por moisés monteiro de melo neto
"We only said goodbye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to.....
I go back to us
I love you much
It's not enough"
Meu ticket para o show de Amy Winehouse, no Recife (moisesmonteirodemeloneto)
O show, na verdade, começou e durou cerca de uma hora e meia; foi o mais longo em Pindorama; Recife ficou babando. Quando os músicos fizeram a introdução da música Shimmy Shimmy Ko Ko Bop para ela entrar e ela apareceu com aquele vestido amarelo (Nossa! E que vestido! Bem decotado, colado no corpo sensual, meio detonado pela estrada felliniana da vida louca daquela diva...) eu fiquei sem fôlego. Ela parecia, sei lá, não estar ali. Foi uma encruzilhada muito doida, e eu fiquei meio zonzo, com o astral dela. Elétrica, como o jazz, blues, vida rock´n´roll, nem sei mais...
O show de Amy Winehouse, no Recife foto: Thalita Gadelha Taveira
Na hora de Black to Black... me deu uma vontade de
chorar. Sou assim, sentimental e amo meus ídolos com uma força imensa que deus
me dá. E lá vem aquela garota, na casa dos 27, a me matar com suas melodias
fascinantes, parecia ler minha alma com aquelas palavras. Como não lembrar de
Janis Joplin? Just Friends me levou às lágrima, embora eu
tentasse manter certo distanciamento crítico. Ela dava sinais de bebedeira...
A mídia dizia que Amy estava se matando
O público urrava, batia palmas, o Centro de
Convenções recebia aquela pequena enorme dama da música e eu perdia os sentidos
e os reencontrava mil vezes, ali, com ela a uns dois metros de distância,
prevendo que em julho ela morreria. Sua quase inevitável caneca, com seu
coquetel favorito (da pesada!) ela pegava e tomava um gole entre uma música e
outra (little girl blue...), às vezes
até gargarejava se deliciando com aquele líquido tão... ambrosia em suas propriedades.
Ah! Como eu queria abraçá-la! Lá estava
o backing vocal Zalon, que cantou as quinta e sexta músicas em cerca de sete minutos no domínio do show. Amy saíra e
volta cheia de gás. Sim, e aí começou a
interagir ainda mais com a gente, aqui, em Recife. Meninos, eu vi e ouvi. Foi incrível. Até hoje
me arrepio com a força daquela mulher! E foi nessa reentrada que ela danou Rehab e
nós cantamos com toda força, o hino da decadência elegante e atroz dela. Daí ela começou uns
lances meio estranhos do tipo dar pausas maiores e falar mais com os músicos , se escorar em seu
querido Zanon, a interromper as músicas, como se estivesse confusa ou com má
vontade. A gente entendia e não queria uma máquina. Ela era feita de carne e
estava dando um show de talento. Então começou também a não cantar as músicas
até o fim. Ulalá! E abraçava Zanon, beijando-o carinhosamente, como irmão, que
ele era... naquele palco, no recife, ali pertinho de onde morreu Chico Science,
Centro de Convenções, entre Recife e Olinda. Ai, meu Deus. Será que ela iria
conseguir ir até o fim do show? Fiquei na torcida; ela parecia estar brincando
com a vida. Agradecia aos fãs, ao público e se voltava para os outros músicos da
banda dando hiatos à apresentação.
Amy Winehouse no Recife (dadaísmo de moisesneto)
Por volta da décima música, Sam and Amy,
a cantora mais uma vez saiu do palco e ficou confusa quanto ao local exato da
saída na coxia; foi meio patético, meio trágico, meio ... nem sei... lances de
amor e morte, entendem?
Eu estava me despedindo dela, eu sabia, ela era como uma grande amiga, daquelas que a gente vê pouco. Zanon assumiu a cena geral e mandou brasa e a gente ficou pensando se ela ia voltar ou não. Ele ficou fazendo hora e aproveitou para apresentar o grupo. Depois de quase dez minutos, ela voltou ligadíssima e beijou Zanon, como brother, dá um giro e... (parecia uma menina bailarina!) cai, mas levanta-se bem rápido e volta a dançar (deu para ver hematomas, de outras quedas e acidentes assim, nas suas pernas). Love is a losing game, isn´t it? Foi até o fim e eu saí extasiado com ela. Viva Amy Winehouse! Que descanse em paz e viva para sempre, possibilidade que a arte oferece aos seus sacerdotes.
Eu estava me despedindo dela, eu sabia, ela era como uma grande amiga, daquelas que a gente vê pouco. Zanon assumiu a cena geral e mandou brasa e a gente ficou pensando se ela ia voltar ou não. Ele ficou fazendo hora e aproveitou para apresentar o grupo. Depois de quase dez minutos, ela voltou ligadíssima e beijou Zanon, como brother, dá um giro e... (parecia uma menina bailarina!) cai, mas levanta-se bem rápido e volta a dançar (deu para ver hematomas, de outras quedas e acidentes assim, nas suas pernas). Love is a losing game, isn´t it? Foi até o fim e eu saí extasiado com ela. Viva Amy Winehouse! Que descanse em paz e viva para sempre, possibilidade que a arte oferece aos seus sacerdotes.
Moisés Monteiro de Melo Neto (foto) comenta o atentado poético de Jomard Muniz de Britto (abaixo): “Mais uma vez de maneira sintética, sem perder a complexidade e o alcance pop filosófico-psico-pedagógico, JMB usa a sua poeticidade de modo a tratar dos problemas do seu tempo, em nome do desejo e da ação cultural”
A morte MÁXIMA de Amy Winehouse
por Jomard
Muniz de Britto, jmb
Eles fingiram
morrer aos 27 anos porque
sabiam pela
inconstância da alma não
existir nada
de novo para apreender.
E jamais
acreditaram na Realeza e no
sonho
americano, na idade de ouro das
vanguardas e,
portanto, gozavam com
eternos
desafios do ex-pe-ri-mental.
Tantas
negações, morte máxima pelo SIM:
todas as
coisas estão cheias de deuses
polivalentes,
malvados e perplexos.
E os
garotos(as), EMOS em seus ninhos
sem
pergaminhos retornavam territórios
diferentes
das encruzilhadas de Hamlet
aos
solitários de Jesus. Ainda sonhando
perspectivas
aglutinadoras de signos.
Permutando
antropologias e antropofagias.
Além dos
precipícios do prazer
e atavismos familionários .
Aquém dos
chistes e enigmas, ou melhor,
das
cotidianas tragicomédias.
Nada de novo
para desaprender.
Tudo pelo
êxtase da luta corporal
desacreditando
potências do sol ao luar.
Amy nunca foi
Alice no exílio dos
desvairados.
Mas sua voz dilacerava
alegrias do
amor juvenil por quem deveria
ser mais
forte. Nada e tudo de sempre
nas tatuagens
do vivencial em perigo.
Morrer aos 27
anos em estrelações
tentando
escapar das dualidades:
Inconsciente/supereu;
barbárie/civilização;
acasos/necessidades;
beleza/simulacros.
Quando Arthur
Carvalho admirou a voz
onipresente
de Amy Winehouse, imaginamos
que algo do
melhor poderia acontecer.
Apesar das
mortes súbitas, do desamparo
fundamental e
da agonia consumista.
Garota irada,
Amy transfigurou nossas
loucuras
sublimando o terror grotesco.
Recife, julho
de 2011
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