Pesquisar este blog

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Joaquim Cardozo por Moisés Monteiro de Melo Neto

Joaquim Cardozo. Poeta e dramaturgo pernambucano (autor, dentre outras obras,  da peça O CAPATAZ DE SALEMA). 
 

Poesia simbolista, metafísica, experimental. Joaquim é terno e profundamente impregnado de um lirismo que reflete sua alma recifense e ao mesmo tempo simplesmente cósmica. Foi engenheiro de Niemeyer na construção de Brasília e estabeleceu sem querer vínculos concretistas.
Leia o início da peça  O Capataz de Salema
 O Capataz de Salema

Personagens: O Mar (os seus rumores devem ser gravados e combinados segundo as circunstâncias), o Capataz de Salema, Luzia, Sinhá Ricarda  (sua avó e madrinha) Um pescador

  A cena se passa numa praia do Nordeste brasileiro,próximo à cidade de Olinda.
  Numa pequena casa de pescador, de taipa rebocada, coberta de palha e de zinco; a casa dá a frente para o mar. Nesta casa moram sinhá Ricarda e Luzia, sua neta; sinhá Ricarda é mulher velha e doente, está sempre deitada num jirau baixo que lhe serve de leito, situado próximo à janela na sala da frente; e esta sala se comunica com o interior por um corredor que vai dar a pequena cozinha e por uma porta que dá acesso ao quarto de Luzia. Ambas já se encontraram recolhidas, pois já é quase meia-noite. Ouve-se próximo o rumor do mar exprimindo sonoridades como as de alguém que chorasse ou cantasse um canto alegre ou ninar de meninos, às vezes também rugidos, latidos, rumores de coisas arrastadas, derrubadas, rumor de rolar de dinheiro, de rodas girando muito longe, etc. Tudo produzido pela ação do vento que vem do mar.
  O mar como personagem nessa peça intervém sempre, nos momentos adequados, com esses rumores.
  A ação começa com alguém que bate à porta. Luzia levanta-se e vem até a porta.


Luzia                  Quem é que bate? Quem é?
                            É muito tarde, não posso
                            Abrir.
Capataz              Mas...Sou eu, João,
                            O capataz. Cheguei tarde.
                            Quero ver-te; abre, Luzia.

 Luzia (reconhecendo a voz do capataz)
                             Por que tão tarde chegaste?
                             É tarde...tarde demais.
                             Por quanto tempo ficaste
                             Ausente.

Capataz               Bem desiguais
                             Têm sido os nossos destinos.
                             Há muitas horas navego,
                             Pois isso a minha demora,
                             Em bater à tua porta
                             - Escuro bater de cego.



Luzia (Abrindo a parte de cima da porta. Um pouco aflita)
                           Que queres de nós? Que queres
                           Nos informar a estas horas?

Capataz             Não tenho tempo a perder...
                           E o que quero de ti já sabes.
                           Vim tentar a última vez.
                            Não posso me convencer
                            Dessa triste realidade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário