Dilma passeou de moto por Brasília, dia 4 de agosto, sonho antigo (!), e agora o político que deu carona a ela, que não pode pilotar, está fazendo a rota 66, famosa pelos easy riders da vida e postou uma foto no face com sua máquina. Como é a cabeça deste povo? O dólar com a cotação humilhando o real eleva dívidas brasileiras.
Ah! Como precisamos de uma imensa reforma íntima!
A arte, por sua vez, no Brasil parece desafiar qualquer tipo de
amorosidade crítica e se enfronha nas brenhas de um Brazilian way of
life entediante e repetitivo. A música ainda parece a mesma de 10 anos
atrás e pingando algo que ainda não se pode classificar muito bem. Porque hoje
é sábado há uma necessidade de fazer algo especial, mas se fosse segunda -feira
haveria as mesmas necessidades, não é?
Neste imbróglio é terrível ver que o sonho de um brasileiro era ser
soldado norte-americano no Afeganistão (realizou).
É a este tipo de necessidade que me refiro. E este tangolomango parece
tão nonsense... Hollywood sem filtro... cafezinho brasileiro...
A MTV é ianque, certo, mas proporcionou grandes shows com artistas
brasileiros, sendo o de Cássia Eller um dos melhores da casa. Agora a Abril
Cultural vendeu a marca no Brasil para a VIACOM e vai ser paga. Mas a emissora
entrou realmente numa decadência com uns apresentadores querendo aparecer mais
do que a boa música que deveria ser a prata da casa. Da música também vem uma estranha, bizarra notícia: O
dentista canadense Michael Zuk quer clonar John Lennon usando o DNA de um dos dentes do Beatle, que
comprou em 2011, um molar (por cerca de 70 mi dólares, a um filho de uma
ex-governanta de Lennon, Dot Jarlett). O dente foi extraído na década de 60 e ficara
com a tal ex-governanta.
E por falar em TV, é estranho o modo como a sexualidade vem sendo
tratada na TV aberta em suas novelas, leia-se nas novelas da rainha-mãe da TV
aberta. O corpo-objeto vem cercado de cuidados marqueteiros, porém o que mais
chama atenção é que o invólucro é castrante. Ontem houve uma acusação:
"você é virgem!"
E hoje é o dia mais cercado de superstições do ano. Vejamos como
desemaranhar tais tramas, sem dramas. Há sempre uma possibilidade de tudo melhorar.
Mas para que ninguém saia daqui sem levar algo de bom consigo, deixo
esta canção com Marina Lima, que hoje está no Recife, para que vocês relaxem:
E aconselho que todos assistam ao filme FLORES RARAS. Realmente
Bruno Barreto está de parabéns. Glória Pires está magnífica, assim como Miranda
Otto.
Ah! Como é bom assistir a um filme bom...
É um dos mais belos filmes brasileiros que já vi. Delicado,
profundo, poético. Vale como história, como exemplo de delicadeza e mergulho
profundo na alma humana. O delicado movimento da câmera, o enquadramento, a direção de arte, a centralização do drama, o cuidado com o eixo narrativo.... lógico que não é um filme nota dez, mas um filme que tem muito a dizer e diz. A trilha sonora cuidadosamente planejada menos impõe do que sugere climas, o que é muito importante. A poesia de Bishop é lançada em doses homeopáticas, mas é como se permeasse toda a produção. E aí vai um dos poemas mencionados no filme:
One Art
The art of
losing isn't hard to master;
so many
things seem filled with the intent
to be lost
that their loss is no disaster,
Lose
something every day. Accept the fluster
of lost door
keys, the hour badly spent.
The art of
losing isn't hard to master.
Then practice
losing farther, losing faster:
places, and
names, and where it was you meant
to travel.
None of these will bring disaster.
I lost my
mother's watch. And look! my last, or
next-to-last,
of three loved houses went.
The art of
losing isn't hard to master.
I lost two
cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I
owned, two rivers, a continent.
I miss them,
but it wasn't a disaster.
- Even losing
you (the joking voice, a gesture
I love) I
shan't have lied. It's evident
the art of
losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like
disaster.
Elizabeth Bishop
Numa tradução imperfeita:
A arte de perder (Elisabeth Bishop)
A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada
dia.
Aceite, austero, A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subsequente Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito
que pareça (Escreve!) muito sério
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