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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Sexualidade em Holocausto

 Trecho da palestra proferida pelo escritor Moisés Monteiro de Melo Neto, no dia 27 de Janeiro de 2016, na Sinagoga Kahal Zur Israel , Rua do Bom Jesus, Recife, por ocasião do Dia internacional em memória às vítimas do holocausto.


Moisés Monteiro de Melo Neto (ao microfone)durante a palestra


Na peça BENT, de MARTIN SHERMANN, um travesti, que diz ser heterossexual e fazer aquilo só por dinheiro (Berlim, anos 30),Greta, aparece sentada no trapézio. Ela canta numa voz sedutora e abafada (Segundo indica a marca):

 Ruas de Berlim,
Devo te deixar logo,
Ah! Você ira me esquecer?
 Eu estive realmente aqui?
 Me encontre um bar
 Em ruas pavimentadas
Onde os garotos são bonitos
 Onde não posso amar
Mais do que um dia
Mas um dia é o suficiente nessa cidade.
Me encontre um rapaz
 Com olhos da cor do oceano
 E mostre a ele nenhuma piedade.
 Arranque seus olhos,
Ele não precisa ver
Como eles te comem vivo nessa cidade.
 Ruas de Berlim
Você irá sentir minha falta?
Ruas de Berlim, Você se importa?
Ruas de Berlim,
Você irá chorar
Bent : Foto Mick Jagger, Sean Mathias

(interpretado por Mick Jagger, dos Rolling Stones, no filme homônimo, BENT):


https://www.youtube.com/watch?v=XgQkILFww2U

 O processo de ascensão do Nazismo ao poder e as atrocidades de Hitler iniciaram-se bem antes de 1940. Tudo começa com a eliminação maciça de deficientes físicos e mentais que eram enviados para os primeiros protótipos de câmara de gás.
Os homossexuais também entram nessa categoria no mesmo período.
Ernst Rohm, um grande  chefe, amigo pessoal de Hitler. Gostava de rapazes bonitos e ia aos clubes.
Hitler prendeu Rohm e olhem que ele era do alto escalão. Morreu. Como qualquer outro , apesar de ser amigo do fuher.
Os homossexuais entraram em pânico.
Ernst Rohm (1887-1934), 47 anos, atuara durante a 1ª Guerra Mundial com muita participação política e teve um forte papel na construção do Partido Nazista.
A “traição” a Hitler e ao partido era o fato dele ser homossexual.
Eles não hesitaram em descartar Rohm, dado que sua conduta começava a prejudicar a imagem do Partido Nazista.  
O triângulo rosa marcava os prisoneiros homossexuais.
Judeu, uma estrela amarela. Criminoso político, um triângulo vermelho. Criminosos comuns, verde.

Germano Haiut, na audiência, um grande 


Havia naquele país uma tentativa de “legalizar” os homossexuais. Era quase um movimento político. Por isso um dos personagens da peça Bent, apesar de homossexual conseguiu sua estrela amarela, mesmo não sendo judeu. Era homossexual. Ele não queria um triângulo rosa (a categoria mais baixa)
Para provar para os oficiais que não era homossexual, ele faz sexo com uma adolescente que  talvez estivesse morta, há alguns minutos… com uma bala na cabeça (vítima dos oficiais alemães).
MAX : “… eles disseram… prove que você não é homossexual”... e eu provei… muitos deles, assistindo… rindo… bebendo... Ele é um pouco bichinha, disseram, ele não dá conta... mas eu fiz...Não… sei como consegui. Eu queria… Ficar vivo.. Eu a beijei. Lábios mortos. Provei que eu não era... (Silêncio.) E eles gostaram. E eu disse: eu não sou viado. E eles riram. E eu disse… me dê uma estrela amarela. E eles me disseram claro... façam dele um judeu. Ele não é viado. E eles riram. Eles estavam se divertindo. Mas eu… consegui… minha estrela…”
Apesar de ser uma obra literária a peça Bent (em inglês é algo como dobrado, vencido)  exibe muitas das atrocidades dos alemães nos campos de concentração: Às vezes, um guarda atirava o chapéu de um prisioneiro na cerca. Ele ordena que ele vá pegar o chapéu. Se ele não fosse  pegar, o guarda atiraria nele. Se ele pega o chapéu, ele é eletrocutado (cerca de alta voltagem).

