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sexta-feira, 8 de julho de 2016

BARROCO, uma introdução




A Europa pré-industrial, aristocrática e jesuítica (Espanha e Portugal) estava em confronto com o avanço do racionalismo burguês (Inglaterra, Holanda, França). A angústia, o desejo de fuga, o subjetivismo, um sonho, uma fuga da realidade convencional,tentativa de negação da arte como “cópia” . eis o espírito Barroco.
No Recife, um dos exemplos mais notáveis desse estilo é a Capela Dourada

Prof. Moisés Neto, Capela Dourada, Recife




Luz e sombra, materialismo e espiritualismo, racionalismo e irracionalismo se confundiram e se interpenetraram a ponto de provocar uma explosão artística de proporções gigantescas, inusitada. Cheia do inconformismo e da inquietação do homem do século XVII. Novas formas, novos significados, ligados à tradição clássica mas buscando transformação destas mesmas tradições.

No Barroco temos:

A) rebuscamento, (uma espécie de “jogo de palavras e de sensações” que subverte a linguagem poética clássica) é o  cultismo ou gongorismo (termo inspirado no poeta barroco espanhol Luís de Gôngora).
B) conceptismo ou quevedismo (termo inspirado no poeta barroco espanhol Antônio de Quevedo), isto é, a sofisticação de argumentos, o caráter paradoxal “do jogo de ideias” permanente nos textos barrocos.

 

História: A cana-de-açúcar era a base econômica do Nordeste (especificamente Bahia e Pernambuco), a colônia que ainda não possui condições materiais que lhe permitam uma “vida literária”.

 Resultado de imagem para gregorio de matos

Gregório de Matos, maldito?


 Gregório de Matos (séc. XVII, o poeta “maldito”: — o Boca do Inferno; Há apenas “ecos” do Barroco no Brasil, até a segunda metade do século XVIII, quando este ciclo é incorporado, em outras artes que não a literatura. Exemplo disso são as esculturas de Aleijadinho (MG- Na segunda metade do século XVIII. Lembremos das pinturas de Manuel da Costa Ataíde e das composições musicais de Lobo de Mesquita)

O baiano Gregório de Matos, escritor fundamen­tal. Um dos fundadores da literatura brasileira, foi o primeiro grande poeta que tivemos: cantava os seus versos nas tavernas, nos bares, “desacatando” os donos do poder e “desbocando” na paixão pelas mulatas, numa linguagem mais coloquial, mais “mestiça”, das ruas; nada publicou em vida, mas conjugou o barroco ibérico com os “barroquismos” da sociedade baiana, deixou uma obra múltipla e extremamente rica. Notamos aí a brasilidade.


O BARROCO: artes plásticas



Profetas  de Aleijadinho Prof. Moisés Neto em  Congonhas, MG


Note que Aleijadinho, num Barroco tardio, mistura a tradição clássica – humanista, racionalista, universalista, quase geométrica em termos de regularidade formal – e a tradição medieval – teocêntrica, sentimental, individualista.
No século XVII ocorre uma espécie de conflito entre essas tradições: enquanto a burguesia mercantilista continuava o seu projeto de laicização (tornar laica, leiga) da cultura medieval, a Igreja católica procurava reagir contra esse projeto, e o fez através da Contrarreforma (movimento religioso cuja finalidade era reafirmar as posições do clero, as quais se opunham à Reforma protestante e ao racionalismo Classicista) e da Inquisição.
 A expressão artística desse conflito a cujas causas históricas nos referimos chama-se Barroco que expõe contradição, dualidade, dilaceramento existencial do homem do século XVII. Notem a androginia na reprodução abaixo:
             

Baco, de  Caravaggio


Nesse sentido, podemos compreendê-lo como o princípio da ruptura da ordem estática dos clássicos e podemos visualizar as principais características desta ruptura comprando esquematicamente ambos os estilos:

