moisesmonteirodemeloneto
Na Idade Média não havia, como hoje, inúmeros meios
de diversão para ocupar os momentos de lazer das pessoas, cuja vida por isso,
se resumia em trabalhar e descansar. Mas o descanso não tinha graça: Todo mundo
se entediava, por falta do que fazer. O teatro, que durante toda a histeria
romana constituíra a forma clássica de entretenimento, acabara sendo extinto
pelas autoridades religiosas, que
consideravam os autores romanos licenciosos. Além disso, a Igreja era
muito severa.
A inexistência de espetáculos teatrais nos
primeiros tempos do período medieval fez com que o ritual da missa, pouco a
pouco, adquirisse grande importância social pois, além da sua significação como
cerimônia religiosa, oferecia aos fieis uma forma rudimentar de "representação".
Como a 'Língua usada na época era o latim vulgar, o público acompanhava
perfeitamente a narrativa dos episódios bíblicos e os solenes diálogos entre o
sacerdote e os seus acentos. Dessa forma, aos poucos foi se criando uma
situação original: não podendo assistir a um teatro verdadeiro, as pessoas viam
na missa uma espécie de espetáculo cênico. Ao perceber o que acontecia, a
Igreja acrescentou ao ritual litúrgico um maior número de diálogos, a fim de comunicar
os fatos da doutrina de modo mais completo e com detalhes atraentes. Os fieis
receberam tão bem a inovação, que a Igreja logo introduziu várias outras,
adotando trajes, símbolos e objetos que facilitassem reconhecimento das figuras
bíblicas, já então transformadas em personagens.
DO ALTAR ATÉ A PRAÇA – Apesar das grandes
modificações feitas na liturgia, os rituais religiosos ainda deixavam muito a
desejar como espetáculo; seus personagens eram poucos e as cenas não podiam explorar efeitos de
cenário e guarda-roupa, devido à limitação do espaço do "palco" onde
se desenrolava a ação – o altar das
Igrejas. O público, entretanto, tornara-se exigente e as pequenas encenações no
altar já não o cativavam como antes. Para reconquistar o interesse da
"plateia" de fieis, as representações litúrgicas desceram do altar
para a nave das Igrejas, que permitia a encenação de situações mais complexas,
envolvendo numerosos personagens. Mas isso também não bastou: algum tempo mais
tarde a nave se tornou insuficiente para os rituais litúrgicos, cada vez mais elaborados
e o local da ação se transferiu para o pórtico das Igrejas. Porém com o
progressivo aumento do número de personagens das cenas, a necessidade de espaço
continuou a crescer e, por fim, as representações saíram ã rua. Surgiram então
os espetáculos de praça pública, que foram a primeira manifestação verdadeira
mente teatral da Idade Média.
O TEATRO NA CULTURA (EUROPEIA) DA IDADE MÉDIA
(do século IX ao XIII)
"No
drama litúrgico temos duas espécies de peças: os milagres e os mistérios.
O Milagre, segundo Petit de Julleville, "e a encenação de um fato
maravilhoso produzido pela intervenção sensível de um santo e na maioria das
vezes pela Virgem Maria; enquanto mistério vem de ministarium,
não sendo um mistério dogmático: ora e O OFÍCIO DA PAIXÃO, ora e um metier,
o das pessoas que tem como profissão presentar a Paixão, mas não e um mistério
da Fé. Os mistérios exigiam centenas de atores e uma encenação enorme e
complicada. Constituem o apogeu do teatro medieval quanto a perfeição dos
meios empregados, mas representam a decadência quanto ao seu valor literário. O
público quer ver tudo nos mistérios, uma do ao teatro vinte ou quarenta
dias seguidos para assistir a toda a histeria da humanidade. O teatro dos mistérios
uma grande complexidade de processos e um estilo dramático sumário. A
FINALIDADE ERA EDIFICAR, MAS TAMBÉM QUERIA DISTRAIR O PÚBLICO, não havendo
respeito pela verossimilhança, as gentilezas misturando-se às
grosserias. Cortesas no exercício de
suas funções se alternavam com as cenas de suplícios e se misturavam aos
loucos, aos diabos, aos judeus e aos
carrascos. Era um espetáculo mais
profano do que religioso”.
