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sexta-feira, 12 de agosto de 2016

TEATRO MEDIEVAL



moisesmonteirodemeloneto


Na Idade Média não havia, como hoje, inúmeros meios de diversão para ocupar os momentos de lazer das pessoas, cuja vida por isso, se resumia em trabalhar e descansar. Mas o descanso não tinha graça: Todo mundo se entediava, por falta do que fazer. O teatro, que durante toda a histeria romana constituíra a forma clássica de entretenimento, acabara sendo extinto pelas autoridades religiosas, que  consideravam os autores romanos licenciosos. Além disso, a Igreja era muito severa.



A inexistência de espetáculos teatrais nos primeiros tempos do período medieval fez com que o ritual da missa, pouco a pouco, adquirisse grande importância social pois, além da sua significação como cerimônia religiosa, oferecia aos fieis uma forma rudimentar de "representação". Como a 'Língua usada na época era o latim vulgar, o público acompanhava perfeitamente a narrativa dos episódios bíblicos e os solenes diálogos entre o sacerdote e os seus acentos. Dessa for­ma, aos poucos foi se criando uma situação original: não podendo assistir a um teatro verdadeiro, as pessoas viam na mis­sa uma espécie de espetáculo cênico. Ao perceber o que acontecia, a Igreja acrescentou ao ritual litúrgico um maior número de diálogos, a fim de comunicar os fatos da doutrina de modo mais completo e com detalhes atraentes. Os fieis receberam tão bem a inovação, que a Igreja logo introduziu várias outras, adotando trajes, símbolos e objetos que facilitassem reconhecimento das figuras bíblicas, já então transformadas em personagens.
DO ALTAR ATÉ A PRAÇA – Apesar das grandes modificações feitas na liturgia, os rituais religiosos ainda deixavam muito a desejar como espetáculo; seus personagens eram poucos e as           cenas não podiam explorar efeitos de cenário e guarda-roupa, de­vido à limitação do espaço do "palco" onde se desenrolava a  ação – o altar das Igrejas. O público, entretanto, tornara-se exigente e as pequenas encenações no altar já não o cativavam como antes. Para reconquistar o interesse da "plateia" de fi­eis, as representações litúrgicas desceram do altar para a nave das Igrejas, que permitia a encenação de situações mais complexas, envolvendo numerosos personagens. Mas isso também não bastou: algum tempo mais tarde a nave se tornou insufici­ente para os rituais litúrgicos, cada vez mais elaborados e o local da ação se transferiu para o pórtico das Igrejas. Porém com o progressivo aumento do número de personagens das cenas, a necessidade de espaço continuou a crescer e, por fim, as representações saíram ã rua. Surgiram então os espetáculos de praça pública, que foram a primeira manifestação verdadeira­ mente teatral da Idade Média.
O TEATRO NA CULTURA (EUROPEIA) DA IDADE MÉDIA (do século IX ao XIII)
 "No drama litúrgico temos duas espécies de peças: os milagres e os mistérios. O Milagre, segundo Petit de Julleville, "e a encenação de um fato maravilhoso produzido pela intervenção sensível de um santo e na maioria das vezes pela Virgem Maria; enquanto mistério vem de ministarium, não sendo um mistério dogmático: ora e O OFÍCIO DA PAIXÃO, ora e um metier, o das pessoas que tem como profissão presentar a Paixão, mas não e um mistério da Fé. Os mistérios exigiam centenas de atores e uma encenação enorme e complica­da. Constituem o apogeu do teatro medieval quanto a perfeição dos meios empregados, mas representam a decadência quanto ao seu valor literário. O público quer ver tudo nos mistérios, uma do ao teatro vinte ou quarenta dias seguidos para assistir a toda a histeria da humanidade. O teatro dos mistérios uma grande complexidade de processos e um estilo dramático sumário. A FINALIDADE ERA EDIFICAR, MAS TAMBÉM QUERIA DISTRAIR O PÚBLICO, não havendo respeito pela verossimilhança,  as gentilezas misturando-se às grosserias.  Cortesas no exercício de suas funções se alternavam com as cenas de suplícios e se misturavam aos loucos,  aos diabos, aos judeus e aos carrascos.  Era um espetáculo mais profano do que religioso”.
“... E foi a partir dos mistérios que a Igreja passou a aplicar sanções contra o teatro. A representação de um mistério; no entanto, no seu apogeu, comovia uma cidade inteira. A Igreja, a principio, era a principal interessada, bispos padres mostrando-se favoráveis às representações desde que fossem montadas por burgueses a suem conhecessem bem. Às vezes os prelados dirigiam o espetáculo  ou emprestavam material das igrejas e ornamentos sagrados. As municipalidades também arcavam com as despesas, desde que o interesse comercial juntava-se ao gosto pela arte dramática. A cidade taxava os preços dos lugares e policiava a sala. As associações se encarregavam de montar as peças, organizando concursos e montando as obras premiadas, através das Confrarias Padres, legistas, cristãos de todas as condições       reuniam‑se para montar uma peça para gloria de Deus ou dos seus santos.” (Hermilo Borba Filho)

