia) à beira da morte (logo anunciada por uma vidente virgem e com desejos sexuais intensificados na película). Não demora muito e os personagens começam a confessar seus pecados e vontades. Excêntricos ou não, todos pensam estar  quase morrendo   e cometem suas “loucuras”, pecadilhos, vontades, que mesmo a salvo continuarão, até de forma mais intensa. Trata-se de uma caricatura da carne falando mais alto que o espírito e razão? Sim. Há uma visão maniqueísta do homossexualismo? Sim. O filme parece muito bobo, às vezes? Sim. Almodóvar é um mestre? É. Ali estão suas famosas cores e aspirações. É o seu país (e também o nosso, por que não?) que está indo pelo ralo, mas sabemos que na desgraça as pessoas se unem com mais força. Afinal, somos todos AMANTES PASSAGEIROS, não é? Sim, é sempre bom deixar bem claro isso nossa efemeridade no ser e estar nesta roda da fortuna. Na Primeira classe ou na econômica há sempre a oportunidade de viver intensamente ou perecer antes de desabrochar plenamente. As críticas ao filme são em sua maior parte negativas, porém o que se vê é um artista, que embora tenha descuidado um pouco do ritmo, não tenha se aprofundado mais no texto, com estilo, o que é coisa rara neste mundinho pasteurizado da segunda década do 3º milênio.

sábado, 29 de junho de 2013

Claudio Willer deu sua opinião (Folha de São Paulo), com a qual concordo, sobre a relação das manifestações atuais no Brasil e o anarquismo; a questão da revolta, dos que apanharam (e bateram) da/na polícia. O vandalismo versus a polícia: um desfile ou uma ameaça ao poder?A liberdade é fundamental? “A liberdade não é um valor, é uma prática. Sou também antipartidário, na medida em que a representação extra-partido traz mais resultado, pois escapa da instrumentalização e do aparelhamento”. A crise da representatividade e o atendimento às reivindicações, as relações entre a mídia e a sociedade estão em xeque? Precisamos de uma expressão filosófica, artística, poética nas manifestações atuais?

quinta-feira, 27 de junho de 2013

A atribuição sexuada das emoções

Antropologia sexual do Recife
(PARTE I)
A experiência sexual, a segregação das opções sexuais, a atribuição sexuada das emoções, tudo isso tem quem ser melhor discutido; se hoje percebemos certa inversão nas atitudes sexuais da cultura, mulheres dominando e os homens menos responsáveis e mais dependentes emocionalmente, ainda percebemos  a centralidade cultural da família biológica diante da plasticidade humana onde as emoções sexuadas são também construções sociais. 

Este espetáculo recifense discutiu a sexualidade de modo diverso e contemporâneo, apesar de ambientado no século XIX
Na foto: George Meireles, Stella Maris Saldanha e Roger Bravo (2008). Foto: Renato Filho.

Mas é bom lembrar que passividade e agressividade  não são determinadas pelo gênero, e vamos separá-lo um pouco do sexo (gênero seria uma elaboração cultural do primeiro, no cruzamento de várias instituições e relações sociais?).

Bernardo Carvalho, madeira de lei (Por Moisés Neto)

Bernardo Carvalho, madeira de lei (Por Moisés Neto)
O escritor Bernardo Carvalho nasceu no Rio de Janeiro, vive em São Paulo, mas para ele é fundamental o sentimento de não pertencer a um lugar, um certo deslocamento que impossibilita ao mesmo tempo integração e  reconhecimento, ver as coisas de fora. São Paulo é sua terra estrangeira dentro do Brasil, seu estranhamento e em O sol se põe em São Paulo o narrador-protagonista (publicitário, neto de japoneses imigrantes) encontra-se com a dona de um restaurante japonês, Setsuko  (80 anos) instalam ali mesmo um terceiro espaço, cheio de identidades trocadas: ela lhe conta para que ele escreva, e  fazemos assim a viagem com eles a um Japão reinventado. “ Ela vinha de Osaka, o berço da Yakuza. No fundo, sou um moralista. O mundo está cheio deles. É um azar quando se tornam escritores. Estão sempre prontos a dar opinião sobre tudo.”(p.16). Ele critica a opção da irmã, que migrou para o Japão, em busca de emprego.   O jogo metalingüístico é óbvio, as frases curtas nos ao narrador que retornara àquele restaurante depois de 10 anos. Este narrador está desempregado e descasado; é descendente de japoneses; sua irmã foi morar no Japão – ele não fala muito sobre as duas. É a inquietação do um eu em passagem, há também o triângulo amoroso que nos remete ao passado, no Japão, depois da guerra. E os  personagens nesse entre-lugar tentam reconstruir suas identidades. Pós-moderno? Avesso dos estrangeiros no Brasil? Parecem inúteis tais classificações aqui, onde as informações históricas, geográficas mesclam-se em tom agressivo: “depois de me foder por nada, trabalhando como redator de comerciais de uma agência de publicidade...”.  Parece Dashiel Hammet. Pressentimos o Noir.
 O pôr-do-sol em São Paulo pode ser belo na poluição e Setsuko, voz dupla com o narrador, vem da terra do sol nascente, que vem se pôr em São Paulo. São universos paralelos, sutilmente contraditórios  Nissei (americano filho de japonês), sansei (neto)? Da Ásia,da América do Sul, fugindo da miséria, da opressão, do nada e seguindo um sonho. E o narrador escuta as histórias como se tudo estivesse na sombra no restaurante Seiyoken. Sakê, cerveja o apagar das luzes , perguntas, códigos: estrada de  palavras. Fecha-se a trilogia ''Nove noites'' (2002) e ''Mongólia'' (2003) são fronteiras apagadas, Setsuko foi jovem de família respeitada, conhecemos através dela o filho de um industrial e um ator de kyogen, o teatro cômico local.  Tudo parece um outro lugar, a ambigüidade, a entrega, as imposturas, angústia, a literatura como dissimulação...
O sol se põe em São Paulo foi reescrito 20 vezes. Temos nele a metalinguagem . É um livro que trata de literatura japonesa, cuja sociedade não preza a individualidade, não preza o estilo individual - a ruptura não faz parte da tradição cultural.
Carvalho faz parte de uma vertente da literatura brasileira a partir dos anos 80 : Caio Fernando Abreu, João Gilberto Noll e Chico Buarque. O jogo e a história em dubiedade: toda parte, lugar nenhum. A desconfiança A relação com o passado , com o conhecer-se, qual Édipo. Em “O sol se põe...”:  há ainda a história contada pelo homem com o lábio leporino que vamos conhecer no final da obra. Paira sobre tudo a desconfiança em relação a uma verdade histórica Há muitos microrelatos, vestígios, alguns enganosos. É literatura falando de si em processo metaficcional historiográfico o errante e sua relação com as coisas. Instabilidade, o desconhecido, projetos da existência e da experiência subjetiva: problematizações, desconstruções, como em O sol se põe em São Paulo, a construção do personagem principal, ambígua : “Voltar ao Japão como operário (apesar de nunca ter posto os pés lá antes) seria perpetuar o
fracasso e o erro, a fuga apenas nos afundava ainda mais no inferno. A literatura podia ser a minha miragem, mas pelo menos era uma forma de abraçar o inferno como pátria. No fundo, era nisso que eu acreditava.” (CARVALHO, 2007, p. 20).
Carvalho ressalta: “A literatura que serve para alguma coisa é a que o mercado quer. Se vivêssemos na Idade Média, a literatura serviria para a Igreja. Se vivêssemos num país comunista, faríamos literatura oficial. Não servir para nada é um negócio radical e muito importante; permite que se faça uma literatura de ruptura, que não obedece a demandas preexistentes. Não é o novo pelo novo. Não é isso. É criar um mundo que ainda não existe. Criar uma vontade nas pessoas que elas ainda não têm (romance de demanda). Isso é genial. É uma oferta para ver se germina. É lógico que eu acho que a literatura serve para alguma coisa. Mas preciso manter esta idéia, porque é uma idéia política, de resistência: literatura não serve para nada mesmo. Mas eu vou continuar fazendo. A ilusão de que não tem função é super-importante. Para mim, é fundamental; me dá um alento; me deixa respirar. Para o tipo de literatura que eu faço, há cada vez menos espaço. A maioria dos escritores é composta por ingleses e americanos. Passei dois meses convivendo com alguns escritores anglo-saxões e me dei conta de que a importância do mercado é um negócio chocante. Esses escritores só funcionam em função do mercado porque se você for um escritor nos Estados Unidos e na Inglaterra e não funcionar no mercado, você não existe. Para mim, fazer literatura com essa preocupação é algo muito sem graça.”
A literatura no Brasil, país de analfabetos , onde o texto faz parte apenas de uma cultura de classe média ou de uma elite grosseira, iletrada, ignorante, que cultiva e reproduz a ignorância para os seus filhos: a arte que Carvalho defende não funciona na sociedade, não tem função, entra em desacordo - não tem lugar no Brasil . trata-se de um tipo de literatura que tem importância mas ele diz não ter nenhuma conseqüência social. Uma literatura que pode ser de resistência, A idéia de que a literatura não serve para nada surgiu na modernidade, e ele a considera importante. É uma idéia política. É essa idéia que faria a literatura de verdade sobreviver.
É uma literatura que se quer militante contra a perda do interesse dos leitores pela ficção na literatura. “Parte do livro pode ser lida como um pastiche dos romances do Tanizaki, narrado por uma das personagens principais. O Japão produziu grandes escritores no século XX. E isso em termos absolutos, mundiais. No caso desse romance, o que me interessava era o deslocamento do qual eu vinha falando, o Japão no Brasil e o Brasil no Japão, as coisas fora do lugar. E o curto-circuito que a inadequação e o estranhamento podem provocar na criação de outros pontos de vista, de outras maneiras de ver. Há uma frase no final do livro que resume esse sentimento e essa vontade: o oposto é o que mais se parece conosco".

