Ou seria melhor usar um neologismo: O NEONBARROCO no teatro nacional?
Este é um texto puramente experimental
algo que é subjetivo
coisa de quem gostou muito do que viu e ouviu no Teatro, HOJE
Não é um texto acadêmico nem quer fechar questão sobre nada
coisa de fã que acabou de chegar de algo que curtiu aos montes...
por moisesmonteirodemeloneto
Stella Maris maquiada por Fê Uchoa
Pelo kitsch, pelo
fractal, o cheiro de , desordem e (possível beleza do) caos, ritmo e repetição
(com variações sutis, mínimas) não-lineares, instabilidade e metamorfose,
distorção e perversão, diluição da fronteira entre bom e mau gosto,
transgressão, atitude punk, os efeitos
quase psicodélicos, por me fazer pensar em Gilles Deleuze, no
pós-estruturalismo de Lacan, por fazer enxergar uma nova moral sexual, numa
visão que faz destorcer/ distorcer, por per-verter, por trabalhar com a
contraconquista, por mexer com meu lado CAMP, , pela agudeza e engenhosidade,
pela atitude parodística, ânsia de liberdade, capricho pessoal, sátira
menipeia, intertextualidade, superposição, colagem, duplo discurso, dupla
textualidade, deformação levada ao extremo, regresso ao ponto de partida para enriquecê-lo,
pelo jogo, a falsidade, o anacronismo, o drible da vulgaridade, emprego de um
vocábulo no lugar de outro... Ah! Por isso e tanto mais, eu pensei: estou
diante de algo a que poderia, se quisesse chamar de PURO LIXO neobarroco pós-moderno. Ou seria, para citar um termo de Jomard Muniz de Britto, nosso transtropicalista pós-tudo: NEONBARROCO? (risos e sisos à parte). Mas vamos ao que acho neobarroco em PURO LIXO.
Detalhes tão pequenos são coisas muito grandes para se esquecer
Comecemos pelo par antitético do título: LIXO? PURO? A expressão popular ganha status de indefinição e deixa o terreno movediço já a partir daí.
Detalhes tão pequenos são coisas muito grandes para se esquecer
este boneco pendurado aí me deixou inquieto...
By the way: o ator Eduardo Filho está ótimo
Comecemos pelo par antitético do título: LIXO? PURO? A expressão popular ganha status de indefinição e deixa o terreno movediço já a partir daí.
13 DE AGOSTO, ÀS 18 HORAS, Teatro Hermilo Borba
Filho lotado. Dia de estreia. As luzes acendem e lá estão seis artistas em
cena, seis “anjos do teatro”, como se autodenominam. Um deles é o anjo azul, um
violeta, um verde, um amarelo, um laranja e um vermelho. Anjos de todos os
sexos, de todos os gêneros. Anjos camaleônicos, trocando cores e dores a cada
número de um surpreendente cabaret vivencialesco. Trato de PURO LIXO, O ESPETÁCULO MAIS VIBRANTE DA CIDADE, uma encenação
de Antonio Cadengue com dramaturgia de Luís Augusto Reis, uma reflexão sobre o
legado do Grupo Vivencial, que modificou a cena teatral recifense a partir dos
anos de 1970. O tempo todo eu pensava que estética era aquela. A deles mesmos;
é o que parece óbvio. Mistura de amor, horror, riso involuntário, reflexão
lírico-dramática na ruptura de gêneros e estilos. Estamos tão envolvidos com o
Recife que às vezes nos esquecemos de uma das nossas mais fortes raízes: o
Barroco. Mas seria muito careta dizer que Puro lixo é barroquizante em certos
aspectos. È não, não é?
Tudo na linguagem de PURO LIXO, da cabeça aos pés, do presente atual ao presente anterior, está em permanente deslocamento, num mundo que se quer glocal todo artista é, sim, migrante, mas a própria mobilidade é problematizada, é multi, é inter, é trans, na partilha de vestígios memoriais, no questionamento sem ter respostas definitivas, no teatro de gozo e combate, na relação entre história (estória?) e teatro, contra desmantelos gerenciais, na implosão de binarismos (tipo 'diferenças" e "semelhanças"), transversalizando, fugindo de certos campos de concentração. Não é teatro como experiência de comunidade, identidade, mas a experiência com alteridades radicais, releitura e recontextualização. O
Barroco praticamente nasceu em 1888, isto é, o temo foi utilizado par definir
este estilo neste ano, por Wolfflin, Haroldo de Campos falou em NEOBARROCO em
1959, e Severo Sarduy tornou este NEO, universal.
