Rascunhos para estudos posteriores:
Desconstruir uma oposição é mostrar que ela não é
natural e nem inevitável, mas uma construção, produzida por discursos que se
apoiam nela, e mostrar que ela é uma construção num trabalho de desconstrução
que busca desmantelá-la e reinscrevê-la - isto é, não destruí-la, mas dar-lhe
uma estrutura e funcionamento diferentes; há, tanto no texto da História da Filosofia
quanto no texto dito literário, unidades de simulacro, ‘falsas’
propriedades verbais, nominais ou semântica, que não se deixam mais compreender
na oposição filosófica (binária) e que, entretanto, habitam-na, mas, sem nunca
constituir um terceiro termo, sem nunca dar lugar a uma solução na forma dialética
especulativa. Se pensarmos na desconstrução inserida no espaço da
Literatura, veremos que ela foi e continua sendo, em alguns casos, confundida
com o Pós-Estruturalismo, ou, pelo menos, inserida no âmbito dessa corrente
teórica literária. É, por exemplo, o que faz Terry Eaglaton, em Teoria da
Literatura: uma introdução, quando, no capítulo dedicado ao Pós-Estruturalismo,
proporcionará, ao mesmo, uma discussão mais ampla acerca da Desconstrução, além
de abordar a difusão dela em solo anglo-americano. Mas, devemos fazer uma
observação aqui e registrar que, apesar do prefixo "pós" de
"pós-estruturalismo", este aconteceu ao mesmo tempo em que o
estruturalismo e foi, na verdade, uma forma de questionar algumas ideias
estruturalistas que ainda apresentavam lacunas, ou seja, "o pós-estruturalismo,
portanto, não veio cronologicamente depois do estruturalismo, mas no mesmo
momento em que este triunfava, na França e alhures. Em plena euforia
estruturalista, Derrida anunciava seu fim" (Leila PERRONE-MOISÉS).
Diante disso, o que o teórico francês proporá
é que se ameace "metodologicamente a estrutura para melhor
percebê-la", com isso, vemos, sobretudo em A escritura e a diferença,
toda uma série de textos nos quais Derrida se volta para a questão da estrutura,
circunscrita aos mais diferentes campos. Tal atitude será empregada com o
propósito de se rediscutir e redimensionar a noção de estrutura sobre a qual se
erigiam todos os estudos estruturalistas, de Saussure, Lacan, Lévi-Strauss,
entre outros. A lucidez teórica derridiana o levará a afirmar, em plena
efervescência estruturalista, "como vivemos da fecundidade estruturalista,
é demasiado cedo para chicotear nosso sonho" . Mas, apesar disso, Derrida
o faz. O centro não
era um lugar fixo mas uma função, uma espécie de não-lugar no qual se faziam
indefinidamente substituições de signos. Foi então o momento em que a linguagem
invadiu o campo problemático universal; foi então o momento em que, na ausência
de centro ou de origem, tudo se torna discurso - com a condição de nos entendermos sobre essa
palavra - isto é, sistema no qual o significado central, originário ou
transcendental, nunca está absolutamente presente fora de um sistema de
diferenças. Com isso, Derrida acaba abalando a dominação do centro, concedendo
às margens um lugar de destaque. Na verdade, podemos observar, tendo a
atenção voltada para o fragmento acima, que Derrida chama de
"diferenças" as "margens". No plano da Literatura, começam
a emergir essas "diferenças" ou essas "margens", sejam elas
as formas não canônicas da Literatura ou as expressões particulares de
literaturas antes marginalizadas por situação geográfica ou por opressão
ideológica. Dentro dessa ideia de abalo do centro em detrimento das
"diferenças", podemos pensar, por exemplo, que a Desconstrução abriu
espaço para que se realizassem os estudos de literatura emergentes ou de
grupos minoritários, algo que contribuiu, ainda, para o grande êxito dos Estudos
Culturais. Isso significou uma abertura revolucionária nos estudos
literários, como ideologia democrática e não preconceituosa. Vemos,
então, que a Desconstrução proporcionou significativos abalos no interior das
Ciências Humanas e, por conseguinte, no interior dos discursos sobre a Literatura,
ao promover a decomposição e reconfiguração desses mesmos discursos, de
dentro e de fora, detonando, assim, a tranquilidade dos discursos. Logo,
podemos aprender com Derrida, a "re-colocar, a cada vez, tudo em jogo,
de acabar para recomeçar, de acabar por recomeçar. Não no sentido de
esquecer o já sabido, de reinventar o mesmo, mas de se colocar a tarefa de
redefinir as tonalidades do acontecimento". E essa atitude nós podemos
assumir diante da fenomenologia, da psicanálise, da filosofia, dos estudos
culturais, da teoria literária e, inclusive, diante da Desconstrução.
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