(poema de Moisés Monteiro
de Melo Neto)
dedicado a Samuel Santos
Solano Trindade, poeta recifense
2016...
1908
O
mesmo São José, no Recife
Agora
no Pátio de São Pedro
És
estátua, eras recém-nascido
enquanto
escritor pintor amor teatro
negra
resistência por excelência
infante
da liberdade, fazendo a vez
1934...36
Vive
o tempo afrobrasileiramente
Entretecidos
em arte popular
mestiça na fortaleza etérea
1941,
no Café Vermelhinho
Ah,
Caríssimos
Quantos
sonhos de igualdade... dignidade
Sua
força poética vem à cena
1954,
o Teatro Popular Brasileiro... o folclore
denúncia
da Dor Negra em ritmo combativo.
Agora...
Já
faz mais de 40 anos que partiste, Solano
Mas
como fazes falta...
Muito
tu terias a nos dizer
Ajudar
a fazer
Com
teus versos xamanísticos
Tua
voz forte
Eu
te saúdo, velho companheiro
Imagino-te
erguendo-se da estátua
No
Pátio de São Pedro
Nesta
segunda década do século Vinte e um
com
tanta gente com fome, ainda
sem
fazer amor
para
aliviar a Dor
Não
é só na Leopoldina
É
como no Metrô do Recife
essas caras tristalegres demais
nesse nunca chegar da vida
essas caras tristalegres demais
nesse nunca chegar da vida
Trem
sujo...
Trem
negreiro miscigenado
De
tantos egos e contas...
Vinganças
e injustiças
Corrupto
não é só quem rouba uma nação
Ah, o vil metal e o preconceito
a tirania, o autoritário arbitrário
mandando calar
Psiuuuuuuuuuu
Ah, o vil metal e o preconceito
a tirania, o autoritário arbitrário
mandando calar
Psiuuuuuuuuuu
Cala boca, nêgo...
Cala
a boca, veado de teatro
Tanta
jogatina no país da Leopoldina
A
loucura da carne penetra na alma
Na
tua cidade cidade-mangue
Cheia
de manhas e manhãs
cheia
de promessas incertas
poetas
de todas as cores
também
queimados vivos
enquanto, talvez
enquanto, talvez
porque
a força pela vida
quase
sempre comanda
tambores anunciem bem distante a revolta
Mas...
pelo whattsapp?
Já
nem sei... Loanda
tudo parece mercadoria
tudo parece mercadoria
Ordens
de um cibernético senhor de engenho
Que
se rompessem as correntes
E
fosse ele mesmo liberto
na
Afrociberdelia desencantada
Continuasse
incerto
num neopsicodélico Maracatu
Zumbi do que poderia ser
num neopsicodélico Maracatu
Zumbi do que poderia ser
Ricos
e pobres, juntos
Num
projeto de renovação da Pátria
Que
precisamos tanto ver
liberdade
para trabalho e amor... nem sei, Solano
Só
sei que às vezes penso
ser valente como tu, bravo como tu
Fazer
do meu poema capoeira, faca
Na
minh`alma fica esta potência da tua lira
longe do canto da mentira
longe do canto da mentira
Desconstruindo
a falsidade
Enfraquecendo
a ilusão ariana
do trabalho pago com surra de cipó-pau, de ontem.
Basta, Solano
do trabalho pago com surra de cipó-pau, de ontem.
Basta, Solano
estou
com vontade de chorar,
segue aqui como esta lembrança
segue aqui como esta lembrança
No
amigo que tu és
Sigo
solene, só, tentando o contente, siso
Na
melancolia que escorre do riso
Do
nosso país de ontem hoje amanhã
Nosso
chão
Tremula
a auriverde bandeira da revolução
E
nós, ainda escravos da ideologia
sobre
sexo, raça, classe
Fazemos
festas, também
No
vinho vemos no horizonte raiar a esperança
Que
nos dará força maior
Para
agirmos de maneira estratégica
acredito:
acredito:
o
amanhã começa agora
trago
com prazer, Solano
teu
nome na memória
o
resto é história.
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