A
aclimatação o neobarroca foi o que senti ao assistir hoje à montagem da peça PURO LIXO, texto de Luís
Reis, direção de Antônio Cadengue. Um marco na
expressão artística contemporânea. Uma revisão do projeto VIVENCIAL numa
desconstrução cerebral, labiríntica, estonteante, cheia de conotação política de resistência a certos determinismos dos que até agora tentaram
explicar o cabaré recifense que “fechava” nos anos 70 e início dos 1980, no
Complexo de Salgadinho, mas que vinha de uma proposta político-erótico-pedagógica anterior, mistura de línguas, tribos,
etnias, quase mito fundador identidade queer
trans-histórica incorporando várias, digamos assim, o culturas em expressão proteiforme de uma sociedade ridícula (a
recifense conservadora) que ainda insistia, como até hoje, em segurar
esfarrapadas rédeas.
O Vivencial pôs-se a reescrever o mundo em diante dos cataclismas brasiliricos nacionais, fundando uma espécie de mitologia que não media esforços para se apropriar das várias formas artísticas à disposição de quem não tinha grana. A primeira vez que entrei neste teatro, eu ainda era adolescente, ali conheci Ivonete Melo, Pernalonga, Guilherme Coelho, artistas que me pareceram se jogar na contramão do modernismo, desconstruindo-o metaforicamente e explicitamente. Assistindo hoje a Puro Lixo cruzaram-se em minha memória o passado e o presente, para mim tudo presente (o atual e o anterior, mítico, já). A escrita de Luís Reis me trouxe tudo de volta de forma alucinada, autobiográfica. A desconstrução do homoerotismo, o corpo como unidade mínima da o jogo imagético e sensorial proporcionado pelo pulso forte de Cadengue, testemunha participante do Vivencial (lembro dele em All Star Tapuias, fazendo a cena como Mauro, ao lado de Ivonete Melo). Ah! Esse cancelamento de limites, o dentro e o fora do corpo, o êxtase sensual, pulsação física, a desgeografia, a fala hermafrodita.
Eu vi TATUAGEM e vi a versão de Celibi, sobre o Vivencial, agora assisti ao triunfo erudito beijando o popular, no limite entre o trágico e o cômico, libertinagem com o sublime acorrentado, em simultaneidade simbólica entre aforismos e clichês, em forma fragmentada , mexendo em feridas da vida na sociedade nacional, como a ditadura civil militar (1964-1984), antivanguardista e muito anarquismo contracultural, como nos anos 70 longe de qualquer papo positivista, numa revisão do tempo perdido.apagando fronteiras entre o Clássico e a transgressão ( a peça faz parte do projeto TRANSGRESSÃO EM 3 ATOS, idéia de Stella Maris e Alexandre Figueiroa, e outros do mesmo quilate, queridíssimos).
Eu mesmo já tive o prazer de em 1989 trabalhar com artistas egressos do VIVENCIAL, montei, escrevi e dirigi ao lado deles a primeira releitura do fenômeno: REVIVENCIAL (tenho tudo registrado em vídeo, ok, Alexandre Figueiroa?), que cumpriu temporada na Boate MISTY. Luciana Lucien, Lee Majors, Marquesa e outros tantos da mesma verve.
O Vivencial pôs-se a reescrever o mundo em diante dos cataclismas brasiliricos nacionais, fundando uma espécie de mitologia que não media esforços para se apropriar das várias formas artísticas à disposição de quem não tinha grana. A primeira vez que entrei neste teatro, eu ainda era adolescente, ali conheci Ivonete Melo, Pernalonga, Guilherme Coelho, artistas que me pareceram se jogar na contramão do modernismo, desconstruindo-o metaforicamente e explicitamente. Assistindo hoje a Puro Lixo cruzaram-se em minha memória o passado e o presente, para mim tudo presente (o atual e o anterior, mítico, já). A escrita de Luís Reis me trouxe tudo de volta de forma alucinada, autobiográfica. A desconstrução do homoerotismo, o corpo como unidade mínima da o jogo imagético e sensorial proporcionado pelo pulso forte de Cadengue, testemunha participante do Vivencial (lembro dele em All Star Tapuias, fazendo a cena como Mauro, ao lado de Ivonete Melo). Ah! Esse cancelamento de limites, o dentro e o fora do corpo, o êxtase sensual, pulsação física, a desgeografia, a fala hermafrodita.
