A Europa pré-industrial, aristocrática e jesuítica (Espanha e Portugal)
estava em confronto com o avanço do racionalismo burguês (Inglaterra, Holanda,
França). A angústia, o desejo de fuga, o subjetivismo, um sonho, uma fuga da
realidade convencional,tentativa de negação da arte como “cópia” . eis o
espírito Barroco.
No Recife, um dos exemplos mais notáveis desse estilo é a Capela Dourada
Prof. Moisés Neto, Capela Dourada, Recife
Luz e sombra, materialismo e espiritualismo, racionalismo e
irracionalismo se confundiram e se interpenetraram a ponto de provocar uma
explosão artística de proporções gigantescas, inusitada. Cheia do inconformismo
e da inquietação do homem do século XVII. Novas formas, novos significados,
ligados à tradição clássica mas buscando transformação destas mesmas tradições.
No Barroco temos:
A) rebuscamento, (uma espécie de
“jogo de palavras e de sensações” que subverte a linguagem poética clássica) é
o cultismo ou gongorismo (termo inspirado no poeta barroco espanhol Luís de
Gôngora).
B)
conceptismo ou quevedismo (termo inspirado no poeta barroco espanhol Antônio
de Quevedo), isto é, a sofisticação de argumentos, o caráter paradoxal “do jogo
de ideias” permanente nos textos barrocos.
História: A cana-de-açúcar era a base
econômica do Nordeste (especificamente Bahia e Pernambuco), a colônia que ainda não possui condições materiais que
lhe permitam uma “vida literária”.
Gregório de Matos, maldito?
Gregório de Matos (séc. XVII, o poeta “maldito”: — o Boca
do Inferno; Há apenas “ecos” do Barroco no Brasil, até a segunda metade do
século XVIII, quando este ciclo é incorporado, em outras artes que não a
literatura. Exemplo disso são as esculturas de Aleijadinho (MG- Na segunda metade do século XVIII. Lembremos
das pinturas de Manuel da Costa Ataíde
e das composições musicais de Lobo de Mesquita)
O baiano Gregório de Matos, escritor fundamental.
Um dos fundadores da literatura brasileira, foi o primeiro grande poeta
que tivemos: cantava os seus versos nas tavernas, nos bares, “desacatando”
os donos do poder e “desbocando” na paixão pelas mulatas, numa linguagem
mais coloquial, mais “mestiça”, das ruas; nada publicou em vida, mas
conjugou o barroco ibérico com os “barroquismos” da sociedade baiana, deixou
uma obra múltipla e extremamente rica. Notamos aí a brasilidade.
O BARROCO: artes
plásticas
Profetas de Aleijadinho Prof. Moisés Neto em Congonhas, MG
Note que Aleijadinho, num Barroco
tardio, mistura a tradição clássica – humanista, racionalista, universalista,
quase geométrica em termos de regularidade formal – e a tradição medieval –
teocêntrica, sentimental, individualista.
No século XVII ocorre uma espécie de conflito entre essas tradições: enquanto a burguesia
mercantilista continuava o seu projeto de laicização
(tornar laica, leiga) da cultura medieval, a Igreja católica procurava
reagir contra esse projeto, e o fez através da Contrarreforma (movimento religioso cuja finalidade era reafirmar
as posições do clero, as quais se opunham à Reforma protestante e ao
racionalismo Classicista) e da Inquisição.
A expressão artística desse conflito a cujas causas
históricas nos referimos chama-se Barroco que expõe contradição, dualidade, dilaceramento existencial do homem do
século XVII. Notem a androginia na
reprodução abaixo:
Baco, de Caravaggio
Nesse sentido, podemos compreendê-lo como o princípio da ruptura da ordem
estática dos clássicos e podemos visualizar as
principais características desta ruptura comprando esquematicamente ambos os
estilos:
Estilo
Clássico
|
Estilo Barroco
|
estaticidade
regular
plano
normativo
racional
claridade absoluta
verossimilhança
exatidão
|
dinamismo
tumultuoso
curvo
libertador
imaginativo
claridade relativa
ilusão
alusão
|
A Europa pré-industrial, aristocrática e jesuítica (Espanha e Portugal)
estava em confronto com o avanço do racionalismo burguês (Inglaterra, Holanda,
França).A angústia, o desejo de fuga, o subjetivismo, um sonho, uma fuga da realidade convencional,tentativa de
negação da arte como “cópia” ; eis o espírito Barroco.
