por Moisés Monteiro de Melo Neto
publicado anteriormente na
Revista LeMangue
Moisés Monteiro de Melo Neto e Gilvan Lemos, Praça Maciel Pinheiro (Recife)Lá atrás pode-se ver parte da casa onde morou Clarice LispectorEste artigo foi publicado antes da morte do autor que nasceu em São Bento do Una-PE)
Que Pernambuco nunca foi condescendente
com seus escritores, sabemos muito bem. LeMangue escolheu Gilvan Lemos,
dentre os três maiores romancistas da terra dos altos coqueiros, Luzilá e
Carrero são os outros dois, para traçar o perfil do que está acontecendo nesta
área tão inóspita e espinhosa: as letras. Foi em um domingo nublado e frio do
mês de maio. Através da janela do apartamento dele vinha o som dos sinos da
Igreja da rua da Imperatriz onde fiéis iniciavam uma procissão Mariana.Com
vocês, Gilvan Lemos.
Nascido no dia 1° de julho de 1928 em São Bento do Una
agreste meridional de Pernambuco a 239 Km do Recife, lugar que, segundo ele
ficou “protegido” de manifestações folclóricas, pelo menos durante as décadas
de30 a 50. Outra curiosidade é que o rio Uma, de acordo com Gilvan, ficava às
vezes seco durante meses e meses.
Gilvan cursou apenas o primário (ensino
fundamental 1). Durante a sua adolescência foi vítima de uma conjuntivite
primaveril. Sua mãe o ajudava, pois, quando acordava seus olhos estavam cheios
de secreções das quais só se livrou depois dos vinte anos. Isto seria o começo
de uma vida reclusa, ma non troppo:
Gilvan chegou a fazer parte do time do futebol de São Bento e guarda saudades
de alguns bons amigos de lá. Porém ele afirma ter sido este um dos motivos que
o afastou de relacionamentos amorosos mais duradouros. Ele se perguntava “quem
gostaria de namorar com um rapaz assim?”.
PRÊMIOS
Em 1949 quando desembarcou
definitivamente no Recife morou em diversas pensões e sua vida começou a se
aliviar quando entrou para o funcionalismo público. Em 1956 ganhou o segundo
lugar, com o romance “Noturno sem música” em um concurso promovido pelo Governo
do estado de Pernambuco.
“Noturno sem música”(1956) foi escrito entre 27 de março de
1951 e 6 de maio do mesmo ano. Versa sobre um triângulo amoroso: o amor de um
adolescente, Jonas e uma mulher casada, Marta. A mãe do protagonista, Inês,
suicidara-se em um acesso de loucura e o rapaz foi criado por um tio solteirão.
Jonas, nome emblemático, é atormentado por um monstro diferente do seu xará da
Bíblia: pelo seu passado.
É indiscutível a motivação que o
escritor pernambucano Osman Lins
ofereceu a Gilvan Lemos, a quem se referiu, ainda antes da publicação de
“Noturno sem música”, como sendo “dentre os romancistas que conheço, o mais
prodigamente dotado” e disse sobre o original de noturno que aquele era “um dos
melhores romances já produzidos pela ainda incipiente novelística pernambucana.
Situado na linha de Graciliano Ramos no que diz respeito a ambientes e
experiências semelhantes e não como um satélite ou um aluno bisonho”. Osman
incentivou Gilvan a participar de concursos literários e oferecer seus livros a
editoras nacionais, justificando que não fazia o menor sentido publicar no
Recife.
Em 1968, seu romance “Emissários do
diabo”(1968) ganhou o Othon
Bezerra de Melo, prêmio da Associação Pernambucana de Letras. O livro trata da
ambição pelo latifúndio, a disputa entre famílias e o crime tendo como paisagem
o Nordeste.
1974 é o ano do seu primeiro livro de
contos: “O defunto aventureiro”, que obtivera menção honrosa no prêmio José
Lins do Rego em 1965. Inclui os contos: “Um encontro”; “Viagem”; “A vingança” e
“A desforra”, dentre outros.
