Ontem, representação do drama A ÚLTIMA NOITE DE KAFKA, do escritorClaudio Aguiar, direção José Francisco Filho, iluminação Ibson Quirino, sonoplastia João Natureza João Natureza. Com Manoel Constantino e Moisés Monteiro de Melo Neto.
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sexta-feira, 25 de setembro de 2015
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
Bashô, Matsuo, no Recife, já: Professor Moisés Monteiro de Melo Neto, resumindo a ópera
Professor Moisés e você, poesia... sempre
(risos e sisos)
Vamos lá?
Vamos lá?
Poesia vem do grego e significa ação (de fazer algo)
O poeta dá às palavras novos significados, metáforas..
Vejamos um HAICAI (ZEN)
O poeta dá às palavras novos significados, metáforas..
Vejamos um HAICAI (ZEN)
No velho tanque
uma rã mergulha
dentro de si
uma rã mergulha
dentro de si
(Bashô, Matsuo- Século XVII)
Observem a rigidez da forma:
1º verso: introduz a cena (espaço/ tempo)
2º verso: o elemento inesperado
3º verso: sintetiza os dois e fecha a cena
1º verso: introduz a cena (espaço/ tempo)
2º verso: o elemento inesperado
3º verso: sintetiza os dois e fecha a cena
domingo, 20 de setembro de 2015
O Papa em Cuba, hoje
Papa Francisco está em Cuba e
milhares de cubanos neste foram vê-lo e participar da missa na Praça da
Revolução de Havana!
Era lá que governo comunista fazia
seus comícios criticando a igreja e os EUA.
Francisco aproximou Cuba dos Estados Unidos; agora serão quatro dias de visita ; está lá desde ontem e
quer acompanhar o país nas suas “preocupações (leia-se: atividades econômica)
Ele também falou sobre o governo
da Colômbia, os guerrilheiros das FARC (marxistas!). É bom lembrar que o presidente
colombiano, Juan Manuel Santos quer pacto com as tais Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (já morreram mais de 20.000 no conflito). Eis o “sangue derramado”, que o Papa quer estancar.
O Brasil vive uma crise de personalidade?
Processar o professor Michel Zaidan, da UFPE, não me parece uma boa solução para aplacar o mal que nos devora , já há 515 anos, com poucos intervalos de alívio.
Sentenciou o escritor judeu tcheco Franz Kafka, em "O Escudo da Cidade" (escrito originalmente em alemão):
Quando se começou a construir a Torre de
Babel, tudo estava muito em ordem; e talvez a ordem fosse excessiva; pensava-se
demais em indicadores de caminhos, intérpretes; alojamentos para trabalhadores
e rotas de enlace, como se se dispusesse de séculos e outras tantas
probalidades de trabalhar livremente. A opiniâo então reinante chegava até a
estabelecer que toda lentidão para construir seria pouca; não era preciso
exagerar muito esta opinião para retroceder ante a própria idéia de pôr as
bases.
Argumentava-se deste modo: em toda a empresa, o positivo é a idéia de construir uma torre que chege ao céu. Diante desta idéia o resto é acessório. Uma vez captado o pensamento em toda sua grandeza, não pode desaparecer já: enquanto existem os homens, perdurará o desejo intenso de terminar a construção da torre. Neste sentido não há o que temer pelo futuro, pois antes do mais, o saber da humanidade vai em aumento, a arte da construção fez progressos e fará ainda outros novos; um trabalho para o qual necessitamos uma ano, será realizado dentro de um século, talvez em apenas seis meses e, por acrescentamento, melhor e mais duradouramente. Por que esgotar-se, pois, desde já até o litime das forças? Isso teria sentido se se pudesse esperar que a torre fôsse construída num lapso de uma geração. Isto, contudo, de nenhum modo era dado acreditá-lo. Pois bem, poderia pensar-se que a próxima geração, com seus mais amplo saber, haveria de achar mau o trabalho da geração precedente e que teria de demolir o construído para tornar a começar. Pensamentos deste gênero paralisavam as forças, e a edificação da cidade operária deslocava a construção da torre. Cada grupo regional queria possuir o bairro mais formoso, pelo que sobrevieram quizílias que redundaram em sangrentos combates. Estas lutas eram incessantes; o que serviu de argumento aos chefes para que, por falta da necessária concentração, a torre fosse erguida muito lentamente, ou, melhor ainda, apenas ao fim de estipulada uma paz geral. Mas não se perdeu tempo tão somente em combates, pois durante as tréguas se embelezou a cidade, o que deu origem a novas invejas e novas lutas. Assim transcorreu o lapso da primeira geração, mas nenhuma das que seguiram foi diferente; apenas a destreza ia em aumento constante e, com ela, a sede de luta. A isso veio somar-se que a segunda ou terceira geração reconheceram a insensatez da construção da torre, mas os vínculos mútuos eram já demasiado fortes como para que se pudesse deixar a cidade. Tudo quanto está entroncado com a lenda e a conção que surgisse na cidade está cheio da nostagia para o anunciado dia no qual a cidade seria aniquilada por cinco breves golpes e sucessivamente descarregados sobre ela por um punho gigantesco. Por isso tem a cidade um punho no escudo.
