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sexta-feira, 29 de abril de 2016

A PROPÓSITO DE POLÍTICOS, POLÍTICA E SUBJETIVIDADES TANTAS

Gonzaga Leal

De minha parte, constato que nos dias de hoje temos medo de sonhar e até medo de viver e, ao invés da experiência (que envolve risos, dores e sustos) o tal dito homem contemporâneo consome o não vivido e a TV vai entulhando tudo de imagem e soterrando o gesto criador.
Tudo se torna obsoleto com rapidez, numa velocidade que nos impede o pensamento reflexivo e nos intensifica os medos de morrer, de fracassar e de enlouquecer.
"Estamos desamparados" é uma sensação geral que é levada a tal ponto que torna difícil e conflitante a prática coletiva.
Vivemos a "cultura do desvínculo", como sugere Eduardo Galeano. O outro é um competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser usada. Aprendemos o cinismo e o descompromisso ético como estratégias defensivas. Lamentável projeto social de modernidade que produz um sistema que não dá de comer nem de afetos. Além da miséria material, essa miséria ética e psicológica que nos torna famintos de beleza, de liberdade e também de afetos. O que observa-se é a radiografia de subjetividades impotentes e onipotentes como representativas da dita contemporaneidade.
Nessa atmosfera temos o impotente a viver um passado nostálgico e um presente adiado em nome do Grande Dia; noutro caso temos o onipotente indiferente ao estatuto da pessoa que tem seu semelhante e vive o presenteísmo do happening e do instantâneo.
Somos um país em que essa mistura nebulosa de potência e fragilidade nos reforça uma esperança faminta, mas prudente, talvez, até porque, temos sido obrigados a desenvolver maior suportabilidade ao imponderável, à ruptura, à surpresa, à angústia, à necessidade imperiosa de adiamento e eterna postergação.
Palmo a palmo, passo a passo, ombro a ombro, um novo fazer social (que ainda não está pronto, mas existe enquanto possibilidade) parece estar sendo inventado na substituição da era do HomoFABER e do ideal técnico-científico. Um projeto social construído como uma obra de arte e comprometido com a expansão da vida.
Portanto, além da razão, o "feeling", Além da abstração, a empatia (experimentar de dentro). Além do macro-olho, o cuidado com as pequenas coisas do cotidiano. Além da exclusão do Eu, o encontro com o outro. Estamos vivendo o tempo de Dionísios (futuro e presente, razão e emoção, luta e prazer), tempo de descentramento, da indeterminação, da repescagem dos valores subtraídos pela dita modernidade.
Penso que mais do que nunca, é preciso sonhar e como diz um grafite pintado na estátua de Lênin, em Berlim: "de outra vez será melhor..." porque ainda há pessoas que acreditam que o homem não está condenado a olhar para o seu próprio umbigo e ao gesto compulsivo com relação ao dinheiro e ao poder.

Amém para todos nós.

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