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domingo, 2 de fevereiro de 2014

TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS DA LITERATURA BRASILEIRA





1)       POESIA CONCRETA
      Características:

¨       Exploração de todas as potencialidades das palavras e das combinações sintáticas.
¨       Ruptura com a leitura linear (cada poema é um convite a um novo tipo de leitura) – LUDISMO.
¨       Aproveitamento das conquistas modernistas de 1922 (as experiências radicais de Oswald de Andrade).
¨       Objeção ao subjetivismo formalista e o ideário classicizante.
¨       Influência da civilização industrial e tecnológica. Reflexo dos meios de comunicação de massa (quadrinhos, por exemplo).
¨       Preferência por estruturas nominais que se relacionam espacialmente (horizontal e/ou verticalmente).
¨       Substituição da sintaxe verbal pela sintaxe analógico-visual (visão, audição, carga semântica).
¨       Valorização do significante (a palavra).
¨       Exploram-se os campos.

a)       Semântico: polissemia, trocadilhos.
b)       Sintático: ruptura com a sintaxe tradicional.
c)       Léxico: neologismos, estrangeirismos, siglas, substantivos concretos.
d)       Morfológicos: separações dos prefixos, dos radicais, dos sufixos.
e)       Fonético: uso de figuras de som; jogos sonoros.
f)        Topográfico: abolição do verso tradicional, aproveitamento dos espaços brancos


Onde quer que você esteja/ Em Marte ou Eldorado/ Abra a janela e veja
O pulsar quase mudo/ Abraço de anos-luz/ Que nenhum sol aquece/ E o oco escuro esquece
 (Augusto de Campos, O pulsar, 1975)



2) FERREIRA GULLAR


A VIDA BATE

         O amor é difícil
         mas pode luzir em qualquer ponto da cidade.
         E estamos na cidade
         sob as nuvens e entre as águas azuis.
                A cidade. Visto do alto
                ela é fabril e imaginária, se entrega inteira
                como se estivesse pronta.
                Vista do alto,
                com seus bairros e ruas e avenidas, a cidade
é o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém
Mas vista
de perto,
revela o seu túrbido presente, sua
carnadura de pânico: as
pessoas que vão e vêm
que entram e saem, que passam
sem rir sem falar, entre apitos e gases. Ah, o escuro sangue urbano
movido a juros.
São pessoas que passam sem falar
e estão cheia de vozes
e ruínas. És Antônio?
És Francisco? És Mariana?
Onde escondeste o verde
Clarão dos dias? Onde
escondeste a vida
que em teu olhar se apaga mal se acende?
E passamos
carregados de flores sufocadas.
Mas, dentro, no coração,
eu sei,
a vida bate. Subterraneamente,
a vida bate
Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi,
sob as penas da lei,
em teu pulso.
                a vida bate
E é essa clandestina esperança
misturada ao sal do mar
que sustenta
esta tarde
debruçado à janela de meu quarto em Ipanema
na América Latina.
                                 (em Dentro da Noite Veloz)
3) TEATRO: NELSON RODRIGUES  (O Beijo no Asfalto) e CHICO BUARQUE/PAULO PONTES (Gota d’ água). Alusão a PLÍNIO MARCOS e MILLOR FERNANDES.
4) CARLOS PENA FILHO

TESTAMENTO DO HOMEM SENSATO

Quando eu morrer, não faças disparates
nem fiques a pensar: Ele era assim...
Mas senta-te num banco de jardim,
calmamente comendo chocolates.

Aceita o que te deixo, o quase nada
destas palavras que te digo aqui:
Foi mais que longa a vida que eu vivi,
para ser em lembranças prolongada.

Porém, se um dia, só, na tarde em queda,
surgir uma lembrança desgarrada,
ave que nasce e em vôo se arremeda,

deixa-a pousar em teu silêncio, leve
como se apenas fosse imaginada,
como uma luz, mais que distante, breve.

4b) MAURO MOTA

BOLETIM SENTIMENTAL DA GUERRA NO RECIFE

Meninas, tristes meninas, 
de mão em mão hoje andais. 
Sois autênticas heroínas 
da guerra, sem ter rivais. 
Lutastes na frente interna 
com bravura e destemor. 
À vitória aliada destes 
o sangue do vosso amor. 
Por recônditas feridas, 
não ganhastes as medalhas, 
terminadas as batalhas 
de glórias incompreendidas. 
Éreis tão boas pequenas. 
Éreis pequenas tão boas! 
De várias nuanças morenas, 
ó filhas de Pernambuco, 
da Paraíba e Alagoas. 

Tínheis de quinze a vinte anos, 
tipos de colegiais, 
diante dos americanos, 
[...] prontos a [..]
varrer da face do mundo 
regimes ditatoriais 
e democratizar todas 
as terras continentais 
a começar pelo sexo 
das meninas nacionais. 

Iniciou-se então a fase 
de convocação e treino 
todos os dias na Base. 
Ah! com que pressa aprendíeis, 
só pela conversa quase! 
Dentro de menos de um mês 
sabíeis falar inglês. 

E os presentes? Os presentes 
eram vossa tentação. 
Coisas que causavam aqui 
inveja e admiração: 
bolsas plásticas, a blusa 
de alvas rendas do Havaí, 
bicicletas "made in USA", 
verdes óculos "Ray Ban". 
Era um presente de noite 
e outro dado de manhã, 
verdadeiras maravilhas 
da indústria de Tio Sam. 

E as promessas?
[...]num pulo alcançar Miami, 
almoçar na Casa Branca, 
descer a Quinta Avenida, 
fazer "piquet" pela Broadway 
ver a "première" no Cine 
junto dos artistas, com 
eles todos na platéia. 
[...]Com tanto "it" e juventude 
podíeis testes ganhar, 
ser estrelas de Hollywood, 
[...]Ó prematuras mulheres, 
fostes, na velocidade 
dos "jeeps", às "garconières" 
da Praia da Piedade[...] meninas grávidas, 
o que é que fostes fazer? 
[...] Saístes do pediatra 
para o ginecologista. 
[...]Meninas, tristes meninas, 
vossos dramas recordai, 
quando eles no armistício, 
vos disseram "Good bye". 
Ouvireis a vida toda 
a ressonância do choro 
dos vossos filhos sem pai.

5) OSMAN LINS
Trecho do RETÁBULO DE SANTA JOANA CAROLINA

O conto é calcado em DOZE MISTÉRIOS que correspondem, por exemplo, aos signos do Zodíaco. Este princípio de organização do retábulo, através da qual se amplia a história de uma mulher que vive em Pernambuco, insere a narrativa no “TEMPO MÍTICO – CIRCULAR” das constelações celestes, religando-a a dimensões cósmicas. As doze horas seriam eternas e, paradoxalmente, efêmeras.

A velhice é feito um caranguejo, não envelhecemos por igual. Ela vai estendendo, dentro de nós, suas patas. Às vezes, começa pela espinha, outra pelas pernas, outra pela cabeça. Em mim, começou pelos sonhos: dei para sonhar, quase todas as noites, com as pessoas de antanho. (Em Joana, esse caranguejo estendeu de uma vez as suas patas. Atacou-lhe os rins e o rosto...)”




6) DALTON TREVISAN: O microconto e O VAMPIRO DE CURITIBA.

No Brasil, o primeiro exemplar de “microconto”, chamado pelo seu autor de ministória, foi de Dalton Trevisan, em 1994. Eis uma destes microcontos:

Assustada, a velha pula da cadeira, se debruça na cama:
– João. Fale comigo, João.
Geme lá no fundo, abre o olhinho vazio:
– Bruuuxa... diaaaba...
– Ai, que alívio. Graças a Deus.


Em trinta palavras o narrador apresentou personagens em movimento dentro de determinado espaço, caracterizando o básico de uma narrativa.








7-)PAULO LEMINSKI

7.1 Aço e Flor 

Quem nunca viu 
que a flor, a faca e a fera 
tanto fez como tanto faz, 
e a forte flor que a faca faz 
na fraca carne, 
um pouco menos, um pouco mais, 
quem nunca viu 
a ternura que vai 
no fio da lâmina samurai, 
esse, nunca vai ser capaz. 

7. 2

a estrela cadente 
me caiu ainda quente 
na palma da mão 



 8)AUTORES PERNAMBUCANOS EM DESTAQUE: Luzilá Gonçalves Ferreira, Gilvan Lemos e Raimundo Carrero.


9) ARIANO SUASSUNA
“Eu vi a Morte, a moça Caetana,/ com o manto negro, rubro e amarelo./Vi o inocente olhar, puro e perverso,/ e os dentes da Coral da desumana// Eu vi o Estrago, o bote, o ardor cruel(...) Ela virá, a Mulher aflando as asas,/ com os dentes de cristal, feitos de brasas(...) só assim verei a coroa da Chama e Deus, meu Rei,/ assentado em seu trono do Sertão”.  Ariano Suassuna (Sonetos: “A Moça Caetana” e “A Morte”)






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