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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Eva Peron: A desconstrução de um mito

              

                                   por Anderson Cleber

    
        Para alguns, uma santa, para outros, uma populista demagoga que asfixiou o país. Essa foi Evita.  E na visão que a peça de Copi apresenta, a segunda opção fica em uma evidência sem precedentes, claro é uma obra fictícia mas que traz a  discussão de que toda essa adoração "exagerada" foi criada por uma ação premedita.
         Traçando um paralelo entre a vida de Evita e o texto de Copi, podemos ver situações que fortificam essa "provocação" da peça. Irei tratar como Evita, a figura real e de Eva,a personagem fictícia.
             Uma vez em que a própria Evita declara "Só me casarei com um príncipe ou um presidente",  quando vivia em Los Toldos, sua cidade natal no meio do pampa, e ainda se chamava Maria Eva Duarte. Claro podia ser só mais um sonho de uma jovem que ainda sofria pelo fato de ser uma filha ilegitima, o pai, don Juan Duarte, proprietário de terras, havia literalmente comprado sua mãe, a bela Juana Ibarguren, em troca de um jumento e uma carroça. Da união nasceram quatro meninas e um menino. Evita, a caçula, em 7 de maio de 1919.
Na peça a Eva é considerada uma "filha da puta"(acho até um pouco agressivo para com a mãe verdadeira, por parte de Copi) pois ela mesma chama a mãe disso e a mãe dela se mostra muito preocupada com um possível golpe de estado depois da morte da filha (que realmente vem a acontecer)  e ela ficaria sem nenhum dinheiro, como os que estão em um cofre na Suíça. Essa informação do dinheiro fora, se refere a uma das viagens que Evita fez para Europa quando já era primeira dama. Ela foi convidada oficialmente pelos governos espanhol, italiano, francês e suíço. Essa viagem pela Europa, como um percurso iniciático, durou três meses. Na volta, transformada, Evita apareceu investida de uma elegância irretocável. As senhoras da alta sociedade que tanto haviam rido dela por sua falta de gosto e por suas toaletes berrantes só podiam agora admirar a Evita em trajes de Dior. Os vestidos também são bastante mencionados e tem um papel primordial no desfecho da trama, fora o fato de afirmar a Eva como uma mulher fútil e consumista! Evita cometia muitos erros gramaticais, enquanto a Eva da peça era extremamente desbocada e despirocada mas também muito astuta. A própria Evita pode se dizer também foi muito astuta, em utilizar sua carreira de atriz para o seu alpinismo social, ela contou com a ajuda de um oficial do governo  o coronel Aníbal Imbert, que veio a se tornar seu amante (antes de conhecer Perón). Nomeado para a direção dos Correios e Telecomunicações, o militar linha-dura controlava o conteúdo das emissões radiofônicas que lhe presenteou com  uma série de folhetins de caráter histórico onde Evita interpretava Catarina da Rússia ou Elisabete da Inglaterra, como se, "inconscientemente", se preparasse para tornar-se rainha. Eu vim a suspeitar que o coronel Imbert seja o personagem Ibiza.
            Imbert praticamente ajudou a disseminar a ideia da grande mulher heroína poderosa através dos folhetins e acabou funcionando como um relações publicas de Evita, a colocando nos bailes dos oficiais onde em um desses ela conhece Perón, Eles se "apaixonam"  e se casam ambos com seus interesses.
              Ibiza esta com o casal a muito tempo e articulando planos com  Eva. Funciona quase como um relações publicas para ela. Mesmo que eles não sejam a mesma figura, ambos foram importantes e ajudaram a criar a história dela, um na vida real e outro na ficção.

                Nesse paralelo podemos encontrar acontecimentos reais que se ligam ao texto fictício. Copi conta esses fatos não de um jeito romantizado como por exemplo, as viagens, que na visão dele não teria só servido por diplomacia mas também esconder dinheiro no exterior, esbanjar com as compras dos vestidos.  Evita fazia discursos para as massas, paras mulheres, os desafortunados, logo ganhou o prestigio da população argentina, mas tudo isso pode não passar do espetáculo da politica. Ações premeditadas de alguém que sempre desejou o topo.
                  Me atendo ao texto, os personagens que fazem parte da trama são: Eva Perón, a mãe, Ibiza, a enfermeira e Perón. A trama se passa no que seria os últimos momentos de vida de Eva, onde a mãe tenta descobrir se existe ou não um cofre na suíça e deseja a senha Eva praticamente esta se preparando para a morte, Ibiza faz tudo para ajudar a Eva com o que ela deseja um Perón apagado ofuscado pela sua esposa e a enfermeira fazendo o seu serviço.  Eva sempre reafirmando seu câncer "eu tenho câncer" acredito no intuito de não perdemos a informação real que Evita morreu de câncer, para no final o ápice acontecer  tudo o que ocorreu foi uma grande teoria da conspiração onde Eva mata a enfermeira que veste um dos seus melhores vestidos.
                 O tom transgressor característico de Copi torna ainda mais interessante esse texto "merda" é a primeira palavra da peça e vem da própria Eva, a maior figura do país, que também é uma assassina. Imagino sim os personagens sendo feitos só por homens, na estética  queer  se utilizando do escracho, e nos fazendo refletir mais sobre esse tipo de assunto, o de não nos deixarmos ser sempre cordeirinhos a espera do pastor para nos guiar. Nos provocando a  questionar  nossas próprias verdades ou as verdades que nos induzem.
     

               

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