Pesquisar este blog

sábado, 31 de agosto de 2013

ARIANO SUASSUNA: O criativo e polêmico mestre das Letras no Nordeste


"Eu vi a Morte, a moça Caetana,/ com o manto negro, rubro e amarelo./ Vi o inocente olhar, puro e perverso,/ e os dentes de Coral da desumana// Eu vi o Estrago , o bote, o ardor cruel (...) Ela virá, a Mulher aflando as asas,/ com os dentes de cristal , feitos de brasas (...) só assim verei a coroa da Chama e Deus, meu Rei, / assentado em seu trono do Sertão".
Ariano Suassuna (Sonetos: "A Moça Caetana" e "A Morte")

Uma análise da obra teatral de Ariano Suassuna nos faz mergulhar nas nossas origens culturais. Num recuo positivo em direção às sucessivas fontes que nos fizeram quem somos hoje: misto de regional e universal.
Os primeiros colonizadores trouxeram para cá a cultura europeia, transmitida oralmente. Assimilada pelos nordestinos, desenvolveram-se as influências ibéricas e mediterrâneas.
Uma das influências que Ariano sofreu foi a dos escritores Gil Vicente, português, e do espanhol Calderón, ambos homens de teatro na época das grandes descobertas. Suassuna pratica o entrecruzamento de textos, adaptando várias obras populares (do cordel ao teatro europeu) ao seu modo. Conserva a língua popular, mas, com grafia e correção gramatical eruditas. Prepara o espectador para uma moral conforme o cristianismo. É muito comum em suas peças a cena de um "juízo final" (juiz-acusador-defensor-réu).
Além de usar textos alheios, recriando-os, Ariano pratica a intertextualidade , refazendo cenas de suas peças(exemplo: "O auto da Compadecida") e enxertando-os em outras (em "A pena e a lei").
Suas fontes vão de Shakespeare até a Bíblia. A intertextualidade ( "comunicação entre textos") era prática comum desde a Idade Média. Ariano a mantém, utilizando o cordel, o bumba-meu-boi, o mamulengo e também mistura o popular ao erudito(Cervantes, Moliére), fazendo tudo às claras, muito bem explicado em prefácios , palestras e aulas.

PEÇAS PRINCIPAIS:

O AUTO DA COMPADECIDA(1955): Como sabemos, um "AUTO" é o teatro medieval de alegorias(pecado, virtude, etc.) . Personagens como santos, demônios. É um teatro de construção simples ,ingenuidade na linguagem, caracterização exacerbada e intenção moralizante, podendo conter o cômico. Para escrever esta peça, Suassuna baseou-se em folhetos populares - primeiro e segundo atos baseiam-se em, respectivamente, " O Enterro do Cachorro" e "A História do Cavalo que defecava dinheiro ", textos de Leandro Gomes. O terceiro ato é uma mistura de "O castigo da sabedoria", de Anselmo Vieira e "A peleja da alma", de Silvino Pirauá Lima. A invocação de João Grilo à Maria e o nome "Compadecida" também são inspirados em textos populares. João Grilo é o herói picaresco, passou fome e mente para ganhar o que quer, seu amigo Chicó também é mentiroso. A infidelidade da mulher do padeiro, a mesquinhez deste, o anticlericalismo e o cangaço são analisados por Suassuna num julgamentopresidido por Maria, Jesus (negro) e atiçado por uma figura diabólica. No final, João Grilo volta à vida depois de morto.
A FARSA DA BOA PREGUIÇA(1955): Escrita em versos livres, tem trechos cantados. Cita a Bíblia e Camões, poeta da Renascença portuguesa. Cada ato tem uma certa independência um do outro ("O peru do cão coxo", "A cabra do cão caolho" e "O rico avarento"). A inspiração de Suassuna desta vez recai sobre a arte do mamulengo, teatro de bonecos do Nordeste, com suas pancadarias e mestres, sua trama simples , como por exemplo, o patrão sempre é culpado. A história do diabo que quer levar uma mulher e um homem para o inferno. A exploração do homem pelo homem. A falta de caridade , a preguiça, a prova imposta à mulher, a vitória, seres celestiais disfarçados de pedintes e seres infernais oferecendo o pecado são temas que mais uma vez nos remetem à referida simplicidade medieval que apontamos no início deste estudo.
O CASAMENTO SUSPEITOSO(1957) : É uma comédia de costumes. Trata do tema casamento por dinheiro. A ação se passa na casa da matriarca de uma família, dona Guida. Travestimentos, cenas de pancadaria e sátira aos membros da igreja e da justiça compõem esta peça. Cancão (figura tomada emprestada do bumba-meu-boi) é o empregado esperto e também faz lembrar alguns personagens das comédias de Molière (autor de comédias, francês).
O SANTO E A PORCA(1957), o casamento da filha de um avarento. O "santo " em questão é Santo Antônio e a "porca" é um cofrinho, símbolo do acúmulo de dinheiro (tão protetor quanto o santo).

A PENA E A LEI(1959) : Aqui Suassuna reaproveitou cenas de seus textos "Torturas de um Coração" e da "Compadecida", numa encenação que vai do boneco irresponsável ao ser humano pleno diante de Deus (Benedito, Mateus, Cheiroso e Cheirosa intensificam o cômico). A peça diverte mas também analisa as questões sociais: trabalho na usina, reivindicações dos trabalhadores, companhias estrangeiras, fome, prostituição em cenas curtas e de muita movimentação. A preocupação com a moral está sempre presente e o trágico é diluído pelo cômico . São personagens estereotipados . Suassuna também se utiliza das cantorias nordestinas.
RESUMINDO: a comédia da antiguidade, o teatro religioso, a arte popular do Nordeste e seus folguedos são as salutares influências deste mestre das letras que é o paraibano Ariano Suassuna, Ex-aluno do Colégio Americano Batista do Recife (dos 10 aos 15 anos, uma fase de sua vida que sempre recorda com saudade), professor de Filosofia, foi secretário de cultura do governo Arraes e que também é autor de três romances: "Fernando e Isaura" (sobre um amor impossível", ) ,"Romance d´A pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e Volta" .(Ed. José Olympio. RJ. 1970), sobre um poeta que na década de 30 sonha em escrever um épico nordestino e acaba preso como comunista e "História d´O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: Ao sol da onça Caetana", suas lembranças de infância e do pai, mescladas num sertão mítico.
Ariano é fundador do MOVIMENTO ARMORIAL , reafirmando no nordeste a influência ibérica, africana e indígena.
Ariano Suassuna e Moisés Neto

A musicalidade dos textos de Ariano é agreste. Sua poesia rebrilha à luz ardente do Nordeste.
"Não faço distinção entre a cultura popular e a erudita. A cultura brasileira, a cultura popular brasileira, não está ameaçada . Ela é resistente. Estão tentando matá-la, mas não conseguirão" , diz Ariano e nos convida ao deleite com pérolas do cancioneiro ibérico, a arquitetura africana, as cores da África, textos de José de Alencar, de Aluízio Azevedo. E é no Romanceiro popular que Ariano mais se inspira. Nas novelas de cavalaria, nos amores incríveis, nos heróis picarescos (zombeteiros) que permeiam as histórias que o povo conhece. Ele chega a usar um mesmo texto várias vezes como base para sua recriação. "A novela da Renascença é picaresca. O personagem principal é a Fome". Emigra para o Brasil o herói pícaro ibérico, o astucioso que difere do opressor que é o lado ruim . Ao comentar o Brasil antes de Cabral, Ariano reafirma nossa cultura milenar :"Existia teatro indígena antes da chegada dos jesuítas . É absurdo centralizar a origem do teatro. O teatro japonês não nasceu na Grécia. Tem outra origem. O teatro indígena é um teatro de máscaras e excelentes figurinos e enredos fascinantes que envolvem sua religiosidade. Eu queria que um cineasta brasileiro fizesse com este tipo de teatro brasileiro o que o cineasta japonês Kurosawa fez com o antigo teatro japonês, o teatro Nô e com o Kabuki . Injustiça social não é base para a arte popular. Ela também não é primitiva. Os violeiros vêem televisão, os artistas populares transformam as informações universais em linguagem com temática local. Temos que fortalecer nossa cultura". Para isso, Ariano usa seus conhecimentos de Filosofia, História e Literatura, trabalhando o belo de forma dialética, unindo-o ao cômico misturando o espírito intelectual com a esperança no homem, fundindo nossa herança barroca com um espírito neoclássico .
Análise do "Romance d´A Pedra do Reino" (1970) : Ariano recheia seu livro "Romance d´ A Pedra do Reino" com humor malicioso e exibe sua perícia na selva das palavras. Mistura nobres e pobres num processo criativo ímpar. Os colonizadores do Brasil aparecem como bravos que tiveram coragem de matar para estabelecer novos rumos. Ariano traz para a narrativa suas experiências com o teatro e a poesia, brinca com a metalinguagem, expõe os "mistérios" da criação. O tema central do romance são as artimanhas de Quaderna e a trágica história dos seus antepassados na cidade de São José do Belmonte, interior de Pernambuco. Ariano, através da narração em primeira pessoa (Quaderna), descreve paisagens e situações alucinantes, reinventa a cronologia, adapta fatos históricos à sua ficção ( a magia das grandes navegações, as cruzadas, os romances de cavalaria, as revoluções. Se Alencar foi exuberante mas não ousou exibir um herói picaresco, Ariano, com seu Regionalismo natural, busca as interseções entre o popular e o erudito, misturando a poética aristotélica com Romantismo e buscando o êxtase criativo num realismo que alguns intelectuais rotulam de mágico, fantástico. O encatatório, o mítico, o exótico vão delineando o espaço criativo que traça o painel do sonho de uma monarquia de esquerda , sonho que Ariano alimentou durante algum tempo. Obcecado em criar uma epopeia nordestina, o narrador torna- se cômico e o recurso Deus ex machina(sobrenatural) surge para resolver as inquietações da alma que perturbam a raça humana. Outro mito recorrente é o sebastianismo.

