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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

HÁ MAIS DE UM SÉCULO O FANTASMA DA ÓPERA NOS ASSUSTA

O FANTASMA DA ÓPERA
                                      por  Moisés Neto

No romance “O Fantasma da Ópera”, de Gaston Leroux (Ediouro, RJ, 2005, 254 p.) Encontramos um homem misterioso que espalhava terror pelas catacumbas e corredores da ópera de Paris.
Leroux insinua que este romance (1910) seria uma “reportagem”. Vários ingredientes pululam neste romantismo tardio francês (já ganhou 18 versões para cinema e 4 para o teatro -3 musicais).
O triângulo amoroso Erik (fantasma, anjo da música, uma caveira que dorme num caixão de defunto e faz coisas inverossímeis), Christine Daeé (cantora lírica, filha de violinista, acredita em anjos, consegue sucesso com ajuda de Erik, por quem sente repulsa) e Raoul de Chagny (visconde, seu irmão, conde, quer impedir sua união com a heroína): um jogo com poucas cenas ao ar livre.
            Christine ao substituir a já aclamada Carlotta num importante recital na Ópera de Paris, impressiona a todos e se revela o grande triunfo da noite. A jovem acredita que o seu sucesso é obra do “Anjo da Música”, uma voz que a visita todos os dias em seu camarim para dar-lhe aulas de canto.
Enquanto isso, os novos diretores da Ópera de Paris, Armand Moncharmin e Richard, recebem de seus predecessores um livro de regulamentos da casa que inclui estranhas exigências atribuídas a um tal “Fantasma da Ópera”; entre elas, extravagantes e caras necessidades financeiras. Imaginando se tratar de uma brincadeira, eles resolvem ignorar todos os avisos que recebem para manter os caprichos do Fantasma e se envolvem numa seqüência de trágicos acontecimentos, entre os quais o estranho rapto de Christine. Torturado pela dor do amor não correspondido e pelo abandono, o Fantasma se revela uma criatura assustadora.

