por Anderson Cleber
Para alguns, uma santa, para outros,
uma populista demagoga que asfixiou o país. Essa foi Evita. E na visão que a peça de Copi apresenta, a
segunda opção fica em uma evidência sem precedentes, claro é uma obra fictícia
mas que traz a discussão de que toda
essa adoração "exagerada" foi criada por uma ação premedita.
Traçando um paralelo entre a vida de Evita e o texto
de Copi, podemos ver situações que fortificam essa "provocação" da
peça. Irei tratar como Evita, a figura real e de Eva,a personagem fictícia.
Uma vez em que a própria Evita declara
"Só me casarei com um príncipe ou um presidente", quando vivia em Los Toldos, sua cidade natal
no meio do pampa, e ainda se chamava Maria Eva Duarte. Claro podia ser só mais
um sonho de uma jovem que ainda sofria pelo fato de ser uma filha ilegitima, o
pai, don Juan Duarte, proprietário de terras, havia literalmente comprado sua
mãe, a bela Juana Ibarguren, em troca de um jumento e uma carroça. Da união
nasceram quatro meninas e um menino. Evita, a caçula, em 7 de maio de 1919.
Na peça a Eva é considerada
uma "filha da puta"(acho até um pouco agressivo para com a mãe
verdadeira, por parte de Copi) pois ela mesma chama a mãe disso e a mãe dela se
mostra muito preocupada com um possível golpe de estado depois da morte da
filha (que realmente vem a acontecer) e
ela ficaria sem nenhum dinheiro, como os que estão em um cofre na Suíça. Essa
informação do dinheiro fora, se refere a uma das viagens que Evita fez para
Europa quando já era primeira dama. Ela foi convidada oficialmente pelos
governos espanhol, italiano, francês e suíço. Essa viagem pela Europa, como um
percurso iniciático, durou três meses. Na volta, transformada, Evita apareceu
investida de uma elegância irretocável. As senhoras da alta sociedade que tanto
haviam rido dela por sua falta de gosto e por suas toaletes berrantes só podiam
agora admirar a Evita em trajes de Dior. Os vestidos também são bastante
mencionados e tem um papel primordial no desfecho da trama, fora o fato de
afirmar a Eva como uma mulher fútil e consumista! Evita cometia muitos erros
gramaticais, enquanto a Eva da peça era extremamente desbocada e despirocada mas também muito astuta. A
própria Evita pode se dizer também foi muito astuta, em utilizar sua carreira
de atriz para o seu alpinismo social, ela contou com a ajuda de um oficial do
governo o coronel Aníbal Imbert, que
veio a se tornar seu amante (antes de conhecer Perón). Nomeado para a direção
dos Correios e Telecomunicações, o militar linha-dura controlava o conteúdo das
emissões radiofônicas que lhe presenteou com
uma série de folhetins de caráter histórico onde Evita interpretava
Catarina da Rússia ou Elisabete da Inglaterra, como se,
"inconscientemente", se preparasse para tornar-se rainha. Eu vim a
suspeitar que o coronel Imbert seja o personagem Ibiza.
Imbert praticamente ajudou a
disseminar a ideia da grande mulher heroína poderosa através dos folhetins e
acabou funcionando como um relações publicas de Evita, a colocando nos bailes
dos oficiais onde em um desses ela conhece Perón, Eles se
"apaixonam" e se casam ambos
com seus interesses.
Ibiza esta com o casal a muito
tempo e articulando planos com Eva.
Funciona quase como um relações publicas para ela. Mesmo que eles não sejam a
mesma figura, ambos foram importantes e ajudaram a criar a história dela, um na
vida real e outro na ficção.
Nesse paralelo podemos
encontrar acontecimentos reais que se ligam ao texto fictício. Copi conta esses
fatos não de um jeito romantizado como por exemplo, as viagens, que na visão
dele não teria só servido por diplomacia mas também esconder dinheiro no
exterior, esbanjar com as compras dos vestidos.
Evita fazia discursos para as massas, paras mulheres, os desafortunados,
logo ganhou o prestigio da população argentina, mas tudo isso pode não passar
do espetáculo da politica. Ações premeditadas de alguém que sempre desejou o
topo.
Me atendo ao texto, os
personagens que fazem parte da trama são: Eva Perón, a mãe, Ibiza, a enfermeira
e Perón. A trama se passa no que seria os últimos momentos de vida de Eva, onde
a mãe tenta descobrir se existe ou não um cofre na suíça e deseja a senha Eva
praticamente esta se preparando para a morte, Ibiza faz tudo para ajudar a Eva
com o que ela deseja um Perón apagado ofuscado pela sua esposa e a enfermeira
fazendo o seu serviço. Eva sempre
reafirmando seu câncer "eu tenho câncer" acredito no intuito de não
perdemos a informação real que Evita morreu de câncer, para no final o ápice
acontecer tudo o que ocorreu foi uma
grande teoria da conspiração onde Eva mata a enfermeira que veste um dos seus
melhores vestidos.
O tom transgressor
característico de Copi torna ainda mais interessante esse texto
"merda" é a primeira palavra da peça e vem da própria Eva, a maior
figura do país, que também é uma assassina. Imagino sim os personagens sendo
feitos só por homens, na estética queer
se utilizando do escracho, e nos fazendo refletir mais sobre esse tipo
de assunto, o de não nos deixarmos ser sempre cordeirinhos a espera do pastor
para nos guiar. Nos provocando a
questionar nossas próprias
verdades ou as verdades que nos induzem.
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