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segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Por Solano Trindade!



(poema de Moisés Monteiro de Melo Neto)

dedicado a Samuel Santos

 

Solano Trindade, poeta recifense





2016... 1908
O mesmo São José, no Recife
Agora no Pátio de São Pedro
És estátua, eras recém-nascido
enquanto escritor pintor amor teatro
negra resistência por excelência
infante da liberdade, fazendo a vez
1934...36
Vive o tempo afrobrasileiramente
Entretecidos em arte popular
 mestiça na fortaleza etérea
1941, no Café Vermelhinho
Ah, Caríssimos
Quantos sonhos de igualdade... dignidade
Sua força poética vem à cena
1954, o Teatro Popular Brasileiro... o folclore
denúncia da Dor Negra em ritmo combativo.
Agora...
Já faz mais de 40 anos que partiste, Solano
Mas como fazes falta...
Muito tu terias a nos dizer
Ajudar a fazer
Com teus versos xamanísticos
Tua voz forte
Eu te saúdo, velho companheiro
Imagino-te erguendo-se da estátua
No Pátio de São Pedro
Nesta segunda década do século Vinte e um
com tanta gente com fome, ainda
sem fazer amor
para aliviar a Dor
Não é só na  Leopoldina
É como no Metrô do Recife
 essas caras tristalegres demais
nesse nunca chegar da vida
Trem sujo...
Trem negreiro miscigenado
De tantos egos e contas...
Vinganças e injustiças
Corrupto não é só quem rouba uma nação
Ah, o vil metal e o preconceito
a tirania, o autoritário arbitrário
mandando calar
Psiuuuuuuuuuu


Cala boca, nêgo...
Cala a boca, veado de teatro
Tanta jogatina no país da Leopoldina
A loucura da carne penetra na alma
Na tua cidade cidade-mangue
Cheia de manhas e manhãs
cheia de promessas incertas
poetas de todas as cores
também queimados vivos
enquanto, talvez
porque a força pela vida
quase sempre comanda
  tambores anunciem bem distante a revolta
Mas... pelo whattsapp?
Já nem sei... Loanda
tudo parece mercadoria
Ordens de um cibernético senhor de engenho
Que se rompessem as correntes
E fosse ele mesmo liberto
na Afrociberdelia desencantada 
Continuasse incerto
num neopsicodélico  Maracatu

Zumbi do que poderia ser
Ricos e pobres, juntos
Num projeto de renovação da Pátria
Que precisamos tanto ver
liberdade para trabalho e amor... nem sei, Solano
Só sei que às vezes penso
 ser valente como tu, bravo como tu
Fazer do meu poema capoeira, faca

Na minh`alma fica esta potência da tua lira
longe do canto da mentira
Desconstruindo a falsidade
Enfraquecendo a ilusão ariana
do  trabalho  pago com surra de cipó-pau, de ontem.
Basta, Solano
 estou com vontade de chorar,
segue aqui como esta lembrança
No amigo que tu és
Sigo solene, só, tentando o contente, siso
Na melancolia que escorre do riso
Do nosso país de ontem hoje amanhã
Nosso chão
Tremula a auriverde bandeira  da revolução
E nós, ainda escravos da ideologia
sobre sexo, raça, classe
Fazemos festas, também
No vinho vemos no horizonte raiar a esperança 
Que nos dará força maior
Para agirmos de maneira estratégica
acredito:
o amanhã começa agora
trago com prazer, Solano
teu nome na memória
o resto é história.


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