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domingo, 21 de julho de 2013

Doméstica antes da meia-noite (por Moisés Neto)



Dois filmes em cartaz merecem meu comentário. Vamos ao primeiro: Antes da Meia Noite. ele tem uma estrutura que quer misturar cultura francesa com americana com cenário grego (você é um garotão de 41 anos, adoro seu traseiro e tetas, francesinha). Jesse (Ethan Hawke) é o nome do homem e Celine (Julie Delpy)  o da mulher. Richard Linklater é o diretor obcecado pelo tema e dono desta trilogia que tem seus méritos enquanto experiência, mas os personagens observados desde 1995, 2004 e agora (2013) são enquadrados num ritmo que faz do espectador um voyeur, às vezes desinteressado. O tempo urge, mas não há Cinderela e sim pais de duas gêmeas louras, fruto do primeiro ato sexual da dupla. Não, não dá para notar ali (e ninguém é obrigado a ter de assistir aos outros dois filmes da trilogia, embora eu tenha visto o primeiro, filmes) como este imbróglio nasceu e se transformou  agora neste tédio caliente (termina com uma música que aqui poderia ser chamada de brega, para os créditos finais; será que haverá antes de uma hora da manhã? Um próximo episódio da franquia? Tipo aquela trilogia, vermelho, azul e branco... lembram? Trilogia das Cores: A liberdade é azul, A Igualdade é Branca e A Fraternidade é Vermelha, com a mesma Julie deste Antes da meia-noite? Não é que eu não goste deste filmes, mas a realidade neles cheira a uma situação bem confortável (mesmo exibindo tanta coisa desconexa no sujeito fragmentado dos nossos dias caosmóticos...) embora ele tenha um filho com uma mulher que o odeia noutro continente. Lirismo? Não. Convivência ou conveniência é que faz das histórias de amor um casamento duradouro? Não sabemos porque tudo é levado com a leveza de um croissant ou a superficial assepsia americana, só que tem como ambiente a Grécia (Ruínas? Viu uma viu todas! É o que a personagem francesa diz). Os  longos planos-sequência são de testar a paciência de quem já leu o bastante sobre o assunto ou viu tantos filmes sobre o tema. Before Midnight é um... conto de enfado.
O outro filme parece mais peculiar. Trata-se de DOMÉSTICA, um documentário que busca mergulhar no inconsciente dos brasileiros com viés que faria Gilberto Freyre ter de se posicionar novamente num velho tema: o da casa não tão grande e uma senzala que dá a sensação de um país dentro do outro país (ou países, bye bye Brazil, de novo?). 


                                  


Dizer que não há  dualidade pré-definida neste documentário é não se aprofundar na visão, por mais rápida que se tenha desta obra. Gabriel Mascaro assina a direção, se é que podemos chamar assim o fato é que ele é um coordenador de mais este trabalho interessante. O cotidiano de algumas domésticas (uma das partes inclui um homem, um “doméstico”, subempregado, que de tão torturado faz-se uma esfinge dentro do filme). Destaque também para uma patroa que obriga uma amiga de infância a vestir uniforme num apartamento classe média remediada.

Sete adolescentes registraram por uma semana a sua doméstica e o diretor realizou o filme com este material. Intimidade é algo que transparece o que torna DOMÉSTICA mais que um documentário: um exercício da crueldade e d amor extremo entre patrão, empregado, espectador e obra. Mascaro merece nosso respeito pelo trabalho que vem realizando na sua carreira. Sim: TRATA-SE DE UM GOLPE DE MESTRE. É ver para crer. Prestem atenção na cena da mulher que perdeu trigêmeos pela violência do ex-marido e agora é subdoméstica, atendendo a um deficiente (a carga de erotismo e a discussão sobre gêneros se dá de forma inusitada misturando prazer e perversão) e à garota que está colhendo o material para Mascaro. É por esta e outras que reafirmamos a capacidade do diretor.

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