Em 1981 recebeu o Prêmio Érico Veríssimo
com o romance “O anjo do quarto dia”(1976) que tem como eixo central a ambição
desmedida de Oricão, uma espécie de coronel do interior completamente sem
escrúpulos na sua sede de poder. O tal anjo seria o espírito do filho de uma
mulher pobre, Ana, vítima do preconceito social.
Gilvan tem 19 livros publicados.
ARIANO E O FOLCLORE
Sobre a influência do folclore ou
artistas populares na sua formação e possível influência em sua obra, ele nos
conta que quando os famosos cantadores chegavam à cidade eram recebidos
alternadamente com indiferença e zombaria. Nosso entrevistado também aponta a
ausência da influência afro na sua cidade natal: “eram uns poucos afro-descendentes
residentes na cidade, uns três: “Luiz engraxate, Ciço Preto e Joaquim Preto, o
varredor de ruas, os outros só na feira semanal do sábado, quando saíam de suas
comunidades e vinham vender suas coisas.
Gilvan é antes de tudo um iconoclasta:
“Esta história de Ariano Suassuna desprezar a dança de Michael Jackson dizendo
que prefere a dança de Nijinski, uma é popular e a outra é clássica. Esta
comparação é imbecil e contraditória.
Ele louva o Mestre Salustiano, não seria o caso de contrapormos a
Salu um violinista clássico?Agora ficam estes caras insistindo, explorando
estas danças, estas coisas. E o fato dele valorizar somente os que o bajulam?
como por exemplo, este autor de “Lavoura arcaica”, isto vem um pouco deste cara
ter ido lá bajulá-lo.”
Aos desavisados: calma. Em sua literatura,
Gilvan vem combatendo o colonialismo americano e a exploração das classes menos
favorecidas, pelos que detêm o capital. Em seu romance “O anjo do quarto dia”
chega a desmascarar a farsa da religião através de Oricão, que como já
dissemos, era uma espécie de coronel de cidade do interior, corrupto e
corruptor. Em “A lenda dos Cem”(1995)
(ler resenhas no final da matéria) Gilvan esboçou um panorama da situação dos
índios em Pernambuco: crime e alienação cultural mesclam-se a uma
reconstituição de época desde 1922 e ao testemunho histórico sobre o golpe de
64. “Em São Bento não tínhamos índios, mas havia uns tipos que sabíamos
ser descendentes diretos deles e havia histórias de fazendeiros que tomaram
terra das tribos, embriagando e roubando”. Sobre este romance assim falou Ênio
Silveira: “A narrativa se vê enriquecida, sempre, por uma galeria de
personagens marcante cujos feitos, bons ou maus, nobres ou torpes, oscilam
entre a realidade e a fantasia com a força imortal dos mitos que, ao longo dos
milênios, da antiga Hélade ao sertão pernambucano têm dado cor e temperatura à
condição Humana. A linguagem de Gilvan independentemente dos ritmos de que
lança mão para acompanhar os diversos andamentos da narrativa, paira sempre
entre a austera sobriedade que convém ao
épico, e a riqueza barroca de detalhes, que convém ao delírio tropical. A lenda
dos cem é um romance que nos arrebata pela sucessão de eventos dramáticos, pela
riqueza do elenco, pela seqüência admirável de cortes narrativos, pelos choques
entre o bem e o mal que nem sempre punem os culpados e compensam os deserdados
da sorte e da justiça. Poderia ser um mega-sucesso se transformado em filme”
RECIFE NÃO MUDOU EM RELAÇÃO AOS SEUS
AUTORES
Hoje Gilvan, que mora em um confortável
apartamento no centro do Recife, acha que a política só merece ser criticada e
por isso ele não tem preferências políticas, anda desiludido com a esquerda, se
bem que sempre a olhou com ressalvas.
Com um sorriso brincalhão Gilvan nos
conta que não tem produzido nos últimos meses e quando o interrogamos sobre o
motivo ele solta um “está tudo muito chato, chatérrimo”, com um certo
fastio misturado com provocação (bem ao seu estilo). Ele se acha um cara
marcado. Cita casos de romances seus que tiraram primeiro lugar em concursos
nacionais e logo na hora da publicação veio a falência da editora encarregada.
