por Rômulo Ramos
A peça Eva Perón foi escrita
por Raúl Damonte Botana mais conhecido por Copi,
escritor contemporâneo argentino representante da literatura de pós-vanguarda.
Com uma linguagem de estética humorística e paródica o autor lança em cena as
relações entre história e ficção, mito e ironia. A ironia na peça surge da
encenação crítica dos discursos estereotipados fundadores do mito. Já a parodia da figura mítica de Eva Perón
ganha projeção a partir da ironia que os discursos
geram em torno dela.
Eva Perón é um texto cheio de esperança que permeia dentro da
realidade do drama. Suas narrativas transgressivas traz a comicidade dentro da
caricatura dos personagens. O exagero que os personagens carregam nas cenas dá
projeção e potencialidade à realidade. Seja pelos atritos, pela falta de
memória, pela doença, pela constante presença que o desenho se forma entre os
quadros durante as cenas. O texto recheado de temas como: desmemoria, sexo,
violência, são costurados numa escrita contínua, irônica, barroca, ácida,
surreal e fantástica que continuadamente viola padrões da norma moral
heterossexual, provocando multiplicidade e o riso crítico. “Confesso que fiquei
meio confuso, Copi literalmente distorce a imagem de Eva Perón. Onde mito e
historia se confundem. Talvez esteja enganado, mas não deixo de expor aqui
minha opinião.”
Ressalto que Copi tem um universo bastante interessante cheio Temas
provocador que entrelaça mulheres, sexo, mães, trancexualidade, homossexualidade,
travestismo, bissexualidade, doença, horror psicológico, violência doméstica,
fetichismo, morte, exagero, comicidade e até mesmo a linguagem POP que o texto
carrega.
Quando li pela primeira vez o texto me sentir incomodado pelo fato
da personagem ter uma doença grave e seria onde as brincadeiras quebram a
situação atmosférica das cenas. Na peça
de Copi não se salva ninguém: nem os peronistas e nem os antiperonistas. Na
integra, é a realidade que é questionada: todos os discursos são igualmente
esvaziados de fundamentos. A ironia esvazia toda essencialidade deles e chama a
atenção para a construção da cena.
Copi aproveitou a oportunidade no texto e trouxe consequências
ligando política e imagem. Dentro dessa densa e humorística teatralidade
faustosa e grotesca, Copi faz uma paródia teatralizada, mostra uma Eva que é
sua própria representação, um travesti. A travestização, a imagem distorcida da
mulher aparece traçando o histórico e o político. Unindo tudo isso numa trama
de explicações e invenções sarcásticas dando riso ao ridículo e ao irônico.
Enfim, é um texto divertido embora cheio de artimanhas dos
personagens. Um texto para brincar com o ridículo, ultrapassando a ironia da
vida.
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