Prof Moises Monteiro de Melo Neto (moisesneto)
Moisés Monteiro de Melo Neto (moisesneto) e Raimundo Carrero,
escritores pernambucanos em diálogo
Raimundo Carrero fala da peça ANJOS DE FOGO E GELO, de Moisés Monteiro de Melo Neto
Raimundo Carrero, Moisés Monteiro de Melo Neto e outros intelectuais pernambucanos
Moisés Monteiro de Melo Neto na frente da casa do escritor Raimundo Carrero, em Salgueiro, Pernambuco
DADOS BIOGRÁFICOS: Nascido em 20 de dezembro de 1947.É jornalista, ficcionista, bastante supersticioso e temente a Deus. Começou a escrever ainda como aluno interno no colégio Salesiano do Recife. Em seus escritos objetiva aprofundar temas eternos como "liberdade, igualdade e justiça".
1. SOMBRA SEVERA:
Publicado em 1986( Editora José Olympio) , o romance traz o estilo de Carrero, este pernambucano da cidade de Salgueiro, .estampado por todas as páginas :
A
ANGÚSTIA DIANTE DA INCOMUNICABILIDADE
O
ESTRANHAMENTO DIANTE DO QUE É SIMPLES E COMUM
IMPOSSIBILIDADE
DE AMAR COMPLETAMENTE
ÓDIO
POR NÃO SER COMPREENDIDO
A
QUESTÃO DA FÉ
AS
ARBITRARIEDADES DO PODER
ABORDAGEM
PSICOLÓGICA
O
HOMEM DO CAMPO
A
CIDADE PROBLEMATIZADA.
CRÍTICA
À INJUSTIÇA SOCIAL
Num
dos seus livros encontramos a seguinte epígrafe: "Intuitivamente eu
me agarro ao abismo" (Murilo Mendes). Existe um certo fascínio na
obra de Carrero em retratar a decadência humana em sua busca de esperança. A
desgraça psíquica afeta os personagens movidos por seus fantasmas interiores,
agindo como irracionais.
Três
personagens dominam a narrativa em terceira pessoa de "Sombra Severa"
:
JUDAS
- Irmão mais moço de Abel. Prepara um caixão e pede que o irmão se finja de
morto enquanto ele" despista" seus perseguidores. Na verdade, Judas
odeia o irmão e vai terminar por esfaqueá-lo, dizer que ele morreu num
acidente, casar com a mulher que o irmão raptara( Dina).
ABEL
- É perseguido pelos irmãos da mulher que ama. Aceita fingir-se de morto no
caixão. Enquanto isso, Judas aproveita para violentar sua mulher dentro da
capela, na fazenda JATI, de propriedade de ambos.
DINA
- Filha de Sara e Adão, irmã de Jordão( Carrero adora nomes bíblicos). Depois
de casada com Judas, assume a identidade do seu amado assassinado, Abel,
criando inclusive um clima de incesto.
Resumo:
A inveja e o fratricídio permeiam esta versão da história de Caim e Abel. Judas
é obscurecido pela sombra do irmão , Abel, o "bom", que não o deixará
em paz nem depois de morto, já que reaparece na figura de Dina travestida.
Merece destaque a fúria exposta pelo narrador quando descreve a morte do
carneiro que Abel ganhara do padrinho e que Judas, morrendo de inveja,
esfaqueia e queima o bicho.
Há
algo de mórbido em Raimundo Carrero. Algo de "casmurro" em vários de
seus personagens. Quase não há diálogo, o discurso indireto apossa-se da trama
conduzindo a juízos sobre :
DEUS
- (página ll4) "...era um ser incrível cercado de solidão- a solidão
dos abandonados da sorte, dos miseráveis que estendem latas vazias pelas ruas,
das mulheres que, enlouquecidas andam sujas pelas estradas. A solidão do
esquecimento completo e absoluto".
AMOR
- " O amor é a inveja do outro: ama-se para roubar do outro a parte
que lhe falta" (P- 56) .
CONCLUSÃO:
No final, como numa imensa alegoria, um bando de cães famintos invadem a casa
de Dina e Judas, ela os afasta. A seguir, vem a metamorfose definitiva de Dina
em Abel, de quem ela assume os trajes, o corte de cabelo e ...a identidade.
Judas tranca-se no quarto e Dina (Abel?) encara a luz do sol.
2.A
DUPLA FACE DO BARALHO
Esta
novela de Carrero é ambientada em Santo Antônio do Salgueiro (Salgueiro, cidade
pernambucana onde nasceu) , onde o Comissário Felix Gurgel vive e narra , de
forma sombria, a sua existência: "Estou aqui sentado na cadeira de
balanço em frente à minha casa nesta cidade Santo Antônio do Salgueiro,
esperando a morte chegar".