                                                     Moisés Neto e Bernardo Carvalho

Uma professora universitária escreveu um ensaio longuíssimo sobre Nove noites, dizendo que o personagem era um gay enrustido. E como o romance seria autobiográfico, só podia ser eu o gay enrustido. Então, com O sol se põe em São Paulo, eu queria fazer um livro que essa professora não descobrisse que o gay enrustido era eu. Até agora ela não descobriu.Se eu trato de gay enrustido, é porque isso me interessa, mas aquele não sou eu.”
Bernardo lembra Beckett a escreve algo dissonante, novo e inovador que demanda força de vida , um mundo sombrio, Sade também: Vozes dissonantes, incompatíveis com seu tempo. Forte, paradoxal. Uma celebração do humano.
Ele faz  o elogio da ficção e propõe uma formulação que não é simples ao ver " a imaginação como elemento constitutivo da realidade e não um artigo supérfluo". É parte da tendência da literatura brasileira contemporânea ao realismo e ao documental, uma tendência natural. Quanto maior a violência dessa realidade, mais ela vai impor uma representação unívoca, mais ela vai reduzir as possibilidades de representação. A questão não é representar ou deixar de representar a realidade (até porque, de alguma forma, ela sempre acaba representada), mas não sucumbir a uma determinada idéia de representação da realidade como modelo e paradigma. A imaginação é um elemento complexo da realidade. A literatura e a arte cessam quando você passa a aceitar modelos para a criação.
Os seus livros explicitam a manipulação do leitor até quase o grotesco. É muito visível. Mas o que o romance faz é manipular o leitor e fazer com que ele participe?
Carvalho polemiza: “Guimarães Rosa, que eu considero um gênio. Há três traduções no mundo do Rosa: duas boas (Itália e Alemanha) e uma na França (mais ou menos). Mas se perguntar para um alemão, italiano ou francês quem é Guimarães Rosa, ninguém sabe. Nos Estados Unidos, Grande sertão foi traduzido como bangue-bangue. Este jornalista nunca ouviu falar em Guimarães Rosa. É triste: você pode ser um gênio da literatura, pode fazer uma obra incontestável, e mesmo assim não vai ter lugar para você. No cânone internacional, ocidental, não tem lugar para o brasileiro, pode ser o maior gênio da raça. Você fica babando ovo para escritor inglês e americano (há alguns geniais), mas não tem a contrapartida. Ninguém vai ler escritor brasileiro. E não é escritor pequenininho como eu, é Guimarães Rosa. Ninguém sabe quem é Guimarães Rosa e nem quer saber. A cultura brasileira é samba, futebol e música popular. Não é alta cultura. O Brasil tem a oferecer cultura popular, futebol e administração da miséria. Não sei como lidar com isso. Eu sou um pouco paranóico. Mas se pode ver a paranóia como a criação do sentido. Se o mundo não faz sentido - e não faz -, o paranóico é que aquele que vê sentido onde não tem. O mundo não faz sentido, a vida não tem sentido, não faz sentido eu estar vivo. A paranóia me atraía como uma matriz de sentido, uma matriz desvairada. A idéia da paranóia me atraía como ficção, como produção de ficção.Eu escrevo os romances que eu gostaria de ler. É importante que o leitor participe de forma ativa da leitura, que seja empurrado para dentro do texto não de maneira meramente passiva, queria deixar isso claro. Então, o jogo em meus livros é importante. Tem a função de cooptar o leitor, de fazê-lo ter uma participação ativa no livro”.


Clube de inverno (poema de Moisés Neto)


Não digo que a noite seja só de dança...
nem que amor e morte estejam resolvidos
mas, hoje, no Recife ardente
tudo está reinventado
em high tech anfíbio
Poético vuco vuco antilírico
até para ultrarromânticos
há aplicativos de pós-cibernéticos quereres:
tu me vês? Não, 
tu te vês me olhando
és tanto e tão pouco! 
Insensível! Deixa pra lá...
Afinal, somos juntos nesta cidade
em recortes contraluz
Na arena do clube de inverno
açucarados seres atlânticos
da barbárie à decadência, sem civilização...
Não?
Enquanto a festa vai noite adentro...
até que o sol aqueça o sal do mar
e torne tudo mais... real, de novo
depois da chuva.