Podemos até arriscar em julgar o discurso de Ariano como um discurso maniqueísta que recusa a polifonia. Mestre na arte literária, ele criou um herói bufão numa espécie de circo fantasioso e hedonista em busca de um sentido , de dignidade, num emaranhado de "causos" alinhados por uma escrita competente que se utiliza do pictórico (xilogravuras) para reforçar seu discurso que, no fundo, transforma o interior de Pernambuco numa espécie de Camelot da caatinga, onde humor e malícia unem-se ao ingênuo, à lenda do cavaleiro que enfrenta as instituições (representadas no texto pelo Corregedor) e o imaginário supera o racional na reinvenção do passado histórico, através da alquimia verbal típica de Suassuna que rompe a linearidade, enxertando a todo instante várias tramas secundárias à narrativa central, numa colagem que redimensiona a obra em pequenos contos. O julgamento de Quaderna é a espinha dorsal do texto que vai buscar nos poetas populares (cordel e emboladores ) suas referências. Depois de trair seus amigos covardes, Quaderna busca a imortalidade através da Literatura , quer ser fidalgo. Quer louvar sua estirpe. Tenta reiventar Homero , a sua Odisseia é através do Atlântico nordestino e sua Ilíada tem como palco o sertão, ali está a Onça Caetana( a morte, a vida , o amor, a nacionalidade). Seres fantásticos pululam ao lado de personagens estilizados numa narrativa explosiva recheada de situações absurdas .


Muitas ações de Ariano também geram polêmicas, como seu posicionamento radical na época do Manguebeat, ou ainda suas opiniões sobre figuras como o (falecido) presidente da Venezuela, Hugo Chaves, que, em visita ao Recife, esteve com o escritor e sua esposa.


                                                   Zélia, Chaves, Adriana e Ariano



quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Ainda impactado com o espetáculo "Nó", da Cia Débora Colker, no Recife. Ela também traz  "Tatiana", coreografia que tem cunho narrativo e se inspira em obra literária.
Vale a pena conferir. Lírico, dinâmico, encantador, apenas alguns adjetivos que não contemplam a amplitude do trabalho deste pessoal.

sábado, 24 de agosto de 2013

Se non è vero, è ben trovato.



