Trecho
da palestra proferida pelo escritor Moisés Monteiro de Melo Neto, no dia 27 de
Janeiro de 2016, na Sinagoga Kahal Zur Israel , Rua do Bom Jesus, Recife, por
ocasião do Dia internacional em memória às vítimas do holocausto.
Moisés Monteiro de Melo Neto (ao microfone)durante a palestra
Na peça BENT, de MARTIN SHERMANN, um travesti, que diz ser
heterossexual e fazer aquilo só por dinheiro (Berlim, anos 30),Greta, aparece sentada no trapézio. Ela canta numa voz sedutora
e abafada (Segundo indica a marca):
Ruas de Berlim,
Devo
te deixar logo,
Ah!
Você ira me esquecer?
Eu estive realmente aqui?
Me encontre um bar
Em ruas pavimentadas
Onde
os garotos são bonitos
Onde não posso amar
Mais
do que um dia
Mas
um dia é o suficiente nessa cidade.
Me
encontre um rapaz
Com olhos da cor do oceano
E mostre a ele nenhuma piedade.
Arranque seus olhos,
Ele
não precisa ver
Como
eles te comem vivo nessa cidade.
Ruas de Berlim
Você
irá sentir minha falta?
Ruas
de Berlim, Você se importa?
Ruas
de Berlim,
Você
irá chorar
(interpretado por Mick Jagger, dos Rolling Stones, no filme homônimo, BENT):
https://www.youtube.com/watch?v=XgQkILFww2U
O processo de ascensão do
Nazismo ao poder e as atrocidades de Hitler iniciaram-se bem antes de 1940. Tudo
começa com a eliminação maciça de deficientes físicos e mentais que eram
enviados para os primeiros protótipos de câmara de gás.
Os homossexuais também entram nessa categoria no mesmo período.
Ernst Rohm, um grande chefe, amigo pessoal de Hitler. Gostava de
rapazes bonitos e ia aos clubes.
Hitler
prendeu Rohm e olhem que ele
era do alto escalão. Morreu. Como qualquer outro , apesar de ser amigo do
fuher.
Os homossexuais entraram em pânico.
Ernst Rohm (1887-1934), 47 anos, atuara durante a 1ª Guerra
Mundial com muita participação política e teve um forte papel na construção do
Partido Nazista.
A “traição” a Hitler e ao partido era o fato dele ser
homossexual.
Eles não hesitaram em descartar Rohm, dado que sua conduta
começava a prejudicar a imagem do Partido Nazista.
O triângulo rosa marcava os prisoneiros homossexuais.
Judeu, uma estrela amarela. Criminoso político, um triângulo
vermelho. Criminosos comuns, verde.
Germano Haiut, na audiência, um grande
Havia naquele país uma tentativa de “legalizar” os homossexuais.
Era quase um movimento político. Por isso um dos personagens da peça Bent,
apesar de homossexual conseguiu sua
estrela amarela, mesmo não sendo judeu. Era homossexual. Ele não queria um
triângulo rosa (a categoria mais baixa)
Para provar para os oficiais que não era homossexual, ele faz
sexo com uma adolescente que talvez
estivesse morta, há alguns minutos… com uma bala na cabeça (vítima dos oficiais
alemães).
MAX : “… eles disseram… prove que você não é homossexual”... e eu
provei… muitos deles, assistindo… rindo… bebendo... Ele é um pouco bichinha, disseram, ele não dá conta... mas eu
fiz...Não… sei como consegui. Eu queria… Ficar vivo.. Eu a beijei. Lábios
mortos. Provei que eu não era... (Silêncio.) E eles gostaram. E eu disse: eu
não sou viado. E eles riram. E eu disse… me dê uma estrela amarela. E eles me
disseram claro... façam dele um judeu. Ele não é viado. E eles riram. Eles
estavam se divertindo. Mas eu… consegui… minha estrela…”
Apesar de ser uma obra literária a peça Bent (em inglês é algo
como dobrado, vencido) exibe muitas das
atrocidades dos alemães nos campos de concentração: Às vezes, um guarda atirava o
chapéu de um prisioneiro na cerca. Ele ordena que ele vá pegar o chapéu. Se ele
não fosse pegar, o guarda atiraria nele.
Se ele pega o chapéu, ele é eletrocutado (cerca de alta voltagem).
MAX, o protagonista diz, quase no final do segundo ato: “Bichas não foram feitas para
amar. Eles não querem que a gente se ame. Você sabe quem me amava? Aquele
garoto. O bailarino. Eu não me lembro mais do nome dele. Mas eu o matei. Está
vendo? Viado não pode amar ninguém. Eu vou matar você. Me odeie. Assim é
melhor. Me odeie, mas não me ame. [Max termina de organizar as pedras. Ele
volta a carregar outras pedras. Silêncio. Horst, que tem profundo envolviemento
sentimental com Max, começa a tossir novamente., Max fez sexo oral com o guarda
para conseguir remédios para Horst, o guarda pensava que seria para o próprio Max]”
Capitão: ( a Horst, que
ama Max) Você.
