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quinta-feira, 3 de maio de 2018

Rainha da Pernambucália, carta#2


CARTA (off, antes do espetáculo, a plateia ouve trechos, enquanto entra): Vieram aqui assistir ao quê? Ao espetáculo d minha decadência ou o start da minha nova ascensão? O que prefeririam? As férias forçadas foram ótimas, mas agora voltei.  Quando fui abandonada , meu anjo da guarda teve o maior trabalho para me convencer a não pular do apê, na bad trip desse amor esotérico, ou até que nem tanto esotérico assim... eu e minha imbecilidade concordamos: uma serra elétrica no coração teria doído menos;  percebi logo algo sinistro naquele dia que essa criatura saiu na metade do meu show... cara de nojo... diferente da cara coitadinha, vítima da “mau caráter” aqui, como ela gosta de espalhar sobre mim, por aí. Ela, a raposa, sei muito bem como ela juntou a graninha dela, bancando a honesta; pra cima de “muá”? Non! Rien de rien! Je ne regrette rien! Eu nunca fui o cérebro por trás da nossa relação: eu fui a... alma. Ah! Foi muito carnaval. Muito rock ´n´roll. Eu tinha orgasmos com as mordidas dela no meu pescoço... satisfazendo meus sonhos eróticos...disseram que eu precisava de uma rehab pra me desestressar, uma clínica discreta. Diziam também que a dor purificaria meu espírito vingativo, hum! Não queria tranqüilizantes, tomar o que há para não ver o que há... eu enchi a car muitas vezes pra anestesiar as tristezas e fazer a atriz, sempre feliz e debochada. A vida , às vezes, parece um maldito relógio, me observando, que só pede licença depois de invadir minha existência. Ui! Se arrependimento matasse... falavam mal de mim; as redes sociais adoram uma perdedora pra chamar de sua! Falsos amigos escutaram você, acreditaram nas suas trapaças sórdidas contra mim. Suas mentiras bipolares ardilosas. Não bastava me abandonar. Tinha que acabar comigo, não é? Você.... você...  (grita)  ...inconsequente?! e eu só ali, no modelito hay cerveja, no soy contra, e eu não era nada chique quando eu enchia a cara! Eu queria mergulhar no coma, fugir dos tempos chatos... Ulalá! A gente tem que comer quiabo pra saber que não gosta! Eu precisava, de novo, ter prazer de ter prazer comigo! Seguir em frente sem estar chapada; a vida é assim... cochilou, cachimbo cai. Precisava assumir a louca, pero com classe! Mas me lasquei. Caí bêbada da varanda quebrei o maxilar, cortei fundo o lábio, fiquei dois meses me recuperando da cirurgia complicada, colocaram pinos  e disseram que eu nunca mais ia abrir direito a boca; minha carreira de atriz e ativista estaria encerrada? Perdi 50% da audição do ouvido esquerdo. Sobrevivem a isso, também... ela não contava com a minha força. Ela me paga! Veio vesícula, tiróide, escoliose. Porra! Para! Para! Eu disse pra mim mesma. Decidi o que fazer e aqui estou...

Magdale Alves e o diretor Fernando Limoeiro, em texto de Moisés Monteiro de Melo Neto




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