Luz e sombra, materialismo e espiritualismo, racionalismo e
irracionalismo se confundiram e se interpenetraram a ponto de provocar uma
explosão artística de proporções gigantescas, inusitada. Cheia do inconformismo
e da inquietação do homem do século XVII. Novas formas, novos significados,
ligados à tradição clássica mas buscando transformação destas mesmas tradições.
No Barroco temos:
A) rebuscamento, (uma espécie de
“jogo de palavras e de sensações” que subverte a linguagem poética clássica) é
o cultismo ou gongorismo (termo inspirado no poeta barroco espanhol Luís de Gôngora).
B)
conceptismo ou quevedismo (termo inspirado no poeta barroco espanhol Antônio
de Quevedo), isto é, a sofisticação de argumentos, o caráter paradoxal “do jogo
de ideias” permanente nos textos barrocos.
No Brasil, cana-de-açúcar era a base econômica do
Nordeste (especificamente Bahia e Pernambuco), a colônia que ainda não possui
condições materiais que lhe permitam uma “vida literária”.
O baiano GREGÓRIO DE MATOS, escritor fundamental.
Um dos fundadores da literatura brasileira, foi o primeiro grande poeta
que tivemos: cantava os seus versos nas tavernas, nos bares, “desacatando”
os donos do poder e “desbocando” na paixão pelas mulatas, numa linguagem
mais coloquial, mais “mestiça”, das ruas; nada publicou em vida, mas
conjugou o barroco ibérico com os “barroquismos” da sociedade baiana, deixou
uma obra múltipla e extremamente rica. Notamos aí a brasilidade.
Leia um soneto deste autor:
A cada
canto um grande conselheiro,
Que nos
quer governar cabana, e vinha,
Não
sabem governar sua cozinha,
E podem
governar o mundo inteiro.
Em cada
porta um frequentado olheiro,
Que a
vida do vizinho, e da vizinha,
Pesquisa,
escuta, espreita, e esquadrinha,
Para a
levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos
mulatos desavergonhados,
Trazidos
pelos pés os homens nobres,
Posta
nas palmas toda a picardia.
Estupendas
usuras nos mercados,
Todos,
os que não furtam, muito pobres,
E eis
aqui a cidade da Bahia.
(Gregório de Matos)
Lendo o poema do nosso principal poeta barroco – podemos observar
traços literários e contextuais desse estilo no Brasil: trata-se de um soneto,
o conteúdo não reafirma a harmonia, o equilíbrio da forma.
BUSCANDO A CRISTO (Gregório de Matos)
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
·
Metonímia,
Antítese e Hipérbole são figuras muito utilizadas no Barroco
PADRE
ANTÔNIO VIEIRA foi um dos mais influentes personagens dos 1600. O
leitor sempre povoou o universo literário, seja como interlocutor, seja como
personagem. A preocupação com a arte de escrever e com os efeitos da leitura
revela-se nos textos em prosa e em verso de todas as épocas, mostrando que a
criação literária é um trabalho consciente e comprometido com a realidade na
qual se insere. Suas cartas, sermões e profecias entraram para os estudos literários.
Aprendamos do Céu o
estilo da disposição e também das palavras. Como hão de ser as palavras? Como
as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o
estilo da pregação – muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que
pareça o estilo baixo; as estrelas são muito distintas e muito claras e
altíssimas. O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o
entendam os que não sabem e tão alto que tenham
muito que entender os que sabem. O rústico acha documentos nas estrelas para
sua lavoura e o matemático para as suas observações. De maneira que o rústico
que não sabe ler nem escrever entende as estrelas, e o matemático, que tem lido
quantos escreveram, não alcança a entender quanto nelas há. Tal pode ser o
sermão – estrelas, que todos vêem e muito poucos as medem.
Mais do que o poema e o romance, o gênero da oratória exige uma preocupação
especial com o receptor, na medida em que o objetivo da pregação é persuadir e
convencer o ouvinte.
