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sábado, 9 de julho de 2016

Big Jato redimensiona a obra de Cláudio Assis: delícia conhecer assim Xico Sá

 por moisesmonteirodemeloneto


       Nem Morte e vida severina (dirigido por Walter Avancini) nem Vidas secas (dirigido por Nelson Pereira dos Santos): aqui está Big Jato!
Com censura 16 anos, o novo filme de Cláudio Assis tem como eixo a história do menino Francisco, com o qual eu me identifiquei imediatamente, Chico passa os dias a acompanhar o pai (Matheus Nachtergaele) no trabalho, ou melhor, nas estradas com um  limpa fossas, o tal Big Jato do título, caminhão-pipa utilizado para limpar as fossas da cidade sem saneamento básico. Mas o garoto está mais interessado nas ideias do tio, também interpretado por Nachtergaele, um artista libertário e anarquista. À medida que descobre o primeiro amor, Chico percebe a vocação para se tornar poeta.
Vemos ainda uma visão peculiar do sexo, mas dessa vez o negócio é mais poético. Dizer que o diretor é homofóbico e machista é desconhecer a alma humana. Cláudio faz o papel de Dante Alighieri dos pobres, numa antropologia ficcional de Pernambuco que explode em imagens incríveis. Mesmo quando lida com clichês, ele os inverte, transecciona-os em clima de terror e êxtase. Pois bem, desta vez é com delicadeza que ele trata o início da homossexualidade em um dos três irmãos, filhos do motorista. O mais velho é interpretado pelo filho de Assis, que promete boa carreira se estiver mesmo interessado. 


elenco jovem não fica abaixo da atuação dos veteranos, destaque também para o mais novo artista da família Assis







Matheus e Sílvio Pinto, em cena

 atores locais valorizados


Então? O sexo e a violência continuam em foco, mas agora as experiências de marginalidade ganham novos vieses que como paralelas correm em separado ao infinito. Trabalhando com uma adaptação do  livro “Big Jato”, de Xico Sá (estive com ele na época da UFPE) , Cláudio vai dando um olhar, quem diria?, DELICADO, cheio de nuances, ao trânsito entre infância/ adolescência de uma carinha do interior de Pernambuco; o clichê “quero ser poeta” funciona como luz no fim do túnel e as imagens à beira-mar também vão roçando no final do livro, que sugerem que o rapaz , na fase adulta é alterego de Xico (como o nome da personagem indica), um pernambucano comum, O trabalho de Rafael Nicácio é muito bom, e como ele transita entre o prostíbulo, o estúdio da rádio do tio, a própria casa, a loja da menina que ele ama e que o faz de babaca, a referência paterna, o tio rock’ n ‘ roll, cujo lema é Let it be! Pois é, ou Lerilái, imerso no clima underground. 


Lerilái!



Lailson está soberbo representando a contestação dos anos 60 e 70, em entrevista à estrela de um rádio local (Matheus Nachtergaele, fazendo o oposto do pai do menino e dando dicas fortíssimas ao sobrinho, filho do irmão careta, machista); e Big Jato também tem outras coisas preciosas incrustadas na sua coroa de louros dantesca: um homem do povoado, interpretado por ninguém menos do que o icônico Jards Macalé ( e viva 1968!), chamado de...  Príncipe e vai compartilhando suas visões do amor e da vida louca com o garoto Chico. A fotografia de Walter Carvalho é um destaque notável. Houve problemas na exibição com o áudio nas primeiras cenas on the road,  na boleia do Big Jato, mas vale lembrar que assisti ao filme no mitológico Cine São Luiz, às margens do rio Capibaribe cujo sistema de som de lá, dizem que foi melhorado... nada que crucifique o filme, mas poderia ter sido solucionado, aliás: pode. O filme foi vencedor do prêmio de Melhor Filme no Festival de Brasília em 2015, e também ganhou os troféus de melhor trilha sonora (DJ Dolores), roteiro (Hilton Lacerda e Ana Carolina Francisco), atriz (Marcélia Cartaxo) e ator (Matheus Nachtergaele). Há que se destacar o trabalho de, Paly Siqueira, Fabiana Pirro, Artur Maia e Erasto Vasconcelos.


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