Dilma passeou de moto por Brasília, dia 4 de agosto, sonho antigo (!),  e agora o político que deu carona a ela, que não pode pilotar, está fazendo a rota 66, famosa pelos easy riders da vida e postou uma foto no face com sua máquina. Como é a cabeça deste povo? O dólar  com a cotação humilhando o real eleva dívidas brasileiras.
Ah! Como precisamos de uma imensa reforma íntima!
A arte, por sua vez, no Brasil parece desafiar qualquer tipo de amorosidade crítica e se enfronha nas brenhas de um Brazilian way of life entediante e repetitivo. A música ainda parece a mesma de 10 anos atrás e pingando algo que ainda não se pode classificar muito bem. Porque hoje é sábado há uma necessidade de fazer algo especial, mas se fosse segunda -feira haveria as mesmas necessidades, não é?
Neste imbróglio é terrível ver que o sonho de um brasileiro era ser soldado norte-americano no Afeganistão (realizou).
É a este tipo de necessidade que me refiro. E este tangolomango parece tão nonsense... Hollywood sem filtro... cafezinho brasileiro...
A MTV é ianque, certo, mas proporcionou grandes shows com artistas brasileiros, sendo o de Cássia Eller um dos melhores da casa. Agora a Abril Cultural vendeu a marca no Brasil para a VIACOM e vai ser paga. Mas a emissora entrou realmente numa decadência com uns apresentadores querendo aparecer mais do que a boa música que deveria ser a prata da casa. Da música também vem uma estranha, bizarra notícia:O dentista canadense Michael Zuk quer clonar John Lennon  usando o DNA de um dos dentes do Beatle, que comprou em 2011, um molar (por cerca de 70 mi dólares, a um filho de uma ex-governanta de Lennon, Dot Jarlett). O dente foi extraído na década de 60 e ficara com a tal ex-governanta.
E por falar em TV, é estranho o modo como a sexualidade vem sendo tratada na TV aberta em suas novelas, leia-se nas novelas da rainha-mãe da TV aberta. O corpo-objeto vem cercado de cuidados marqueteiros, porém o que mais chama atenção é que o invólucro é castrante. Ontem houve uma acusação: "você é virgem!"
E hoje é o dia mais cercado de superstições do ano. Vejamos como desemaranhar tais tramas, sem dramas. Há sempre uma possibilidade de tudo melhorar.
Mas para que ninguém saia daqui sem levar algo de bom consigo, deixo esta canção com Marina Lima, que hoje está no Recife, para que vocês relaxem:

E aconselho que todos assistam ao filme FLORES RARAS. Realmente Bruno Barreto está de parabéns. Glória Pires está magnífica, assim como Miranda Otto.

Ah! Como é bom assistir a um filme bom...

 É um dos mais belos filmes brasileiros que já vi. Delicado, profundo, poético. Vale como história, como exemplo de delicadeza e mergulho profundo na alma humana. O delicado movimento da câmera, o enquadramento, a direção de arte, a centralização do drama, o cuidado com o eixo narrativo.... lógico que não é um filme nota dez, mas um filme que tem muito a dizer e diz. A trilha sonora cuidadosamente planejada menos impõe do que sugere climas, o que é muito importante. A poesia de Bishop é lançada em doses homeopáticas, mas é como se permeasse toda a produção. E aí vai um dos poemas  mencionados no filme:


One Art
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster. 
Elizabeth Bishop



Numa tradução imperfeita:

A arte de perder (Elisabeth Bishop)

A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero, A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subsequente Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério




quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Ataque ao Cine São Luiz: Pensa, Recife

Mascarados se manifestaram queimando ônibus no Recife, destruíram, dentre outras coisas, as vitrines do Cine São Luiz (para quê?). Claro que sou contra a destruição do patrimônio público. Como diria Cazuza: mostra tua cara! Quer protestar? Tudo ótimo. Mas por que  atacar o que é do povo? Vá acertar o alvo!


O Cinema São Luiz foi uma árdua conquista. E agora isso. Faça-me o favor. Querem a cidade em chamas? Quebrar os vidros de um cinema popular e histórico?  Será que esta será a única forma de protestar? Destruir bicicletário? Depredar o Metrô?

Bling ring!

Sofia Coppola já ganhou o Leão de Ouro em Veneza e desde seu  o primeiro longa, "As Virgens Suicidas" (1999) já mostrou força, mas com  seu novo produto,  "Bling Ring - A Gangue de Hollywood", muito além de tratar de desejos materiais ela não consegue traçar perfil da sociedade materialista, que tem ídolos como Paris Hilton, Orlando Bloom, Lindsay Lohan e outros... assim. Para quê uma diretora bancar a professora de comunicação? A arte neste filme serve apensa de exposição do objeto. Não há reflexão nem proposta disso.
É um filme objeto.
Rebecca, Marc,Chloe Nicki (Emma Watson) e Sam no seu jogo com  celebridades são tão dúbios quanto o American way of life permite. Paris Hilton, dizem, autorizou gravações do filme em sua casa!
Ah! A arte...
A propósito: O bling-bling, ou simplesmente bling, é um estilo, adotado principalmente por rappers que se caracteriza pelo uso de muitas joias e brincos. Esse estilo foi chamado de bling-bling por ser uma referência ao "som" das caixas registradoras antigas, indicando possuir uma vida abastada devido a Incessante entrada de capital. Também se denomina 'Bling-Bling' o gênero de rap, onde as letras notoriamente fazem menções a se ter fácil acesso a qualquer coisa que o dinheiro possa comprar.






domingo, 18 de agosto de 2013

É assustador o poder deste tipo de Estado

NOSSO ESTRANHO MUNDINHO: David Miranda, companheiro de um dos  jornalistas que denunciaram a espionagem estadunidense, industrial e política, ficou “preso” por nada em Heathrow, aeroporto em Londres, querendo voltar para o Brasil. A investigação inglesa disse  que pode deter suspeitos sem qualquer mandado judicial e proibir a vítima de consultar um advogado. By the way: seus celular, notebook, câmera, pendrives etc foram CONFISCADOS!O companheiro dele publica artigos que revelam algo que não ajuda a alta do dólar? É assustador o poder deste tipo de Estado. 


Cinema pernambucano em alta, TATUAGEM, direção de Hilton Lacerda, ganha o prêmio de melhor filme no festival de gramado e Irandhir Santos o melhor ator. A temática é a da transgressão e se baseia na história do cabaré Vivencial Diversiones, no Recife dos anos 70/ 80. A produção da Rec merece novamente destaque(inter) nacional. Parabéns para toda a equipe!

                                                               Parte do elenco do filme TATUAGEM

Nada é tão absurdo que não possa ser banal

Num domingo chuvoso a cidade age entre  paredes e esquenta o mais impossível destino. O insólito faz-se concreto e dissolve-se a natureza em prazer e dor.

                                                         Nada é tão absurdo que não possa ser banal


Tudo parece arte quando vemos os prédios e as coisas, lá longe. Os corpos aquecem-se com toques, livros e imagens virtuais. Tudo é esperança e afeto quando a melancolia estanca.
O que dizer sobre um novo dia de sol?
Logo.
Logo.
Nos jornais artistas e críticos espalham-se de maneira a fazer da vida algo mais concreto. Eternizando o palpável e tentando escolher o melhor e mais inteligível. Enquanto isso o etéreo vai de fluido em fluido tomando forma. O óbvio e o poético fazem parte da mesma lição.
E la nave va...

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

MIDIEVAIS DEMAIS!


O espião janta conosco: um funcionário do mais alto escalão americano vem ao Brasil dizer que continuarão nos espionando, mas pensam em facilitar a ida de alguns brasileiros para os EUA!
Fogo sobre o Cairo! Mais de 700 manifestantes foram executados por forças do repressão do governo egípcio.Mesmo que a Irmandade Muçulmana queira que o presidente (deposto) Mohamed Mursi volte ao poder, ela cancelou protestos no Cairo, temendo os atiradores do Exército egípcio, “respaldado” em “ofensiva diplomática” nas suas ações contra o “extremismo”. O chanceler interino do Egito, senhor Nabil Fahmi, promove a formação da comissão para investigação do que tem ocorrido lá desde dia 30 de junho, dia golpe militar que tirou Mursi da presidência. A comunidade internacional deve deixar o Egito nas mãos dos egípcios? E a  internacionalização da crise? Os aliados internacionais A União Europeia diz que a violência e mortes não podem ser toleradas (direitos humanos).



ATROPELADO: Alceu Valença, 67, no RJ por uma bicicleta, postou no Facebook a foto com uma mão enfaixada; foi no Leblon ; o ciclista não prestou socorro. Resultado: um mês sem tocar violão e show adiado. 






E agosto continua soprando frio, o bafo quente nosso de cada dia

 
Verão europeu segue em alta...
Choca ainda o nosso país terem acusado um garoto de 13 anos de ter executado sua família numa história cheia de contradições e falsas pistas. A mídia segue atônita. Mais um caso para um bom investigador, corajoso, visto que muitos dos envolvidos são militares, policiais civis etc.
Pernambuco segue dolorosamente uma sina de vitórias virtuais. Recife invadida por miseráveis entrega-se a um frenesi só visto antes com a catastrófica seca dos anos 80.
Os cargos públicos parecem ocupados por quem pretende fazer o melhor possível, mas a situação está para lá de caótica.
Produtores teatrais resolveram anunciar uma estratégia nova: o público paga quanto quiser pelo ingresso nos teatros locais. Resultado: 1 real, 2 reais...
É estranho o Teatro do Parque (Prefeitura do Recife) fechado.