Ou ainda a tradução de seu romance para o francês, após ser citado no Le
Monde como uma grande obra, e tudo terminar não acontecendo, e ele saber
muito tempo depois, por causa da abertura (“O anjo do quarto dia”): acharam que
o romance estava “datado” e não interessaria mais ao leitor francês.
São muitas histórias, desde a
adolescência como escoteiro, o time de futebol de São Bento, e a conjuntivite
primaveril que o acompanharia até os vinte anos, a vinda para o Recife.
São 11 romances e alguns livros de
contos.
Com muita paciência e apostando suas
fichas em publicações que estão em andamento, o próximo livro sairá pela
editora Girafa. Agora aquele
menino, o Marcelino Freire veio aqui em casa, faz um ano mais ou menos, me
pediu uma obra para publicar. Eu entreguei e ele não deu mais resposta.
Nosso autor abre o jogo: “Recife
continua igual àquela cidade em que cheguei na década de 50, vindo de São
Bento: um cemitério, do jeito que Osman Lins me dizia que era e me aconselhava
tanto a abandonar. Ele foi para São Paulo depois de batalhar muito por uma
transferência do Banco onde trabalhava. Eu fiquei”.
Está no prelo mais um livro de Gilvan.
Trata-se de “A era dos besouros”. A obra contém três novelas: “Ritual de
danação”, “Alugam-se quartos” e “A era dos besouros”, a ser publicado pela
editora Ateliê Cultural, que é capitaneada por Marcelino Freire.
CONTRA A HIPOCRISIA
O texto de Gilvan é marcado pelo repúdio
à hipocrisia e ao jogo de interesses e mesquinharias. Obras como “Vingança de
Desvalidos”(2001) ou “Os pardais
estão voltando”(1983), trazem no
bojo a idéia de revolta e indignação. Ele se mostra completamente avesso às
badalações e ao que ele chama “literatice”: “Eu jamais sairia da minha casa
para ir escutar um sujeito da uma palestra sobre a obra de `fulano´. Acho
melhor tirar minhas próprias conclusões”. Mulatinho, um amigo meu reclama que
eu vivo escondido. È o meu jeito. Sou nordestino no sentido maldito. Parta o Sul
nós não existimos. Não dão valor, mesmo no meu caso que escrevi aqui e
publiquei lá.”
Quando chegou ao Recife, Gilvan morou em
pensões, como uma ao lado do antigo cinema Moderno, na Praça Joaquim Nabuco e
que ele retratou em “A lenda dos cem”, e assim continuou até os anos 60, quando
conseguiu emprego em um órgão público.
Seu primeiro romance vem da época em que
tinha 17 anos: uma “brincadeira” de 700 páginas que foi completamente destruída
por ele posteriormente.Vieram a seguir suas primeiras obras oficiais: “Noturno
sem música”, que depois de ser desprezada em seu estado natal terminou ganhando
um concurso nacional e foi publicada.
Foi somente com “Emissários do diabo”
que Gilvan virou best-seller e ganhou fama nacional, vendendo cerca de 25 mil
exemplares rapidamente e recebendo elogios de ninguém menos que Nelson Werneck
Sodré, um dos maiores críticos que o Brasil já gerou. Se valeu a pena? Gilvan
trata a si mesmo com modéstia: “Eu era muito provinciano, nem sabia o que
estava conquistando. A minha literatura venceu mais pelo seu conteúdo do que
pela forma- foi assim desde o começo.Não gosto desses romances de hoje. Parecem
seguir fórmulas que nunca me interessaram. Ouvi falar em ‘O código DaVinci’, os
que o defendem e toda esta celeuma. Eu não leio, não me interessa. Não li Paulo
Coelho e não gostei também.”
