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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Poesia romântica no Brasil: o caso Tobias Barreto

Tobias Barreto nasceu em Campos do Rio Real, que então era Sergipe em 1839 e faleceu em Recife em 1889. Seu livro de Poesia chama-se Dias e noites
.
À VISTA DO RECIFE
É a cidade valente
brio da altiva nação,
soberba, ilustre, candente
como uma imensa explosão:
de pedra, ferro e gravura,
de aurora, de formosura,
de glória, fogo e loucura. . .
Quem é que lhe põe a mão?
Mágoas tem que estão guardadas,
quando as vingar é sem dó!
Raça das Romãs tombadas,
das Babilônias em pó,
quer ter louros que reparta;
vencer, morrer, não a farta. . .
Grande, d’altura de Esparta,
afronta o mundo ela só! . . .
Com os seios entumescidos
do germen de muito herói,
tem nos olhos aguerridos
fulmínea luz que destrói.
Detesta a classe tirana,
consigo mesma inumana,
vê seu sangue que espadana,
ri de raiva e diz: não dói! . . .
No seu pisar progressivo
ostenta um certo desdém;
suspendendo o colo altivo,
não rende preito a ninguém.
Lê no céu seu fado escrito,
quando o Brasil solta um grito,
franze a testa de granito,
e diz ao estrangeiro: vem!.
Sim, eu vejo: ainda a espada
na tua destra reluz.
Cabocla civilizada
de pernas e braços nus,
cidade das galhardias,
que no teu punho confias,
coeva de Henrique Dias,
guerreira da Santa Cruz!
Estremecida, ridente,
como que esperas alguém.
Ouves um som de torrente?
É a grandeza que vem. . .
Teu hálito alimpa os ares,
por cima do azul dos mares
prolongam-se os teus olhares,
que vão namorar além. . .
Não te pegam em descuido;
teu movimento é fatal.
E a liberdade, esse fluido,
que forma o gládio, o punhal,
nos teus contornos ondula,
nas tuas veias circula,
e vai chocar-se a medula,
dos ossos de pedra e cal.
É um lidar incessante,
cai-te da fronte o suor;
ferve tua alma brilhante,
e tudo o belo em redor.
O assombro lambe-te a planta,
na estrela, que se levanta,
pousado um arcanjo canta:
vai ser do mundo a maior!
Tens aberta a tua história,
laboras como um crisol;
como um estigma de glória,
nos ombros queima-te o sol.
A guerra, a guerra é teu cio.
Fera!… O estrangeiro frio
se aquece ao beijo macio
dos teus lábios de arrebol.
Assopras nas grandes tubas,
que despertam as nações;
eriçam-se as férreas jubas,
uivam as revoluções. . .
Teus edifícios dourados
vão-se erguendo, penetrados
da voz dos Nunes Machados,
dos gritos dos Camarões! . . .
Com a morte bebes a vida;
não te abalas, não te dóis!
D’oiro e luz sempre nutrida,
novas idéias remóis,
é que à voz das liberdades,
calcadas as potestades,
germinam, brotam cidades
do sepulcro dos heróis!
Possa a coragem de novo
teu bafo ardente inspirar,
e a glória sair do povo,
como tu surges do mar. . .

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