OS GIGANTES DA MONTANHA APARECEM NO RECIFE: SÍTIO TRINDADE SERVIU DE CENÁRIO PARA A TRUPE MINEIRA DO GALPÃO
"Hoje podemos afirmar que o Galpão
já tem uma linguagem própria, onde se misturam Brecht e Stanislavski, as
técnicas circenses com o teatro balinês, a música folclórica com os
experimentos musicais mais contemporâneos, a dramaturgia clássica com o
melodrama, Eugenio Barba com Gabriel Villela, Eduardo Garrido com Shakespeare,
marujadas com Molière, teatro épico com drama psicológico, o provinciano com o
universal, a tradição com a transgressão. Tudo se mistura nesse caldeirão que
os alquimistas do Galpão transformam, com visão crítica e generosidade, em
teatro da mais pura cepa, arte maior, celebração da vida"., diz Paulo José,
diretor e ator do grupo Galpão, que se apresentou em Recife no final de
novembro. Assisti, impressionado, à montagem de
Os Gigantes da Montanha.
Gigantes invadem o Recife
Luigi
Pirandello apoiou Mussolini recebeu crítica negativa por algumas peças, entrou
em depressão, perdeu sua companhia de teatro e sentia ira morrer logo: tudo
isso está no seu último texto, inacabado, Os gigantes da montanha. Lutava
inutilmente contra o câncer e partiu em 1936 . É um texto complexo, o diretor
Gabriel Villela uniu-se mais uma vez ao
grupo que já encenou “Romeu e Julieta” (1992), “As três irmãs”(Tchecov) “Tio
Vânia” e “Eclipse” (2012). O que vi em cena foi um mix de commedia dell’arte.
Ao Pirandello com sua arquitetura erudita, filosófica e paradoxalmente pelo
popular, junta-se algo que o grupo chama “gromelô”, palavas inventadas por eles para
completar o texto de Pirandello (reflexo da sua própria vida: fantasmas e
fantoches em cena de uma apresentação sobre uma “nobre” que tece o belo filho
trocado por um menino feio como um fígado, e uma atriz atroz que levou um poeta
ao suicídio (depois de escrever uma peça para ela, que o iludira com falsas
promessas).
É o seguinte: um grupo de teatro ambulante
chega a uma vila mal assombrada e chefiada pelo mago Cotrone. Os atores não têm
onde cair mortos, aí a atriz-condessa (Ilse- cópia da mulher do autor?) conta
com a ajuda do tal mago (Pirandello?) chama
os fantasmas para ajudar o tal elenco e apresentar-se para os tais “gigantes da
montanha”, de um povoado das redondezas. Mas os gigantes não gostam da peça e
os atores são banidos e assassinados, numa espécie de metáfora da perseguição à poesia (e ao teatro)
num mundo imbecil, cabendo ao teatro
vencer a morte (morrendo, renascendo, renovando-se).
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