por moisesmonteirodemeloneto
Em torno dele, Julieta se enrosca e procria, a partir de uma pegação num trem
Fim de semana sacudido: duas
peças de teatro e um filme de Almodóvar (agora assina só assim) chamado JULIETA. Vamos logo a
ele. Por que conhecer e aplaudir este diretor? Ele nos traz a vida pulsante, latina como nós, é exemplo de resistência e riso, novamente
temos o tema do relacionamento entre mãe
e cria. E ele dá um banho ao exibir
seus conhecimentos sobre o universo feminino através da professora de
Literatura (!) Julieta e sua filha (que a abandonou) Antia (com roteiro, baseado na
obra de Alice Munro, Prêmio Nobel de Literatura em 2013); criticaram a pegada “revisar
a vida através de uma espécie de carta, disseram que Almodóvar vinha mal e
estava pior imitando a si mesmo. Bobagem. É um filme delicioso, cheio de
referências fundamentais para entender o pop espanhol. Assisti no Cinema do
Museu, cheio de esnobes descolados (faltou energia elétrica duas vezes e fui
obrigado a assistir a cena do retiro espiritual três vezes; ah, os Pirineus!).
O diretor trabalha com audácia o que seria o assim chamado equilíbrio emocional, algo que hoje em dia parece balela. A sensualidade
é abordada com aquele molho de abafar, cheio de cores e imagens da natureza e
dos interiores (sim, há algo de Bergman por ali, algo de Woody Allen, mas acima
de tudo algo que é só de Almodóvar).
Marcondes Lima, Júnior e Daniel: ao mestre com carinho
Agora vamos ao teatro no Recife,
hoje. Mas antes uma aula básica sobre o tema da peça: PAIDEIA na Grécia antiga (ver
Platão, A República), trata da
libertação através da virtude e... verdade, que fariam o homem gozar tão sonhada
liberdade e ser (ah, que utopia?) dono do próprio destino (ainda acho que
injustiça é uma coisa cósmica, quando disse isso na apresentação, sim os atores
buscam uma interação, que não foi aprofundada, com a plateia, Daniel Barros, um
dos atores, riu). A peça é sobre o educador Paulo Freire, perseguido pelos
militares no golpe de 1964 (mas não faltaram textos como “volta, querida, ou “fora
Temer!” numa analogia com a situação atual do nosso país). Trabalhar na desconstrução de ídolos da mentira
e da falsidade, tratar sobre o que é a ideologia, é delicado, sem afogar-se num
mar de clichês. Há um pouco do teatro narrativo, entre o épico e o didático.
O teatro Arraial Ariano Suassuna, rua da Aurora, Recife, estava mais ou menos com 80% da sua lotação, umas 60 e poucas pessoas, um público conquistado antes que ele saísse de casa. O método de Sócrates, a maiêutica, baseia-se em perguntas e respostas (relação dialógica com os educandos). Paidéia é, portanto, um teatro que se propõe dialógico. Paulo Freire queria a educação como exercício da liberdade (ah, o oprimido!), unir conteúdo, método e finalidade da prática numa utopia, esperança renovável.
O teatro Arraial Ariano Suassuna, rua da Aurora, Recife, estava mais ou menos com 80% da sua lotação, umas 60 e poucas pessoas, um público conquistado antes que ele saísse de casa. O método de Sócrates, a maiêutica, baseia-se em perguntas e respostas (relação dialógica com os educandos). Paidéia é, portanto, um teatro que se propõe dialógico. Paulo Freire queria a educação como exercício da liberdade (ah, o oprimido!), unir conteúdo, método e finalidade da prática numa utopia, esperança renovável.
Daniel Barros
e Júnior Aguiar trabalham o exílio de Freire por 16 anos pela América Latina,
Europa e África e esbarram na tarefa de mostrar educação como “instrumento
essencial na transformação da humanidade”, bom, bonito, mas, com cuidado de não
ser castradora, não “reprovar”, nem exigir a simples “reprodução de que está
estabelecido”. Falar é bom.O método Freire já recebeu várias críticas, seu
autor é poético e enfrentar o Serviço
Nacional de Inteligência, como Paulo fez, não é fácil. Da saída dele do Brasil
à volta do exílio, a tentativa de transformar a plateia em sala de aula,
intercalar isso com trilha sonora e depoimentos como o de Miguel Arraes é
tarefa que passa por terreno movediço e a plateia não teve muita voz, não.