RECIFE EXPRESS: Crislayne Maria da Silva, presidente do DCE da faculdade Fafire(Recife), foi detida como suspeita de jogar bombas contra policiais na manifestação de ontem, e liberada no começo da tarde de hoje(27), mediante alvará de liberdade provisória expedido pelo juíz plantonista, Evanildo Coelho. Ela foi jogada na Colônia penal do Bom Pastor, bairro da Iputinga! Diga aí...

http://revistaogrito.ne10.uol.com.br/page/blog/2013/06/25/tom-ze-lanca-musica-sobre-os-protestos-no-brasil/

domingo, 23 de junho de 2013

Arena Pernambuco

Fui à Arena Pernambuco assistir ao jogo Uruguai e Taiti (8 X 0), mais risível que comédia pastelão. Tranquilo o transporte, bonito o lugar, confortável. Achei adequada a construção e espero que dê certo. Quanto ao fato alardeado aos quatro cantos daquilo ser um elefante branco de custo estratosférico e desnecessário, eu me pergunto: será a paranoia de querer destruir e não construir que move a maior parte das pessoas, aqui em Pernambuco (Recife)? Porque não vejo ninguém falar seriamente que muito antes desta construção faraônica o governo já vinha maltratando professores, e quanto à saúde, dizem, as coisas até... "melhoraram",embora os salários... resumindo a ópera: por que não protestam contra todo o dinheiro roubado pelos políticos e empreiteiras?

Aliás, por que ninguém toma uma atitude séria em termos de debates sócio-culturais em Pernambuco? Pois ficam neste lero-lero alucinante e ninguém diz ou faz algo contundente? Lembram do Parque Dona Lindu? Muitos disseram que era um horror só e agora só vive lotado. E pensar que preferiram entregar o terreno do Dona Lindu de volta para a amarinha... mas pelo menos pegamos um Niemeyer enquanto o mesmo estava vivo. Agora me pergunto: Por que não protestaram antes da construção dos estádios? Só agora, que já estão "prontos" é que vem a gritaria? Vamos criar o troféu Carlota Joaquina e dar logo o primeiro prêmio aos mais exaltados desta categoria.

a
Hitchcock na Boa Vista. Sim, fui à manifestação da quinta-feira, no Recife. Li o que se falou sobre esta nova tendência de agrupamento de pessoas. Filósofos, cientistas políticos e tantos outros. Assisti o pronunciamento de Dilma (a "presidenta", como ela prefere), conversei com amigos etc. Na sexta-feira, houve uma tentativa de paralisar a cidade às 17h e ontem , à saída do cinema São Luiz, onde fomos assistir ao interessante "Hitchcock"(filme que revela os bastidores do clássico Psicose , com os mestres Helen Mirren e Anthony Hopkins) e quando saímos a ponte Duarte Coelho, de onde assisti ao protesto, estava novamente interditada e a polícia avisava, à 21:30, que havia novos “agitos”. Desistimos de ir ao pátio de São Pedro, intenção inicial, assistir ao show de Siba. E fomos a uma lanchonete discutir o filme e o momento político do Brasil, papo que nos levou a revisar as última 5 décadas que se passaram desde que Psicose estreou nos cinemas e mudou a história do cinema ou, pelo menos, marcou fortemente sua presença. Um jovem inseguro com sérios problemas psicológicos na sua r3elação com o mundo, as mulheres, sua mãe...

Comentei o discurso de Dilma e minha simpatia pelo partido dos trabalhadores desde a sua fundação em 82 e da minha vontade de que as coisas não houvessem tomado o rumo que tomaram através de conchavos que seriam inimagináveis nos anos meus rebeldes. O filme é cheio de gags logo no início, o que me levou a gargalhar e ser repreendido por um amigo. Mas é o humor amargo do velho Hitch que me contaminou e impregna o filme com uma adorável malícia. Scarlet Johansson interpreta Janet Leigh, bonitinha, ainda, ótima na cena do banheiro (quando o psicopata a esfaqueia, cena clássica, trilha sonora inesquecível, Hopkins barbariza nesta passagem). Imaginem então os contrapontos entre a sétima arte e o Recife, do dia 22 de junho de 2023, à noite, fria). Pensamos em andar pela Avenida Conde da Boa Vista tranquilamente, mas logo nos deparamos com a favelização desta via sem nenhuma fiscalização da Prefeitura da cidade. Há dezenas de pessoas dormindo sob as marquises, colchões, berços, uma podridão e agressividade na abordagem aos transeuntes. Uns consumiam crack, cheiravam cola, faziam sexo... “jantavam”. A sensação é a de que vivemos numa cidade onde os burgueses no poder não estão nem aí para a classe média operária que não tem direito a usufruir sua própria cidade, pois ela é tomada pelos pobres e burgueses, cada um agarrando com firmeza o naco que lhe está à frente. Os jovens que marcham sem destino sabem como expressar sua insatisfação e têm o meu apoio. Os mais velhos que ainda lutam sabem que com belas palavras até os corruptos vencem. O instinto humano nós bem conhecemos, ou melhor, estudamos e aprendemos cada vez mais, é de sobrevivência a qualquer custo. Quando John Lennon escreveu “God”, estava num processo de reflexão terrível sobre amor e ceticismo, foi esta música que eu vim assobiando no caminho de volta, embora tenha fé em Deus. Mas o Recife/ Brasil, não está assim somente por causa dos políticos. Estamos com esta cárie, temos o dentista, mas o nosso jeitinho é incrível. Vejamos ainda esta famosa avenida citado por nós inicialmente: a prefeitura usa asfalto de péssima qualidade para “melhorar”! os buracos das ruas transversais, como na esquina com a rua Gervásio Pire, este logo se dissolve causando transtornos de todos os tipos. Os ambulantes jogam óleo, cascas, copos, urinam a cerveja e jogam seus espetos pelos cantos, esquinas e a DIRCON diz que não há funcionários para a fiscalização porque o prefeito não nomeia ninguém para isso. Então: Recife/ Brasil é um caos chamado administração ineficiente que não sabe tomar conta nem das capitais. Os teatros sucateados, as programações culturais não passam de eventos com cartas marcadas no meio da rua (vide Recife Antigo), algo que Jarbas Vasconcelos iniciou e João Paulo executou com maestria, diga-se de passagem. Mas é sempre a mesma coisa: poesia: chama sicrana, teatro: bota fulano e por aí vai... até onde? O pior salário para professores da rede pública no Brasil é o pago em Pernambuco. Adiante um impeachment a esta altura? Um golpe? Para forjarmos o quê? Precisamos de palestras e debates para discutir novos rumos, isto sim. Nada com muita pressa. Se o Recife não consegue nem administrar uma avenida da cidade, a principal! Como pode o Brasil encontrar um líder a sua altura sem debate e amplo consenso? Através de propagandas na TV? Mobilização pelo facebook? Vamos à luta!Parados não chegaremos a lugar nenhum, só afastando gente como Feliciano do poder é que chegaremos a um estado mais democrático e ele deve estar refletido como um todo até na Avenida Conde da Boa Vista, no teatro do Parque, no salário dos professores, como a lua cheia que hoje está inteirinha refletida neste meu copo com água mineral.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A IDADE MÍDIA apresenta suas armas. As as redes sociais são o esteio deste processo que estamos presenciando desde o começo de junho. O INVERNO MAIS QUENTE DOS ÚLTIMOS TEMPOS. E agora? Pensem bem: o plano Real de Fernando Henrique Cardoso, a reforma no governo Lula, com tudo que tivemos e não tivemos, os problemas de Dilma... tudo isso com governadores, prefeitos, deputados senadores, vereadores que vemos, ouvimos, lemos: o que fazer AGORA?
Ah, senhoras e senhores, não há país no mundo que escape de erros, porém o Brasil tem uma cultura popular que influencia todo o regimento da nação. O clube dos intelectuais se faz restrito e não se importa muito em fazer críticas construtivas e jogá-las na mídia de forma mais... eficaz. A TORRE DE MARFIM, por ser imaginária é quase inviolável. O que nos resta? Neste momento tão importante que foi forjado às pressas pelos interesses ocultos (cadê o pó de Jânio Quadros?) , faz-se necessária a PARTICIPAÇÃO. NÃO ADIANTA INSISTIR NA TECLA QUE O ERRO É SOMENTE DOS RICOS, DOS GOVERNANTES... CASA GRANDE, SENZALA, SOBRADOS , ARRANHA CÉUS, TORRES, MOCAMBOS, PRÉDIO CAIXÕES DE DEFUNTOS: todos estão envolvidos neste pagode...e não adianta querer se eximir. Daqui ninguém sai vivo, dizia um ídolo do rock'n'roll, pois é. Danton, Robespierre, Marat, Lenin, Trotski, Lincoln, Crei Caneca,  Cabugá e tantos outros... todos eles tinham um om plano, não foi assim? Qual é oplano quequem vai à passeata carrega na mente? Acabar com sujeitos como Feliciano? Ficar de olho em tramoias como o PEC # Zil? Que tipo de democracia se propõe?
O clã das adagas voadoras. Estranho e ao mesmo tempo peculiar o clima dos manifestos. Há um clima de GOLPE no ar, é óbvio. Os manifestos são feitos por muita gente feita de amor e fé, porém os interesses ocultos estão começando a aparecer por trás da máscara de democracia que alguns dirigentes usam. 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Agora vamos alcançar o que sonhamos? Para onde estes jovens estão indo nesta caminhada? Protesto na UFPE pela suspensão das aulas em nome da COPA. Teatro sucateado em Recife e ninguém nem aí. Professores da rede pública em estado de calamidade, com um salário medonho (fora da lei e do projeto oficial, mas a população não reclama dos governantes, que desviam as verbas para propaganda ou para caiar algum sepulcro por aí). Máquinas trabalhando na rede privada para formatar alunos para um E (NE)NEM. Burrice predominando nas políticas públicas da educação (colocando técnicos em vez de educadores engajados e sensíveis, culturalmente falando). Falta, sim, uma "revolução" com itens mais específicos e sem preconceitos de espécie alguma. O capitalismo burguês não vê opositores, pois não há mais como fugir dos bens de "consumo", dos  produtos tecnológicos. Nos vendemos por muito pouco. Os zumbis são uma realidade. Esperança não morre... multiplica-se quando construímos o sonho com nossas próprias mãos. Neste momento, Recife se mobiliza. Vamos lá ver e participar. O que será que será? De que adianta fingirmos que o que está acontecendo é somente manipulação e que alguns servem novamente (apenas) como massa de manobra?

