por moisés monteiro de melo neto (moisesneto)
Foi uma maratona de peças teatrais e debates e coisas e mais coisas,
a semana passada,o 18º FESTIVAL RECIFE DO TEATRO NACIONAL 2016, que homenageou
o MAMULENGO SÓ-RISO. Do sábado, dia 19, com 'Memórias
de um cão', do Coletivo Alfenim (PB), no Teatro de Santa Isabel (já adaptei Quincas Borba para um musical no
circo e Ivaldo Cunha o encenou muitas vezes, assim como Brás Cubas , mas ali
era o cão Quincas que era o narrador, enfim...); na segunda foi o Seminário de
crítica, onde João Denys explicou parte da sua dramaturgia e dos processo de
criação (master); na terá MEDEIA, por Albemar Araújo, no Teatro Joaquim
Cardozo, na quarta ensaio com José Francisco.
Na quinta 'NÓS', do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça me senti no Oficina de Zé Celso, o metateatro desconstrucionista orgiástico a fisgar a essência do existir num país assim chamado mundo
Na sexta saímos do FESTIVAL e fomos curtir outro circuito, o do Teatro da Caixa Cultural, onde tenho apresentado meus musicais junto ao Coletivo Esperança de Óculos, protagonizado por Djin Sganzerla, o drama Ilhada em Mim, Sylvia Plath (concebido por Gabriela Mellão é sobre uma poetisa
americana que curto muito) Sylvia Plath (1932-1963º lance das suas depressões e
sua relação com o poeta inglês Ted Hughes (1930-1998), aqui André Guerreiro Lopes, também diretor e marido
de Djin; a abordagem surreal é finíssima! A simbologia do cenário, o palco
alagado, há uma camada d’água, na qual os móveis, roupas e papéis que flutuam,
afundam e submergem de acordo com a tensão dos personagens. Há também as ótimas
entrevistas radiofônicas de Sylvia e Hughes (só algumas são com as legendas projetadas,
mas como falo inglês), estava ao lado de Jomard Muniz de Britto e Arion Santos,
poetas que admiro, depois fomos ao Boi Neon, que faz parte do Bar Central, do Recife,
encontramos a poeta Sônia Bierbard, ficamos por trás do Ginásio Pernambucano e
olhando para a Assembleia Legislativa de
Pernambuco naquela noite estrelada e tão saudável, na mesa próxima sentou-se o
Grupo Latão, e lá estavam Ticiana Pacheco, Breno Fittipladi, Júnior Sampaio e
tantos outros que fizeram a cena da semana do Festival (parabéns, Romildo
Moreira).
No sábado, fomos assistir, eu e a atriz, produtora e pesquisadora Mísia Coutinho, ‘O pão e a pedra', da Cia. do Latão (SP), no Teatro
Hermilo Borba Filho (voltar a 1979 foi um barato) que durou quase três
horas de engajamento, mas Telma Virgínia disse que sentiu que eles eram meio...
coxinhas!
Lula lá? A coroa do rei não é de ouro nem de prata: LATÃO mandou ver
No final gritaram “Fora Temer
para sempre!”, mas não mencionaram Fidel Castro, que morreu naquela tarde (ah! Quero
destacar uma fala do espetáculo do Latão que me deixou encucado: reproduzo aqui
com imperfeição, fazendo o tratamento de canal necessário á memória: “não tenho
tudo que gostaria de dar ao meu filho”, diz a operária que vi ser CDF dos
patrões e até se travestir de homem para ganhar mais e ter respeito, ela
continua: “mas dei a ele um chiclete PLOC, e ensinei-o a fazer bola”. (!) ; lembremos o poetinha:
“Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!”
(Vinicius de Moraes, O operário em construção)
Detalhando que à tarde, eu estava ali, no
Teatro Apolo, ligado na pesquisador teatral Leidson Ferraz lança neste
sábado (26), às 15h, no Teatro Hermilo Borba Filho, também dentro da
programação do 18º Festival Recife do Teatro Nacional, o acervo digital TEATRO
TEM PROGRAMA!, com 780 programas de espetáculos teatrais do Recife e Olinda no
Século 20 digitalizados página a página e compartilhados numa espécie de
revista eletrônica.
A produtora Mirian Juvino, no programa da peça NOITE DOS ASSASSINOS, Recife, anos 80 (desenho Marco Hanois), PRODUÇÃO da ILUSIONISTAS
Fiquei logo chocado em ver programas com espetáculos dos
quais fiz parte e que nem eu tenho programa, como Dona Patinha Vai ser Miss (eu,
Augusta Ferraz, Flávio Freire, Geane Bezerra e João, dirigidos por Buarque de
Aquino, com música de Cláudio Aguiar), A iniciativa conta com incentivo do
Funcultura e apoio da Fundação Joaquim Nabuco. Leidson criou inspiração para o
acervo quando viu o livro “O Cartaz no Teatro”, uma publicação rara da Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo, que compila centenas de cartazes do teatro
brasileiro, com atenção especial ao eixo Rio de Janeiro-São Paulo. O
acervo Teatro Tem Programa! integra o Projeto Memórias da Cena Pernambucana e é
organizado e coordenado pelo jornalista e pesquisador teatral Leidson Ferraz,
com a colaboração de dezenas de artistas e/ou instituições que doaram parte de
suas documentações ou permitiram os seus escaneamentos. A atriz Inalda
Silvestre foi a primeira a permitir o acesso a grande parte das
“relíquias”. “O teatro, como arte efêmera, fica um pouco
mais palpável quando nos deparamos com estas suas páginas. Portanto, vale
deleitar-se com este passado impresso em forma de “revista digital”, numa tentativa
de prolongar a existência de tantas raridades da nossa história teatral. Já no domingo, fomos curtir o
'Fishman', do Grupo Bagaceira (CE), no Teatro Apolo. dois homens estão em um pequeno bote sobre as águas de um lago,
frente a frente, sem saber o que dizer, sem conseguir fisgar qualquer assunto,
qualquer coisa que valha a pena ser dita entre dois seres humanos. Fishman não se deixa pescar por um
único tema ou por uma compreensão específica de mundo. O espetáculo abraça a
complexidade e reconhece que tudo está em permanente interação, em um fluxo que
vai além de qualquer conceito, mas que pode ser experimentado de corpo inteiro,
momento a momento. A palavra não é a coisa. Há peixes infisgáveis. Eles vagueiam por águas profundas e densas, onde a
linha do pensamento não alcança. O espetáculo adentra o lago escuro,
experimenta isso. Não para conceituar, catalogar espécies exóticas, mas,
talvez, numa tentativa de reconciliação desses peixes, infinitos peixes, que
vivem dentro de nós e dos outros.
FISHMAN da Bagaceira delícias e complexidades do existir postas em xeque cósmico
Fishman não se deixa pescar por um único tema
ou por uma compreensão específica de mundo. Abraça a complexidade e reconhece
que tudo está em permanente interação, em um fluxo que vai além de qualquer
conceito, mas que pode ser experimentado de corpo inteiro, momento a momento.
Interessante a dramaturgia: Rafael Martins
e a direção: Yuri Yamamoto, que conheci em São Paulo num encontro de dramaturgos.
Bom que mais? Depois eu conto.
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