Esse é o segundo espetáculo da chamada Trilogia Vermelha, chama´se pa(IDEIA) – pedagogia da libertação , encenada pelo Grão Comum. Vi a primeira, também; era
sobre Glauber e citava meu objeto de estudo no Doutorado Jomard Muniz de
Britto. Essas obras, segundo Júnior, “reabrem
novos “diálogos-dialéticos-críticos- criativos sobre as dimensões da nossa
identidade contemporânea, reagrupando e relendo a importância de consciências
locais, regionais, nacionais e internacionais”; pode parecer pretensioso, pode
parecer ingênuo, mas é um exercício de cidadania que está faltando em nosso teatro.
Parece que o próximo espetáculo é sobre Dom Helder Câmara. Vamos lá!
Agora
vamos ao terceiro produto cultural consumido por mim nessa maratona de julho de
2016: trata-se de um espetáculo teatral de um grupo de atores que Aurino Xavier
participa há 25 anos, trabalhando a comédia popular ; falo da Trupe do Barulho
(babado!) . Depois de duas décadas e meia, a companhia continua em atividade,
enfrentando muitas dificuldades, como falta de espaço na mídia (SIC) ; eles
continuam no seu berço: o Teatro
Valdemar de Oliveira (para ir ao banheiro tive que subir dois andares e
atravessar salas que amo, no interior daquele templo que já foi a casa de Diná.
Trupe do Barulho: Bodas de Prata
A segunda peça é: Allyce no País das Marabibas, a Trupe
volta a se utilizar as histórias infantis para escrachar o que seria a vida dos homossexuais. Fillipe
Enndrio, assina o texto e exigiu ser o protagonista, ele é muito simpático e
trabalhou essa comédia cheia de improvisos, e a plateia, como eu sentenciei nos
anos 90, pronta para rir de si mesmo fui o primeiro a tratar da Trupe em termos
acadêmicos, no Jornal do Commercio (foi aí que os conheci, pensei que não iam
gostar do meu artigo: amaram!) . “Este
foi um texto que escrevi há tempos atrás e o grupo se interessou em montar no
fim do ano passado. O final foi escrito coletivamente e os nomes dos
personagens foram modificados. A Rainha de Copas se tornou a Rainha de Paus, o
Chapeleiro Maluco vira o Cachaceiro Maluco e assim sucessivamente”.
O Cachaceiro Maluco, o C"u"elho e Allyce: auê no Valdemar
O autor afirma: “A Rainha de Copas se torna a Rainha de Paus e manda castrar todos os
homens do reino e só Allyce, vinda direto do Alto José Bonifácio, pode pará-la,
pois sabe de um segredo de Sua Majestade”. Aí ela vai ao tal País das Marabibas e “vive” as mais variadas
aventuras. Além de Fillipe, o espetáculo conta mais seis atores: Aurino Xavier,
Jô Ribeiro(Divina), o próprio diretor, Thiago Ambrieel (na Trupe desde 2012),
Saulo Máximo, Carlos Mallcom e Ricardo Silva.
É ou não de resistência? São os únicos, atualmente no Recife, que fazem temporada que duram meses, o outro, na linha infantil, é Ulisses Dornelas. ELES NÃO USAM LEIS DE INCENTIVO À CULTURA E SÃO CONSIDERADOS À MARGEM do que se chama por aqui de “alta cultura”.
Ulisses Dornelas, vive de Teatro no Recife, aqui ao lado de Moisés Neto
É ou não de resistência? São os únicos, atualmente no Recife, que fazem temporada que duram meses, o outro, na linha infantil, é Ulisses Dornelas. ELES NÃO USAM LEIS DE INCENTIVO À CULTURA E SÃO CONSIDERADOS À MARGEM do que se chama por aqui de “alta cultura”.
RISOS E
SISOS.
Simples assim: gostei!
ResponderExcluirGrato, caríssima
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