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Acorda, Recife!

Então? Amanhã o Recife parece que vai ter um fim de tarde ímpar, não é? Conversei com vários amigos sobre o assunto e as opiniões são as mais variadas. Os mais jovens parecem mais animados, mas vamos esperar a hora H. Acho que as reivindicações deveriam se mais específicas e, ao mesmo tempo, mais abrangentes.

                                                                        Acorda, Recife! 


Alguém chegou a cantar um trecho de "Pra não dizer que não falei das flores". Lembrei do Chorão... http://www.youtube.com/watch?v=L59Mpe73mlU . E aí?

terça-feira, 18 de junho de 2013

SONHO MEDONHO: A página em branco e o mundo cibernético à distância. A vida sem fio e o tempo off-line: algo nos torna, mesmo, menos inteligentes? Como anda nossa energia cerebral? Como disse RC: é tão difícil olhar o mundo e ver... (ver!) o que ainda existe... estou tão distraído...  cadê meu Google que estava aqui? Ah, meus caros... DIRETAS JÁ... Fora, Collor... Lula lá... Arraes taí de novo? sem lenço e sem documento... A TECNOLOGIA  está aí agora e exige toques inimagináveis. TURBOCAPITALISMO já era... olho seco de tanta tela e RELAÇÕES DESCARTÁVEIS (devidamente registradas por órgãos estrangeiros competentes). Que roupa você vai usar na passeata da quinta? Você viu a tendência de São Paulo? Rio? Minas? Brasília? Vai apostar o que vão quebrar na avenida Conde da Boa Vista? Baixou a passagem de ônibus! Eita! E quanto ao aumento do salário dos professores? E O RESTO? MOVIMENTOS MAIS ATLÂNTICOS do que pacíficos. Acorda, Brasil. À luta, Recife! Foi tudo um sonho... graças a deus um sonho e nada mais. Eu vou deixar de ler jornais!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Vale lembrar: desde dezembro de 2005, Capiba, Manuel Bandeira,João Cabral de Melo Neto, Carlos Pena Filho e Clarice Lispector estão instalados no Recife que já foi tão deles, que nasceram ou  viveram na capital pernambucana e agora recebem uma homenagem póstuma singular imortalizados em esculturas em tamanho natural integrando a cidade, colocadas às margens do Rio Capibaribe e em praças públicas, no Centro. Trata-se do Circuito da Poesia, desenvolvido pela Secretaria de Serviços Públicos do Recife e Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb). Executadas num período de quatro meses, as esculturas de concreto procuram retratar o espírito de cada um dos homenageados. Assim, o compositor de frevo Capiba surge de pé, acenando para cidade, na Rua do Sol. Maria José da Silva, Zezita, a viúva de Capiba declarou na época: “Ele gostava desse lugar, foi uma boa escolha”. O poeta João Cabral de Melo Neto, sentado num banco de madeira com um livro no colo, na Rua da Aurora (em frente ao Teatro Arraial), contempla o Capibaribe que ele tão bem descreveu em seus versos. Na inauguração, o poeta Pedro Américo recitou poesias de João Cabral e também na Rua da Aurora, o poeta Manuel Bandeira descansa num banco, sob um portal como se estivesse na vida, com a mão esquerda segurando a cabeça e a perna esquerda apoiada na direita. Fica perto do Ginásio Pernambucano, nas imediações da Rua da União, onde ficava a casa do avô do poeta, citada em Evocação do Recife. Na Praça Maciel Pinheiro, onde ela morou durante anos, Clarice Lispector está sentada numa cadeira, junto a uma luminária. No colo, uma máquina de escrever, de onde saíram Perto do Coração Selvagem, Laços de Família, Felicidade Clandestina. Vera Lispector, prima de Clarice, e Rosa, cunhada da escritora, acompanharam a cerimônia. Pena que dois meses depois as esculturas já tenham sido várias vezes atacadas por vândalos, mas não chegaram a destruir, apenas danificar um pouco. Na  escultura sua escultura, o poeta Carlos Pena Filho, na Praça da Independência, aparece sentado à mesa, com dois bancos vazios, é como se convidasse o povo para um dedo de prosa. A viúva dele Tânia Carneiro Leão e as netas, Maria Luíza e Maria Joana Pena, na ocasião, aprovaram a iniciativa. Elas definem a peça como uma escultura participativa. “É maravilhoso, porque faz com que o povo conheça melhor essas pessoas”, observa Tânia.As obras custaram, na época, R$ 75 mil (Fundação Banco do Brasil) e foram confeccionadas por Demétrio Albuquerque.Além destas podemos apreciar Luiz Gonzaga, Ascenso Ferreira (Cais da Alfândega, Chico Science (Rua da Moeda), Solano Trindade (Pátio de São Pedro) e Antônio Maria (Rua do Bom Jesus). Que venham outras.
 E o DCE da Católica vai ter participação ativa na manifestação marcada para a próxima quinta-feira: “À luta, Recife”, é o mote nas redes sociais, enquanto a “Unidade Vermelha”aponta o ato da quinta como “solidário”.