Regenerar-se,
refazer a vida (como Paulo Honório, de "São Bernardo", ou Bentinho de
"Dom Casmurro", com quem Gurgel mantém semelhanças), são as metas do
narrador que de CARCEREIRO PASSOU A COMISSÁRIO : "Quem entrar aqui e
disser que não apanhou, volta e apanha". Sentia-se alegre em ser da
polícia e decidir a liberdade dos outros. Humilha jovens idealistas, inclusive
um que no futuro seria prefeito e teria Gurgel como subalterno.
Casos
curiosos permeiam esta narrativa: Gurgel recebe um homem que traz a esposa
amarrada pelo pescoço e pede "um atestado" , pois sabe que a mulher o
traiu. Gurgel prende-a, e na hora de espancá-la, torna-se...seu amante! Convive
com um enteado, Camilo, a quem trata como filho. Em seu sadismo, mata
barbaramente os pássaros do rapaz(símbolos da vida e harmonia plena).
De
esquerdista a cigano, Carrero usa uma linguagem simples. Seu mundo é de
violência, de individualismo. Seus personagens trazem algo de muito selvagem em
suas relações sado-masoquistas.
Esta
novela foi escrita na época do fim da URSS e da queda do Muro de Berlim.
Carrero, em sonhos, previu a própria morte.
3.O
SENHOR DOS SONHOS (Romance de 1986)
"o
caminho da vida pode ser o da liberdade, porém nos extraviamos."
O
velho Domingos de Oliveira Olímpio, protagonista, misto de melancólico e
irônico, humilde sorridente, amante da vida e dos animais, nunca reclamava de
nada. Em Salgueiro, onde morava, luta contra a miséria e a injustiça,
sacrifica-se pelos oprimidos. Por causa de um porco que ia ser morto, apanha de
um sujeito forte: " Como é possível estar indiferente diante da
dilaceração e da tortura?" . Alegoria sobre a maldade dos homens que
têm o poder de fazer o que querem, enquanto os miseráveis são como " restos
humanos que se amontoam em ossos, sangue, músculos e nervos, insistindo em
viver."
Na
eleição para prefeito, Venâncio, irmão mais novo do então prefeito Anselmo
Cruz, representa a continuidade, e a oposição é feita pelo cego Tomé da
farmácia. Anselmo não cuida bem dos velhos, enquanto Domingos , desafiando o
poder, luta para construir um abrigo para velhos. É perseguido, tem a casa
destruída, procura advogado, mas contra o Poder nada consegue. É acusado de
instigar uma revolução e de ser comunista:" (...) o réu está construindo
uma casa em desrespeito às leis municipais para provocar antipatia e reunir
adeptos para a luta contra o poder constituído e contra a polícia" (P-79).
Preso, após muita tortura , é solto , volta para sua casa destruída.
O
cego Tomé aproveitou a confusão e vence as eleições, mudando seu discurso
popular.
Domingos
percebe que o cego Tomé era a continuação dos governos anteriores e decide
continuar a peleja: "(...)fechou os olhos, entre os destroços, e
confessou a si mesmo que a luta ia recomeçar."
SOBRE MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO:
O escritor, professor e pesquisador recifense Moisés Neto tem
formação em Letras, pós-graduado em Literatura Brasileira, Mestre e Doutor em
Teoria da Literatura pela UFPE. Ele estreou no teatro como ator profissional
dirigido por José Francisco Filho e Buarque de Aquino e com o diretor /autor
João Falcão e como dramaturgo (também como diretor) com a peça Um
Certo Delmiro Gouveia, vencedora do prêmio de melhor
texto literário num concurso promovido pelo Governo de Pernambuco. Sua peça Cleópatra
também recebeu um prêmio do Governo do Estado de Pernambuco. Além do teatro,
Moisés publicou seu 1º poema no Jornal do Commercio nos anos 80 (Lobos) e foi colaborador regular do Suplemento
literário deste jornal nos anos 90, publicando seus artigos em outros
jornais e revistas como o Le Monde Diplomatique e na revista belga
Parati. Lançou seu primeiro romance intitulado A Incrível Noite (edições
Ilusionistas) e Chico Science: A
Rapsódia Afrociberdélica (primeiro livro sobre o movimento mangue,
lançado em outubro de 2000 que analisa aspectos da cultura pernambucana).
Moisés é autor de alguns diálogos para filmes como Cassino Americano (do diretor Marco Hanois) que recebeu menção
honrosa no festival internacional de vídeo da JVC em Tóquio. É autor de Notícias
Americanas, poema épico (livro) sobre o 11 de setembro e a
devastação do Afeganistão, lançado em 2002, pela Editora Edificantes, de Teatro
Ilusionista, Chico Science, Zeroquatro & Faces do
Subúrbio e Passagem - contos e poemas. Além de
colaborar com vários jornais e revistas o Brasil e da Europa os ensaios de
Moisés analisando diversos aspectos culturais estão publicados em várias
antologias.
