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segunda-feira, 28 de maio de 2018

Moisés Neto fala sobre a sua escrita


Minha escrita é essencialmente dialógica, se choca com qualquer  monologismo , faz críticas aos costumes vigentes e atinge a intratabilidade na sua busca radical. Não admite concessão, nem cumplicidade. Quer partejar o real embutido, disperso em tempo e discurso. Faz-se sátira,  paródia, para tornar patente o ser. Atinge os nódulos. Não é feita para ser adulada; para ganhar dinheiro. Cava seu espaço na mídia é busca pessoal, terrorista, libertina, masturbatória, de compreensão e interferência na existência, é dialógica, fragmentar, polidimensional, hipertextual (na forma e conteúdo).  Organiza o que está disperso no confronto de ideias, no conflito das multiplicidades, nos devires da virtualidade. Faz-se flexível, mutável, interpenetra os gêneros: presença com o riso é paródia que não teme o grotesco nem as limitações espacio-temporais, da história, observa a dimensão jornalística do imediato(livre do convencional memorialismo) : não se quer verossímil ataca até a si mesma.Não se deixa atingir pelo bairrismo. Reordena, usa o palimpsesto, a técnica cinematográfica, pós-surreal-cubista-futurista, é interferência e substituição, reorganização virótica. Mistura fala, substitui elementos, desdobra o que está dobrado e dobra o desdobrado.  Condensa, exagera, desloca, permuta, monta, corta, separa, une, junta planos, reestrutura cenas, cria continuações nos vazios, esvazia os cheios, corta e recompõe em colagens visíveis e invisíveis e o novo sentido é construído em tempo reordenado nas pontes do novo texto com outros, texto sobre texto em escreviver. Viola discursos . É inoportuno desmascaramento,  profanação, desrespeito, contrastes brusquidão, gêneros intercalados, multiplicidade de estilos, perfuração de limites tornando a estabilidade relativa onde tudo é levado ao extremo . Parodia os tons opressores levando-os até seu limite, contradicções, temporalidades viciadas, câncer. É encontro com a própria consciência, com outras na luta contra crenças, desejos, naturalizações, explorações, humilhações pois quer clara consciência. Ironia aí,  não é jogo engraçado e sutil, porém demolição. Não é catarse, espiritualidade, mas expressão do turvo, equívoco, doloroso , quer a revolta em vez do pastoreio. Exibe o escravo, a escravidão, as explorações, os preconceitos Execra as monofonias recusa a aquiescência, a passividade, é incômoda. Não tem partido, sua razão é contra todos. Não tolera vencidos ou vencedores na sua ácida cólera , indignação, ataque aos racionais e irracionais, direitas e esquerdas, modernistas e antimodernos, comunistas e capitalistas, nazistas e antinazistas, negros e brancos, judeus e árabes, homens e mulheres, amigos e inimigos, teístas e ateus, pós-modernistas e nacionalistas. Nessa mistura de sério com cômico atinge representação literária de estados psíquicos intrigantes num sensualismo que zomba maliciosamente dos ridículos do mundo.  Tem função corrosiva de busca radical da verdade Não quer se acostumar com as negociações, arranjos, dribles, acertos, os ideais dos senhores, o que eles gostam, querem, desejam, sonham. Não quer comungar com o ridículo. Não teme ofender ninguém e demonstra autonomia, liberdade. Vai além do nacionalista quando reconhece a máscara dos senhores, dentes dos senhores. E não rir pra eles, não faz parte dos que ficam parados suspirando nas trevas, coniventes com a opressão.  Quer o instante instaurador como eixo.

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