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sábado, 8 de outubro de 2016

O show no Recife (Pernambuco, Brasil) e a morte MÁXIMA de Amy Winehouse



por moisés monteiro de melo neto



"We only said goodbye with words

I died a hundred times
You go back to her
And I go back to.....



I go back to us



I love you much
It's not enough"



Lembro do dia que assisti ao show de Amy no Recife, 13 de janeiro de 2011. Uau! Eram mais de 12 mil pessoas (a quarta apresentação de La  Winehouse, no Brasil. Primeiro não acreditei quando soube que ela viria, depois, mesmo estando ali na primeira fila, ainda estava incrédulo, com todos os boatos sobre a fragilidade dela, que queria morrer e estava tomando todas. La Winehouse e aquela banda incrível. Thalita Gadelha Taveira ganhou o prêmio pela melhor caracterização de Amy, num concurso promovido por uma rádio, e estava lá também explodindo de emoção com tudo aquilo que estava rolando à nossa frente.  A nossa cantora  inglesa tão querida tentando fazer um quatro com as pernas (para provar que apesar de ter tomado uns drinks ainda estava bem) levou um tombo, mas tudo bem.


Meu ticket para o show de Amy Winehouse, no Recife (moisesmonteirodemeloneto)


O show, na verdade, começou e durou cerca de uma hora e meia; foi o mais longo em Pindorama; Recife ficou babando. Quando os músicos fizeram a introdução da música Shimmy Shimmy Ko Ko Bop para ela entrar e ela apareceu com aquele vestido amarelo (Nossa! E que  vestido! Bem decotado, colado no corpo sensual, meio detonado pela estrada felliniana da vida louca daquela diva...) eu fiquei sem fôlego. Ela parecia, sei lá, não estar ali. Foi uma encruzilhada muito doida, e eu fiquei meio zonzo, com o astral dela. Elétrica, como o jazz, blues, vida rock´n´roll, nem sei mais...



O show de Amy Winehouse, no Recife foto: Thalita Gadelha Taveira


 Na hora de Black to Black... me deu uma vontade de chorar. Sou assim, sentimental e amo meus ídolos com uma força imensa que deus me dá. E lá vem aquela garota, na casa dos 27, a me matar com suas melodias fascinantes, parecia ler minha alma com aquelas palavras. Como não lembrar de Janis Joplin?  Just Friends me levou às lágrima, embora eu tentasse manter certo distanciamento crítico. Ela dava sinais de bebedeira...


A mídia dizia que Amy estava se matando


O público urrava, batia palmas, o Centro de Convenções recebia aquela pequena enorme dama da música e eu perdia os sentidos e os reencontrava mil vezes, ali, com ela a uns dois metros de distância, prevendo que em julho ela morreria. Sua quase inevitável caneca, com seu coquetel favorito (da pesada!) ela pegava e tomava um gole entre uma música e outra (little girl blue...), às vezes até gargarejava se deliciando com aquele líquido tão... ambrosia em suas propriedades. Ah! Como eu queria abraçá-la!  Lá estava o backing vocal Zalon, que cantou as quinta e sexta músicas em cerca de  sete minutos no domínio do show. Amy saíra e volta cheia de gás.  Sim, e aí começou a interagir ainda mais com a gente, aqui, em Recife.  Meninos, eu vi e ouvi. Foi incrível. Até hoje me arrepio com a força daquela mulher! E foi nessa reentrada que ela danou  Rehab e nós cantamos com toda força, o hino da decadência elegante e atroz dela. Daí ela começou uns lances meio estranhos do tipo dar pausas maiores e  falar mais com os músicos , se escorar em seu querido Zanon, a interromper as músicas, como se estivesse confusa ou com má vontade. A gente entendia e não queria uma máquina. Ela era feita de carne e estava dando um show de talento. Então começou também a não cantar as músicas até o fim. Ulalá! E abraçava Zanon, beijando-o carinhosamente, como irmão, que ele era... naquele palco, no recife, ali pertinho de onde morreu Chico Science, Centro de Convenções, entre Recife e Olinda. Ai, meu Deus. Será que ela iria conseguir ir até o fim do show? Fiquei na torcida; ela parecia estar brincando com a vida. Agradecia aos fãs, ao público e se voltava para os outros músicos da banda dando hiatos à apresentação.


Amy Winehouse no Recife (dadaísmo de moisesneto)


Por volta da décima música, Sam and Amy, a cantora mais uma vez saiu do palco e ficou confusa quanto ao local exato da saída na coxia; foi meio patético, meio trágico, meio ... nem sei... lances de amor e morte, entendem? 

Eu estava me despedindo dela, eu sabia, ela era como uma grande amiga, daquelas que a gente vê pouco. Zanon assumiu a cena geral e mandou brasa  e a gente ficou pensando se ela ia voltar ou não. Ele ficou fazendo hora e aproveitou para apresentar o grupo. Depois de quase dez minutos, ela voltou ligadíssima e beijou Zanon, como brother, dá um giro e... (parecia uma menina bailarina!) cai, mas levanta-se bem rápido e volta a dançar (deu para ver hematomas, de outras quedas e acidentes assim, nas suas pernas). Love is a losing game, isn´t it? Foi até o fim e eu saí extasiado com ela. Viva Amy Winehouse! Que descanse em paz e viva para sempre, possibilidade que a arte oferece aos seus sacerdotes.



Moisés Monteiro de Melo Neto (foto) comenta o atentado poético de Jomard Muniz de Britto (abaixo):  “Mais uma vez de maneira sintética, sem perder a complexidade e o alcance pop filosófico-psico-pedagógico, JMB usa a sua poeticidade de modo a tratar dos problemas do seu tempo, em nome do desejo  e da ação cultural” 




A morte MÁXIMA de Amy Winehouse



por Jomard Muniz de Britto, jmb


Eles fingiram morrer aos 27 anos porque
sabiam pela inconstância da alma não
existir nada de novo para apreender.
E jamais acreditaram na Realeza e no
sonho americano, na idade de ouro das
vanguardas e, portanto, gozavam com
eternos desafios do ex-pe-ri-mental.
Tantas negações, morte máxima pelo SIM:
todas as coisas estão cheias de deuses
polivalentes, malvados e perplexos.
E os garotos(as), EMOS em seus ninhos
sem pergaminhos retornavam territórios
diferentes das encruzilhadas de Hamlet
aos solitários de Jesus. Ainda sonhando
perspectivas aglutinadoras de  signos.
Permutando antropologias e antropofagias.
Além dos precipícios do prazer
e atavismos familionários .
Aquém dos chistes e enigmas, ou melhor,
das cotidianas tragicomédias.
Nada de novo para desaprender.
Tudo pelo êxtase da luta corporal
desacreditando potências do sol ao luar.
Amy nunca foi Alice no exílio dos
desvairados. Mas sua voz dilacerava
alegrias do amor juvenil por quem deveria
ser mais forte. Nada e tudo de sempre
nas tatuagens do vivencial em perigo.
Morrer aos 27 anos em estrelações
tentando escapar das dualidades:
Inconsciente/supereu; barbárie/civilização;
acasos/necessidades; beleza/simulacros.
Quando Arthur Carvalho admirou a voz
onipresente de Amy Winehouse, imaginamos
que algo do melhor poderia acontecer.
Apesar das mortes súbitas, do desamparo
fundamental e da agonia consumista.   
Garota irada, Amy transfigurou nossas
loucuras sublimando o terror grotesco.

Recife, julho de 2011




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