A CENA MEDIEVAL
Na Idade Média havia uma espécie de palco  sucessivo, constituído por uma série de carroças/ carros, cada qual com cenários diversos que representavam lugares diferentes. Os carros sucediam-se, parando um depois do outro em pontos determinados para em cada um ser apresentada uma das cenas da peça. Depois os carros seguiam, numa espécie de procissão dramática.
“Mas a grande invenção do teatro medieval foi a CENA SIMULTâNEA, usada a partir do século XII. Somente na época de CORNEILLE (e RACINE) (Corneille: 1606-1684) este palco foi definitivamente extinto para ser restaurado embora de forma bem diversa – em nossos tempos. Consistia esta invenção em colocar antecipadamente, lado a lado, todos os cenários requeridos, numa série de "mansões" ou casas, ao longo de estrados' separados do público por uma barreira. Esta cena podia ate 50 metros de extensão. Todos os lugares da ação, todos os elementos da cenografia – o crucifixo, o túmulo, a cadeia, o trono de Pilatos, a Galileia, o céu, o inferno, etc. – en­contravam-se deste modo de antemão justapostos e os personagens iam se deslocando durante o espetáculo de um lugar a outro, de uma casa a outra, segundo as necessidades da sequên­cia cênica. Quanto ao público, acompanhava o espetáculo, des­locando-se com os atores.
A Natividade, apresentada em Rouen em 1474, contava 21 lugares diferentes entre o paraíso e o inferno, e os espectadores deslocavam-se de Jerusalém e Belém a Roma. Houve, porém, mistérios que apresentavam até 60 “quadros” justapostas. Nes­tas havia panos de fundo-não se inventara ainda o pano de boca – e o complexo jogo cênico exigia inúmeros acessórios máquinas engenhosas que permitiam, nas alturas, a deslocação aérea dos anjos; demônios surgiam dos abismos, saindo de al­çapões, chamas flamejavam no inferno, tempestades e ondas envoltas se abatiam, ruidosas, sobre a cena; terríveis torturas eram  infligidas a bonecos que substituíam os atores. Do céu descia o Espírito  Santo, envolto em  raios luminosos. HAVIA  UM VERDADEIRO  MOVIMENTO VERTICAL,  DESDE OS ABISMOS INFERNAIS ATÉ O CÉU,  MOVIMENTO QUE ABARCAVA O HOMEM SITUADO NO PLANO INTERMÉDIÁRIO”.
O PALCO SIMULTÂNEO (da Idade Média) apresentara o homem como num mural imenso, sem profundidade plástica e psicológica, mergulhado no mundo vasto da narração, inserindo nas mansões como as esculturas nos nichos das catedrais de que elas mal se destacam. Fora uma visão teocêntrica que neste palco se exprimira, conforme a qual o homem e parte do plano divino universal.


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