Argumentava-se deste modo: em toda a empresa, o positivo é a idéia de construir uma torre que chege ao céu. Diante desta idéia o resto é acessório. Uma vez captado o pensamento em toda sua grandeza, não pode desaparecer já: enquanto existem os homens, perdurará o desejo intenso de terminar a construção da torre. Neste sentido não há o que temer pelo futuro, pois antes do mais, o saber da humanidade vai em aumento, a arte da construção fez progressos e fará ainda outros novos; um trabalho para o qual necessitamos uma ano, será realizado dentro de um século, talvez em apenas seis meses e, por acrescentamento, melhor e mais duradouramente. Por que esgotar-se, pois, desde já até o litime das forças? Isso teria sentido se se pudesse esperar que a torre fôsse construída num lapso de uma geração. Isto, contudo, de nenhum modo era dado acreditá-lo. Pois bem, poderia pensar-se que a próxima geração, com seus mais amplo saber, haveria de achar mau o trabalho da geração precedente e que teria de demolir o construído para tornar a começar. Pensamentos deste gênero paralisavam as forças, e a edificação da cidade operária deslocava a construção da torre. Cada grupo regional queria possuir o bairro mais formoso, pelo que sobrevieram quizílias que redundaram em sangrentos combates. Estas lutas eram incessantes; o que serviu de argumento aos chefes para que, por falta da necessária concentração, a torre fosse erguida muito lentamente, ou, melhor ainda, apenas ao fim de estipulada uma paz geral. Mas não se perdeu tempo tão somente em combates, pois durante as tréguas se embelezou a cidade, o que deu origem a novas invejas e novas lutas. Assim transcorreu o lapso da primeira geração, mas nenhuma das que seguiram foi diferente; apenas a destreza ia em aumento constante e, com ela, a sede de luta. A isso veio somar-se que a segunda ou terceira geração reconheceram a insensatez da construção da torre, mas os vínculos mútuos eram já demasiado fortes como para que se pudesse deixar a cidade. Tudo quanto está entroncado com a lenda e a conção que surgisse na cidade está cheio da nostagia para o anunciado dia no qual a cidade seria aniquilada por cinco breves golpes e sucessivamente descarregados sobre ela por um punho gigantesco. Por isso tem a cidade um punho no escudo.
sábado, 19 de setembro de 2015
Peça sobre Franz Kafka tem estreia nacional no Recife, dia 24 de setembro
Dia 24 de setembro, às 19:30, no Teatro Hermilo Borba Filho, Recife, A última noite de Kafka, peça do renomado escritor cearense, que morou por muitos anos no Recife e atualmente residindo no Rio de Janeiro, Cláudio Aguiar, inédita nos palcos do Brasil, terá uma leitura dramatizada com direção do veterano José Francisco Filho, professor da UFPE, com Moisés Monteiro de Melo Neto e Manoel Constantino, estes dois últimos com uma longa história de serviços prestados ao Teatro no Recife.
Kafka, autor de A Metamorfose, O Processo e O Castelo, dentre outros títulos, é um dos mais importantes autores da literatura ocidental. Sua ideia de sujeito fragmentado influenciou muitos autores. O texto de Cláudio Aguiar foi todo escrito em versos e contém referências à cultura judaica, à cidade de Praga e a um ser da mitologia, muito explorado pelos habitantes da cidade tcheca: o Golem.
O solitário filho de Praga, de pai e mãe judeus (impossível não citar a figura opressora do pai de Kafka: um comerciante próspero, que sempre media os valores pelo sucesso material de um sujeito). . já o filho declarou-se admirador das ideias sombrias de Kierkegaard ; em meio ao clima gótico de Praga, cidade medieval . Nosso Fraz cursou, durante pouco tempo, Direito na Universidade de lá, onde ficou amigo do cara que seria o seu biógrafo e herdeiro da sua obra, o senhor Max Brod, no tempo dos círculos literários e políticos , provando gosto por crítica e inconformismo. Ele se empregou numa companhia de seguros, como inspetor de acidentes de trabalho, mas queria mesmo era se dedicar à literatura em tempo integral em meio à conturbação que era sua vida. O autor de O processo e O castelo 1925 e1926, que Max Brod publicou, como herdeiro, após sua morte. Kafka utilizava-se de uma técnica que lembra o surrealismo, o fantástico; seu jogo de metáforas, com absurdo que se instala no seu texto (um pouco da sua própria vida) ainda se torna mais intenso com a chegada da tuberculose, quando sua garganta vai se fechando e ele fica condenado a quase não comer ( 1917 a 24, ano da sua morte). Seu fim foi em sanatórios e balneários. Pediu, inutilmente, a Max que queimasse sua obra.
Cláudio Aguiar nos traz um Kafka desolado a tatear o mistério e a agonia, mesclados a o balanço de uma visão literária, marcada pelo mergulho profundo sobre o mistério e o absurdo da condição humana; o que será exibido, nesta performance (A última noite de Kafka), é um retrato do autor no relacionamento com o seu duplo: homem e obra se confundem de modo atemporal e universal frente à lógica humana que vai pouco a pouco se esboroando no meio de um redemoinho caótico que o diretor José Francisco, com o cuidado que lhe é peculiar, enreda e desenreda, verso a verso, num jogo de luz e sombra, na tentativa de expressar o horror e êxtase, como, por exemplo, nas cenas em que Kafka usa como interlocutor, a mítica figura do Golem (mito do judaísmo, da Cabala, ser feito de matéria inanimada, por magia, na língua dos judeus:"tolo").
Moisés Montewiro de Melo Neto e Manoel Constatinoatuaram juntos em várias produções, para adultos e crianças (como o musical A Vila dos Mil Encantos); ambos são professores, escritores e diretores de teatro. Eles já foram irmãos na peça do escritor cubano José Triana, A Noite dos Assassinos, dirigidos por Augusta Ferraz, e agora se dizem felizes por esta oportunidade de compartilharem um palco novamente. A primeira vez que dividiram a cena foi justamente num texto de Cláudio Aguiar, Suplício de Frei Caneca, nos anos 80, dirigido pelo mesmo José Francisco, que agora enfrenta o desafio de trazer Kafka ao nosso teatro numa noite tão especial.
Haverá coquetel e o autor estará presente ao evento que também contará com o lançamento do exemplar contendo toda a obra teatral de Cláudio Aguiar. (os livros serão distribuídos gratuitamente). Figuras muito importantes da cultura brasileira virão ao Recife especialmente para este evento. Detalhes em outra matéria
Kafka, autor de A Metamorfose, O Processo e O Castelo, dentre outros títulos, é um dos mais importantes autores da literatura ocidental. Sua ideia de sujeito fragmentado influenciou muitos autores. O texto de Cláudio Aguiar foi todo escrito em versos e contém referências à cultura judaica, à cidade de Praga e a um ser da mitologia, muito explorado pelos habitantes da cidade tcheca: o Golem.
