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sábado, 22 de outubro de 2016

4 POEMAS de MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO







MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO 




TEUS OLHOS

São uns olhos muito negros
Olhos de escuridão
Fazem-me prisioneiro
Esses olhos que me atraem
Minhas forças esvaem
Possuído sigo calmo
As sombras caem
Como negras azeitonas
Numa branca porcelana
Em mesa cheia de morte
Roletas russas da sorte
A loucura de quem ama
e...ai! não tê-los
mesmo com a fome que tenho
não poder comê-los...







LOBOS

No espaço entre os seus dentes
restos de almoço
vários lobos foram espalhados
quero te contar como foi:
eles foram soltos com a boca cheia de fome
todos os lobos, eles comeram meus olhos
Eu os vi chegar
dancei e cantei junto do fogo
vi febre nos olhos deles
nos olhos calmos que tinham.
E sabia deles, pois os pressenti sem direção
todos os lobos, eles comeram os meus olhos
atravessaram apressados os campos que
rodeavam minha casa
comeram meus frutos verdes
minhas flores na varanda
sonhos da juventude...
todos os lobos, eles comeram meus olhos




TARÂNTULA

em qualquer canto da casa existe uma tarântula...
com suas patas curvas, peludas e débeis
trêmulas de emoção e veneno
em qualquer canto o murmúrio dos ventos
quando se encontram num portal
atrás de um quadro
espargindo-se nos vidros...
em qualquer canto, há um Pégaso
que voa despreocupado em seu galope,
distraído /
na neblina do sonho de alguém
em qualquer canto da parede vê-se um pouco de alegria
que restou da última festa /
estilhaços repousam também,
n’algum lugar pelo chão...





ODE AO LIVRO

Luar solidificado, fogo congelado, dor que murmuro
Barcos em estranhos mares de vinho escuro
Que me fazem Deus no quarto e me crucificam na sala
Maravilhas e perigo: loucura breve
Com água de serpente ou com sangue se escreve
A teia de homens, truques da alma em animal e flor
Sonho da vida de sonho-monstro feito de olhos e dor
melodia que não posso traduzir
Que me leva de volta às fontes e ao porvir
Velho-moço aprendendo e errando
Corvo e pomba branca casando
Senti-lo sem lê-lo, tateá-lo penetrando-o
Buquê jogado no espaço, vento despetalando-o
Fantasma atravessando meu último recôndito
Cascavel celestial que me deixa atônito
Papel, tinta, luz na minha memória
Vários dias e noites numa só história
Que faz os vencedores se curvarem
Paraísos de leite e mel, secarem
Pavão perder suas cores, desnudando-se até a essência
Necessário pecado, nossa arrependida convivência
Tentativa e erro, retorno à pátria e desterro
Que me faz sombra e candeeiro
Sonho em claro labirinto-frio ou quente
Espelho temeroso, livre metáfora, inverdade
Alusão às inatingíveis estrelas no fim da tarde
Inrrompível cadeia (criação/ imitação)
On line ou na minha mão...

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