No Sermão da Sexagésima, Vieira resume a arte de pregar, procurando
analisar por que a palavra de Deus não frutificava no mundo.
De acordo com a retórica conceptista, Vieira defende um sermão baseado na
expressão clara das idéias, interessante e acessível aos ouvintes, desde os
mais simples até os mais cultos.
Apesar de defender a clareza das idéias, Vieira não deixa de utilizar em seus
sermões grande riqueza de imagens, a exemplo de seus adversários católicos, os
gongóricos dominicanos, partidários do estilo conceptista.
A comparação do estilo do sermão à disposição das estrelas no Céu é um exemplo
de como as imagens literárias podem ser utilizadas para facilitar o entendimento,
e não para servir à afetação e à pompa.
"Basta senhor, porque roubo em uma barca
sou ladrão, e vós que roubais em uma armada sois imperador? Assim é. Roubar
pouco é culpa, roubar muito é grandeza. O ladrão que furta para comer, não vai
nem leva ao inferno: os que não só vão, mas que levam de que eu trato, são os
outros... ladrões de maior calibre e mais alta esfera... Os outros ladrões
roubam um homem, estes roubam cidades e reinos, os outros furtam debaixo de seu
risco, estes sem temor nem perigo; os outros se furtam são enforcados, e o
bucolismo estes furtam e enforcam." Antônio Vieira. Sermão do bom
ladrão.
Esse artigo é só uma espécie de aperitivo. Há vários livros e sites que tratam do assunto, como o site do Itau Cultural, por exemplo, que nos traz a interessante polêmica em torno de um aspecto essencial do Barroco. Leia:
A Polêmica Antonio Candido x Haroldo de
Campos tem como objeto de disputa a importância do barroco e seu lugar na
história da literatura brasileira. O ponto de partida são as afirmações a
respeito de Gregório de Matos e o barroco brasileiro de forma geral
contidas na introdução do livro Formação da Literatura Brasileira: Momentos
Decisivos, de 1959, de autoria de Antonio Candido . Em 1989, Haroldo
de Campos (1929-2003) publica seu estudo O Sequestro do Barroco na Formação da Literatura
Brasileira: O Caso Gregório de Matos, criticando a posição adotada por
Candido.
Em seu texto, Antonio Candido
estabelece uma distinção entre manifestações literárias e sistemas literários,
com base em seu conceito de literatura como um sistema formado pela articulação
entre autor, obra e público, todos cientes de seu papel, e que possui
continuidade histórica, ou seja, forma uma tradição. As manifestações
literárias, portanto, são obras que, apesar de possuírem seu valor, não fazem
parte da tradição literária nacional, isto é, não influenciam os produtores
posteriores a elas. O exemplo dado por Candido é o barroco, em especial o caso
Gregório de Matos. Justificando por que não os tomaria como objeto de estudo,
afirma que eles não representam um sistema, visto que, nessas fases iniciais da
literatura nacional, há grandes entraves para a formação de grupos de
produtores e para a elaboração de uma linguagem própria, além de não existir
público coeso. Ao tomar Gregório de Matos como exemplo, diz que a existência literária
desse autor está condicionada a seu descobrimento por parte dos românticos,
ficando ele até então sem exercer influência sobre nenhum outro autor, ou seja,
sem contribuir para a formação da literatura nacional.
Haroldo de Campos se
contrapõe às afirmações de Candido declarando que a ideia de
"formação" defendida por ele não passa de um construto teórico
baseado numa lógica de exclusão e inclusão de textos. A entrada das obras na
literatura brasileira está condicionada, de acordo com esse conceito, a sua
correspondência a um paradigma preestabelecido de construção da identidade
nacional. Afirma ainda que o ponto de vista adotado no livro Formação da Literatura Brasileira tem
suas bases numa concepção metafísica de história, marcada por uma linearidade
evolucionista. Em lugar disso, Campos defende o barroco como uma das constantes
da sensibilidade brasileira e cita a importância de se criar uma tradição com
base nele.
Essa polêmica não é
"vencida" por nenhum dos dois pontos de vista nem tem fim. Ainda
continua como discussão em aberto, com defensores de ambos os lados mantendo
suas posições e atualizando o debate.
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