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domingo, 4 de agosto de 2013

Z: nossa guerra de cada dia

No filme GUERRA MUNDIAL Z, vemos o avesso da “Metamorfose”, romance de Kafka, onde um homem acorda transformado em algo similar a uma... barata: OS INSETOS SÃO OS OUTROS. Ou ainda um pouco do texto teatral de IONESCO: “Os rinocerontes, peça na qual um cidadão percebe que todos  na sua cidade/mundo estão se transformando em rinocerontes. Mas em “Z”, filme de ação, terror e suspense estadunidense, dirigido por Marc Forster e escrito por Matthew Michael Carnahan,  baseado no romance literário de mesmo nome de Max Brooks, é o funcionário da ONU Gerry Lane (Brad Pitt, sempre rodeado de muitas armas) que atravessa o mundo numa “corrida contra o tempo” tentando impedir uma pandemia que estava desafiando exércitos e governos e ameaçando dizimar a humanidade inteira: TODOS ESTAVAM VIRANDO ZUMBIS.

Cena da invasão de Jerusalém, hilariante

GUERRA MUNDIAL Z é um dos filmes mais caros produzidos em Hollywood,mas não mostra tanto como gastou seus dólares. Parece lavagem de dinheiro, ou então a propaganda estava inclusa no orçamento. Enfim, mais uma vez Nova York  é ameaçada, e também outras cidades estadunidenses, mas o negócio alastra-se no mundo todo enquanto o herói, que havia pedido demissão de um emprego na área de segurança nacional, é convocado e encontra ali o meio de proteger sua família. A garotinha asmática, o jovem ingênuo cientista assassinado, e outros clichês repetem-se à exaustão, mas o PONTO X talvez esteja nas metáforas espalhadas aos borbotões pela película: Israel era a única nação protegida (por grossas muralhas) até os zumbis escalarem em massa, daí o caos e nosso herói fugindo para onde for possível num avião com centenas de passageiros sem saber o destino, com novo acidente e os zumbis atacando os tripulantes. Ao saber que o sinal do avião e do rádio/ telefone do herói saiu do ar, os funcionários do governo preparam-se para jogar a família do agente na rua, já que precisam de espaço no navio par mais pessoas que possam “solucionar” o “problema”.
Por que tanta gente diz que isso é bom? Os estudiosos da comunicação preferem a tese que diz que devemos analisar a obra em si, em suas partes estruturais e efeitos. Vá lá que seja. Mas que dá vontade de esmiuçarmos o conteúdo ideológico, isso dá.
A interpretação de Brad e dos outros atores? Bem, acho que não vão ganhar prêmios por isso, talvez uns fãs a mais, muito dinheiro também.
Quando se trata de um produto que já conhecemos não é necessário, mas estes produtos para as multidões atraem minha atenção no sentido de saber como as massas são manipuladas e, claro, como estes textos se articulam por dentro e lançam seus tentáculos em direção ao inconsciente coletivo.
Quem joga seu dinheiro neste investimento o faz por: diversão? Instinto? Paixão? Tédio? Falta de opção? Poucos o fazem como estudo, com certeza, mas alguns o fazem, sim. E a que conclusões chegam? Talvez a de que a redundância arquetípica atinge nesta obra patamares altíssimos.
Imaginar um final melhor do que o proposto ali seria um jogo interessante. Usar o produto com o contraponto para uma discussão mais profícua sobre que rumos tomar para aliviar as dores humanas talvez fosse um delírio deste vosso escriba.


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