Horst: Sim, senhor.
Capitão: Pegue seu chapéu. [O capitão guia o guarda. O guarda
aponta o rifle para Horst.]
Horst: Agora, senhor?
Capitão: Agora.
Horst: Você tem certeza, senhor?
Capitão: Claro.
[Horst fica silencioso por um momento. Sente que Max o observa e
dá uma olhadela para Max; seus olhos dizendo “não se mexa”. Volta-se para o
capitão.]
HORST: Sim, senhor. [O capitão espera. O guarda está apontando
seu rifle para ele. Horst se volta para a cerca. Ele começa a andar bem devagar
para pegar seu chapéu. Ele quase alcança a cerca, quando, de repente – ele se
volta correndo em direção ao capitão, gritando em fúria. O guarda atira em
Horst. Horst se arremessa no capitão e arranha o seu rosto. O guarda atira em
Horst novamente. Ele cai morto. Silêncio. O capitão passa a mão no seu próprio rosto.)
Capitão: Ele me arranhou!
(a Max) Você. Judeu. (Max fica calado.) Você!
Max: Sim, senhor. Capitão: Eu espero que o remédio tenha
ajudado. [vira-se para ir embora, mas volta] Livre-se desse corpo. [Silêncio.]
Max: Sim, senhor. [O capitão sai. O guarda aponta o rifle para
Max e o abaixa, então sai logo atrás do capitão. Max olha para Horst. Silêncio.
Max abre sua boca para chorar. Não consegue. Silêncio. Max anda em direção ao
corpo de Horst. Ele cuidadosamente tenta erguê-lo, a cabeça de Horst repousando
no seu peito. Ele olha adiante. Ele carrega Horst em direção ao fosso, com os
pés dele se arrastando pelo chão. O sino toca.) Max: Não! [Ele olha para cima
onde está o guarda e de volta para Horst. Ele fica em posição de atenção. Horst
começa a cair. Max tenta segurá-lo. Ele permanence parado, olhando para Horst,
aguarrando-se a Horst.) Tudo bem. Eu não vou deixar você cair. Vou te segurar.
Se eu ficar em estado de atenção, posso te segurar. Eles irão me deixar te
segurar. Não vou deixar você cair. [Silêncio.] Eu nunca te abracei antes.
[Silêncio.] Você não tem mais que se 72 preocupar com as pedras. Eu farei a sua
parte também. Eu carregarei duas vezes mais cada dia. Eu farei a sua parte também.
Não se preocupe mais com as pedras. [Silêncio.] Quer saber? [Silêncio.] Horst?
[Silêncio.] Quer saber? [Silêncio.] Eu acho… [Silêncio.] Eu acho que eu te amo.
[Silêncio.] Shh! Não conte pra ninguém. Eu acho que eu amei… Não consigo mais
lembrar o nome dele… Um bailarino. Acho que eu o amei também. Não fique com
ciúmes. Acho que amei… um rapaz há muito tempo atrás. Na fábrica do meu pai.
Hans. Era esse o nome dele. Mas o bailarino. Eu não me lembro do nome dele..
[Silêncio.] Eu te amo. [Silêncio.] Que mal há nisso? (Silêncio) O que há de
errado com isso? [Max começa a chorar. O sino toca. Ele arrasta o corpo de
Horst até o fosso. Ele o atira no fosso. Ele se volta e olha para as pedras.
Ele respira fundo. Ele anda sobre as pedras e pega uma. Ele se move para o
outro lado. Ele respire fundo novamente. E fica parado.]
Max: Um. Dois. Três.
Quatro. Cinco. [respire fundo.) Seis, sete, oito, nove, dez. [Ele pega uma
pedra e se move para o outro lado Ele carrega uma outra pedra. Uma outra pedra.
Ele pára. Respira fundo novamente. Move uma outra pedra. Move uma outra pedra.
Ele pára. Ele tenta respirar fundo novamente, mas não consegue. Sua mão está
tremendo. Ele segura sua mão. Ele pega uma outra pedra e começa a movê-la. Ele
pára. Ele deixa a pedra cair. Ele se move em direção ao fosso. Ele pula dentro
do fosso e desaparece. Uma longa pausa. Max sai do fosso, segurando a jaqueta
com o triângulo rosa de Horst. Ele veste a jaqueta. Max se volta e olha para a
cerca. Max anda em direção à cerca. A cerca se ilumina e vai se tornando mais
brilhante até que a luz consome o palco e cega a platéia.) (FIM DO ATO II, isto
é : fim da peça).
