“O conhecimento tem presença garantida em qualquer projeção que se
faça do futuro. Por isso há um consenso de que o desenvolvimento de um país
está condicionado à qualidade da sua educação. Nesse contexto, as perspectivas
para a educação são otimistas. A pergunta que se faz é: qual educação, qual
escola, qual aluno, qual professor? Este artigo busca compreender a educação no
contexto da globalização e da era da informação, tira conseqüências desse
processo e aponta o que poderá permanecer da "velha" educação,
indicando algumas categorias fundantes da educação do futuro.”
No início
deste século, H. G. Wells dizia que "a História da Humanidade é cada vez
mais a disputa de uma corrida entre a educação e a catástrofe". No início
dos anos 50, dizia-se que só havia uma alternativa: "socialismo ou
barbárie" (Cornelius Castoriadis), mas chegou-se ao final do século com a
derrocada do socialismo burocrático de tipo soviético e enfraquecimento da
ética socialista. E mais: pela primeira vez na história da humanidade, não por
efeito de armas nucleares, mas pelo descontrole da produção industrial, pode-se
destruir toda a vida do planeta. Mais do que a solidariedade, estamos vendo
crescer a competitividade. Venceu a barbárie, de novo? Qual o papel da educação
neste novo contexto político? Qual é o papel da educação na era da informação?
Que perspectivas podemos apontar para a educação nesse início
do Terceiro Milênio? Para onde vamos?
Hoje
muitos educadores, perplexos diante das rápidas mudanças na sociedade, na
tecnologia e na economia, perguntam-se sobre o futuro de sua profissão, alguns
com medo de perdê-la sem saber o que devem fazer. Então, aparecem, no
pensamento educacional, as palavras: "projeto" político-pedagógico,
pedagogia da "esperança", "ideal" pedagógico,
"ilusão" e "utopia" pedagógica, o futuro como
"possibilidade". Fala-se muito hoje em "cenários" possíveis
para a educação, portanto, em "panoramas", representação de "paisagens".
Para se desenhar uma perspectiva é preciso "distanciamento". É sempre
um "ponto de vista". Todas essas palavras entre aspas indicam uma
certa direção ou, pelo menos, um horizonte em direção ao qual
se caminha ou se pode caminhar. Elas designam "expectativas" e
anseios que podem ser captados, capturados, sistematizados e colocados em
evidência.
No cenário da educação atual,
podem ser destacados alguns marcos, algumas pegadas, que persistem e poderão
persistir na educação do futuro.
Os
sistemas educacionais ainda não conseguiram avaliar suficientemente o impacto
da comunicação audiovisual e da informática, seja
para informar, seja para bitolar ou controlar as mentes. Ainda trabalha-se
muito com recursos tradicionais que não têm apelo para as crianças e jovens. Os
que defendem a informatização da educação sustentam que é preciso mudar
profundamente os métodos de ensino para reservar ao cérebro humano o que lhe é
peculiar, a capacidade de pensar, em vez de desenvolver a memória.
Para ele, a função da escola será, cada vez mais, a de ensinar a pensar criticamente.
Edgar
Morin, que critica a razão produtivista e a racionalização modernas, propõe uma lógica
do vivente. Esses paradigmas sustentam um princípio unificador do saber, do
conhecimento, em torno do ser humano, valorizando o seu cotidiano, o seu
vivido, o pessoal, a singularidade, o entorno, o acaso e outras categorias
como: decisão, projeto, ruído, ambiguidade, finitude, escolha, síntese, vínculo
e totalidade (algumas das categorias dos paradigmas chamados holonômicos, holos,
em grego, significa todo e os novos paradigmas procuram
centrar-se na totalidade). Os paradigmas holonômicos pretendem restaurar a
totalidade do sujeito, valorizando a sua iniciativa e a sua criatividade,
valorizando o micro, a complementaridade, a convergência e a complexidade.
Os
holistas sustentam que o imaginário e a utopia são os grandes fatores instituintes
da sociedade e recusam uma ordem que aniquila o desejo, a paixão, o olhar e a
escuta. Os enfoques clássicos, segundo eles, banalizam essas dimensões da vida
porque sobrevalorizam o macroestrutural, o sistema, em que tudo é função ou
efeito das superestruturas socioeconômicas ou epistêmicas, linguísticas e
psíquicas. Para os novos paradigmas, a história é essencialmente possibilidade,
em que o que vale é o imaginário (Gilbert Durand), o projeto.
Existem tantos mundos quanto nossa capacidade de imaginar. Para eles, "a
imaginação está no poder", como queriam os estudantes em maio de 1968.
Na verdade, certas categorias não
são novas na teoria da educação, mas hoje são lidas e analisadas com mais
simpatia do que no passado. Sob diversas formas e com diferentes significados,
essas categorias são encontradas em muitos intelectuais, filósofos e
educadores, de ontem e de hoje: o "sentido do outro", a
"curiosidade" (Paulo Freire), a "tolerância" (Karl
Jaspers), a "estrutura de acolhida" (Paul Ricoeur), o
"diálogo" (Martin Buber), a "autogestão" (Celestin Freinet,
Michel Lobrot), a "desordem" (Edgar Morin), a "ação
comunicativa", o "mundo vivido" (Jürgen Habermas), a
"radicalidade" (Agnes Heller), a "empatia" (Carl Rogers), a
"questão de gênero" (Moema Viezzer, Nelly Stromquist), o
"cuidado" (Leonardo Boff), a "esperança" (Ernest Bloch), a
"alegria" (Georges Snyders), a unidade do homem
contra as "unidimensionalizações" (Herbert Marcuse), etc.
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