             Mame Giry é a personagem que serve como intermediária ao fantasma e é porteira da ópera. Quer ver sua filha imperatriz, é o que lhe prometeu o fantasma, que já ajudara Lola Montez, a bailarina, a entrar para nobreza. Os diretores de missionários (Poligny e Debienne) e os novos (Richard e Mouncharmin) negociam com o fantasma através dela. Há o misterioso persa que leva Raoul ao fantasma, há golpes teatrais como: o sumiço de Christine diante dos olhos da platéia, a queda do lustre.
O fantasma não tem pátria e sua mãe comprou-lhe a primeira máscara. Seu pai o rejeitou e ele compõe uma ópera “Don Juan Triunfante”, que enfeitiça quem a ouve Christine é prisioneira por 15 dias. Ele cobra-lhe higiene matinal. Passeiam à noite pelo Bois de Bologne. Ele destrói a voz da diva Carlota, que atrapalhava o estrelato de Christine.
Na montagem do “Fausto” ela é Margarida. Na cena em que pede aos anjos que a carregue, é carregada. Pânico geral. Consternação até entrar ricos preconceituosos que lhe vetavam ascensão social.
Christine vai a um cemitério próximo ao mar. Quer visitar o túmulo do pai sobre a neve, sob a lua, em clima gótico Erik toca o violino do morto e Raoul tenta roubar a cena. Há uma misteriosa rosa deixada pelo fantasma, que vence a luta. Christine volta ao hotel, Raoul desmaia.
Na ópera, em um cemitério, nas catacumbas, Erik age. Mexe-se com destreza e é vítima do amor. Anda com capa, máscara, chapéu. Tem um cavalo branco, roubado dos da ópera, cujo nome é César.
Metáforas em excesso, como o sapo que sai da garganta de Carlotta no seu clímax do “Fausto”, rebuscam um texto que propõe instantes terríveis e que parecem intermináveis, deixando a sensação de medo. Mas, quem tem medo do fantasma? Seria o este personagem em si, apenas uma metáfora? Quem eram aquelas garotinhas da ópera que tomavam cerveja, copinhos de cassis e rum. O que faziam antes que o toque da sineta as chamasse à cena? Podemos quase sentir o seu bafejo. Elas temiam, pensavam em fugir? Não ousavam. A pobre Christine é uma espécie de Wendy às avessas. E o caráter de Erick, sua inverossimilhança é patente. A fantasia é marcada como num palco. O prédio da ópera, com mais de oito andares, é um chamariz para leitores/espectadores hipnotizados por um cenário de sonho/pesadelo. Conseguirá nossa Cinderela terminar feliz ao lado do seu noivo (por um dia, ela ganhou um beijo no teto da ópera, sob a mira dos olhos de fogo de Erik, que tudo espiava, desta vez dor entre a lira da estátua de Apolo, sobre o prédio).
Bruxaria? Heresia? O quarto dele é vermelho e negro. As paredes dos seus aposentos, forradas de caros tecidos. Ele desfruta de um lago, ele parece maléfico, ele é assassino, é “feio”, o que quer da jovem “honrada” (virgem)? Ele a faz atravessar espelhos (metáfora). Um baile de máscaras o monstro circula: é a morte vermelha pressionando e dividindo o primeiro amor do mocinho Raul na festa que precede o carnaval.
O final do romance segue  com empolgação quando Christine Daaé é raptada para a catacumba do fantasma. Raoul e o persa vão tentar salvá-la e terminam em um alçapão que o fantasma Erik usa como câmara de torturas. Ela aceita casar-se com o “monstro”, porém este, comovido com suas sinceras lágrimas, solta-a com a condição que ela use sempre a aliança dele, mesmo quando case com Raoul (o que aconteceu). Pede que o enterre quando ele morrer. Quem conta o final da história de Erik é o persa. Erik era tão feio que foi rejeitado até pela própria mãe (que nunca o beijara, o primeiro beijo, na testa, ele receberá de Christine, nos subterrâneos da ópera de Paris, que ele, com seus dons, ajudou a construir. Vemos aqui o avesso de Quasímodo, ou, um arremedo do romance de Hugo, “O Corcunda de Notre Dame”). Ainda jovem fugira e aprendera a ser arquiteto e ilusionista, planejou e supervisionou a construção de palácios no Oriente médio, foi então que conheceu o  persa, que o salvou quando um poderoso queria assassiná-lo para manter um segredo de construção. Ao chegar em Paris participou das obras da Ópera e em suas entranhas alojou-se até a morte dramática.
Trata-se de um libelo do Romantismo tardio (1910), agonizante, este...Fantôme de l´opéra!
Com grande habilidade na construção do suspense. Leroux misturou acontecimentos reais e ficção para criar um ambiente realista e dotar o seu romance de caráter investigativo:
 “O FANTASMA DA ÓPERA EXISTIU, NÃO É PRODUTO DE IMAGINAÇÃO. Existiu em carne e osso, embora com todas as características de um fantasma” . Ao vasculhar os arquivos da Academia Nacional de Música, encontrei coincidência entre os fenômenos atribuídos ao “Fantasma” e a tragédia que abalou a sociedade parisiense, e ocorreu-me que esta poderia ser explicada por aqueles. Como isso data de menos de trinta anos, não seria difícil localizar no foyer do teatro homens idosos cuja palavra não pode ser questionada e que se lembrariam das condições que cercaram o rapto de Christine Daaé, o sumiço do Visconde de Chagny e a morte de seu irmão mais velho, o conde Philippe, cujo corpo foi encontrado às margens do lago existente nos fundos da Ópera, do lado da rua Scribe. Custei a aceitar a verdade e”, por mais de uma vez, quase desisti de buscá-la. Até que tive a prova de que meus pressentimentos não me haviam enganado. Nesse dia eu passara horas lendo Memórias de um diretor, de Moncharmin, que, quando à frente da Ópera e sem entender o comportamento do Fantasma, chegou a zombar dele.
Também achei alguns manuscritos de Christine, além de sua correspondência, e vi que a caligrafia era a mesma..
Finalmente, com meu dossiê, voltei a percorrer os domínios do Fantasma. Tudo o que vi confirmou os documentos do Persa e maravilhosa descoberta coroou meus esforços. Recentemente, ao escavar o subsolo da Ópera para enterrar discos com vozes dos artistas, as picaretas dos operários revelaram um cadáver. Tive logo a prova de que eram os restos mortais do Fantasma da Ópera. E, depois de chamar a atenção do administrador do teatro para o caso, pouco me importa que os jornais afirmem que o corpo era de uma vítima da Comuna.
Ora, as vítimas da Comuna nos porões da Ópera não foram enterradas desse lado. Suas ossadas estão bem longe da cripta onde se cumularam, durante o cerco, as provisões. Achei a pista quando buscava os restos do Fantasma, afinal localizados graças à casualidade.
Gaston Leroux


GASTON LEROUX nasceu em Paris, em 1868. Após a morte de seu pai, trabalhou como correspondente no jornal Le Matin. Publicou o primeiro livro em 1903, mas foi com o sucesso de  O mistério da casa amarela, de 1907, que decidiu deixar o jornalismo para se dedicar somente ao romance. No entanto, sua prática em reportagem lhe permitiu criar em seus livros uma atmosfera de grande verossimilhança através do uso de fatos reais, “documentos” e “depoimentos”. A sua principal obra. O Fantasma da Ópera, foi publicada em 1910 e sua primeira adaptação de sucesso para o cinema, em 1925, um clássico do cinema mundo, contou com a colaboração do autor. Gaston Leroux faleceu em 1927, em Nice.



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