    Azar da cidade: teatro fechado

Uma operação desmonte também está em andamento na educação Estadual. Terceirização, negociação com transferência de escolas para os municípios (com menos verbas, além dos problemas com o quadro de funcionários que entram num verdadeiro xadrez de interesses escusos).

E quanto à Literatura? O que será que será? Midievalismo pulveriza bibliotecas de impressos. A nova Alexandria exclui Cleópatras e Césares de qualquer vestígio pré-romântico. STOP MAKING SENSE!

O cinema pernambucano apresenta suas neste agosto de inconstâncias palpáveis: TATUAGEM, de Hilton Lacerda é a bola da vez. QUEM TEM MEDO DO VIVENCIAL DIVERSIONES? (o filme é sobre um cabaré que tinha este nome e funcionou no final dos 70 e início dos 80 no Complexo de Salgadinho, Recife/Olinda...). Risos e sisos. Parece que a mentira é bem melhor que a lenda ou a verdade. A cavalgada das cachorras faz-se mais ampla do que a das Valquírias? Só o tempo dirá.

                                  Henrique Celibi, Fábio e Guilherme Coelho: Artistas do Cabaré Vivencial

E a pergunta que não queria calar terminou levando gás de pimenta e bala de borracha num junho julho que agora se faz mais carioca do que nacional popular.

Brasil é mundo, Recife é Brasil. Assaltaram a dramática. A crise é teatral, visceral, transcendental.
Apocalipse já parece brincadeira virtual, porém voraz. A produção dramática no recife vai de gota em gota provocando falta de sede... paradoxalmente, pois pressentimos que este pode ser o início de algo  grandioso que se aproxima.

No entanto o futuro vem como uma brisa suave reafirmar o progresso em vários níveis, não parece assim?

Amor em tempos de IDADE MÍDIA, pois nós, querendo ou não, somos MIDIEVAIS demais.
E para não dizer que não falei da terceira menor avenida do mundo, aí vai uma foto da inauguração da Avenida Guararapes, em 1952, Recife:

                                         A terceira menor avenida do mundo (até pouco tempo atrás)

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

REALISMO E NATURALISMO NA LITERATURA BRASILEIRA: uma introdução, por Moisés Neto


                                                    


    O REALISMO:

-    O homem e a sociedade em sua totalidade
-    O amor adúltero
-    O dia-a-dia massacrante
-    O egoísmo e a mentira
-    A impotência do homem diante dos poderosos

“O Realismo é uma reação contra o Romantismo: O Romantismo era a apoteose do SENTIMENTO; - O REALISMO é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houve de mau na nossa sociedade.”
(Eça de Queirós)

Em algumas produções da Estética Romântica como a poesia de Castro Alves, o romance de Manuel Antônio de Almeida (MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS), os regionalistas Franklin Távora, Visconde de Taunay – podemos observar manifestações contrárias ao sentimentalismo, a idealizações. São posturas anti-românticas nascidas das mudanças sociais, econômicas, científicas, ideológicas do momento.

O homem da 2ª metade do séc. XIX será muito mais OBJETIVO e IMPESSOAL face ao próprio contexto no qual está inserido. Terá uma concepção muito mais materialista do mundo e a arte será um instrumento muito mais de denúncia, daí a imaginação ceder lugar ao momento presente, à contemporaneidade.
Com a nova Revolução Industrial, o avanço tecnológico e científico modificam-se os processos de produção e a própria economia que ganha novos rumos. Importa mais do que nunca a realidade física, o mundo concreto, um mundo que se explica a partir dele mesmo. Justifica-se assim o porquê do materialismo e objetivismo serem as bases do pensamento realista. A burguesia urbana cresce cada vez mais e vive o luxo  e o poder sobre o mundo.
As tendências literárias deste período (Realismo / Naturalismo / Parnasianismo) têm início em 1857 com a publicação do romance realista Madame Bovary de Gustave Flaubert; Thérese Raquim, de Émile Zola (1867). Fundou-se o Naturalismo, seguimento da corrente Realista, e antologias parnasianas intituladas Parnaso Contemporâneo (1866). Este último foi um retorno da poesia ao estilo clássico – estilo do qual os românticos se afastaram. Veja que o Parnasianismo merece um estudo à parte.
Estes três estilos divergem formal e ideologicamente, mas têm pontos de contato: a visão de mundo objetiva (que trazem para o texto) e o gosto pelos detalhes, pelas descrições.
Podemos dizer, de modo geral, que o Realismo vai se preocupar com o comportamento humano (indivíduo), o Naturalismo vai desenvolver um realismo mais científico e o Parnasianismo vai retornar ao mundo clássico e seu estilo, ficará distante, portanto, do “estéril turbilhão da rua”.

