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domingo, 10 de julho de 2016

Thiago Lacerda traz Medida por Medida aos palcos do Recife

por moisesmonteirodemeloneto






Uma montagem da peça Medida por medida, comédia de Shakespeare, cheirando a drama, foi trazida ao Recife (Teatro RioMar, 9 de julho, 2016, 21h) por Thiago Lacerda e uma trupe de atores experientes que fez dobradinha com Macbeth (apresentado no dia anterior e na vespertina deste mesmo sábado (só que Thiago não faz o papel principal de Medida, isto é, o do Duque, preferindo o de Ângelo, uma espécie de vilão que a comédia transforma em nulidade).
Olha só um comentário que a produção ofereceu: Em Medida Por Medida, no caos da paz, o mundo se transformou em um bordel. Este é um mundo povoado por homens de grande poder e também por padres e freiras, prostitutas, cafetões, bêbados e arruaceiros, gente alegre e simples que leva a vida nas ruas, nos conventos, nos bordéis e nas prisões da cidade.
A peça foi apresentada a primeira vez em 1604,  já na corte de James I;  os nobres não gostaram da crítica um tanto jacobita de William.
Vincentio, duque de Viena, sai de férias, coloca no seu lugar Ângelo (Thiago Lacerda), e volta, disfarçado de um monge para investigar, Mas o novo administrador é um tanto quanto mau caráter, e metido a bom,
condenação à morte o jovem Cláudio, que engravidara a noiva antes do casamento, mas estava disposto a casar.
Vem a freira Isabella, irmã dele, para pedir clemência pelo irmão. Ângelo fica com vontade de fazer sexo com ela e diz que só assim libertará Cláudio. Ela não aceita, mas o duque vestido de monge, traça um plano junto com ela e coloca uma pretendente de Ângelo no lugar e ele faz amor no escuro e no silêncio, mas mesmo assim manda matar o irmão da freira, que por outro artifício, escapa.
Como a peça trata da justiça, verdade, compaixão, orgulho e humildade “alguns elevam-se pelo pecado, outros caem pela virtude”. O tom que o diretor Ron Daniels dá é o de interação com o público, buscando talvez o que o bardo inglês conseguia com o seu teatro em Londres, na sua época.
 Além de ter atuado como Cristo em Fazenda Nova, Lacerda já trouxe à nossa cidade um espetáculo cheio de problemas, uma versão de Hamlet, em que atuou no papel-título, onde até Selma Egrei, como Gertrude, estava nos seus piores momentos, por culpa de uma direção um tanto indecisa, talvez. Lembro que a peça foi dividida em dois atos (muita gente saiu no intervalo, inclusive colegas de Thiago) e no começo do segundo, Hamlet se maquiava como clown. Egrei usava no enterro de Ofélia a mesma camisola da cena do quarto com o filho, príncipe da Dinamarca.
Medida por medida recebeu montagem dinâmica e cheia de dubiedades com a palavra golpe, trocadilhos que às vezes lembravam programas humorístico da  TV  e soluções cênicas comprometedoras como a dos palhaços (um tanto deslocados) e outros brincantes que lembravam papangus e personagens  folclóricos.

Soube que o cenário era o mesmo para as duas peças. Eram lâminas, como persianas com direito a bons efeitos de luz, assim como um imenso painel (lembrando o quadro Operários, de Tarsila do Amaral) exibindo rostos que mudavam de expressão com o desenrolar da peça.

Parabéns àqueles, como Thiago, que ousam trazer peças assim, mesmo com os deslizes mencionados.

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