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terça-feira, 12 de julho de 2016

Estreia OTELO, montagem do CIT SESC Piedade, nos 400 anos da morte de SHAKESPEARE

por moisesmonteirodemeoloneto


No ano em que o mundo lembra os 400 anos da morte de William Shakespeare, o Curso de interpretação teatral do SESC Piedade (PE), oferece ao público o espetáculo Otelo. Assisti ontem a uma das apresentações e senti a garra dessa turma do quarto período, dirigida pela professora Sandra Possani.
Público, elenco e funcionários do SESC Piedade
confraternizam-se após uma sessão do espetáculo do CIT SESC
OTELO

Otelo tem a pele escura e mora na próspera Veneza, casou com a filha de um senador, Desdêmona (destaque para Amanda Spacca); é quando entra em cena o maldito Iago, uma das maiores criações do bardo inglês. A diretora Sandra Possani optou pelo teatro físico: sombras, móveis e fixas, com ou sem estrutura dramática, e que pode até dispensar o uso da palavra (mas o trabalho do CIT com o texto de Shakespeare respeitou as falas mais emblemáticas do original); neste tipo de encenação temos o teatro de Bali, que já encantou tantos encenadores engajados com o poder político do teatro, a utilização a mímica, as figuras acrobáticas, teatro de sombras, como a necessidade de uso de qualquer objeto já descaracterizaria (?) o teatro físico.


 Possani trabalhou com cuidado objetos como o famoso lenço que é ponto nevrálgico na trama. Ver personagens como Iago, dá-me uma energia revigorante, como Shakespeare trabalha a maldade e expõe suas consequências num jogo que brinca com a catarse através de um lirismo chocante. Uma encenação enxuta é o que o CIT SESC Piedade ofereceu ao público nesse inverno de 16. Uma montagem intrigante

Nessa peça há muitas brigas entre personagens, por ciúmes, por inveja, por insegurança. Iago, com suas ideias terríveis, convence sua querida Emília a furtar um lenço que Otelo deu a desavisada Desdêmona, e a partir daí joga Cássio no inferno de suspeitas; aqui Shakespeare brinca com artifícios da farsa; Otelo  pensa que sua mulher o está enganando. Iago  ataca a Cássio e foge do local, culpa a Rodrigo do crime. Rodrigo morre por um golpe de Iago. Otelo  assassina a quase inocente Desdêmona, por culpa das mentiras do malvado Iago. Numa concepção de mestre, a diretora manipula os elementos numa composição que se utiliza apenas de dois cubos para expressar a angústia bestial do mouro e a infelicidade da mulher-vítima. Quando descobre a inocência da esposa, Otelo se mata.


Quero aqui destacar o trabalho deste grupo de atores, que foram também meus alunos na cadeira de Dramaturgia, durante dois semestres, Daniel Gomes, Romulo e Romero Ramos, Conceição Santos, Jailton Junior, Elisa Pereira, Anderson Kleber, Winy Mattos, Lucas Ferr e Amanda Spacca (que também exibiu seus dotes com a guitarra nesta encenação. Desejar a todos eles uma entrada agradável na cena teatral recifense nesta segunda década no 3º milênio, na certeza de que o TEATRO ESTÁ VIVO! Ressaltar o trabalho da equipe do SESC Piedade: Almir Martins, Ivana Mota, Ana Júlia, Rudimar Constâncio, na colaboração para fortalecer a arte em nosso Estado.



Faz 400 anos que William Shakespeare morreu, mas continua a perseguir com carinho todos os atores, diretores e muitos autores. Bárbara Heliodora sentenciou certa vez: “Quem falar que só os ingleses sabem fazer Shakespeare, eu respondo que estilo é fazer o que a peça pede, e em uma boa tradução, com um bom diretor, não há dificuldade”. Nascido na bucólica Strattford-upon-Avon, em 1564, antes de expressar-se através da criação literária, foi ator (um crítico o chamou de “corvo arrogante”, ao tratar de uma interpretação sua; lembro aqui do conselho de Hamlet aos atores: “que a discrição te sirva de guia; acomoda o gesto à palavra e a palavra ao gesto, tendo sempre em mira não ultrapassar a modéstia da natureza, porque o exagero é contrário aos propósitos da representação, cuja finalidade sempre foi, e continuará sendo, como que apresentar o espelho à natureza, mostrar à virtude suas próprias feições, à ignomínia sua imagem e ao corpo e idade do tempo a impressão de sua forma”)  e a seguir   o mais influente dramaturgo do mundo, cujas  38 peças são exemplo quase ímpar da capacidade humana na escrita. Para ele a maldade e a morte são enfrentadas com a força da vida; vemos nessas obras  personagens cômicos nas tragédias e personagens dramáticos nas comédias. A invenção do humano nele evita o simplório; também não é moralizante.  Suas peças que tratam de fantasmas são mais sobre psicologia (Freud deve algo a ele) do que sobre o “além”.

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