domingo, 16 de junho de 2013

A pergunta agora é: Será que as manifestações que estamos vendo em São paulo, Rio de Janeiro e Brasília chegarão ao Recife? Com que proporções e como podemos explicar este fenômeno que tomou conta da mídia de forma tão avassaladora? O QUE ESTÁ ACONTECENDO? Os professores já estão analisando tudo com teorias (há até muito conflito epistemológico num mesmo texto). Este inverno anuncia-se quente, mesmo. Na terça parece que há outra paralisação dos ônibus no Recife. Acabei de ver uma foto interessante e enigmática: uma garota segurava um cartaz com o seguinte texto: NOSSOS SONHOS VALEM MAIS DO QUE 20 CENTAVOS! E aí? Valem quanto? Is the dream over? Eu tenho um sonho... ainda.

Sentimento do mundo : a guerra de Drummond

                                        por Moisés Neto.
“Esse incessante morrer/que nos teus versos encontro/é tua vida,poeta,/e por ele/te comunicas com o mundo em que te esvais.//Debruço-me em teus poemas/e nele percebo ilhas/em que nem tu nem nós habitamos/(ou jamais habitaremos)/e nessas ilhas me banho/num sol que não é dos trópicos,/numa água que não é das fontes/mas que ambos refletem a imagem/de um mundo amoroso e patético.//Tua violenta ternura,tua infinita polícia,/tua trágica existência/no entanto sem nenhum sulco/exterior-salvo tuas rugas,/tua gravidade simples,/a acidez e o carinho simples/que desbordam em teus retratos,/que capturo em teus poemas,/são razões por que te amamos/e por que nos fazes sofrer(...)Não é o canto da andorinha,debruçada nos telhados da Lapa,/anunciando que tua vida passou à toa,à toa/Não é o médico mandando exclusivamente tocar um tango argentino,/diante da escavação no pulmão esquerdo e do pulmão direito infiltrado(...)Não são os mortos do Recife dormindo profundamente na noite(...)és tu mesmo,é tua poesia,(...)é o fenômeno poético,de que te constituíste o misterioso portador”.

Assim expressou-se Drummomd quando Manuel Bandeira completou 50 anos (Ode no Cinqüentenário do poeta Brasileiro-poema do livro SENTIMENTO DO MUNDO). O ano era 1940, marcado pela segunda guerra mundial.

O novo livro de Drummond trazia a necessidade de darmo-nos as mãos e sermos no futuro uma lembrança,como um retrato na parede, porque o amor resultou inútil e olhos não choram. Porque chegara um tempo em que não adiantava morrer. A vida ? Uma ordem. Vida apenas, sem mistificação.

Drummond tinha a História como perspectiva,e dizia-se poeta de “ritmos elementares”. Porém sua obra é uma espécie de suporte pra o viver, o sobreviver e o morrer. Onde o Bem, o Belo, a Forma,a Estrutura,a Verdade,a Realidade,o Indivíduo, as Pessoas,a Sociedade,o Canto,a Arte,o Artifício,o Menos e o Mais,o Sim e o Não, giram em alegorias no cotidiano do brasileiro simples.

O poeta de Itabira (MG) descobriu também que o sentido da vida é o seu sem-sentido onde tudo se comunica: o real e o imaginário de todas as épocas se misturam.

Assuntos,motivos,temas,tópicos que até então estavam banidos da poética aparecem na poesia dele numa espécie de novo “viva o dia”(carpe diem),como frisou Antônio Houaiss.

Drummond é mestre da língua.Sua invenção da modernidade é uma postura que se faz necessária,é pois um projeto de vida ou de carreira.Uma busca incessante,onde Linguagem e Homem reinauguram-se.

Sua busca da simplicidade,oralidade,é característica marcante,particularizante.

Suas utopias,sonhos,protestos,indagações,enlaces,desenlaces,fazem dele um “corajoso desor-ganizador”. Ele se escreve. Ele acusa o limite,não apenas entre o bem e o mal (que não existe,é apenas um contraste do bem).

Sua obra ”que não foi construída segundo um projeto,a partir de intenções e fôrmas e/ou formas externas- por exemplo a de `ser´ poeta,a de fazer um soneto,uma sextilha ou um poema de vanguarda,sobre este ou aquele tema,segundo esta ou aquela técnica”.

“O amor truncado,que não chega a ser amor,mas que perdido se revela amor que podia ter sido”.

O humor dessa vida que continuará nos outros,ou em “algo que talvez nem seja o Outro,mesmo que não valha a pena:continuará”: “Onde o diabo joga dama com o destino”.

“Debruça-se o autor sobre o próprio texto à medida que o elabora,inquirindo-lhe do cabimento,da legitimidade,da propriedade das palavras.Uma atitude metalingüística.É o cotidiano repetido num singular irrepetido.A técnica machadiana:espíritos afins,em determinadas condições histórico-sociais,são levados ao uso de técnicas de expressão afins”,ressaltou o mestre Houaiss.

O itabirano foi cristalizador do modernismo em sua plenitude cheia de crises,monstros e utopias. Crise totalizante,porque planetizada num mundo “fomicizado” pela mecanização “coisificante”,daí o conflito da mente do poeta com a realidade total em que vivia,

Luís Costa Lima afirmou: ”Drummond é o maior e último poeta modernista:seu riso corrói,dissolve aquelas dissonâncias que são a regra da vida.Ele assume com a História uma relação aberta”.

Ele se opõe ao “fluir sentimental de Manuel Bandeira,pois que não há piedade em si mesmo por uma vida que podia ter sido e que não foi e cujos elementos de saudade se constituem,assim,em força predominante de um poetar num infinito jogo de recursos para enunciação do inédito.Uma lição de vida”.