Contexto Histórico

A GERAÇÃO DO MATERIALISMO


-    A consolidão da burguesia no poder
-    Triunfo do capital industrial
-    Ciência, progresso e materialismo são palavras de ordem (cientificismo).
-    Apogeu da Revolução Industrial
-    Avanço científico e tecnológico (eletricidade, telégrafo, locomotiva a vapor) das ciências como Física, Química, Biologia.
-    As massas trabalhadoras exploradas nas cidades industriais (proletariado x burguesia).
-    A publicação do manifesta comunista de Karl Marx que define o Materialismo Histórico
-    Explosão urbana
-    Fermentação político-social.

·      Correntes científico – filosóficas da época

Deixaram marcas visíveis na literatura:

a)     POSITIVISMO (Augusto de Comte) – Todo conhecimento só tem valor se provier das ciências. Rejeitam-se explicações religiosas, metafísicas. O homem tem capacidade de amar e ser solidário socialmente, assim pensou Comte.
b)     DETERMINISMO (H. Taine) – O comportamento humano é determinado por forças do meio, do momento histórico, da raça.
c)     EVOLUCIONISMO (Darwin) – O homem é produto da evolução natural das espécies. O homem é visto pelo aspecto biofisiológico.


 



Socialismo Utópico

Vale destacar que as Ciências Naturais se desenvolveram (principalmente a Biologia) bem como as Ciências Sociais. No que tange ao ponto de vista político-social irrompe uma nova classe social (contrastando com a classe média burguesa): o PROLETARIADO. Essa nova classe formada pelas massas de trabalhadores ao expressar seus anseios geram lutas, crises da sociedade burguesa. Essas crises sociais terão reflexos significativos na arte e a camada operária marginalizada (fora dos benefícios da Revolução Industrial) começa a se organizar. “Os acontecimentos exigem  a participação do artista”.
O novo quadro social será examinado pelo artista à luz das teorias “SOCIOLÓGICAS, PSICOLÓGICAS ou BIOLÓGICAS”. É sob este prisma que a prosa Real – Naturalista se desenvolve. A burguesia se consolida enquanto classe detentora do poder graças ao fortalecimento – Racionalismo tornam-se palavras-chave e O Real – Naturalismo é conseqüência das transformações ocorridas na época.

Estas transformações provocaram, no escritor, necessidade de descrever costumes, relações sociais, comportamentos, conflitos psicológicos. O Naturalismo trabalhou estes aspectos revestindo-os de cientificismo, influência das teorias da época.

Características da linguagem da Prosa Realista

- Objetivismo (a verdade exata, fruto da observação).
- Impassibilidade (o escritor fotografa os personagens por dentro, obedece a uma lógica rigorosa).
- Narrativa lenta, rica em detalhes, descrições.
- Precisão quanto ao tempo e espaço.
- Personagens esféricos, ambíguos, complexos (exibem-se defeitos e qualidades).
- Casamento por interesse, “amor” ligado a interesses sociais, forma de ascensão social.
- Análise psicológica do personagem (realidade interior X realidade exterior): Jogo do SER X PARECER.
- Crítica à sociedade burguesa e seus “valores” (Machado de Assis faz de forma indireta).
- Imoralismo.
- Fim da idealização da figura feminina e do modelo de herói romântico.
- Contemporaneidade.
- Preocupação estética e com o estilo.