INFLUÊNCIAS
Sobre suas influências, cita filmes como
“Amacord” e “A estrada” (Fellinni) e autores como Jorge Amado (que ele diz
‘fácil de ler’) e Graciliano Ramos (especificamente “Infância”-perguntamos por
quê? E ele respondeu que talvez por serem as memórias de Ramos tão diferentes
das suas, que ele guarda com carinho, da sua infância). “Meus tios
escreviam peças, meu pai e outros parentes representavam lá em São Bento. Lá,
Em São Bento quase todo mundo é parente. Quem não é Valença é avalençado”
Gilvan ainda não teve uma obra adaptada
para o cinema, tv ou teatro, mas gostaria “pela publicidade, mas, vê com muitas
ressalvas experiências do tipo “Lisbela e o prisioneiro” feitas por Guel
Arraes, artista pelo qual nutre certo aborrecimento intelectual: “Esta obra
inicialmente não foi escrita para uma comédia,e, principalmente, não no estilo
Guel. Preferi nem assistir para não me contrariar. Eu era amigo pessoal de
Osman e vi este texto quando ele foi escrito. A Lisbela escolhida por
Paulo Autran e Tônia Carrero não tem nada a ver com a de Guel. Soube logo que
ele ia esculhambar tudo”.
Lemos guarda algumas lembranças de
Suassuna. “Eu freqüentava a casa dele. Ele sabia que eu era escritor, que havia
ganho prêmios e tudo mais. No entanto me apresentou a uma visita lá, assim:
‘este é um amigo da minha irmã’. Ele só gostam dos que o bajulam. Ele nunca me
citou. Cita um cara lá do Sul, só porque ele veio aqui para conhecê-lo. É disso
que ele gosta: bajulação. Eu não faço isso. Carrero vivia lá. Eu não”. É como
aquele Wilson Martins que resolveu me ignorar, obstinadamente.”
Conversar com Gilvan é respirar
Pernambuco, embora ele negue qualquer nativismo quando ressalta que não,
necessariamente a presença da cor pernambucana em sua extensa obra,e, sim,
apenas “lembranças, pois escrevo sobre o que conheço”.
Seu estilo é marcado por: espontaneidade
nos diálogos, segurança ao fixar tipos e ambientes, criar climas densos,
dramáticos, misteriosos, criticar a passividade do povo do interior (de
Pernambuco) diante da opressão. Não se preocupa muito com descrição de
paisagens, o que só é feito para integrá-las ao lado da construção psicológica
das personagens, zombar dos estrangeirismos e mesmo dos intelectuais do sul, ou,
criticar a esquerda ou a direita. Puro ceticismo de um escritor radical, como
poucos e que vem desafiando cânones de todos os tipos. E pagando um preço alto
por sua irreverência.
“Livros meus como ‘ Morcego
Cego’(Editora Record,1998)
ficaram penando no prelo até serem lançados finalmente. Cansei das editoras
nacionais. O pessoal da Bagaço e da Nossa Livraria me propôs editar meus livros
e eu aceitei. Pronto: aí estão: ‘ Vingança de Desvalidos” e outros. Como ele
encara os jovens de hoje? “Os jovens são sempre os mesmos. Lembro da minha
época em que os mais velhos também criticavam as nossas preferências. Agora eu
mesmo não me interesso muito por coisas como o Manguebeat, por exemplo. Nem por
essas coisas que aparecem na tv.”
Poderíamos falar do Regionalismo na obra
de Gilvan? Lembremo-nos da estréia de Guimarães Rosa na literatura nos anos 40
e posteriormente sua obra prima nos anos 50(Grande sertão: veredas). A pergunta
que não calava era: está de volta o regionalismo?Guimarães oferecia uma joyceana
contraproposta: mesclava o regional um experimento poético-lingüístico que
inovava na transposição do universo do interior de Minas Gerais, entre o
místico e o “causo” engraçado.