O solitário filho de Praga, de pai e mãe judeus (impossível não citar a figura opressora do pai de Kafka: um comerciante próspero, que sempre media os valores pelo sucesso material de um sujeito). . já o filho declarou-se admirador das ideias sombrias de Kierkegaard ; em meio ao clima gótico de Praga, cidade medieval . Nosso Fraz cursou, durante pouco tempo, Direito na Universidade de lá, onde ficou amigo do cara que seria o seu biógrafo e herdeiro da sua obra, o senhor Max Brod, no tempo dos círculos literários e políticos , provando gosto por crítica e inconformismo. Ele se empregou numa companhia de seguros, como inspetor de acidentes de trabalho, mas queria mesmo era se dedicar à literatura em tempo integral em meio à conturbação que era sua vida. O autor de O processo e O castelo 1925 e1926, que Max Brod publicou, como herdeiro, após sua morte. Kafka utilizava-se de uma técnica que lembra o surrealismo, o fantástico; seu jogo de metáforas, com absurdo que se instala no seu texto (um pouco da sua própria vida) ainda se torna mais intenso com a chegada da tuberculose, quando sua garganta vai se fechando e ele fica condenado a quase não comer ( 1917 a 24, ano da sua morte). Seu fim foi em sanatórios e balneários. Pediu, inutilmente, a Max que queimasse sua obra.
Manoel e Moisés, em cena
Cláudio Aguiar nos traz um Kafka desolado a tatear o mistério e a agonia, mesclados a o balanço de uma visão literária, marcada pelo mergulho profundo sobre o mistério e o absurdo da condição humana; o que será exibido, nesta performance (A última noite de Kafka), é um retrato do autor no relacionamento com o seu duplo: homem e obra se confundem de modo atemporal e universal frente à lógica humana que vai pouco a pouco se esboroando no meio de um redemoinho caótico que o diretor José Francisco, com o cuidado que lhe é peculiar, enreda e desenreda, verso a verso, num jogo de luz e sombra, na tentativa de expressar o horror e êxtase, como, por exemplo, nas cenas em que Kafka usa como interlocutor, a mítica figura do Golem (mito do judaísmo, da Cabala, ser feito de matéria inanimada, por magia, na língua dos judeus:"tolo").
Moisés Montewiro de Melo Neto e Manoel Constatinoatuaram juntos em várias produções, para adultos e crianças (como o musical A Vila dos Mil Encantos); ambos são professores, escritores e diretores de teatro. Eles já foram irmãos na peça do escritor cubano José Triana, A Noite dos Assassinos, dirigidos por Augusta Ferraz, e agora se dizem felizes por esta oportunidade de compartilharem um palco novamente. A primeira vez que dividiram a cena foi justamente num texto de Cláudio Aguiar, Suplício de Frei Caneca, nos anos 80, dirigido pelo mesmo José Francisco, que agora enfrenta o desafio de trazer Kafka ao nosso teatro numa noite tão especial.
A última noite de Kafka
peça do renomado escritor cearense, atualmente residindo no Rio de Janeiro, Cláudio Aguiar
estará em cartaz na capital pernambucana
Haverá coquetel e o autor estará presente ao evento que também contará com o lançamento do exemplar contendo toda a obra teatral de Cláudio Aguiar. (os livros serão distribuídos gratuitamente). Figuras muito importantes da cultura brasileira virão ao Recife especialmente para este evento. Detalhes em outra matéria
1º Livro sobre a Poeticidade de Jomard Muniz de Britto (JMB)
O Prof. Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto, AUTOR DO LIVRO FALA: "Conheci Jomard nos anos 80 e fiquei muito interessado pelo seu processo criativo. Assisti a alguns dos seus filmes, palestras, mas foi a sua literatura que mais me interessou. Através ndos anos li todos os seus livros e resolvi fazer minha pesquisa de Doutorado sobre eles (publicados de 1973 até 2012). São 7 livros mais um feito com mais dois autores. Jomard fez parte da equipe de Paulo Freire, exercitou o Tropicalismo e o cinema Super 8 e foi professor da UFPE e UFPB. Suas ideias são libertadoras e questionam o status quo.
Fico feliz que o SESC inclua o meu livro nas suas produções.
Meu texto fala sobre as diversas possibilidades de se fazefr leituras dos textos jomardianos.
Dividi a obra em três partes:
1) Anos 70 e 89
2) Anos 90
3) De 2001 em diante
Trata-se de uma pesquisa detalhada e que usa estudiosos como Roland Barthes para sustentar certas suposições.
São quase 400 páginas num mergulho na obra radical que discute sexo, política, pedagogia, filosofia, poesia e muito mais.
Foram quatro anos de pesquisa mais apurada. O livro contém depoimentos de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Anco Márcio Tenório Vieira e outros intelectuais que fazem parte do círculo de JMB (Jomard Muniz de Britto)"
Lucila Nogueira, Escritora e professora da Graduação e Pós - Graduação em Letras da UFPE fala sobre o LIVRO DE MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO:
"Uma trajetória que segue adiante sem hesitar na multiplicação de veredas e ocultações. Um caminhar carregado de raízes que se desdobra, no entanto, em futuras figurações. Um descrever que não renuncia à intensidade experimental, uma filosofia que se oferece para além dos conceitos teóricos tradicionais. Uma poesia que se deseja ensaio, memória, atentado. Um autor que está sempre testando o seu limite e a sua inexistência dentro do banal.
Durante três anos e meio Moisés Monteiro de Melo Neto dedicou-se ao estudo minucioso dos insights contidos na bibliografia do pernambucano Jomard Muniz de Britto, percorrendo desde os anos 70, até a entrada no século XXI e seus exercícios irreverentes que se tornaram sinônimo existencial da cultura do Recife. O período, considerado muito prazeroso pelo autor envolveu a leitura de grande acervo bibliográfico, quer teórico quer do poeta estudado: uma plataforma criada especialmente para dar acesso à obra em análise.
