Pesquisar este blog

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

REALISMO E NATURALISMO NA LITERATURA BRASILEIRA: uma introdução, por Moisés Neto


                                                    


    O REALISMO:

-    O homem e a sociedade em sua totalidade
-    O amor adúltero
-    O dia-a-dia massacrante
-    O egoísmo e a mentira
-    A impotência do homem diante dos poderosos

“O Realismo é uma reação contra o Romantismo: O Romantismo era a apoteose do SENTIMENTO; - O REALISMO é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houve de mau na nossa sociedade.”
(Eça de Queirós)

Em algumas produções da Estética Romântica como a poesia de Castro Alves, o romance de Manuel Antônio de Almeida (MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS), os regionalistas Franklin Távora, Visconde de Taunay – podemos observar manifestações contrárias ao sentimentalismo, a idealizações. São posturas anti-românticas nascidas das mudanças sociais, econômicas, científicas, ideológicas do momento.

O homem da 2ª metade do séc. XIX será muito mais OBJETIVO e IMPESSOAL face ao próprio contexto no qual está inserido. Terá uma concepção muito mais materialista do mundo e a arte será um instrumento muito mais de denúncia, daí a imaginação ceder lugar ao momento presente, à contemporaneidade.
Com a nova Revolução Industrial, o avanço tecnológico e científico modificam-se os processos de produção e a própria economia que ganha novos rumos. Importa mais do que nunca a realidade física, o mundo concreto, um mundo que se explica a partir dele mesmo. Justifica-se assim o porquê do materialismo e objetivismo serem as bases do pensamento realista. A burguesia urbana cresce cada vez mais e vive o luxo  e o poder sobre o mundo.
As tendências literárias deste período (Realismo / Naturalismo / Parnasianismo) têm início em 1857 com a publicação do romance realista Madame Bovary de Gustave Flaubert; Thérese Raquim, de Émile Zola (1867). Fundou-se o Naturalismo, seguimento da corrente Realista, e antologias parnasianas intituladas Parnaso Contemporâneo (1866). Este último foi um retorno da poesia ao estilo clássico – estilo do qual os românticos se afastaram. Veja que o Parnasianismo merece um estudo à parte.
Estes três estilos divergem formal e ideologicamente, mas têm pontos de contato: a visão de mundo objetiva (que trazem para o texto) e o gosto pelos detalhes, pelas descrições.
Podemos dizer, de modo geral, que o Realismo vai se preocupar com o comportamento humano (indivíduo), o Naturalismo vai desenvolver um realismo mais científico e o Parnasianismo vai retornar ao mundo clássico e seu estilo, ficará distante, portanto, do “estéril turbilhão da rua”.

Contexto Histórico

A GERAÇÃO DO MATERIALISMO


-    A consolidão da burguesia no poder
-    Triunfo do capital industrial
-    Ciência, progresso e materialismo são palavras de ordem (cientificismo).
-    Apogeu da Revolução Industrial
-    Avanço científico e tecnológico (eletricidade, telégrafo, locomotiva a vapor) das ciências como Física, Química, Biologia.
-    As massas trabalhadoras exploradas nas cidades industriais (proletariado x burguesia).
-    A publicação do manifesta comunista de Karl Marx que define o Materialismo Histórico
-    Explosão urbana
-    Fermentação político-social.

·      Correntes científico – filosóficas da época

Deixaram marcas visíveis na literatura:

a)     POSITIVISMO (Augusto de Comte) – Todo conhecimento só tem valor se provier das ciências. Rejeitam-se explicações religiosas, metafísicas. O homem tem capacidade de amar e ser solidário socialmente, assim pensou Comte.
b)     DETERMINISMO (H. Taine) – O comportamento humano é determinado por forças do meio, do momento histórico, da raça.
c)     EVOLUCIONISMO (Darwin) – O homem é produto da evolução natural das espécies. O homem é visto pelo aspecto biofisiológico.


 



Socialismo Utópico

Vale destacar que as Ciências Naturais se desenvolveram (principalmente a Biologia) bem como as Ciências Sociais. No que tange ao ponto de vista político-social irrompe uma nova classe social (contrastando com a classe média burguesa): o PROLETARIADO. Essa nova classe formada pelas massas de trabalhadores ao expressar seus anseios geram lutas, crises da sociedade burguesa. Essas crises sociais terão reflexos significativos na arte e a camada operária marginalizada (fora dos benefícios da Revolução Industrial) começa a se organizar. “Os acontecimentos exigem  a participação do artista”.
O novo quadro social será examinado pelo artista à luz das teorias “SOCIOLÓGICAS, PSICOLÓGICAS ou BIOLÓGICAS”. É sob este prisma que a prosa Real – Naturalista se desenvolve. A burguesia se consolida enquanto classe detentora do poder graças ao fortalecimento – Racionalismo tornam-se palavras-chave e O Real – Naturalismo é conseqüência das transformações ocorridas na época.

Estas transformações provocaram, no escritor, necessidade de descrever costumes, relações sociais, comportamentos, conflitos psicológicos. O Naturalismo trabalhou estes aspectos revestindo-os de cientificismo, influência das teorias da época.