O livro “Sentimento do Mundo” contém os seguintes poemas:

SENTIMENTO DO MUNDO- o poeta é surpreendido pela guerra: ”Sinto-me disperso,/anterior a fronteiras,humildemente vos peço que me perdoeis.//Quando os corpos passarem,/eu ficarei sozinho(...)ao amanhecer//esse amanhecer/mais noite que a noite.”

CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO- as lembranças da cidade-natal: “Alguns anos vivi em Itabira./Principalmente nasci em Itabira./Por isso sou triste,orgulhoso:de ferro” (principal atividade da cidade) “A vontade de amar,que me paralisa o trabalho,vem de Itabira(...)E o hábito de sofrer,que tanto me diverte,é doce herança itabirana(...)Tive ouro,tive gado,tive fazendas./Hoje sou funcionário público./Itabira é apenas um retrato na parede./Mas como dói!” 

CANÇÃO DA MOÇA-FANTASMA DE BELO HORIZONTE.- uma mistura de lenda e metáfora: ”Eu sou a Moça-Fantasma/que espera na rua do Chumbo/o carro da madrugada/Eu sou branca e longa e fria/a minha carne é um suspiro/na madrugada da serra/Eu sou a Moça-Fantasma/O meu nome era Maria,/Maria-Que Morreu –Antes.(...) Eu nunca fui deste mundo:/ Se beijava,minha boca/dizia outros planetas/em que os amantes se queima/num fogo casto e se tornam/estrelas sem ironia//Morri sem ter tido tempo/de ser vossa,como as outras.Não me conformo com isso(...)Não sei como libertar-me”.

POEMA DA NECESSIDADE - utilizando-se do recurso da anáfora(repetições),o poeta anuncia o “fim do mundo”,num cotidiano frenético : “É preciso casar João,/é preciso suportar Antônio,é preciso odiar Melquíades,/é preciso substituir nós todos.//É preciso salvar o país,é preciso crer em Deus,/é preciso pagar as dívidas(...)é preciso colher flores(...)É preciso viver com homens,/é preciso não assassiná-los,/é preciso ter mãos pálidas/e anunciar o FIM DO MUNDO”.

TRISTEZA DO IMPÉRIO - a relação irônica do modernismo com a História,prato preferido de Oswald,aparece na poesia de Drummond: ”esqueciam a Guerra do Paraguai (...)a dor cada vez mais forte dos negros/e sorvendo mecânicos/uma pitada de rapé,/sonhavam com a libertação dos instintos/e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Copacabana,com rádio e telefone automático”.

O OPERÁRIO DO MAR- o homem do povo : “Para onde vai o operário?/Teria vergonha de chamá-lo meu irmão./Ele sabe que não é,nunca foi meu irmão,que não nos entenderemos nunca.E me despreza...(...) quem sabe se um dia o compreenderei?”

MENINO CHORANDO NA NOITE- a união entre seres humanos,flagrados em atitudes simples: “Na noite lenta e morna,morta noite sem ruído,um menino chora./O choro atrás da parede,a luz atrás da vidraça(...) E não há ninguém mais nesse mundo a não ser esse menino chorando.”

MORRO DA BABILÔNIA - a gente brasileira: ”Há mesmo um cavaquinho bem afinado/que domina os ruídos da pedra e da folhagem/e desce até nós,modesto e recreativo,/como uma gentileza do morro”. 

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO - “Provisoriamente não cantaremos o amor(...depois morreremos de medo” .

OS MORTOS DE SOBRECASACA- “Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis/alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,/em que todos se debruçavam/na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca//Um verme principiou a roer(...) Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava/que rebentava daquelas páginas”.

BRINDE AO JUÍZO FINAL- “Em vão assassinaram a poesia nos livros(...)Os sobreviventes aqui estão”.

PRIVILÉGIOS DO MAR - “Neste terraço mediocremente confortável,/bebemos cerveja e olhamos o mar./Sabemos que nada nos acontecerá.”

INOCENTES DO LEBLON - “Os inocentes do Leblon/não viram o navio entrar(...)tudo ignoram,/mas a areia é quente,e há um óleo suave/que lês passam nas costas,e esquecem”.

CANÇÃO DE BERÇO - “O amor não tem importância(...)Mas também a carne não tem importância(...)Também a vida é sem importância./Os homens não me repetem/nem me prolongo até eles./A vida é tênue,tênue/O grito mais alto ainda é suspiro,/os oceanos calaram-se há muito./Em tua boca,menina,/ficou o gosto de leite?/ficará o gosto de álcool? // Os beijos não são importantes./No teu tempo nem haverá beijos./Os lábios serão metálicos,/civil,e mais nada,será o amor/dos indivíduos perdidos na massa/e uma só estrela/guardará o reflexo/do mundo esvaído/(aliás sem importância).” 

INDECISÃO DO MÉIER - “Teus dois cinemas,um ao pé do outro,por que não se afastam/para não criar,todas as noites,o problema da opção.” 

BOLERO DE RAVEL - “Alma cativa e obcecada/enrola-se infinitamente numa espiral de desejo/e melancolia(...)Os tambores abafam a morte do Imperador” 

LA POSSESSION DU MONDE - “Os homens célebres visitam a cidade./Obrigatoriamente exaltam a paisagem./Alguns se arriscam no mangue,/outros se limitam ao Pão de Açúcar,/mas somente Georges Duhamel/passou a manhã inteira no meu quintal./Ou antes no quintal vizinho do meu quintal”.

OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO- um dos poemas mais conhecidos de Drummond da vida,simplesmente,sem mistificação: “Chega um tempo em que não se diz mais :meu Deus(...)não se diz mais:meu amor./Porque o amor resultou inútil./E os olhos não choram/E as mãos tecem apenas o rude trabalho./E o coração está seco.(...)Chegou um tempo em que não adianta morrer”.

MÃOS DADAS - aqui o poeta diz que é melhor não fazer poesia “alienada”.Fala também na necessidade de união para resolver os problemas(“a enorme realidade”).Uma resposta à aflição da guerra: “Não serei o poeta de um mundo caduco./Também não cantarei o mundo futuro./Estou preso à vida e olho meus companheiros./Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças”.

DENTADURAS DUPLAS - a velhice ,num poema dedicado a Onestaldo de Pennafort :”Dentaduras duplas!/Inda não sou bem velho/para merecer-vos(...)daí-me enfim a calma /que Bilac não teve/para envelhecer(...)feéricas dentaduras,admiráveis presas,/mastigando lestas/e indiferentes/a carne da vida!”

A NOITE DISSOLVE OS HOMENS - a Portinari : “A noite desceu.Que noite!/Já não enxergo meus irmãos(...) Tremenda,/sem esperança...Os suspiros/acusam a presença negra/que paralisa os guerreiros./E o amor não abre caminhão/na noite.(...)A noite anoiteceu tudo.../O mundo não tem remédio.../Os suicidas tinham razão(...) O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos(...) O mundo /se tinge com as tintas da antemanhã/e o sangue é doce,de tão necessário/para cobrir tuas pálidas faces,aurora.” 