Um trabalho sem dúvida difícil e desafiador, este de atravessar as camadas de significação, percorrendo várias décadas de uma produção à qual se reúne a teoria presente em dois ensaios dos anos 60 e mais um livro posterior em co-autoria, com Jomard. A verdade é que as vanguardas nacionais resultam celebradas de modo crítico e contextualizado em Do Escrevivendo aos Atentados Poéticos, tese de doutorado defendida por Moisés em 2011, na UFPE, PPG Letras, sob nossa orientação formal que apenas saiu acompanhando as imagens sucessivas de um caleidoscópio intelectual que representava um entendimento fulgurante, por parte de Moisés, desse grande comunicador e intelectual que plasmou o percurso de várias gerações.
JMB e Moisés ocupam este espaço de diálogo e integração das artes interdisciplinares contemporâneas, cada qual trazendo a intensidade de uma experiência colada na pele como tatuagem que perdura e se multiplica a cada nova experiência intelectual no coração da linguagem. E não poderia ser diferente, um trabalho que surgiu de modo disciplinado e esfuziante trazendo tantas informações que a simples tese não conseguiria comportar tudo aquilo que o orientando dominava e estava sempre relacionando em conexões ontológicas e comparativas. Por certo, lhe era de utilidade tanto a sua experiência nas artes cênicas, como no ofício de professor, além de uma sintonia especial desenvolvida com relação à importância da contribuição do corpus, que não se negou a ser ouvido na consecução da escrita acadêmica.
Havia uma troca especial naquelas manhãs de Boa Viagem, em que de um lado era perseguido o conhecimento e de outro, a sobrevivência: revezamento de aluno e mestra na dignidade da relação que ultrapassa a problemática pessoal, na doação ao trabalho de engrandecimento das vocações. Apesar das minhas dificuldades de saúde, não aconteceu qualquer deslize na disciplina do autor deste livro que já trazia tudo pronto, precisando apenas de algumas indicações formais.
A poesia que desnuda o engano sem propor uma verdade absoluta, o tratando dos signos de uma maneira inovadora, para além do estereótipo; literatura como luta e também prazer, desmontando expressivamente as mitologias da cultura burguesa, sem deixar de levar em conta a esfera dos sentidos, a participação do corpo no discurso do intelecto. Memória como parte essencial da ação e não simples representação, vetor da diferença e similitude do pensamento contemporâneo. Uma passagem da posição diante do mundo a uma ação nele: estes alguns tópicos específicos abordados por Moisés, nestas quase quatrocentas páginas inaugurais sobre a produção literária do poeta, professor e pensador da cultura brasileira Jomard Muniz de Britto, que em boa hora o SESC decidiu levar para um público maior do que o estritamente acadêmico. Vamos todos à leitura." (Lucila Nogueira)
Fico feliz que o SESC inclua o meu livro nas suas produções.
Meu texto fala sobre as diversas possibilidades de se fazefr leituras dos textos jomardianos.
Dividi a obra em três partes:
1) Anos 70 e 89
2) Anos 90
3) De 2001 em diante
Trata-se de uma pesquisa detalhada e que usa estudiosos como Roland Barthes para sustentar certas suposições.
São quase 400 páginas num mergulho na obra radical que discute sexo, política, pedagogia, filosofia, poesia e muito mais.
Foram quatro anos de pesquisa mais apurada. O livro contém depoimentos de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Anco Márcio Tenório Vieira e outros intelectuais que fazem parte do círculo de JMB (Jomard Muniz de Britto)"
Moisés Monteiro de Melo Neto é o autor desta apurada pesquisa
Lucila Nogueira, Escritora e professora da Graduação e Pós - Graduação em Letras da UFPE fala sobre o LIVRO DE MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO:
"Uma trajetória que segue adiante sem hesitar na multiplicação de veredas e ocultações. Um caminhar carregado de raízes que se desdobra, no entanto, em futuras figurações. Um descrever que não renuncia à intensidade experimental, uma filosofia que se oferece para além dos conceitos teóricos tradicionais. Uma poesia que se deseja ensaio, memória, atentado. Um autor que está sempre testando o seu limite e a sua inexistência dentro do banal.
Durante três anos e meio Moisés Monteiro de Melo Neto dedicou-se ao estudo minucioso dos insights contidos na bibliografia do pernambucano Jomard Muniz de Britto, percorrendo desde os anos 70, até a entrada no século XXI e seus exercícios irreverentes que se tornaram sinônimo existencial da cultura do Recife. O período, considerado muito prazeroso pelo autor envolveu a leitura de grande acervo bibliográfico, quer teórico quer do poeta estudado: uma plataforma criada especialmente para dar acesso à obra em análise.
Um trabalho sem dúvida difícil e desafiador, este de atravessar as camadas de significação, percorrendo várias décadas de uma produção à qual se reúne a teoria presente em dois ensaios dos anos 60 e mais um livro posterior em co-autoria, com Jomard. A verdade é que as vanguardas nacionais resultam celebradas de modo crítico e contextualizado em Do Escrevivendo aos Atentados Poéticos, tese de doutorado defendida por Moisés em 2011, na UFPE, PPG Letras, sob nossa orientação formal que apenas saiu acompanhando as imagens sucessivas de um caleidoscópio intelectual que representava um entendimento fulgurante, por parte de Moisés, desse grande comunicador e intelectual que plasmou o percurso de várias gerações.
