por moisesmonteirodemeloneto
Uma montagem
da peça Medida por medida, comédia de Shakespeare, cheirando a drama, foi
trazida ao Recife (Teatro RioMar, 9 de julho, 2016, 21h) por Thiago Lacerda e uma
trupe de atores experientes que fez dobradinha com Macbeth (apresentado no dia
anterior e na vespertina deste mesmo sábado (só que Thiago não faz o papel
principal de Medida, isto é, o do Duque, preferindo o de Ângelo, uma espécie de
vilão que a comédia transforma em nulidade).
Olha só um
comentário que a produção ofereceu: Em Medida
Por Medida, no caos da paz, o mundo se transformou em um bordel. Este é um
mundo povoado por homens de grande poder e também por padres e freiras, prostitutas,
cafetões, bêbados e arruaceiros, gente alegre e simples que leva a vida nas
ruas, nos conventos, nos bordéis e nas prisões da cidade.
A peça foi
apresentada a primeira vez em 1604, já
na corte de James I; os nobres não
gostaram da crítica um tanto jacobita de William.
Vincentio,
duque de Viena, sai de férias, coloca no seu lugar Ângelo (Thiago Lacerda), e
volta, disfarçado de um monge para investigar, Mas o novo administrador é um
tanto quanto mau caráter, e metido a bom,
condenação à morte o jovem Cláudio, que engravidara a noiva antes do casamento, mas estava disposto a casar.
condenação à morte o jovem Cláudio, que engravidara a noiva antes do casamento, mas estava disposto a casar.
Vem a freira
Isabella, irmã dele, para pedir clemência pelo irmão. Ângelo fica com vontade
de fazer sexo com ela e diz que só assim libertará Cláudio. Ela não aceita, mas
o duque vestido de monge, traça um plano junto com ela e coloca uma pretendente
de Ângelo no lugar e ele faz amor no escuro e no silêncio, mas mesmo assim
manda matar o irmão da freira, que por outro artifício, escapa.
Como a peça
trata da justiça, verdade, compaixão, orgulho e humildade “alguns elevam-se
pelo pecado, outros caem pela virtude”. O tom que o diretor Ron Daniels dá é o
de interação com o público, buscando talvez o que o bardo inglês conseguia com
o seu teatro em Londres, na sua época.
Além de ter atuado como Cristo em Fazenda
Nova, Lacerda já trouxe à nossa cidade um espetáculo cheio de problemas, uma
versão de Hamlet, em que atuou no papel-título, onde até Selma Egrei, como Gertrude,
estava nos seus piores momentos, por culpa de uma direção um tanto indecisa,
talvez. Lembro que a peça foi dividida em dois atos (muita gente saiu no
intervalo, inclusive colegas de Thiago) e no começo do segundo, Hamlet se
maquiava como clown. Egrei usava no enterro de Ofélia a mesma camisola da cena
do quarto com o filho, príncipe da Dinamarca.
Medida por
medida recebeu montagem dinâmica e cheia de dubiedades com a palavra golpe,
trocadilhos que às vezes lembravam programas humorístico da TV e
soluções cênicas comprometedoras como a dos palhaços (um tanto deslocados) e
outros brincantes que lembravam papangus e personagens folclóricos.
Soube que o
cenário era o mesmo para as duas peças. Eram lâminas, como persianas com
direito a bons efeitos de luz, assim como um imenso painel (lembrando o quadro Operários,
de Tarsila do Amaral) exibindo rostos que mudavam de expressão com o desenrolar
da peça.
Parabéns
àqueles, como Thiago, que ousam trazer peças assim, mesmo com os deslizes
mencionados.
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