MADRIGAL LÚGUBRE - “Em vossa casa feita d cadáveres(...)quisera eu morar(...)Cá fora é o jornal sujo embrulhando fatos,homens e comida guardada.(...)Dai-me vossa cama,princesa,(...)sutil flui o sangue nas escadarias”.

LEMBRANÇA DO MUNDO ANTIGO - “Clara passeava no jardim com as crianças./O céu era verde sobre o gramado,/a água era dourada sob as pontes,/outros elementos eram azuis,róseos,alaranjados(...)Havia jardins,havia manhãs naquele tempo!!!”

ELEGIA 1938 - “Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,/onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.(...)Aceitas a chuva,a guerra,o desemprego e a injusta distribuição/porque não podes,sozinho,dinamitar a ilha de Manhattan.” 

MUNDO GRANDE - “Não,meu coração não é maior que o mundo./É muito menor./Nele não cabem as minhas dores/Por isso gosto tanto de me contar./por isso me dispo,/por isso me grito,/por isso freqüento os jornais,me exponho cruamente nas livrarias:/preciso de todos(...)o grande mundo está crescendo todos os dias,/entre o fogo e o amor.//Então,meu coração também pode crescer(...) – Ó vida futura!nós te criaremos”.
O Irã tem um novo presidente que se diz “moderado”, na Turquia o povo faz greve e o negócio continua quente. No Brasil, Dilma é vaiada na abertura da copa das confederações. Enquanto issso os yankees perseguem o ex-espião que se mandou para Hong Kong e abriu o bico. Nova acusação de uso de armas químicas, desta vez na Síria poderá ser reeditado o filme que a turma de Sam rodou no Iraque, para "descobrir", depois da destruição do país, que não era bem o roteiro apresentado inicialmente e que iria ganhar o Oscar. 
Quem leu o romance "Ulisses", de James Joyce (1922)? Era a pergunta de um professor meu nos tempos  de estudante. Lembrei dele hoje, pois é o dia em que se passa a trama do livro, 16 de junho (1904). Há fãs que vão a pubs, bebem comemoram. No romance a ação se desenvolve em somente  um dia (de Dublin), num espaço-tempo infinito, pela reinvenção da linguagem (joyceana) entre o simbólico e o “real”. Naquele início de verão, a cidade ao sol, depois trovões (à tarde) e à noite... chuva. Joyce tinha 22 anos e não conhecia as sutilezas da carne no amor. Conheceu uma tal de Nora Barnacle, dois anos mais jovem, aí o negócio ficou mais... profundo. E no dia 16 de junho ele se  “transformou num homem”, e casou com a garota.


sábado, 15 de junho de 2013

Salvador Dalí (morto em 1989, vivo até hoje), nos anos 50, ilustrou a Divina Comédia, de Dante Alighier i(morto em 1321). O espanhol reverencia a arte italiana e hoje, os dois fantasmas estão no Recife Antigo, na Caixa Cultural, lá no Marco Zero. Inferno, Purgatório e Paraíso, em aquarelas para delícia dos nossos olhos. Recifenses terão acesso  ao centro da terra, podem ver o diabo a quatro e, depois, purificar-se no Purgatório, flertar com Beatriz no Paraíso. Vamos lá: Dalí e suas obsessões... a propósito: as aquarelas pertencem a um casal de colecionadores europeus. Vamos ver como o mestre lê Dante e fazer uma viagem inesquecível com esta incrível exposição.
 E esta história de “primavera árabe” à brasileira? O Brasil teria fôlego para superar este pagode infernal no qual se banha e goza delícias quatrocentonas. Dizer que é contra a copa e misturar isto com aumento de passagem de ônibus é sinal de que inverno é bom tempo para um novíssimo maio de 1968, ano que não acabou para Zuenir Ventura (era primavera, na Europa), em dias de 4G. Mas de qualquer modo é bom ficar ligado, afinal, para ficar nos 68 da vida... “ é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”!
Magia é  magia, mas teatro, quando é bom, é delirante, você viaja, mesmo, o resto é silêncio. Teatro, num negócio que é bom, sai da frente, nego, não tem nada melhor, repito: não tem nada melhor que o teatro. "Ou você faz coisa boa, ou eu sou pós-dramático", sugerem alguns.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O som da semana na minha rádio? http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=2zNSgSzhBfM
Vale a pena assistir ao espetáculo As confrarias, teatro Barreto Jr., Recife, quinta a domingo, às 20h (preço 10 e 5 reais); teatro de boa qualidade. Cadengue é mestre, o elenco é composto por artistas responsáveis, cenário e figurino que merecem análise especial. assim dá gosto ir ao teatro. Uma temporada a ser lembrada. A ação apesar de se passar no século XVIII, em Minas Gerais, traz no seu bojo uma atemporalidade e universalidade reforçadas  pela montagem. 
Ainda complicada a situação na Turquia, manifestantes contra a construção do shopping lutam contra um governo despótico que quer destruir um parque e um centro cultural. Na Argentina Cristina enfrenta mais um desastre envolvendo trens. Los hermanos também assistem a denúncias contra o ex-presidente Menen. Os americanos, liderados por Obama tentam dizer que a culpa do escândalo de tantos grampos na internet é do Edward, ex- espião que dedurou o esquemão envolvendo várias empresas. Em São Paulo parte da população continua nas ruas protestando contra o aumento das passagens de ônibus. No recife metroviários ficaram com 8% de aumento, assim como os professores da rede privada de ensino, já os motoristas da Manguetown fizeram parada simbólica de 8 às 9, nesta sexta-feira. Enquanto isso rola o boato de que Eduardo campos não vai mais desafiar Dilma e vai se contentar em ser candidato a Senador em 2014. Será?