JMB e Moisés ocupam este espaço de diálogo e integração das artes interdisciplinares contemporâneas, cada qual trazendo a intensidade de uma experiência colada na pele como tatuagem que perdura e se multiplica a cada nova experiência intelectual no coração da linguagem. E não poderia ser diferente, um trabalho que surgiu de modo disciplinado e esfuziante trazendo tantas informações que a simples tese não conseguiria comportar tudo aquilo que o orientando dominava e estava sempre relacionando em conexões ontológicas e comparativas. Por certo, lhe era de utilidade tanto a sua experiência nas artes cênicas, como no ofício de professor, além de uma sintonia especial desenvolvida com relação à importância da contribuição do corpus, que não se negou a ser ouvido na consecução da escrita acadêmica.
Havia uma troca especial naquelas manhãs de Boa Viagem, em que de um lado era perseguido o conhecimento e de outro, a sobrevivência: revezamento de aluno e mestra na dignidade da relação que ultrapassa a problemática pessoal, na doação ao trabalho de engrandecimento das vocações. Apesar das minhas dificuldades de saúde, não aconteceu qualquer deslize na disciplina do autor deste livro que já trazia tudo pronto, precisando apenas de algumas indicações formais.
A poesia que desnuda o engano sem propor uma verdade absoluta, o tratando dos signos de uma maneira inovadora, para além do estereótipo; literatura como luta e também prazer, desmontando expressivamente as mitologias da cultura burguesa, sem deixar de levar em conta a esfera dos sentidos, a participação do corpo no discurso do intelecto. Memória como parte essencial da ação e não simples representação, vetor da diferença e similitude do pensamento contemporâneo. Uma passagem da posição diante do mundo a uma ação nele: estes alguns tópicos específicos abordados por Moisés, nestas quase quatrocentas páginas inaugurais sobre a produção literária do poeta, professor e pensador da cultura brasileira Jomard Muniz de Britto, que em boa hora o SESC decidiu levar para um público maior do que o estritamente acadêmico. Vamos todos à leitura." (Lucila Nogueira)
O que é trabalhar como ator?
" O teatro é inglório. Todo dia você repete aquele processo e todo dia corre o risco de fracassar. Será que se foi bom hoje vai ser bom amanhã? Isso depende de muita coisa. Muitas vezes você vê uma pessoa falar: “Vi um espetáculo maravilhoso”, você vai ver e não acha grandes coisas. É que, independente da vontade do elenco, a mágica não aconteceu naquele dia. Não é todo dia que é maravilhoso.
Para a gente que viveu o apogeu das grandes produções, teatro hoje, um monólogo ou diálogo que fica um mês em cartaz e depois sai, é triste! É teatro de catacumba.
O ator que ambiciona trabalhar com dramaturgia costumava ter uma base no palco. Com o tempo, passou a existir uma formação voltada especificamente para a televisão.
Hoje, por incrível que pareça, existem cursos para atores de televisão! Eu fico observando e imagino que lá a pessoa aprende o naturalismo da TV. Digo naturalismo sem querer ofender os índios.
As pessoas começam lá num programa juvenil, saem do Big Brother, aí vão melhorando. Algumas com o tempo se aprimoram e viram bons atores de televisão. Existem tantas possibilidades de atuação hoje... e, se existem, é porque tem mercado para isso. A indústria da imagem requer reposição de peças, sempre digo isso. Claro que os cursos de teatro mesmo formam atores com consistência, em programas que foram cumpridos por quatro ou cinco anos.
A gente não pode ignorar o meio eletrônico. O teatro é um artesanato arcaico, não vai morrer. Porque a necessidade de discutir e emocionar com o sentimento do ser humano nunca vai deixar de existir. Pode não ser para 40 milhões de espectadores, um bilhão de espectadores, mas nem que seja para 20 pessoas numa sala. O processo da indústria da imagem é o da substituição de peças. Para quem vem do teatro, como eu, a formação é difícil. Dez anos de teatro não significam nada. Com 10 anos de teatro você está começando. E se você estourar numa primeira peça, pode ter a certeza de que vai comer pó de palco por mais 10 anos. Porque é um artesanato lento e raramente chega por obra do divino espírito santo.
O jovem Ator de hoje em dia está focado em outro tipo de Teatro. O teatro atualmente não tem vez. Não todo ele, porque teatro musical é teatro. Falo do teatro da palavra, o teatro da ideia, o que pode trazer alguma inquietação, uma contestação, como o que minha geração viveu. O teatro era um campo de debate emocional. Isso, hoje em dia, não tem. Nas opções das comissões que distribuem os dinheiros e os investimentos para a diversão, o teatro da palavra está muito desacreditado. Estão jogando nos musicais, nas comédias, mais no entretenimento do que no lado mais atuante, na posição de cidadania que o teatro tem muito.
se você leva esse ofício a sério, entra todos os dias no palco, seja encenando uma comédia leve ou uma tragédia grega. Você tem que se exibir inteiro, tem que estar em carne viva. Porque a pessoa saiu de casa para te ver, pagou, pegou uma cidade de trânsito difícil, você tem que dar o seu melhor.
A diferença entre Atuar para Teatro e Televisão e Cinema é a montagem. A montagem salva o Ator. Eu já fiz cena com um jovem ator que tinha de se estertorar de desespero porque sua jovem mulher estava morrendo de parto. Nós ficamos uma noite inteira repetindo. Eu era a parteira, que estava ali do lado. E repetimos, repetimos. E se gravou, se gravou. Depois, o diretor pegou as melhores partes daquele jovem ator e ficou uma coisa maravilhosa. Mas ele fazer isso em teatro... compreende? Essa é a mecânica do montador, do repetir, do se não chora, pinga lágrima, do faz de novo. Por isso, esse outro rapaz pode dizer que não lê e não vai ao teatro. Porque ele funciona muito bem na TV, mesmo sendo ignorante ? e falo essa palavra não no sentido de ofender, mas da pessoa que ignora, que nunca leu Dostoiévski. Porque ele vive feliz sem ler. Porque ele vai para aquele meio de trabalho e lá repete, tartamudeia, e na segunda novela já fala melhor. Alguma coisa vai se movendo com o ofício, e ele vai aprendendo aquela linguagem específica. Muitos que nunca pisaram no palco fazem uma carreira brilhante na televisão e no cinema, porque o método de trabalho é que nem o Jack, o Estripador, é por partes. O montador bota de você a parte que ele quiser. Você é uma matéria-prima que vai ser moldada por um diretor e por um montador. Essa linha de montagem da indústria da imagem requer outro tipo de linguagem, um outro tipo de ator. Hollywood disse que tem que ter o jovem lindo com dentadura linda, cintura fina, peito largo, músculos latejando. E a menina tem que ser linda, deslumbrante, ter um sorriso maravilhoso. Isso você não encontra nos palcos do Brasil nem do mundo inteiro. Mas você encontra nas passarelas, na praia.
