por moisesmonteirodemeoloneto
No ano em que o mundo lembra os 400 anos da morte de William
Shakespeare, o Curso de interpretação teatral do SESC Piedade (PE), oferece ao
público o espetáculo Otelo. Assisti ontem a uma das apresentações e senti a
garra dessa turma do quarto período, dirigida pela professora Sandra Possani.
Público, elenco e funcionários do SESC Piedade
confraternizam-se após uma sessão do espetáculo do CIT SESC
OTELO
Otelo tem a pele escura e mora na próspera Veneza, casou com
a filha de um
senador, Desdêmona
(destaque para Amanda Spacca); é quando entra em cena o maldito
Iago, uma das maiores criações do bardo inglês. A diretora Sandra Possani optou
pelo teatro físico: sombras, móveis e fixas, com ou sem estrutura
dramática, e que pode até dispensar o uso da palavra (mas o trabalho do CIT com
o texto de Shakespeare respeitou as falas mais emblemáticas do original); neste
tipo de encenação temos o teatro de Bali, que já encantou tantos encenadores
engajados com o poder político do teatro, a utilização a mímica, as figuras acrobáticas,
teatro de sombras, como a necessidade de uso de qualquer objeto já descaracterizaria
(?) o teatro físico.
Possani trabalhou com cuidado objetos como o famoso lenço
que é ponto nevrálgico na trama. Ver personagens como Iago, dá-me uma energia revigorante, como Shakespeare
trabalha a maldade e expõe suas consequências num jogo que brinca com a catarse
através de um lirismo chocante. Uma encenação enxuta é o que o CIT SESC Piedade
ofereceu ao público nesse inverno de 16. Uma montagem intrigante.
Nessa peça há muitas brigas entre
personagens, por ciúmes, por inveja, por insegurança. Iago,
com suas ideias terríveis, convence sua querida Emília
a furtar um lenço que Otelo deu a desavisada Desdêmona, e
a partir daí joga Cássio
no inferno de suspeitas; aqui Shakespeare brinca com artifícios da farsa;
Otelo pensa
que sua mulher o está enganando. Iago ataca a Cássio
e foge do local, culpa a Rodrigo
do crime. Rodrigo morre por um golpe de Iago. Otelo
assassina a quase inocente Desdêmona, por culpa das mentiras do malvado
Iago. Numa concepção de mestre, a diretora manipula os elementos
numa composição que se utiliza apenas de dois cubos para expressar a angústia
bestial do mouro e a infelicidade da mulher-vítima. Quando descobre a inocência da esposa, Otelo se mata.
Quero aqui destacar o
trabalho deste grupo de atores, que foram também meus alunos na cadeira de Dramaturgia,
durante dois semestres, Daniel Gomes, Romulo e Romero Ramos, Conceição Santos,
Jailton Junior, Elisa Pereira, Anderson Kleber, Winy Mattos, Lucas Ferr e
Amanda Spacca (que também exibiu seus dotes com a guitarra nesta encenação.
Desejar a todos eles uma entrada agradável na cena teatral recifense nesta
segunda década no 3º milênio, na certeza de que o TEATRO ESTÁ VIVO! Ressaltar o
trabalho da equipe do SESC Piedade: Almir Martins, Ivana Mota, Ana Júlia,
Rudimar Constâncio, na colaboração para fortalecer a arte em nosso Estado.
Faz 400 anos que
William Shakespeare morreu, mas continua a perseguir com carinho todos os
atores, diretores e muitos autores. Bárbara Heliodora sentenciou certa vez:
“Quem falar que só os ingleses sabem fazer Shakespeare, eu respondo que estilo
é fazer o que a peça pede, e em uma boa tradução, com um bom diretor, não há
dificuldade”. Nascido na bucólica Strattford-upon-Avon, em 1564, antes de
expressar-se através da criação literária, foi ator (um crítico o chamou de
“corvo arrogante”, ao tratar de uma interpretação sua; lembro aqui do conselho
de Hamlet aos atores: “que a discrição te sirva de guia; acomoda o gesto à
palavra e a palavra ao gesto, tendo sempre em mira não ultrapassar a modéstia da
natureza, porque o exagero é contrário aos propósitos da representação, cuja
finalidade sempre foi, e continuará sendo, como que apresentar o espelho à
natureza, mostrar à virtude suas próprias feições, à ignomínia sua imagem e ao
corpo e idade do tempo a impressão de sua forma”) e a seguir o mais influente dramaturgo
do mundo, cujas 38 peças são exemplo
quase ímpar da capacidade humana na escrita. Para ele a maldade e a morte são
enfrentadas com a força da vida; vemos nessas obras personagens cômicos nas tragédias e
personagens dramáticos nas comédias. A invenção do humano nele evita o
simplório; também não é moralizante.
Suas peças que tratam de fantasmas são mais sobre psicologia (Freud deve
algo a ele) do que sobre o “além”.
Obg por você fazer parte de nossa história. Xero
ResponderExcluirabraçaço
ExcluirAgradecemos muitíssimo! Você é um dos culpados por essa garra!!!
ResponderExcluirUm cheiro!!!
amo vocês
ExcluirObrigada Moisés por suas palavras e pelo olhar que incentiva, faz refletir, faz celebrar a escolha pelo teatro como ação no mundo. Evoe!
ResponderExcluirEvoé
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