Como ator ele participou, dentre outras peças, de: Muito pelo Contrário (texto e direção João falcão), Suplício de Frei caneca (de Cláudio
Aguiar, com direção de José Francisco Filho), Hamlet (no
papel-título- direção do argentino Alberto Gieco e de Paulo Falcão), Romeu
e Julieta, Viva o Cordão Encarnado (direção Luís Mendonça), A Noite dos Assassinos (do cubano Jose
Triana, com direção de Augusta Ferraz). Na TV atuou em A Cartomante e no cinema em O
Cangaceiro (direção Aníbal Massaini).
Também assina a autoria do espetáculo Para um Amor no Recife, que dirigido por Carlos Bartolomeu em
1999, recebeu 4 prêmios da
associação de produtores teatrais em Pernambuco, é co-autor dos musicais A Ilha do Tesouro (2002) e Sonho de Primavera (que dirigiu ao
lado de Ulisses Dornelas (que teve estreia em 2004 e ficou sete anos em cartaz),
premiados pela APACEPE. Adaptou para o projeto escola parte da obra de Machado
de Assis. Em 2006 foi assistente de direção do filme Incenso baseado em poemas de Ascenso Ferreira, vencedor do concurso
Ary Severo/ Firmo Neto (Prefeitura Cidade do Recife/ Governo do Estado de
Pernambuco). Vencedor do Prêmio Klaus Vianna, concedido pela FUNARTE, pelo
roteiro e direção do espetáculo Recife- Paralelo 8, montado pela Companhia DANTE em 2007. É autor do texto da peça Anjos
de Fogo e Gelo, a vida atormentada de
Arthur Rimbaud, que dirigido por José Francisco Filho teve grande
repercussão em Recife no ano de 2008, recebendo prêmios da APACEPE. Participou
em 2009 da Curadoria da exposição
permanente da Faculdade de Direito do Recife (UFPE) sobre Ruy Barbosa e Castro Alves. 2010 foi o ano do lançamento de Anticânone,
literatura em Pernambuco a partir do século XX, e em dezembro do mesmo ano mais
um texto de Moisés foi levado à cena, o musical O Circo do Futuro, com
direção de Carlos Bartolomeu, um sucesso que já dura uma ano num grande teatro
do Recife. Em 2011, lançou o livro Pequena História da Literatura Brasileira.
Atualmente ensina em algumas escolas e faculdades em Pernambuco. O site www.moisesneto.com.br é bem visitado e contém artigos e peças
escritas por Moisés e exibe a trajetória do seu grupo,a Ilusionistas Corporação Artística- que com vinte e cinco anos de
atividades tem no seu currículo, além de produções teatrais e publicação de
livros, a promoção de oficinas, cursos, exposições(como o Universo de Antunes Filho,
trazendo duas vezes ao Recife este diretor de teatro internacionalmente
reconhecido. Neste evento Moisés proferiu a palestra “O poética de Nelson
Rodrigues em A falecida na montagem
2009 de Antunes Filho” à convite do curador paulista Sebastião Milaré). O mesmo
Antunes Filho convidou-o em setembro de 2012 para fazer a apresentação da sua
encenação de Toda Nudez será Castigada,
pelo CPT/ Sesc SP. Também em 2012, ele lançou seu livro POEMAS DE MOISÉS NETO
PUBLICADOS EM JORNAL, no salão nobre do Teatro de Santa Isabel, Recife, com
participação da atriz Sônia Bierbard interpretando alguns dos poemas da edição,
em 9 de dezembro de 2012. Sua tese de doutorado foi escolhida, publicada pelo
SESC e lançada em 2015 (Abismos da
poeticidade em Jomard Muniz de Britto; voltou a tuar inte3rpretando o
personagem Kafka, em A ÚLTIMA NOITE DE KAFKA, apresentada em Recife e no Rio de
Janeiro. Interpretou o personagem Pilatos, na Paixão de Cristo, apresentada nos
Montes Guararapes (PE). Atualmente Moisés é professor na Faculdade de Marketing
do Recife (FAMA), atuando também em outras instituições de ensino. Em 2016 teve
suas peças radiofônicas O JULGAMENTO DE PADRE CÍCERO e também UM CERTO DELMIRO
GOUVEIA, transmitidas pela RÁDIO FOLHA DE PERNAMBUCO; dirigiu a peça O bem que
multiplica (encenada no Teatro da Caixa Cultural, Recife; dentre outras
atividades.
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