Eu vi TATUAGEM e vi a versão de Celibi, sobre o Vivencial, agora assisti ao triunfo erudito beijando o popular, no limite entre o trágico e o cômico, libertinagem com o sublime acorrentado, em simultaneidade simbólica entre aforismos e clichês, em forma fragmentada , mexendo em feridas da vida na sociedade nacional, como a ditadura civil militar (1964-1984), antivanguardista e muito anarquismo contracultural, como nos anos 70 longe de qualquer papo positivista, numa revisão do tempo perdido.apagando fronteiras entre o Clássico e a transgressão ( a peça faz parte do projeto TRANSGRESSÃO EM 3 ATOS, idéia de Stella Maris e Alexandre Figueiroa, e outros do mesmo quilate, queridíssimos).
Eu mesmo já tive o prazer de em 1989 trabalhar com artistas egressos do VIVENCIAL, montei, escrevi e dirigi ao lado deles a primeira releitura do fenômeno: REVIVENCIAL (tenho tudo registrado em vídeo, ok, Alexandre Figueiroa?), que cumpriu temporada na Boate MISTY. Luciana Lucien, Lee Majors, Marquesa e outros tantos da mesma verve.
Não quero ser spoiler e estragar o final; mas aguardem é um GOLPE DE TEATRO notável!
Em cartaz no Teatro Hermilo Borba Filho, a partir
de hoje, 13 de agosto até do dia 4 de
setembro, sempre às 18 horas (aos sábados e domingos), com um elenco a ponto de
bala Stella Maris Saldanha, Eduardo Filho, Gil Paz, Samuel Lira, Marinho Falcão,
Paulo Castelo Branco.
Nem
barroco nem neobarroco; nem o ser angustiado com êxtase das suas dores, alegrias, paixões particulares,
nem o pessimismo neste rito de retorno para
revisão do passado. Já leu Judith Butler? Não é “o” travesti, é “a” travesti.
Não brinque com estereótipos preconceituosos, são várias as “coincidências
neobarrocas, inúmeras também as divergentes vamos combinar então: PURO LIXO é
um espetáculo repleto de características
poderiam ser aplicadas à arte do nosso tempo: transbarroco. É uma interpretação transhistórica. Expõe
situações do passado fazendo-as perder a precisão de seu significado, renomeia ruínas,
ou será que r expõe o que não existiu, daquele modo exposto, de fato, nem
enquanto representação artística?
Sergio, moisesmonteirodemeloneto, Mísia Coutinho e Fê Uchoa, com o autor de Puro Lixo:
Luís Carlos Reis, nos bastidores de uma das estreias mais quentes do Recife
O
espetáculo PURO LIXO, em todo caso, é um luxo. Uma espécie de futuro de um passado icônico, uma
resposta a algo anterior, em quase coexistência, coexistência de múltiplos
estilos entrelaçamento entre eles. Um mecanismo preciso para falar da
nossa problemática imprecisão, a concepção histórica canibalizada em apropriação
moderna do seja marginal, seja herói, concretizado por Hélio Oiticica (que um
dia encontrei, quando era adolescente, em Boa Viagem).é uma peça que se afasta
da substancialização vazia de modelos anteriores datados. Busca a dialética
como eixo; é apropriações crítica. É uso do fractal, é mergulho na estética do
flutuante. Arquitetura desconstrutiva. A partir do detalhe e do fragmento se
reconstrói a cada cena, a cada “número”, a cada improviso. É ser não sendo, ou
talvez... não seja nada disso. Pensar que tudo começou inspirado pelo texto de
João Silvério Trevisan, contos, reportagem. Texto-roteiro. Luís Reis, criador
construtivista, toda uma equipe motivada por “violenta paixão”. Obra aberta,
carnavalesca, cheia de jomardianos desejos desejáveis.
A montagem
tem uma equipe técnica invejável: Cenografia de Otto Neuenschwander, Figurinos
Manuel Carlos. Trilha sonora Eli-Eri
Moura. Iluminação Luciana Raposo. Preparação Vocal (ela!) Leila Freitas Direção de Movimentos, Coreografias e
Preparação Corporal de Paulo Henrique (ele!). Programação Visual (puro luxo!)
Claudio Lira. Fotos para o programa da divina Yeda B Mello. Dramaturgismo e
Assistência de Direção de Igor De Almeida Silva. Produção Executiva das
tarimbadas Clara Angélica e Jô Conceição.
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