Se o cara ou a menina estão na rua, são bonitos, e alguém pergunta: “Quer ser ator de televisão?”, claro que a pessoa responde que quer. E a família também incentiva. Quando eu era criança, toda menina queria ser professora. Hoje ninguém quer ser professor porque pagam muito mal, não são respeitados. Mas o que dá glória imediata é você, desde os 14 anos, parar de comer e virar modelo. Existe um mercado para isso. Não estou sendo preconceituosa. Toda maneira de amar vale a pena. E tem também os jovens atores maravilhosos, que se agrupam, que fazem projetos. E, quando chegam à televisão, você percebe que são atores bem formados. Temos uma boa tropa jovem nos palcos. Com responsabilidade cênica, que encara aquilo como projeto de vida. E, dentro dos meios eletrônicos, tem uma turma que está tentando melhorar, chegar ao seu momento de glória. Os tempos vão passando. Uns deles são cuspidos, outros se aprimoram, mas muitos deles não querem chegar perto de um palco.
Vocação não é para fugir dela. Nós fazemos aquilo de que gostamos! O trabalho é duro. Mas não é com o suor do nosso rosto que ganhamos nosso pão. Não há condenação bíblica! O artista não está desvirtuado do seu chamado. Acho que a gente foge disso. Escapa. Porque o cara ter que ganhar a vida com o suor do seu rosto é uma condenação. O artista sofre, é desassossegado, é desconfortado, mas não é um condenado.", Fernanda Montenegro, Atriz
Para a gente que viveu o apogeu das grandes produções, teatro hoje, um monólogo ou diálogo que fica um mês em cartaz e depois sai, é triste! É teatro de catacumba.
O ator que ambiciona trabalhar com dramaturgia costumava ter uma base no palco. Com o tempo, passou a existir uma formação voltada especificamente para a televisão.
Hoje, por incrível que pareça, existem cursos para atores de televisão! Eu fico observando e imagino que lá a pessoa aprende o naturalismo da TV. Digo naturalismo sem querer ofender os índios.
As pessoas começam lá num programa juvenil, saem do Big Brother, aí vão melhorando. Algumas com o tempo se aprimoram e viram bons atores de televisão. Existem tantas possibilidades de atuação hoje... e, se existem, é porque tem mercado para isso. A indústria da imagem requer reposição de peças, sempre digo isso. Claro que os cursos de teatro mesmo formam atores com consistência, em programas que foram cumpridos por quatro ou cinco anos.
A gente não pode ignorar o meio eletrônico. O teatro é um artesanato arcaico, não vai morrer. Porque a necessidade de discutir e emocionar com o sentimento do ser humano nunca vai deixar de existir. Pode não ser para 40 milhões de espectadores, um bilhão de espectadores, mas nem que seja para 20 pessoas numa sala. O processo da indústria da imagem é o da substituição de peças. Para quem vem do teatro, como eu, a formação é difícil. Dez anos de teatro não significam nada. Com 10 anos de teatro você está começando. E se você estourar numa primeira peça, pode ter a certeza de que vai comer pó de palco por mais 10 anos. Porque é um artesanato lento e raramente chega por obra do divino espírito santo.
O jovem Ator de hoje em dia está focado em outro tipo de Teatro. O teatro atualmente não tem vez. Não todo ele, porque teatro musical é teatro. Falo do teatro da palavra, o teatro da ideia, o que pode trazer alguma inquietação, uma contestação, como o que minha geração viveu. O teatro era um campo de debate emocional. Isso, hoje em dia, não tem. Nas opções das comissões que distribuem os dinheiros e os investimentos para a diversão, o teatro da palavra está muito desacreditado. Estão jogando nos musicais, nas comédias, mais no entretenimento do que no lado mais atuante, na posição de cidadania que o teatro tem muito.
Breno Fittipaldi e Wellinton Júnior, cena do Espetáculo "Orgia:
Túlio Carella e o teatro do Insólito"
(Texto Moisés Monteiro de Melo Neto
Direção:Breno Fittipaldi)
se você leva esse ofício a sério, entra todos os dias no palco, seja encenando uma comédia leve ou uma tragédia grega. Você tem que se exibir inteiro, tem que estar em carne viva. Porque a pessoa saiu de casa para te ver, pagou, pegou uma cidade de trânsito difícil, você tem que dar o seu melhor.
A diferença entre Atuar para Teatro e Televisão e Cinema é a montagem. A montagem salva o Ator. Eu já fiz cena com um jovem ator que tinha de se estertorar de desespero porque sua jovem mulher estava morrendo de parto. Nós ficamos uma noite inteira repetindo. Eu era a parteira, que estava ali do lado. E repetimos, repetimos. E se gravou, se gravou. Depois, o diretor pegou as melhores partes daquele jovem ator e ficou uma coisa maravilhosa. Mas ele fazer isso em teatro... compreende? Essa é a mecânica do montador, do repetir, do se não chora, pinga lágrima, do faz de novo. Por isso, esse outro rapaz pode dizer que não lê e não vai ao teatro. Porque ele funciona muito bem na TV, mesmo sendo ignorante ? e falo essa palavra não no sentido de ofender, mas da pessoa que ignora, que nunca leu Dostoiévski. Porque ele vive feliz sem ler. Porque ele vai para aquele meio de trabalho e lá repete, tartamudeia, e na segunda novela já fala melhor. Alguma coisa vai se movendo com o ofício, e ele vai aprendendo aquela linguagem específica. Muitos que nunca pisaram no palco fazem uma carreira brilhante na televisão e no cinema, porque o método de trabalho é que nem o Jack, o Estripador, é por partes. O montador bota de você a parte que ele quiser. Você é uma matéria-prima que vai ser moldada por um diretor e por um montador. Essa linha de montagem da indústria da imagem requer outro tipo de linguagem, um outro tipo de ator. Hollywood disse que tem que ter o jovem lindo com dentadura linda, cintura fina, peito largo, músculos latejando. E a menina tem que ser linda, deslumbrante, ter um sorriso maravilhoso. Isso você não encontra nos palcos do Brasil nem do mundo inteiro. Mas você encontra nas passarelas, na praia.
