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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Teatro no Recife discute o papel da mulher na história da Grécia e que ecoa hoje pairando como fantasma a assustar o empoderamento feminino



Isa Fernandes, Suzana Costa e Sônia Bierbard, com direção de Cira Ramos e texto de Moisés Neto, clamam por justiça para três tristes gregas...



“Somos reprimidas pelo medo ao esquecimento” (disse Safo, poetisa, sobre a submissão da mulher grega). TRÊS TRISTES GREGAS, leitura dramatizada, com direção de Cira Ramos, texto de Moisés Monteiro de Melo Neto e tendo no elenco Isa Fernandes, Sônia Bierbard e Suzana Costa, dia 23 de janeiro, segunda-feira, às 20h, no TEATRO ARRAIAL ARIANO SUASSUNA, Recife, é também é sobre o papel das mulheres na Grécia antiga. Sabemos que elas não podiam participar dos debates públicos e políticos (não podiam ter propriedades ou administrar negócios, sendo sempre tuteladas pelos maridos ou por parentes masculinos mais próximos), no máximo eram autorizadas a frequentar festas religiosas, assistir a peças teatrais, ir a santuários, oráculos (não sacrifícios aos deuses, estes rituais eram exclusivamente masculinos. Elas eram como objetos do pai, do marido (não podiam escolher esposo); não havia, atrizes. Grega  mulher numa festa? Talvez prostitutas; quase não há relatos de insubordinação, mas resignação. Sair de casa?  Só fêmeas mais pobres , por  necessidade (nem tinham direito à cidadania) dentro de sua civilização. Suportavam o desprezo dos s; muitos  maridos as utilizavam apenas para procriação,viviam sob o controle dos homens (pai, seus irmãos,filhos tomavam decisões (cuidavam da casa, do dinheiro e podiam até...dar conselhos aos esposos, só). Criavam os filhos, de teciam,costuravam, enfim: o funcionamento diário da casa (as escravas cozinhavam, limpavam, traziam a água. As damas podiam visitar vizinhas, cuidando para não se bronzear, pois o ideal em beleza feminina era a palidez. A Grécia nunca foi governada nunca por uma mulher. Elas vestiam  túnicas e capotes. Muitas vezes era um retângulo de lã que media o dobro do tamanho do seu corpo; dobravam no corpo,fixavam nos ombros, e as túnicas longas. Aos homens cabiam: a força, a reflexão, o calculo, e à mulher: sensibilidade, intuição, sim, e aceitava-se que fossem... inconstantes, tolas... um acessório para o homem, a este cabia liderar  o mundo, a Grécia. Ah, tristes gregas... há algo muito maior que a história oficial ainda insiste em abafar?

SOBRE A  PEÇA TRÊS TRISTES GREGAS: DIÁRIO DE PERNAMBUCO

23 DE JANEIRO DE 2017




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SOBRE A  PEÇA TRÊS TRISTES GREGAS: FOLHA DE PERNAMBUCO 

23 DE JANEIRO DE 2017

 Moisés Monteiro de Melo Neto (Moisés Neto)


    O professor doutor Moisés Monteiro de Melo Neto (Moisés Neto), autor da peça TRÊS TRISTES GREGAS,  sugere que quando nos referimos ao gênero em literatura, tendemos automaticamente a associar este questionamento à forma e às vezes aos subgêneros contidos em cada uma delas, mas a questão “gênero” também inclui a dicotomia homem/mulher e a questão da voz, no sentido Bakthiniano, de posicionamento frente à organização da sociedade. Esta voz, o ethos, o tom, o sentido, vem sendo cada vez mais observado e os discursos “machistas”, principalmente desde os anos 50, “desconstruídos”. Filósofos franceses como Roland Barthes e Derrida serviram/servem de inspiração para intelectuais como a indiana Gayatri Spivak e outras que se unem em torno do questionamento sobre a posição opressora da voz masculina como dominante nos discursos históricos, antropológicos, psicanalíticos, literários, ideológicos enfim. Percebendo que em Simone de Beauvoir e seu livro “O segundo sexo” já se começava a tecer a ideia de respeito ao “outro”, hoje vemos que mesmo a idéia do “outro”, no caso das mulheres, às vezes justifica até uma visão patriarcal e que é impossível representar coerentemente este “outro”, isto é, a visão que a mulher tem do homem ou vice-versa, pois será sempre transcrito por um “eu”. A mulher, quer seja na literatura lírica, épica e dramática, atravessou milênios no papel de musa, muitas vezes foi representada no papel de submissa ou traidora como a bíblica Dalila, transgressora como Joana d´Arc, cujo maior delito teria sido travestir-se de homem numa época que proibia as mulheres, inclusive, de morrer pela pátria.