MAX, o protagonista diz, quase no final do  segundo ato: “Bichas não foram feitas para amar. Eles não querem que a gente se ame. Você sabe quem me amava? Aquele garoto. O bailarino. Eu não me lembro mais do nome dele. Mas eu o matei. Está vendo? Viado não pode amar ninguém. Eu vou matar você. Me odeie. Assim é melhor. Me odeie, mas não me ame. [Max termina de organizar as pedras. Ele volta a carregar outras pedras. Silêncio. Horst, que tem profundo envolviemento sentimental com Max, começa a tossir novamente., Max fez sexo oral com o guarda para conseguir remédios para Horst, o guarda pensava que seria para o próprio Max]”

Capitão:  ( a Horst, que ama Max) Você.
Horst: Sim, senhor.
Capitão: Pegue seu chapéu. [O capitão guia o guarda. O guarda aponta o rifle para Horst.]
Horst: Agora, senhor?
 Capitão: Agora.
Horst: Você tem certeza, senhor?
Capitão: Claro.
[Horst fica silencioso por um momento. Sente que Max o observa e dá uma olhadela para Max; seus olhos dizendo “não se mexa”. Volta-se para o capitão.]
HORST: Sim, senhor. [O capitão espera. O guarda está apontando seu rifle para ele. Horst se volta para a cerca. Ele começa a andar bem devagar para pegar seu chapéu. Ele quase alcança a cerca, quando, de repente – ele se volta correndo em direção ao capitão, gritando em fúria. O guarda atira em Horst. Horst se arremessa no capitão e arranha o seu rosto. O guarda atira em Horst novamente. Ele cai morto. Silêncio. O capitão passa a mão no seu próprio rosto.)
 Capitão: Ele me arranhou! (a Max) Você. Judeu. (Max fica calado.) Você!
Max: Sim, senhor. Capitão: Eu espero que o remédio tenha ajudado. [vira-se para ir embora, mas volta] Livre-se desse corpo. [Silêncio.]
Max: Sim, senhor. [O capitão sai. O guarda aponta o rifle para Max e o abaixa, então sai logo atrás do capitão. Max olha para Horst. Silêncio. Max abre sua boca para chorar. Não consegue. Silêncio. Max anda em direção ao corpo de Horst. Ele cuidadosamente tenta erguê-lo, a cabeça de Horst repousando no seu peito. Ele olha adiante. Ele carrega Horst em direção ao fosso, com os pés dele se arrastando pelo chão. O sino toca.) Max: Não! [Ele olha para cima onde está o guarda e de volta para Horst. Ele fica em posição de atenção. Horst começa a cair. Max tenta segurá-lo. Ele permanence parado, olhando para Horst, aguarrando-se a Horst.) Tudo bem. Eu não vou deixar você cair. Vou te segurar. Se eu ficar em estado de atenção, posso te segurar. Eles irão me deixar te segurar. Não vou deixar você cair. [Silêncio.] Eu nunca te abracei antes. [Silêncio.] Você não tem mais que se 72 preocupar com as pedras. Eu farei a sua parte também. Eu carregarei duas vezes mais cada dia. Eu farei a sua parte também. Não se preocupe mais com as pedras. [Silêncio.] Quer saber? [Silêncio.] Horst? [Silêncio.] Quer saber? [Silêncio.] Eu acho… [Silêncio.] Eu acho que eu te amo. [Silêncio.] Shh! Não conte pra ninguém. Eu acho que eu amei… Não consigo mais lembrar o nome dele… Um bailarino. Acho que eu o amei também. Não fique com ciúmes. Acho que amei… um rapaz há muito tempo atrás. Na fábrica do meu pai. Hans. Era esse o nome dele. Mas o bailarino. Eu não me lembro do nome dele.. [Silêncio.] Eu te amo. [Silêncio.] Que mal há nisso? (Silêncio) O que há de errado com isso? [Max começa a chorar. O sino toca. Ele arrasta o corpo de Horst até o fosso. Ele o atira no fosso. Ele se volta e olha para as pedras. Ele respira fundo. Ele anda sobre as pedras e pega uma. Ele se move para o outro lado. Ele respire fundo novamente. E fica parado.]
 Max: Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. [respire fundo.) Seis, sete, oito, nove, dez. [Ele pega uma pedra e se move para o outro lado Ele carrega uma outra pedra. Uma outra pedra. Ele pára. Respira fundo novamente. Move uma outra pedra. Move uma outra pedra. Ele pára. Ele tenta respirar fundo novamente, mas não consegue. Sua mão está tremendo. Ele segura sua mão. Ele pega uma outra pedra e começa a movê-la. Ele pára. Ele deixa a pedra cair. Ele se move em direção ao fosso. Ele pula dentro do fosso e desaparece. Uma longa pausa. Max sai do fosso, segurando a jaqueta com o triângulo rosa de Horst. Ele veste a jaqueta. Max se volta e olha para a cerca. Max anda em direção à cerca. A cerca se ilumina e vai se tornando mais brilhante até que a luz consome o palco e cega a platéia.) (FIM DO ATO II, isto é : fim da peça).

