Caros colegas joycianos, envio-lhes esta elucidativa análise sobre o esquema rítmico criado por Dante para A Divina Comédia - apresenta o mesmo movimento que faz o riocorrente joyciano! (Lamentavelmente, não anotei os créditos).
Dante, sempre
Ao inventar a terza rima, Dante encontrou o veículo privilegiado para a progressão e extensas sequências narrativas ou expositivas pelo peculiar encadeamento que proporciona de cada tercina com as que antecedem e as que lhe sucedem. Esse encadeamento é peculiaridade da terza rima, [como mostra nas estrofes abaixo]:
Em meio do caminho de nossas vidas, (a)
vi-me sem rumo numa selva escura, (b)
ao desviar-me da estrada ali perdida. (a)
Ah! descrever o que era é coisa dura (b)
esta selava selvagem, rude e forte (c
que ao recordá-la é mal sem cura! (b)
Das cosias mais acerbas tenho a morte, (c)
mas, por tratar do bem nela encontrado (d)
narrarei o que mais eu vi por sorte. (c)
Dizer não posso como nela entrei, (d)
olhos turvos do sono tão pesado (e)
quando o real caminho abandonei. (d)
(Tradução de César Leal)
(...) a terza rima - com seu esquema de rima aba, bcb, cdc, ded, efe, etc, esta medida que Dante havia criado para sua Divina Commedia -, serve perfeitamente para o que Goethe quer representar: o sentimento da própria vida; enquanto o esquema da rima permanece o mesmo, suas rimas mudam continuamente e teoricamente podem ser conectadas infinitamente, gerando um processo sem fim parecido com a vida. Além disso, o que nas primeiras três linhas é interno (aba) torna-se externo nas próximas três linhas (bcb); o que agora é interno (c) trona-se externo nas próximas três linhas (cdc) e assim por diante.
Assim, as rimas progridem como uma flor que gera o fruto e a semente a partir do seu interior e que, por sua vez, se transforma em uma nova flor que abriga uma outra semente para uma nova geração de vida. aqui, forma e conteúdo entram em uma união perfeita
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