“... E foi a partir dos mistérios que a
Igreja passou a aplicar sanções contra o teatro. A representação de um mistério;
no entanto, no seu apogeu, comovia uma cidade inteira. A Igreja, a principio,
era a principal interessada, bispos padres mostrando-se favoráveis às
representações desde que fossem montadas por burgueses a suem conhecessem bem.
Às vezes os prelados dirigiam o espetáculo
ou emprestavam material das igrejas e ornamentos sagrados. As
municipalidades também arcavam com as despesas, desde que o interesse comercial
juntava-se ao gosto pela arte dramática. A cidade taxava os preços dos lugares
e policiava a sala. As associações se encarregavam de montar as peças,
organizando concursos e montando as obras premiadas, através das Confrarias
Padres, legistas, cristãos de todas as condições reuniam‑se para montar uma peça para gloria de Deus ou dos
seus santos.” (Hermilo Borba Filho)
A CENA MEDIEVAL
Na Idade Média havia uma espécie de palco sucessivo, constituído por uma série de
carroças/ carros, cada qual com cenários diversos que representavam lugares
diferentes. Os carros sucediam-se, parando um depois do outro em pontos determinados
para em cada um ser apresentada uma das cenas da peça. Depois os carros
seguiam, numa espécie de procissão dramática.
“Mas a grande invenção do teatro medieval foi a
CENA SIMULTâNEA, usada a partir
do século XII. Somente na época de CORNEILLE (e RACINE) (Corneille: 1606-1684)
este palco foi definitivamente extinto para ser restaurado embora de forma bem
diversa – em nossos tempos. Consistia esta invenção em colocar antecipadamente,
lado a lado, todos os cenários requeridos, numa série de "mansões" ou
casas, ao longo de estrados' separados do público por uma barreira. Esta cena
podia ate 50 metros de extensão. Todos os lugares da ação, todos os elementos
da cenografia – o crucifixo, o túmulo, a cadeia, o trono de Pilatos, a
Galileia, o céu, o inferno, etc. – encontravam-se deste modo de antemão
justapostos e os personagens iam se deslocando durante o espetáculo de um lugar
a outro, de uma casa a outra, segundo as necessidades da sequência cênica.
Quanto ao público, acompanhava o espetáculo, deslocando-se com os atores.
A
Natividade, apresentada em Rouen em 1474, contava 21 lugares
diferentes entre o paraíso e o inferno, e os espectadores deslocavam-se de
Jerusalém e Belém a Roma. Houve, porém, mistérios que apresentavam até
60 “quadros” justapostas. Nestas havia
panos de fundo-não se inventara ainda o pano de boca – e o complexo jogo
cênico exigia inúmeros acessórios máquinas engenhosas que permitiam, nas
alturas, a deslocação aérea dos anjos; demônios surgiam dos abismos, saindo de
alçapões, chamas flamejavam no inferno, tempestades e ondas envoltas se
abatiam, ruidosas, sobre a cena; terríveis torturas eram infligidas a bonecos que substituíam os
atores. Do céu descia o Espírito Santo,
envolto em raios luminosos. HAVIA UM VERDADEIRO
MOVIMENTO VERTICAL, DESDE OS
ABISMOS INFERNAIS ATÉ O CÉU, MOVIMENTO
QUE ABARCAVA O HOMEM SITUADO NO PLANO INTERMÉDIÁRIO”.
O PALCO SIMULTÂNEO (da
Idade Média) apresentara o homem como num mural imenso, sem profundidade
plástica e psicológica, mergulhado no mundo vasto da narração, inserindo
nas mansões como as esculturas nos nichos das catedrais de que elas mal se
destacam. Fora uma visão teocêntrica que neste palco se exprimira,
conforme a qual o homem e parte do plano divino universal.
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