Berlim era considerada uma cidade liberal, com bares e cabarés
frequentados pela comunidade homossexual Magnus Hirschfield, medico conceituado,
tinha começado aí, um movimento pelos direitos dos homossexuais durante o virar
do século. Contudo, estes movimentos foram duramente reprimidos pela ideologia
nazi que sustentava que a homossexualidade era imperdoável porque não permitia
a reprodução, necessária para perpetuar a raça superior. A masturbação também era
considerada perniciosa pelo Reich.
(Ernst Rohm, como dissemos, era da SA, a primeira milícia
do Partido Nazi, um dos homens de confiança de Hitler e o ajudou a ascender ao
poder, era homossexual e foi assassinado em 34. O mesmo se passava com outros
líderes, como Edmund Heines);
No holocausto, a perseguição continuou, tendo muitos sido
enviados para campos de concentração (cerca de e 15 mil molrreriam lá)
O sofrimento dos homossexuais não terminou depois do fim da
guerra, uma vez que as leis anti-homossexuais dos Nazis não foram suprimidas,
tal como aconteceu com as leis antissemíticas, por exemplo. Alguns homossexuais
foram obrigados a terminar a pena a que estavam condenados pelo Governo Militar
Aliado do pós-guerra na Alemanha. Outros, ao regressar à casa e aos seus países
de origem tiveram que manter o silêncio sobre o seu sofrimento, por medo de
discriminação, pois as chamadas leis sobre a sodomia só acabariam por cair
na Europa Ocidental nos 60 e 70.
Lembremos que a homossexualidade masculina na Alemanha,
particularmente em Berlim, em 33, as organizações homossexuais foram banidas,
livros acadêmicos sobre homossexualidade e, mais genericamente, sobre
sexualidade, foram queimados, e também alguns homossexuais do Partido Nazi
foram assassinados. Em 28 existiam cerca de 1 milhão e meio de homossexuais na
Alemanha. De 33 a 45 cerca de 100 mil homens foram registados pela polícia como
homossexuais (as "Listas Rosa"), e 50 mil foram oficialmente
condenados. Os homossexuais presos nesses "campos da morte" para além
de serem tratados de forma extraordinariamente cruel pelos guardas, eram também
perseguidos pelos outros prisioneiros.
Depois da guerra, o sofrimento dos homossexuais nos campos de
concentração nazi não foi reconhecido em muitos países, tendo algumas potências
aliadas recusado a libertação ou repatriação destes homens. Alguns dos que
ficaram presos, escaparam e foram de novo presos, acusações baseadas em factos ocorridos durante no
período nazi. Apenas nos anos 1980 começaram a surgir governos a reconhecer os
homossexuais como vítimas do Holocausto, e apenas em 2002, o governo alemão
pediu formalmente desculpa à comunidade homossexual.
Em 2005 , o parlamento europeu adotou uma resolução
relacionada com o Holocausto em que a perseguição dos alemães (a partir do início
dos anos 30) aos homossexuais não foi referida.
No maldito Minha luta, Hitler atribui sífilis e prostituição aos
judeus.
Homossexuais " eram tidos como algo que ameaçava a
capacidade do estado e o "carácter masculino" da nação. Promoveram
então experiências médicas que tentavam encontrar alguma deficiência
hereditária que muitos membros do partido julgavam ser a causa da
homossexualidade. Enquanto muitos líderes alemães defendiam que os homossexuais
deviam ser exterminados, outros pretendiam legislação que banisse sexo entre
homens ou entre mulheres.
Freud também foi acusado pelos nazis devido às suas ideias
controversas sobre sexualidade.
Dentre as torturas favoritas (homofóbicos alemães e homossexuais)
estava arrancar-lhes as unhas. Outros
foram violados com réguas de madeira partidas e tiveram os intestinos perfurados,
causando graves hemorragias, despir completamente a vítima e enfiar um balde na
cabeça dele e atiçaram os seus cães para
o morderem até a morte, também.
Esses tratamentos cruéis explicam a alta taxa de mortalidade dos
homossexuais nos campos de concentração, quando comparamos com a de outros
"grupos anti-sociais".
As indenizações e pensões sociais atribuídas a outros grupos de
prisioneiros foram negadas aos homossexuais, que continuavam a ser considerados
criminosos — as leis anti-homossexuais nazis apenas foram banidas completamente
em 94.
Os sobreviventes gays do Holocausto podiam ser reencarcerados
por "ofensas repetidas", e foram mantidos nas listas de
"criminosos sexuais". Sob o Governo Militar Aliado da Alemanha, a
seguir ao final da Guerra, alguns homossexuais foram forçados a cumprir as suas
penas de prisão até o fim, independentemente do tempo passado em campos de
concentração.
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