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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

18º FESTIVAL RECIFE DO TEATRO NACIONAL : uma aventura inesquecível

por moisés monteiro de melo neto (moisesneto)


Foi uma maratona de peças teatrais e debates e coisas e mais coisas, a semana passada,o 18º FESTIVAL RECIFE DO TEATRO NACIONAL 2016, que homenageou o MAMULENGO SÓ-RISO. Do sábado, dia 19,  com 'Memórias de um cão', do Coletivo Alfenim (PB), no Teatro de Santa Isabel (já adaptei Quincas Borba para um musical no circo e Ivaldo Cunha o encenou muitas vezes, assim como Brás Cubas , mas ali era o cão Quincas que era o narrador, enfim...); na segunda foi o Seminário de crítica, onde João Denys explicou parte da sua dramaturgia e dos processo de criação (master); na terá MEDEIA, por Albemar Araújo, no Teatro Joaquim Cardozo, na quarta ensaio com José Francisco.


Na quinta 'NÓS', do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça me senti no Oficina de Zé Celso, o metateatro desconstrucionista orgiástico a fisgar a essência do existir num país assim chamado mundo


 Na sexta saímos do FESTIVAL e fomos curtir outro circuito, o do Teatro da Caixa Cultural, onde tenho apresentado meus musicais junto ao Coletivo Esperança de Óculos, protagonizado por Djin Sganzerla, o drama Ilhada em Mim, Sylvia Plath (concebido por Gabriela Mellão é sobre uma poetisa americana que curto muito) Sylvia Plath (1932-1963º lance das suas depressões e sua relação com o poeta inglês Ted Hughes (1930-1998), aqui  André Guerreiro Lopes, também diretor e marido de Djin; a abordagem surreal é finíssima! A simbologia do cenário, o palco alagado, há uma camada d’água, na qual os móveis, roupas e papéis que flutuam, afundam e submergem de acordo com a tensão dos personagens. Há também as ótimas entrevistas radiofônicas de Sylvia e Hughes (só algumas são com as legendas projetadas, mas como falo inglês), estava ao lado de Jomard Muniz de Britto e Arion Santos, poetas que admiro, depois fomos ao Boi Neon, que faz parte do Bar Central, do Recife, encontramos a poeta Sônia Bierbard, ficamos por trás do Ginásio Pernambucano e olhando para a  Assembleia Legislativa de Pernambuco naquela noite estrelada e tão saudável, na mesa próxima sentou-se o Grupo Latão, e lá estavam Ticiana Pacheco, Breno Fittipladi, Júnior Sampaio e tantos outros que fizeram a cena da semana do Festival (parabéns, Romildo Moreira).  



No sábado, fomos assistir, eu e a atriz, produtora e pesquisadora Mísia Coutinho,  ‘O pão e a pedra', da Cia. do Latão (SP), no Teatro Hermilo Borba Filho (voltar a 1979 foi um barato) que durou quase três horas de engajamento, mas Telma Virgínia disse que sentiu que eles eram meio... coxinhas!  

Lula lá? A coroa do rei não é de ouro nem de prata: LATÃO mandou ver



No final gritaram “Fora Temer para sempre!”, mas não mencionaram Fidel Castro, que morreu naquela tarde (ah! Quero destacar uma fala do espetáculo do Latão que me deixou encucado: reproduzo aqui com imperfeição, fazendo o tratamento de canal necessário á memória: “não tenho tudo que gostaria de dar ao meu filho”, diz a operária que vi ser CDF dos patrões e até se travestir de homem para ganhar mais e ter respeito, ela continua: “mas dei a ele um chiclete PLOC, e ensinei-o a fazer bola”. (!) ; lembremos o poetinha:
 “Portanto, tudo o que vês

Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!”
(Vinicius de Moraes, O operário em construção)



 Detalhando que à tarde, eu estava ali, no Teatro Apolo, ligado na pesquisador teatral Leidson Ferraz lança neste sábado (26), às 15h, no Teatro Hermilo Borba Filho, também dentro da programação do 18º Festival Recife do Teatro Nacional, o acervo digital TEATRO TEM PROGRAMA!, com 780 programas de espetáculos teatrais do Recife e Olinda no Século 20 digitalizados página a página e compartilhados numa espécie de revista eletrônica. 


A produtora Mirian Juvino, no programa da peça  NOITE DOS ASSASSINOS, Recife, anos 80 (desenho Marco Hanois), PRODUÇÃO da  ILUSIONISTAS




Fiquei logo chocado em ver programas com espetáculos dos quais fiz parte e que nem eu tenho programa, como Dona Patinha Vai ser Miss (eu, Augusta Ferraz, Flávio Freire, Geane Bezerra e João, dirigidos por Buarque de Aquino, com música de Cláudio Aguiar), A iniciativa conta com incentivo do Funcultura e apoio da Fundação Joaquim Nabuco. Leidson criou inspiração para o acervo quando viu o livro “O Cartaz no Teatro”, uma publicação rara da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, que compila centenas de cartazes do teatro brasileiro, com atenção especial ao eixo Rio de Janeiro-São Paulo. O acervo Teatro Tem Programa! integra o Projeto Memórias da Cena Pernambucana e é organizado e coordenado pelo jornalista e pesquisador teatral Leidson Ferraz, com a colaboração de dezenas de artistas e/ou instituições que doaram parte de suas documentações ou permitiram os seus escaneamentos. A atriz Inalda Silvestre foi a primeira a permitir o acesso a grande parte das “relíquias”. “O teatro, como arte efêmera, fica um pouco mais palpável quando nos deparamos com estas suas páginas. Portanto, vale deleitar-se com este passado impresso em forma de “revista digital”, numa tentativa de prolongar a existência de tantas raridades da nossa história teatral. Já no domingo, fomos curtir o 'Fishman', do Grupo Bagaceira (CE), no Teatro Apolo. dois homens estão em um pequeno bote sobre as águas de um lago, frente a frente, sem saber o que dizer, sem conseguir fisgar qualquer assunto, qualquer coisa que valha a pena ser dita entre dois seres humanos. Fishman não se deixa pescar por um único tema ou por uma compreensão específica de mundo. O espetáculo abraça a complexidade e reconhece que tudo está em permanente interação, em um fluxo que vai além de qualquer conceito, mas que pode ser experimentado de corpo inteiro, momento a momento. A palavra não é a coisa. Há peixes infisgáveis. Eles vagueiam por águas profundas e densas, onde a linha do pensamento não alcança. O espetáculo adentra o lago escuro, experimenta isso. Não para conceituar, catalogar espécies exóticas, mas, talvez, numa tentativa de reconciliação desses peixes, infinitos peixes, que vivem dentro de nós e dos outros.

FISHMAN da Bagaceira delícias e complexidades do existir postas em xeque cósmico



Fishman não se deixa pescar por um único tema ou por uma compreensão específica de mundo. Abraça a complexidade e reconhece que tudo está em permanente interação, em um fluxo que vai além de qualquer conceito, mas que pode ser experimentado de corpo inteiro, momento a momento. Interessante a dramaturgia: Rafael Martins  e a direção: Yuri Yamamoto, que conheci em São Paulo num encontro de dramaturgos.  Bom que mais? Depois eu conto.

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