Gilvan secciona Pernambuco (opondo-o ao
“Sul”). Ele não é paisagista, como os regionalistas românticos (Alencar,
Taunay, Franklin Távora, Bernardo Guimarães) o foram. Sua paisagem é, um tanto
quanto, nos moldes de Machado de Assis ou Graciliano: serve para descrever
estados de espírito. Sua literatura às vezes parece querer zombar e fazer-se
vingança e prazer. Em algumas passagens esta vingança parece fabulosa,
sobrenatural, como em “O anjo do quarto dia” e na “Lenda dos cem”. O sarcasmo
permeia tudo numa espécie de resistência.
SOMBRAS DO DESTINO.
“Noturno sem música”( adolescente torturado
cuja mãe , louca, se suicida), publicado em 1956, chega ao seu cinqüentenário.
Bodas de sangue ou de ouro para este solitário escritor? Estréia tímida: 500
exemplares bancados pelo autor. Quase nenhuma repercussão. A seguir veio “Jutaí
Menino” (inicialmente “Jutaí Curumim” ), vencedor de um prêmio nacional e que
recebeu elogios de Rubem Braga e Álvaro Lins.
Lemos diverte-se mais escrevendo do que
com qualquer outra coisa no mundo.
Escreve para si mesmo. Vivacidade, surpresa, orgulho, permeiam seus personagens,
que, em sua maior parte, vivem uma vida “emprestada” e são obcecados pelos seus
demônios interiores. Seus conhecidos servem como modelo, às vezes, mas nunca o
autor oferece uma “biografia completa”. Alguns dos “retratados” até gostam.
Epos, ritmo narrativo versus ritmo dialogal, análise psicológica, fluxo de
consciência, linguagem localista, malha dialética, pathos”: o que você acha
destes jargões? Gilvan detesta estas classificações esquemáticas
Seu personagem favorito dentre aqueles
que criou? Orico, o velho safado de “O anjo do quarto dia”. Oricão, o canalha,
vigarista. “Mas, eu gostava dele. Ele era amigo dos filhos”.
Sobre o personagem Juliano de “morcego
cego”, um revoltado porque tudo parecia estar contra ele, o passado e o
presente. “ninguém é dono do seu destino. O ser superior é magnânimo, Cristo e
Deus? Eu não acredito nisso. Sou agnóstico.
A mente humana não pode interpretar as
coisas divinas. Não aceito o que dizem. Não me importei com João Paulo II. Acho
a expressão de Bento XVI tão boa, simpática que até brincando digo que ele
escolheu este nome em homenagem à minha cidade natal.”
Vemos em Gilvan uma compreensão da dor,
uma espécie de compaixão, e, algo difícil de se conseguir: profundidade
emocional.
Há na sua sala uma drummondiana
(embora Gilvan confesse não ser um grande leitor de poemas) fotografia da sua
São Bento do Una, hoje a única cidade do Brasil com epidemia de cólera: “Hoje
quando vou lá é chato, só existem os netos das pessoas que conheci. Aliás eu
perdi o gosto e a esperança foi pelo Brasil. Estou com preguiça do Brasil. É só
roubo, morte. Não que eu ache que a arte deva se preocupar tanto com a
política. Isso deve ser feito de uma maneira muito discreta”.
Inquietações sexuais, prosa maltratada e
expressiva, visão elementar das coisas, memória aflita, imaginação viril e
sensibilidade estranha. Tudo isso em um leque de personagens que parecem viver,
ou antes, servir como estandartes, da denúncia de viver uma farsa, a da vida
emprestada. Vivem contrariados.
Quando perguntamos se sua obra tem
pontos em comum com a do pernambucano Raimundo Carrero, Gilvan foi categórico:
“Não. Não sigo escolas. Não gosto do experimentalismo dele. Para falar a
verdade não consegui nem ler o seu último romance. Se você quer escrever sobre
filosofia, escreva. Mas não acho isto apropriado para romances”.
Quanto a Academia Pernambucana de Letras
ele também é enfático: “Não quis entrar. Não é meu sistema. Não tenho
temperamento para isto. Sou mais ou menos recluso. Às vezes eu penso: devo
sentar e espera a morte chegar? (risos)”.
Gilvan faleceu no Recife há alguns anos.
A cidade que ele escolheu como sua.