Se o cara ou a menina estão na rua, são bonitos, e alguém pergunta: “Quer ser ator de televisão?”, claro que a pessoa responde que quer. E a família também incentiva. Quando eu era criança, toda menina queria ser professora. Hoje ninguém quer ser professor porque pagam muito mal, não são respeitados. Mas o que dá glória imediata é você, desde os 14 anos, parar de comer e virar modelo. Existe um mercado para isso. Não estou sendo preconceituosa. Toda maneira de amar vale a pena. E tem também os jovens atores maravilhosos, que se agrupam, que fazem projetos. E, quando chegam à televisão, você percebe que são atores bem formados. Temos uma boa tropa jovem nos palcos. Com responsabilidade cênica, que encara aquilo como projeto de vida. E, dentro dos meios eletrônicos, tem uma turma que está tentando melhorar, chegar ao seu momento de glória. Os tempos vão passando. Uns deles são cuspidos, outros se aprimoram, mas muitos deles não querem chegar perto de um palco.
Vocação não é para fugir dela. Nós fazemos aquilo de que gostamos! O trabalho é duro. Mas não é com o suor do nosso rosto que ganhamos nosso pão. Não há condenação bíblica! O artista não está desvirtuado do seu chamado. Acho que a gente foge disso. Escapa. Porque o cara ter que ganhar a vida com o suor do seu rosto é uma condenação. O artista sofre, é desassossegado, é desconfortado, mas não é um condenado.", Fernanda Montenegro, Atriz
sábado, 12 de setembro de 2015
Globo sofre atentado: ataques continuam
Interessante assistir aos Dez Mandamentos no R7 da Record: o duelo do faraó Ramsés (o Hórus vivo, o amado de Pitah!) com Moisés. Os autores dos textos de Ramsés e de Yunit merecem aplausos comedidos em termos de estética pop (reinventando a cultura egípcia, trazendo-a ao sotaque carioca/ paulistano), ao mesmo tempo de cunho dramático, (judaico) e permeado por certo erotismo velado, estonteante: as mulheres ultrapassam a noção de beleza e invadem a elegância e o luxo. Nefertari, Camila Rodrigues, está quase impagável, mas claro que Anne Baxter já mostrou que o impossível é realizável por uma atriz determinada (perseverante em suas intenções) quando esteve na pela da personagem no filme de Cecil B. De Mille.
Já o Moisés da Record, num cotejo com o ícone dos 50´s em Hollywood, aparece numa leitura que o aproxima do nosso padrão nacional. Denise Dell Vechio
O ator fica pequeno diante do faraó da emissora evangélica. Isto não podíamos dizer da ambígua canastrice de Charlton Heston:
Na TV aberta os comerciais de cerveja e produtos farmacêuticos fazem o arroz de festa onipresente, só falta aparecer, de modo direto, nas cenas do folhetim. inclusive Xuxa já consegui voltar no tempo com cicatricure e participar do casamento do soberano num remix exibibido no programa dela (na mesma emissora da novela). No final Xuxa, já ao vivo, "volta" a conversar com seus convidados, e diz gostei muito de ir ao "castelo" do Faraó.
E nesta sexta-feira, dia 11 de setembro o bombardeio atingiu A Regra do Jogo, de frente, e detonou: deu de 21 contra os vinte da Globo. Um atentado!
Olha a foto aí embaixo. Meio brega o cenário? Nesta cena Sérgio Marone e Guilherme Winter estão num duelo, até agora desfavorável ao segundo, em cenas passadas, refiro-me à perfomance em cena.
A carpintaria da trama chega às franjas do fundamentalismo no que toca a certos dogmas, já no caso egípcio há uma espécie de avacalhação da fé, como eles chamam, (cultuada nos templos dos "idólatras"). É o exótico pelo exótico onde o discurso subjacente de cunho ideológico é disfarçado em imagens icônicas, de uma assepsia ímpar. Mas vamos nos lembrar que A sensualidade é um dos vieses da trama:
Cerveja, divóricio, prostíbulo, assassinatos, relações extraconjugais, e muito mais, num labirintos de personagens com apenas duas dimenões, ou, no caso de uma escanada em HD, cheio de detalhes apetitosos; só isso; aos poucos até animais ganham ares de personagens, é o caso do gato do casal Szafir e Babi Xavier, que às vezes os espectadores são informados sobre sua vida.
Dizem que cada capítulo custa um milhão de reais.
E as pragas, trazidas pela voz que fala com Moisés, continuarão esta semana: as moscas devem causar muitos inconvenientes na concorrência. Imaginem quando os escravos estiverem a sós no deserto!
E os gafanhotos? E o bezerro de ouro! E o "não passarás o Jordão"?
Anne Baxter já mostrou que o impossível é realizável,
Já o Moisés da Record, num cotejo com o ícone dos 50´s em Hollywood, aparece numa leitura que o aproxima do nosso padrão nacional. Denise Dell Vechio
O ator fica pequeno diante do faraó da emissora evangélica. Isto não podíamos dizer da ambígua canastrice de Charlton Heston:
ambígua canastrice de Charlton Heston
E nesta sexta-feira, dia 11 de setembro o bombardeio atingiu A Regra do Jogo, de frente, e detonou: deu de 21 contra os vinte da Globo. Um atentado!