quarta-feira, 12 de junho de 2013

 O inglês David Bowie terá exposição sobre sua obra em São Paulo em 2014. Ele mesmo divulgou . Talvez haja  apresentação, discurso, sei lá... performance... na exposição que terá  roupas, rascunhos de músicas e outros objetos de Bowie ( 66 anos). Vale assistir ao clipe de  Where are we now?
Olha: ele se apresentou pela última vez em 2006.
O ministro da Fazenda quase capota ao tentar frear o movimento furioso da alta do santo dólar sem misericórdia nesta terça-feira, dia 11. Baixou de R$ 2,16 para R$ 2,137, Risos & sisos.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Dólar nas alturas faz dondoca da Avenida Boa Viagem ter vertigem em Casa Forte e confundir pobreza de caviar com morte. aconteceu na imaginação de um poeta amigo meu, ontem ao partir para temporada de estudos nos EUA.
Que fofo: o Ringo Starr, que vi no show maravilhoso em Recife, Transformou uma canção sua (http://www.youtube.com/watch?v=FJ47G6HsFr8) em  livro para criança. Paz e amor a caminho! Em outubro lançará a brochura junto com um  CD (leitura feita por ele). Legal, não é? Vamos todos ao Jardim do polvo? Do jeito que as coisas estão por aqui só viajando mesmo (ou seria melhor uma revolução mais viajada ainda?) Risos & sisos. E a nave vai.
 Eduardo Campos aponta queda da economia do País, mas diz quer não quer se beneficiar com isso. Diz que sua crítica é “positiva” e que não  torce para nada dar errado com Dilma, pelo contrário, ele gostaria de “preservar” o que ela está fazendo.Será que Pernambuco não acompanha a queda do Brasil ou será que estamos subindo tanto que perdemos a noção de bem estar com pé no chão? A popularidade de Dilma caiu dos 64% para 56%. O apoio para o pernambucano é de apenas 6% de alguns entrevistados. Enquanto isso, Geraldo Julio (do partido do governador), disse que o que está acontecendo com Dilma é o resultado do modo como se encontra a economia do nosso querido País.
A Cientologia arrasta milhões de membros pelo mundo, alguns possuiriam até... poderes sobre-humanos. Seus líderes remexem a vida dos seus fiéis e têm um sistema de punições. Misturam ciência, cultura oriental para trabalhar melhor as questões da mente e do espírito. Voltaremos ao assunto. Alguém aí conhece um adepto brasileiro?
Horror turco: barricadas nas ruas e tumulto na praça Taksim, revolta popular contra a derrubada de árvores! Não é incrível? Aqui no Recife a Prefeitura não consegue nem por em ordem a principal avenida do Centro da cidade e ninguém faz nada. Na Turquia os ecologistas a remodelação de um parque em Istambul. A  polícia age de maneira brutal, o que não impede de milhares de pessoas se juntarem em ao protesto, pelo país, contra a barbárie do seu primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, que faz parte de um partido complicado.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

E o Zé Celso Martinez Corrêa, do teatro Oficina (e da história cultural do Brasil) vai ter que ir depor na polícia, explicar o que fez na PUC-SP, em novembro do ano passado (manifestação em prol de uma greve): um boneco em forma de sacerdote foi “degolado” ali. Pode?
                                                     Nem tão Grande Gatsby

 O romance de Scott Fitzgerald, publicado em 1925, mas cuja história passa-se em 22, quando James Joyce lançava seu Ulisses, traz para os saudosos de hoje um naco do "Sonho Americano".
Pois bem, hoje fomos ao filme mais recente baseado neste romance. Lá estávamos, em 3D, nas festas, realizadas na mansão do GRANDE GATSBY, em West Egg, num daqueles sábados, com centenas de pessoas.
Bem, o australiano Baz Luhrmann até que tentou (e conseguiu sucesso de público no exterior) requentar momentos de seus filmes de maior sucesso: não conseguiu, mas ficam os meus agradecimentos por trazer de volta um clássico da literatura que marcou minha juventude. Leonardo DiCaprio mais uma vez com aquele jeitão Michael Jackson de atuar arrebata pela neurose incontida, com seus olhos de piscina e seu jeito infantil de ser, agora já com rugas e sorriso cruel do tempo. Tobey está inexpressivo, Carey, ali, não cheira nem fede. Outro bom ator teria levado o cetro com coroa e tudo. A direção vaga para lá e para cá em busca de controle.
O filme é um doce que não chega a ser enjoativo, um licor que não dá ressaca, uma  celebração onde o homenageado mal aparece.

Olha só: aí está a ressurreição artística de Cyndi Lauper: ela recebeu o prêmio de melhor composição pelo tema de Kinky Boots na 67ª edição dos prêmios Tony, o Oscar do teatro, com a peça Kinky Boots (seis prêmios). "Todos queremos ser aceitos tal como somos e sobre isto é nosso musical", disse no palco do Radio City Music Hall  a equipe de Kinky Boots, o musical (retomou a história de um filme britânico independente, agora na Broadway). Gosto de Cyndi. Ela veio ao RECIFE há pouco tempo, fui apreciar o seu trabalho e saí satisfeito. PARABÉNS para esta mulher- símbolo de uma geração e não somente de um povo. Pena que os teatros em nossa cidade esteja entregue às baratas (TEATRO DO PARQUE) E... RATOS. Vejam só o Guararapes e o da UFPE (péssimo estado de conservação). TEATRO NO RECIFE SÓ NÃO ESTÁ MORTO porque é duro na queda. 


domingo, 9 de junho de 2013

CASSANDRA
Poema dramático de Moisés Neto
(dedicado a Conceição Camarotti )


Ai de ti, cidade maldita! Tua hora se anuncia:
Virá como uma onda enorme:
Uma guerra cruel...
Que a morrinha caia no teu espírito de cabra!
O presente é uma armadilha...
Com fome ardente tudo tu consomes,  cadela voraz!
Tudo em mim está terrivelmente destruído...
Mas... cuidado!
Escuta minhas previsões! Não rias...
As serpentes lamberam os meus ouvidos...

ó filho da aurora, ó portador da manhã, vem em meu auxílio!
 ó guardião noturno do templo faça com que acreditem no grande incêndio.

Tu ris....
A cidade será tomada! Será inútil o que te digo?
Tu!
Não acreditas?
Tu tratas as coisas baixas como se valessem muito:
Nada vale mais do que o preço que nós próprios damos!
Hás de chorar!

Bem sei que são inúteis os meus clamores
Sei bem da inutilidade de todos os meios
Eu sou como estrela que saiu da própria esfera...
Que importa que eu te avise sobre o fim das promessas?
Das alianças..
Sobre o horror dos infantes trucidados.

Devíamos fechar os portões... viver de nós mesmos!
Não me escutas?
O sangue ferverá até a loucura!
O amor porá tudo a perder... Nos fará chorar oceanos,
Viver no fogo,
Comer pedras...

Tu!
Geração de víboras,
Hás de lembrar de mim!
Quando no inferno de dores comeres fezes!
Quando desejares estar tão embaixo da terra quanto em cima
Eu te entreguei os segredos da natureza e tu... zombaste... de mim?!
Me trocaste de maneira tão miserável na mais rude pressa!

Que destino maligno este que sufoca assim nossas despedidas.
Meu coração parece estar sendo arrancado pela raiz!

Não! Não haverá orgulhosas cicatrizes que mereçam risos ou admiração
Nem restarão ídolos para adoradores idiotas como tu és!
Geração de víboras!
Tens menos cérebro que cera no ouvido.

Pelo inferno e seus tormentos: não direi mais nada!
Ainda ousas me agredir?
Vida! Como pudeste me pagar tão mal?

Meu coração flamejante no meio dessa devassidão
Ele ainda tem a intenção de manter a tola promessa.

Mas o veneno da vingança se aproxima...

E eu pressinto os teus olhos pálidos, ó geração desgraçada que não me atendeste!
E me insultaste!
Já vislumbro as tuas feridas sangrando.
No estupor.
Na loucura
No desespero dos grosseiros e aturdidos...
Malvados, tremei!


Adeus.
Já se aproxima a feia noite: assim como o sol no ocaso a vida se abrevia.
Esta cidade terá medo de si mesma!

Nenhum espaço separará nosso ódio.
Nossas crianças parecerão milhões de peixinhos mortos sobre este rio poluído.

Chorai,
Geração de víboras!
Não por mim, que sou ninguém...
Mas por teus ossos.

A peste vem aí... Não tarda!




FIM