Características da linguagem da Prosa Realista

- Objetivismo (a verdade exata, fruto da observação).
- Impassibilidade (o escritor fotografa os personagens por dentro, obedece a uma lógica rigorosa).
- Narrativa lenta, rica em detalhes, descrições.
- Precisão quanto ao tempo e espaço.
- Personagens esféricos, ambíguos, complexos (exibem-se defeitos e qualidades).
- Casamento por interesse, “amor” ligado a interesses sociais, forma de ascensão social.
- Análise psicológica do personagem (realidade interior X realidade exterior): Jogo do SER X PARECER.
- Crítica à sociedade burguesa e seus “valores” (Machado de Assis faz de forma indireta).
- Imoralismo.
- Fim da idealização da figura feminina e do modelo de herói romântico.
- Contemporaneidade.
- Preocupação estética e com o estilo.

A corrente naturalista

Os estudiosos apontam o Naturalismo como “um prolongamento do Realismo”. A estetica naturalista denuncia uma visão alicerçada nas correntes filosófico-científicas da época e nas novas idéias sociológicas:
A comprovação científica dos fenômenos (POSITIVISMO) regula as situações; a camada social é um organismo vivo com todos os ciclos de sua evolução (EVOLUCIONISMO); o homem é produto do meio, da raça e do momento histórico em que vive (DETERMINISMO), enfim predomina uma visão científica da existência. A literatura irrompe no cenário deste período como subordinada à atividade científica: “meu desejo é pintar a vida, e para este fim devo pedir à ciência que me explique o que é a vida, para que eu a fique conhecendo”. (Émile Zola).

Vale destaca ainda que o escritor realista observa, analisa o comportamento do homem na sociedade e narra; o escritor naturalista chega a uma etapa posterior à observação que é a experimentação. Ele comprova através da ciência. (Veja que o exagerado cientificismo da época levou os escritores a associar literatura e ciência). Conclui-se assim que a Prosa Realista tem aspecto mais documental e a prosa Naturalista, assume as características de Romance experimental.

Características da linguagem da Prosa Naturalista

-          Descrição objetiva apoiada em impressões sensoriais.
-          Narrativa lenta. O narrador é onisciente. Coloca-se de fora.
-          O ambiente descrito reporta-se às camadas inferiores da população (lavadeiras, mascates).
-          Predomínio do instinto.
-          Zoomorfização (as mesmas leis que regem os animais, regem os homens).
-          Predomina a linguagem denotativa.
-          Arte de denúncia, crítica social aberta.
-          Dá-se relevo aos aspectos mais torpes e degradantes da vida.
-          Influência maior da Biologia.
-          Narrativa centrada nas camadas inferiores.
-          Amoralismo.
-          Não há muita preocupação com o estilo.
-          Ações, gestos, falas, ambientes são relevantes para o escritor.
-          Personagens patológicos (legião de bêbados, assassinos, incestuosos, prostitutas – “horrores cientificamente comprovados).

O Real – Naturalismo no Brasil

Situação Histórica:

1870   Acentuam-se as crises da sociedade agrária brasileira.
1871   Aprovada a Lei do Ventre Livre.
1875   Em Portugal, Eça de Queirós publica “O Crime do Padre Amaro”, que iria influenciar em muito as idéias realistas no Brasil.
1878   Publicação, em Portugal, de “O Primo Basílio”, de Eça de Queirós, importante na divulgação das idéias realistas no Brasil.
1881   “O Mulato”,  de Aluísio Azevedo inicia o Naturalismo no Brasil: “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis marca o início do Realismo brasileiro.
1882   Forma-se a “Escola do Recife”, sob a direção de Tobias Barreto.
1885   Lei do Sexagenário.
1888   Lei Áurea.
1889   Proclamação da Republica.
1891   Primeira constituição republicana brasileira. Deodoro da Fonseca – presidente da república. Deodoro renuncia, Floriano Peixoto assume.
1894   Prudente de Morais assume a presidência, depois de muitas agitações políticas.
1897   Campanha de Canudos, Fundação da Academia Brasileira de Letras (que veio, de certo modo, a oficializar a literatura).



EXERCÍCIO

Analise o último capítulo do romance “Dom Casmurro”:

CAPÍTULO CXLVIII / E BEM, E O RESTO?
Agora , por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Mata-cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: "Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti". Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.
E bem, qualquer que seja a solução, uma cousa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à "História dos Subúrbios”.
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


Agora observe um trecho do romance “O mulato”, de Aluísio de Azevedo.
"- Ele não é feio... a senhora não ache, D. Bibina ?... segredava Lindoca à outra sobrinha de D. Maria do Carmo, olhando furtivamente para o lado de Raimundo.
- Quem? O primo d’Ana Rosa?
- Primo? Eu creio que ele não é primo, dona !
- É! sustentou Bibina, quase com arrelie. É primo sim, por parte de pai !...
Por outro lado, Maria do Carmo segredava a Amâncla Souselas:
- Pois é o que lhe digo, D. Amância: muito boa preta!... negra como este vestido! Cá está quem a conheceu!...
E batia no seu peito sem seios. - Muita vez a vi no relho. Iche !
- Ora quem houvera de dizer!... resmungou a outro, fingindo ignorar da existência de Domingas, para ouvir mais. Uma coisa assim só no Maranhão! Credo!"
Compare os textos: ______________________________________________________________________________________________________________________________.______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________













Nenhum comentário:

Postar um comentário