Berlim era considerada uma cidade liberal, com bares e cabarés frequentados pela comunidade homossexual Magnus Hirschfield, medico conceituado, tinha começado aí, um movimento pelos direitos dos homossexuais durante o virar do século. Contudo, estes movimentos foram duramente reprimidos pela ideologia nazi que sustentava que a homossexualidade era imperdoável porque não permitia a reprodução, necessária para perpetuar a raça superior. A masturbação também era considerada perniciosa pelo Reich.
 (Ernst Rohm, como dissemos, era da SA, a primeira milícia do Partido Nazi, um dos homens de confiança de Hitler e o ajudou a ascender ao poder, era homossexual e foi assassinado em 34. O mesmo se passava com outros líderes, como Edmund Heines); 
No holocausto, a perseguição continuou, tendo muitos sido enviados para campos de concentração (cerca de e 15 mil molrreriam lá)
O sofrimento dos homossexuais não terminou depois do fim da guerra, uma vez que as leis anti-homossexuais dos Nazis não foram suprimidas, tal como aconteceu com as leis antissemíticas, por exemplo. Alguns homossexuais foram obrigados a terminar a pena a que estavam condenados pelo Governo Militar Aliado do pós-guerra na Alemanha. Outros, ao regressar à casa e aos seus países de origem tiveram que manter o silêncio sobre o seu sofrimento, por medo de discriminação, pois as chamadas leis sobre a sodomia só acabariam por cair na Europa Ocidental nos 60 e 70.
Lembremos que a homossexualidade masculina na Alemanha, particularmente em Berlim, em 33, as organizações homossexuais foram banidas, livros acadêmicos sobre homossexualidade e, mais genericamente, sobre sexualidade, foram queimados, e também alguns homossexuais do Partido Nazi foram assassinados. Em 28 existiam cerca de 1 milhão e meio de homossexuais na Alemanha. De 33 a 45 cerca de 100 mil homens foram registados pela polícia como homossexuais (as "Listas Rosa"), e 50 mil foram oficialmente condenados. Os homossexuais presos nesses "campos da morte" para além de serem tratados de forma extraordinariamente cruel pelos guardas, eram também perseguidos pelos outros prisioneiros.
Depois da guerra, o sofrimento dos homossexuais nos campos de concentração nazi não foi reconhecido em muitos países, tendo algumas potências aliadas recusado a libertação ou repatriação destes homens. Alguns dos que ficaram presos, escaparam e foram de novo presos, acusações  baseadas em factos ocorridos durante no período nazi. Apenas nos anos 1980 começaram a surgir governos a reconhecer os homossexuais como vítimas do Holocausto, e apenas em 2002, o governo alemão pediu formalmente desculpa à comunidade homossexual.
Em 2005 , o parlamento europeu  adotou uma resolução relacionada com o Holocausto em que a perseguição dos alemães (a partir do início dos anos 30) aos homossexuais não foi referida.
No maldito Minha luta, Hitler atribui sífilis e prostituição aos judeus.
 Homossexuais " eram tidos como algo que ameaçava a capacidade do estado e o "carácter masculino" da nação. Promoveram então experiências médicas que tentavam encontrar alguma deficiência hereditária que muitos membros do partido julgavam ser a causa da homossexualidade. Enquanto muitos líderes alemães defendiam que os homossexuais deviam ser exterminados, outros pretendiam legislação que banisse sexo entre homens ou entre mulheres.
Freud também foi acusado pelos nazis devido às suas ideias controversas sobre sexualidade.
Dentre as torturas favoritas (homofóbicos alemães e homossexuais) estava arrancar-lhes  as unhas. Outros foram violados com réguas de madeira partidas e tiveram os intestinos perfurados, causando graves hemorragias, despir completamente a vítima e enfiar um balde na cabeça dele  e atiçaram os seus cães para o morderem até a morte, também.
Esses tratamentos cruéis explicam a alta taxa de mortalidade dos homossexuais nos campos de concentração, quando comparamos com a de outros "grupos anti-sociais".
As indenizações e pensões sociais atribuídas a outros grupos de prisioneiros foram negadas aos homossexuais, que continuavam a ser considerados criminosos — as leis anti-homossexuais nazis apenas foram banidas completamente em 94.
Os sobreviventes gays do Holocausto podiam ser reencarcerados por "ofensas repetidas", e foram mantidos nas listas de "criminosos sexuais". Sob o Governo Militar Aliado da Alemanha, a seguir ao final da Guerra, alguns homossexuais foram forçados a cumprir as suas penas de prisão até o fim, independentemente do tempo passado em campos de concentração.



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