A corrente naturalista

Os estudiosos apontam o Naturalismo como “um prolongamento do Realismo”. A estetica naturalista denuncia uma visão alicerçada nas correntes filosófico-científicas da época e nas novas idéias sociológicas:
A comprovação científica dos fenômenos (POSITIVISMO) regula as situações; a camada social é um organismo vivo com todos os ciclos de sua evolução (EVOLUCIONISMO); o homem é produto do meio, da raça e do momento histórico em que vive (DETERMINISMO), enfim predomina uma visão científica da existência. A literatura irrompe no cenário deste período como subordinada à atividade científica: “meu desejo é pintar a vida, e para este fim devo pedir à ciência que me explique o que é a vida, para que eu a fique conhecendo”. (Émile Zola).

Vale destaca ainda que o escritor realista observa, analisa o comportamento do homem na sociedade e narra; o escritor naturalista chega a uma etapa posterior à observação que é a experimentação. Ele comprova através da ciência. (Veja que o exagerado cientificismo da época levou os escritores a associar literatura e ciência). Conclui-se assim que a Prosa Realista tem aspecto mais documental e a prosa Naturalista, assume as características de Romance experimental.

Características da linguagem da Prosa Naturalista

-          Descrição objetiva apoiada em impressões sensoriais.
-          Narrativa lenta. O narrador é onisciente. Coloca-se de fora.
-          O ambiente descrito reporta-se às camadas inferiores da população (lavadeiras, mascates).
-          Predomínio do instinto.
-          Zoomorfização (as mesmas leis que regem os animais, regem os homens).
-          Predomina a linguagem denotativa.
-          Arte de denúncia, crítica social aberta.
-          Dá-se relevo aos aspectos mais torpes e degradantes da vida.
-          Influência maior da Biologia.
-          Narrativa centrada nas camadas inferiores.
-          Amoralismo.
-          Não há muita preocupação com o estilo.
-          Ações, gestos, falas, ambientes são relevantes para o escritor.
-          Personagens patológicos (legião de bêbados, assassinos, incestuosos, prostitutas – “horrores cientificamente comprovados).

O Real – Naturalismo no Brasil

Situação Histórica:

1870   Acentuam-se as crises da sociedade agrária brasileira.
1871   Aprovada a Lei do Ventre Livre.
1875   Em Portugal, Eça de Queirós publica “O Crime do Padre Amaro”, que iria influenciar em muito as idéias realistas no Brasil.
1878   Publicação, em Portugal, de “O Primo Basílio”, de Eça de Queirós, importante na divulgação das idéias realistas no Brasil.
1881   “O Mulato”,  de Aluísio Azevedo inicia o Naturalismo no Brasil: “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis marca o início do Realismo brasileiro.
1882   Forma-se a “Escola do Recife”, sob a direção de Tobias Barreto.
1885   Lei do Sexagenário.
1888   Lei Áurea.
1889   Proclamação da Republica.
1891   Primeira constituição republicana brasileira. Deodoro da Fonseca – presidente da república. Deodoro renuncia, Floriano Peixoto assume.
1894   Prudente de Morais assume a presidência, depois de muitas agitações políticas.
1897   Campanha de Canudos, Fundação da Academia Brasileira de Letras (que veio, de certo modo, a oficializar a literatura).



EXERCÍCIO

Analise o último capítulo do romance “Dom Casmurro”:

CAPÍTULO CXLVIII / E BEM, E O RESTO?
Agora , por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Mata-cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: "Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti". Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.
E bem, qualquer que seja a solução, uma cousa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à "História dos Subúrbios”.
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


Agora observe um trecho do romance “O mulato”, de Aluísio de Azevedo.
"- Ele não é feio... a senhora não ache, D. Bibina ?... segredava Lindoca à outra sobrinha de D. Maria do Carmo, olhando furtivamente para o lado de Raimundo.
- Quem? O primo d’Ana Rosa?
- Primo? Eu creio que ele não é primo, dona !
- É! sustentou Bibina, quase com arrelie. É primo sim, por parte de pai !...
Por outro lado, Maria do Carmo segredava a Amâncla Souselas:
- Pois é o que lhe digo, D. Amância: muito boa preta!... negra como este vestido! Cá está quem a conheceu!...
E batia no seu peito sem seios. - Muita vez a vi no relho. Iche !
- Ora quem houvera de dizer!... resmungou a outro, fingindo ignorar da existência de Domingas, para ouvir mais. Uma coisa assim só no Maranhão! Credo!"
Compare os textos: ______________________________________________________________________________________________________________________________.______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________