por Moisés Monteiro de Melo Neto
A coerência é o último refúgio dos
sem imaginação, dizia Oscar Wilde. Assistir a DEUSES DO EGITO comprova a
eficácia da máxima citada. Sem medo do brega
(sentimentaloide) e do kitsch
(cafona), Hollywood continua a saga implacável
de recontar a saga e as mitologias da humanidade ao seu modo, o que
inclui o politicamente correto nesta era de teatralidade extrema alimentada
pelas redes sociais no eterno jogo do duplo, ou por melhor dizer, do múltiplo
da persona humana, já tão fragmentada em termos cibernéticos quanto era desde a
pré-história.
Toth ganha multiplicação de imagens que tratam do ego de forma divertida, etnia afro em alta no filme
O filme mencionado me fez perguntar a mim mesmo: Por que, Moisés? Por que você assiste a estas coisas? E a resposta veio a galope: porque você ama a arte e a literatura especificamente e não importa de onde ou como venham os textos até você, você tem que devorá-los e/ ou decifrá-los. E eis aqui mais um enigma esdrúxulo. Este episódio apipocacolado nos cinemas de luxo, ou não, com seus telões ou nas telinhas individuais por aí.
No caso é a cultura egípcia que tem que se adequar a uma tentativa de videogame a qualquer custo tornada emocionante e até... lírica. Sim, por que não? A camaradagem masculina, tão presente desde o início dom Olimpo norte-americano explode em cenas quase homoeróticas, ou melhor dizendo, homoafetivas entre Hórus e Beck, os heróis deste produto cultural.
A cena da esfinge é hilária...
A interpretação dos atores é, no mínimo, caricata e o roteiro parte do nada para lugar nenhum sem o menor pudor. Nada ali sugere a grande arte. Gerard Butler, um senhor que está tentando desafiar o tempo na exibição de um corpo sadio, que ele facilmente empresta às fantasias do poder do cinema, está mais cara dura do que nunca.
Às vezes o exagero extrapola qualquer senso comum e a patinação no óbvio explode em efeitos técnicos que beiram o irritante. Não promove a violência, mas utiliza-se dela de modo comum, como se o interesse fosse passar o tempo dos acólitos que chegam aos pequenos templos (pagãos?) que são as salas de cinema (quase todas localizadas em shoppings), refúgio e altar do consumo do necessário e do supérfluo.
Numa das cenas Hator diz a Hórus: "Você está parecendo um pirata!"
Estapafúrdio ou não, este filme traz de volta a questão da imortalidade e a questão da criação dos deuses. “De onde você assistiu a criação do mundo se não havia nada antes?”, pergunta o jovem Beck, um ladrãozinho com quem os espectadores são induzidos a se identificarem. Pois é brega & kitsch: o Egito e suas ânsias de imortalidade parecem ter atendidas suas preces, mais uma vez. Anúbis, como num delírio com trilha sonora que lembra o Iron Maiden (lembram do álbum Power Slave?) e uma direção que afrouxa e aperta alternadamente atores e efeitos numa confusão de propostas, a qual poderíamos dizer: pela baba de Rá transformada em pó! Grato por encher o mundo com essas bobagens e fazer-nos esquecer das reais (?) intenções desta indústria que logo mais escolherá seus “preferidos” e entregará a eles um troféu chamado Oscar, como em outras ocasiões e circunstâncias oferece o Nobel.
Vamos em frente que o futuro nos absolve e por enquanto são apenas deuses ao alcance de tickets para entrar no cinema e uma avalanche e de propaganda sobre coisas tão fúteis e para alguns... necessárias. Barbaridade!
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