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terça-feira, 14 de julho de 2015

Sobre o conto e o poema



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Uma reflexão de Charles  Baudelaire 

"Há um ponto no qual o conto é superior até mesmo ao poema. O ritmo é necessário ao desenvolvimento da ideia de beleza, que é o maior e mais nobre objetivo do poema. Ora, os artifícios do ritmo são um obstá­culo insuperável ao desenvolvimento minucioso de pensamentos e expres­sões que tenham por objetivo a verdade. Pois a verdade pode muitas vezes ser a meta do conto, e o raciocínio a melhor ferramenta para a construção de um conto perfeito. Eis a razão pela qual esse gênero de composição, que não é tratado com tanta elevação quanto a poesia pura, pode fornecer produtos mais variados e mais acessíveis ao gosto do leitor comum. Além disso, o contista tem à sua disposição uma enorme quantidade de tons, de nuances de linguagem – o tom reflexivo, o sarcástico, o humorístico, que repudia a poesia – e que são como dissonâncias, ultrajes à ideia de beleza pura. E é pelo mesmo motivo que o escritor que busca uma única meta de beleza em um conto trabalha em grande desvantagem, sendo privado do instrumento mais útil, o ritmo. [...]     A poesia não pode, sob pena de desfa­lecimento ou morte, assemelhar-se à ciência ou à moral; ela não tem a verdade por objeto, tem a si mesma. Os modos de demonstração da verdade são outros e estão em outros lugares. A verdade não tem nada a ver com canções. Tudo o que faz o encanto, a graça, o irresistível de uma canção privaria a verdade de autoridade e poder. Frio, calma, ­impassibilidade, o humor demonstrativo repele os diamantes e as flores da Musa; eis, portanto, o perfeito oposto do humor poético."

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