Estilo Clássico
Estilo Barroco
estaticidade
regular
plano
normativo
racional
claridade absoluta
verossimilhança
exatidão
dinamismo
tumultuoso
curvo
libertador
imaginativo
claridade relativa
ilusão
alusão

A Europa pré-industrial, aristocrática e jesuítica (Espanha e Portugal) estava em confronto com o avanço do racionalismo burguês (Inglaterra, Holanda, França).A angústia, o desejo de fuga, o subjetivismo, um sonho, uma fuga da realidade convencional,tentativa de negação da arte como “cópia ; eis o espírito Barroco.

Luz e sombra, materialismo e espiritualismo, racionalismo e irracionalismo se confundiram e se interpenetraram a ponto de provocar uma explosão artística de proporções gigantescas, inusitada. Cheia do inconformismo e da inquietação do homem do século XVII. Novas formas, novos significados, ligados à tradição clássica mas buscando transformação destas mesmas tradições.

No Barroco temos:

A) rebuscamento, (uma espécie de “jogo de palavras e de sensações” que subverte a linguagem poética clássica) é o cultismo ou gongorismo (termo inspirado no poeta barroco espanhol Luís de Gôngora).
B) conceptismo ou quevedismo (termo inspirado no poeta barroco espanhol Antônio de Quevedo), isto é, a sofisticação de argumentos, o caráter paradoxal “do jogo de ideias” permanente nos textos barrocos.

No  Brasil, cana-de-açúcar era a base econômica do Nordeste (especificamente Bahia e Pernambuco), a colônia que ainda não possui condições materiais que lhe permitam uma “vida literária”.
O baiano GREGÓRIO DE MATOS, escritor fundamen­tal. Um dos fundadores da literatura brasileira, foi o primeiro grande poeta que tivemos: cantava os seus versos nas tavernas, nos bares, “desacatando” os donos do poder e “desbocando” na paixão pelas mulatas, numa linguagem mais coloquial, mais “mestiça”, das ruas; nada publicou em vida, mas conjugou o barroco ibérico com os “barroquismos” da sociedade baiana, deixou uma obra múltipla e extremamente rica. Notamos aí a brasilidade.

Leia um soneto deste autor:

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um frequentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha,
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
Para a levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.

(Gregório de Matos)
               
Lendo o poema do nosso principal poeta barroco – podemos observar traços literários e contextuais desse estilo no Brasil: trata-se de um soneto, o conteúdo não reafirma a harmonia, o equilíbrio da forma.
 BUSCANDO A CRISTO (Gregório de Matos)

A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me

A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.

·         Metonímia, Antítese e Hipérbole são figuras muito utilizadas no Barroco


PADRE ANTÔNIO VIEIRA foi um dos mais influentes personagens dos 1600 O leitor sempre povoou o universo literário, seja como interlocutor, seja como personagem. A preocupação com a arte de escrever e com os efeitos da leitura revela-se nos textos em prosa e em verso de todas as épocas, mostrando que a criação literária é um trabalho consciente e comprometido com a realidade na qual se insere. Suas cartas, sermões e profecias entraram para os estudos literários.


Aprendamos do Céu o estilo da disposição e também das palavras. Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo da pregação – muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que pareça o estilo baixo; as estrelas são muito distintas e muito claras e altíssimas. O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem e tão alto que tenham muito que entender os que sabem. O rústico acha documentos nas estrelas para sua lavoura e o matemático para as suas observações. De maneira que o rústico que não sabe ler nem escrever entende as estrelas, e o matemático, que tem lido quantos escreveram, não alcança a entender quanto nelas há. Tal pode ser o sermão – estrelas, que todos vêem e muito poucos as medem.

 Mais do que o poema e o romance, o gênero da oratória exige uma preocupação especial com o receptor, na medida em que o objetivo da pregação é persuadir e convencer o ouvinte.
No Sermão da Sexagésima, Vieira resume a arte de pregar, procurando analisar por que a palavra de Deus não frutificava no mundo.
De acordo com a retórica conceptista, Vieira defende um sermão baseado na expressão clara das idéias, interessante e acessível aos ouvintes, desde os mais simples até os mais cultos.
 Apesar de defender a clareza das idéias, Vieira não deixa de utilizar em seus sermões grande riqueza de imagens, a exemplo de seus adversários católicos, os gongóricos dominicanos, partidários do estilo conceptista.
 A comparação do estilo do sermão à disposição das estrelas no Céu é um exemplo de como as imagens literárias podem ser utilizadas para facilitar o entendimento, e não para servir à afetação e à pompa.

"Basta senhor, porque roubo em uma barca sou ladrão, e vós que roubais em uma armada sois imperador? Assim é. Roubar pouco é culpa, roubar muito é grandeza. O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas que levam de que eu trato, são os outros... ladrões de maior calibre e mais alta esfera... Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos, os outros furtam debaixo de seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros se furtam são enforcados, e o bucolismo estes furtam e enforcam." Antônio Vieira. Sermão do bom ladrão.


Esse artigo é só uma espécie de aperitivo. Há vários livros e sites que tratam do assunto, como o site do Itau Cultural, por exemplo, que nos traz a interessante polêmica em torno de um aspecto essencial do Barroco. Leia:
A Polêmica Antonio Candido x Haroldo de Campos tem como objeto de disputa a importância do barroco e seu lugar na história da literatura brasileira. O ponto de partida são as afirmações a respeito de Gregório de Matos  e o barroco brasileiro de forma geral contidas na introdução do livro Formação da Literatura Brasileira: Momentos Decisivos, de 1959, de autoria de Antonio Candido . Em 1989, Haroldo de Campos (1929-2003) publica seu estudo O Sequestro do Barroco na Formação da Literatura Brasileira: O Caso Gregório de Matos, criticando a posição adotada por Candido.

Em seu texto, Antonio Candido estabelece uma distinção entre manifestações literárias e sistemas literários, com base em seu conceito de literatura como um sistema formado pela articulação entre autor, obra e público, todos cientes de seu papel, e que possui continuidade histórica, ou seja, forma uma tradição. As manifestações literárias, portanto, são obras que, apesar de possuírem seu valor, não fazem parte da tradição literária nacional, isto é, não influenciam os produtores posteriores a elas. O exemplo dado por Candido é o barroco, em especial o caso Gregório de Matos. Justificando por que não os tomaria como objeto de estudo, afirma que eles não representam um sistema, visto que, nessas fases iniciais da literatura nacional, há grandes entraves para a formação de grupos de produtores e para a elaboração de uma linguagem própria, além de não existir público coeso. Ao tomar Gregório de Matos como exemplo, diz que a existência literária desse autor está condicionada a seu descobrimento por parte dos românticos, ficando ele até então sem exercer influência sobre nenhum outro autor, ou seja, sem contribuir para a formação da literatura nacional.

Haroldo de Campos se contrapõe às afirmações de Candido declarando que a ideia de "formação" defendida por ele não passa de um construto teórico baseado numa lógica de exclusão e inclusão de textos. A entrada das obras na literatura brasileira está condicionada, de acordo com esse conceito, a sua correspondência a um paradigma preestabelecido de construção da identidade nacional. Afirma ainda que o ponto de vista adotado no livro Formação da Literatura Brasileira tem suas bases numa concepção metafísica de história, marcada por uma linearidade evolucionista. Em lugar disso, Campos defende o barroco como uma das constantes da sensibilidade brasileira e cita a importância de se criar uma tradição com base nele.


Essa polêmica não é "vencida" por nenhum dos dois pontos de vista nem tem fim. Ainda continua como discussão em aberto, com defensores de ambos os lados mantendo suas posições e atualizando o debate.

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