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domingo, 21 de agosto de 2016

DENISE FRAGA PEDE BOCA A BOCA NO TEATRO

por moisesmonteirodemeloneto



Denise Fraga tem expressões que enchem o espectador de dó e de uma vontade de soltar aquele riso solidário a uma perspectiva cheia de um piedoso engajamento com o lado frágil e sonhador, combativo nesse sentido, talvez. Já havia assistido à montagem de outra peça de Brecht com ela: A alma boa de Setsuan; agora esta Galileu Galilei, que está a cerca de um ano em cartaz, rodando pelo país e que já foi vista por mais de 100 mil pessoas. 

DENISE/GALILEU: Entendem o que eu digo?



Ela, óbvio, encarna o personagem-título, sujeito que viveu no século  XVI e que já em 1616 (ano da morte de Cervantes e Shakespeare) passou por perseguições sociais e que na década de 30, enquanto os holandeses estavam no Recife, continuou perseguido por causa daquela antiga concepção de que o sol girava ao redor da Terra, coisa que ele não admitia. O Teatro Oficina já fez esse texto; a primeira montagem que eu assisti desta obra, eu ainda adolescente, foi a que teve Germano Haiut como protagonista, no Teatro Valdemar de Oliveira (Recife), dirigida por Milton Bacarelli com produção de José Mário Austregésilo, quando havia teatro profissional na cidade, coisa rara hoje.
Para não ir à fogueira em praça pública, Galileu abjura e suas descobertas comprovadas ele deixa de lado em nome da sua segurança pessoal. Enfim: um cara que fez muitas concessões.
O público teve que engolir um atraso porque o elenco estava assistindo o final da partida Brasil e Alemanha, nos Jogos Olímpicos 2016.
A direção de Cibele Forjaz é previsível, assim como a iluminação, a cenografia e o figurino não apresentam nenhum elemento que se possa destacar, a não ser um grotesco e inadequado cachorro que chega a dar dó na maneira como foi concebido.

Com o distanciamento brechtiano tão badalado, o público local colaborou deixando seus celulares ligados (o que incomodou bastante) e retirando-se no meio da peça (uns poucos). 



Fiquei comovido com um garoto dos seus dez anos que estava sentado na fileira à nossa frente e curtiu as duas horas de peça com uma atenção louvável. No final eu perguntei a mãe dele sobre aquilo e ela respondeu que ele era muito interessado em astrologia. Denise pediu ao público que chamasse mais gente para a sessão de domingo e disse que a melhor propaganda para o teatro é o boca a boca. 
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