   Esbarramos agora no ponto da teoria: os textos femininos visitados pelos teóricos, quase sempre homens até o início do Século XX, eram vistos como textos de exceção. Contra isso, levantou-se a inglesa Virgínia Woolf que, no ensaio “Um teto todo seu”, fez da literatura o pódio onde sugeria às mulheres que sem independência - inclusive financeira - não haveria possibilidade de “voz”, aqui mais uma vez no sentido Bakthiniano, numa sociedade que as proibia até de frequentar determinadas instituições. Se observamos não só pelo lado das ideias e preconceitos dos teóricos mas da própria representação literária vemos a mulher apresentada como reprodutora, cujos filhos machos devem desde cedo dela diferenciar-se e serem alertados sobre este necessário distanciamento e o reforço da identidade masculina. As correntes teóricas literárias de hoje sofrem grande influxo dos estudos culturais, como as de Homi Bhabha, por exemplo, e apontam como correção aos antigos erros a sugestão, mais uma vez desconstrucionista, Bhabha serve de influência para intelectuais como Gayatri Spivak, por exemplo. Ela consegue arrancar das palavras o sentido e reescrevê-las em palimpsesto e catacrese, revertendo assim o discurso do machoopressor.
Os discursos pós-coloniais de teóricos como os caribenhos Stuart HallÉdouard Glissant e Fanon, também vêm a cada dia comprovando que a problemática dos gêneros na literatura, a questão da voz, não deve separar-se de outros como raça, etnia, classes sociais, homossexualismo, multiculturalismo enfim. As teorias feministas francesas apoiaram-se na psicanálise, as anglo-americanas nas questões marxistas, mas o que percebemos é que tais discursos constroem-se com bases num resgate que envolve a história de um silenciamento das mulheres na sociedade, silêncio este que aos poucos rompe suas últimas amarras. A escritora Heloisa Buarque tem um discurso recheado de ironia quando traça um estranho paralelo entre a mulher de hoje e um Cyborg, ser construído em laboratório. Tal criatura artificial superaria o modelo de família, nem “pais” nem “filhos”, religião metafísica (não voltaria ao pó, pois não veio do barro e como uma salamandra poderia até recompor suas partes físicas que se perdessem). Notamos que os teóricos usam tais exemplos para justificar seus posicionamentos antagônicos quando que se trata de conservadorismo social. Retrabalhar o discurso do outro, quer seja masculino ou feminino, em busca de estratégias libertárias, comparar tendências e buscar novas estratégias parece-nos um dos caminhos mais adequados nos dias de hoje em que a relação entre os seres e as coisas devem buscar reativar o senso crítico e não a reificação. Proponho algo similar a um palimpsesto que tanto exiba o que estava antes quanto abra caminhos para um novo quadro usando a linguagem para desconstruir o racionalismo e as noções de veracidade.

Morgan Leon registra plateia do espetáculo TRÊS TRISTES GREGAS no teatro Arraial, no Recife, 23/01/17


Morgan Leon registra plateia do espetáculo TRÊS TRISTES GREGAS chegando ao teatro Arraial, no Recife, 23/01/17


Morgan Leon registra cena do espetáculo TRÊS TRISTES GREGAS , no teatro Arraial, no Recife, 23/01/17












Destino trágico das gregas… ou nem tanto


Desforra, trapaça, morte por (in)justiça. Pathos pesado dessas gregas. Como se sabe, o mito de Orestes remonta ao ciclo troiano e trata da vingança dos filhos de Agamêmnon, Orestes e Electra, contra a mãe Clitemnestra e Egisto, pelo assassinato do pai. Aparece na Oresteia, do dramaturgo grego Ésquilo – composta pelas tragédias AgamemnonCoéforas e Euménides; na Electra, de Sófocles e na Electra, de Eurípides.
O mito de Fedra ganha pequenas variações em Eurípides, Sêneca e Racine, a partir dos contextos grego, romano e clássico francês. Mas basicamente mostra a destruidora paixão de uma mulher por seu enteado. Fedra era esposa de Teseu. Apaixonou-se por Hipólito, filho ilegítimo do marido. Rejeitada, ela acusa, falsamente, o filho adotivo de violação. E depois se mata.
Sarah Kane diagnosticou a degeneração da sociedade em O Amor de Fedra. Na releitura da dramaturga britânica são expostas as feridas do mundo contemporâneo que recebe tempero da hipocrisia, do cinismo e da atitude misógina.
Antígona é a continuação dramática de Édipo Rei, de Sófocles, que parece ter deixado a desgraça como legado aos quatro filhos (Etéocles, Polinice, Antígona e Ismênia). Etéocles assume o governo, mas não respeita o trato de revezamento de poder com o irmão Polinice. Em conflito os dois se matam e o tio Creonte – irmão de Jocasta, esposa de Édipo – decreta que Etéocles, receba as honrarias fúnebres e Polinice não. E ameaça com morte a quem desobedeça suas ordens. Antígona não aceita a determinação que considera arbitrária, por não respeitar as leis naturais mais antigas ou divinas que pregavam que todo homem tem o direito ao devido sepultamento.
A leitura dramatizada Três Tristes Gregas… é a única atração desta segunda-feira do 23º Janeiro de Grandes Espetáculos. Com direção Cira Ramos, a ação conta com Sônia Bierbard no papel de Elektra, Suzana Costa como Fedra e Isa Fernandes na pele de Antígone.
O escritor e dramaturgo Moisés Monteiro de Melo Neto vem com uma releitura da tragédia grega através das personagens femininas Fedra, Antígona e Elektra. Ele anuncia que tirou o mito do pedestal para fazer bulir ao rés-do-chão. E mistura o trio grego “com alcoviteiras, farrapos humanos e vícios” para ressaltar o papel das mulheres na Grécia antiga. Alardeia ambição esse texto que tem a “intenção de atingir o limite entre o justo e o injusto” daquela sociedade, mas para isso usa a lâmina do humor em combinação com a seriedade e o grotesco. Mas isso é apenas uma primeira leitura.
Ficha Técnica
Três Tristes Gregas
Texto: Moisés Monteiro de Melo Neto
Elenco: Isa Fernandes, Sônia Bierbard e Suzana Costa
Produção Executiva: Mísia Coutinho (METRATON)
Make up: Fê Uchoa
Design de luz: Eron Vilar
Sonoplastia: Fernando Lobo
Orientação corporal: Márcia Rocha
Criação de figurinos e adereços: Xuruca Pacheco
Programação visual: Ronaldo Tibúrcio
Participação especial voz na abertura: Magdale Alves
SERVIÇO
Três Tristes Gregas…
Quando: 23 de janeiro (segunda), às 20h
Onde: Teatro Arraial (Rua da Aurora, 463, Boa Vista), Recife
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia)

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