Olha a foto aí embaixo. Meio brega o cenário? Nesta cena Sérgio Marone e Guilherme Winter estão num duelo, até agora desfavorável ao segundo, em cenas passadas, refiro-me à perfomance em cena.
Entendem o que digo? Não é só na altura...
A carpintaria da trama chega às franjas do fundamentalismo no que toca a certos dogmas, já no caso egípcio há uma espécie de avacalhação da fé, como eles chamam, (cultuada nos templos dos "idólatras"). É o exótico pelo exótico onde o discurso subjacente de cunho ideológico é disfarçado em imagens icônicas, de uma assepsia ímpar. Mas vamos nos lembrar que A sensualidade é um dos vieses da trama:
Absolute no regrets...
Cerveja, divóricio, prostíbulo, assassinatos, relações extraconjugais, e muito mais, num labirintos de personagens com apenas duas dimenões, ou, no caso de uma escanada em HD, cheio de detalhes apetitosos; só isso; aos poucos até animais ganham ares de personagens, é o caso do gato do casal Szafir e Babi Xavier, que às vezes os espectadores são informados sobre sua vida.
Dizem que cada capítulo custa um milhão de reais.
E as pragas, trazidas pela voz que fala com Moisés, continuarão esta semana: as moscas devem causar muitos inconvenientes na concorrência. Imaginem quando os escravos estiverem a sós no deserto!
E os gafanhotos? E o bezerro de ouro! E o "não passarás o Jordão"?
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
SETEMBRO das sobras de agosto aos suspenses em outubro
Jomard Muniz de Britto, jmb
GODARD em 3D pode suspeitar do
superoutro ilusionismo ou eterno retorno aos
deuses pré-socráticos. Virtual cinemágico.
Setembro sem ilusões mitificadoras.
Tudo poderia ter recomeçado em O Som ao
Redor tão cruelmente laCANINO.
Uma de suas personas, um cão, cachorro
pertencente a ele próprio, Jean-Luc,
identificado nos créditos como Roxy Miéville.
Setembro sem TEMERidades.
Circuitos do sublime ao grotesco.
Quase IMAGENS AO REDOR. Ocupem.
Pelo tempo-espaço em que acordamos
nos perigos da comunicabilidade.
Circunvoluções.
Os buracos negros podem nos reconduzir ao
universo paralelo das invenções.
Aos leitores do mundo as credenciais para
exercitar compreensão diante dos
interrogatórios de Karol, com K, entrelugar
de Kafka aos OUTROS CRÍTICOS.
Quem estaria religado aos indígenas do
Xingu querendo reconhecimento do
QUARUP como patrimônio nacional???
Debates sem fulcros psicopatológicos.
Ouviram setembro investigar a METAFÍSICA
DOS CANIBAIS? O pensador Eduardo Viveiros
de Castro reinventa lin gua gens.
Jean-Luc Godard sabe enfrentar o
perspectivismo do Livro de MAO a
O AMOR DAS SOMBRAS de Ronaldo Correia
de Brito. Erudições galopantes!
Mas Naná Vasconcelos continua
atravessando ABISMOS: da Universidade do
Samba de Sítio Novo com a estética da
delicadeza entre Paulinho da Viola e
Aristides Guimarães.
Setembro BRASILÍRICO reencantando
Alaíde Costa com Gonzaga Leal.
Setembro ainda vislumbra o BOI do
inventivo Gabriel Mascaro.NEON BOI por todos.
Recife, setembro de 2015
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
Ah, sete de setembro de 2015! Pixuleco e outros trecos
O grito dos excluídos na Avenida
Conde da Boa Vista com um carro pintado de verde e amarelo. Ao som de A cidade,
do CSNZ e bandeira da CUT. O discurso de Dilma, em Brasília foi ao ar pouco
antes. Confiança, citação ao menino morto que chocou o mundo esta semana,
chocou como uma selfie que volta
depois de ser deletada. Duas faixas chamaram minha atenção: “QUE OS RICOS
PAGUEM A CONTA” e “ABAIXO O PLANO RENAN-LEVY”. Enquanto Dilma anunciava na TV
que o vencedor da Olimpíada Intelectual era, dentre tantos estrangeiro, nosso “medalha
de ouro” no conhecimento, (como terá sido a prova?), um brasileiro cujos pais
eram beneficiários do Bolsa Família.
Continua a parada na Boa Vista: A defesa do voto democrático; a necessidade de
um novo projeto político (com menos corrupção?); abaixo agrotóxicos, “MST, essa
luta é pra valer!” (no trio elétrico eles cantaram pela reforma agrária).
A presidente diz que os refugiados políticos
podem vir para o Brasil, terra de oportunidades, que resiste mesmo quando seus “parceiros
internacionais” caem (China, Grécia?), os emergentes. Na mídia ecoava ainda a
frase do ator Bruno Gagliasso, escolhido pela Globo para participar do Brazilian Day, pela Globo News, em New
York City: “O PT, a situação em que o país está, o nível de corrupção e ineficiência
que atingimos e a sensação de que estamos reféns desta realidade me deixa muito
irritado”, e como ele foi “descascado”, por simpatizantes do Partido. Diogo
Mainardi (!) apoiou Bruno Gagliasso, lá de Veneza, onde mora. não tem como dizer
que ele não tinha razão.
O fetiche chegou a tal ponto que se criou um
vodu, isto é um boneco ao qual deveriam ser atribuídas, com culpabilidade,
certas ofensa, e, talvez, por um estranho processo mágico, que passa pelo humor
satírico, tudo seria consertado (ou na paranomásia de um concerto mais amplo);
o nome do bonequinho de doze metros? É Pixuleco. Aliás, este nome, associado à
imagem icônica, daria todo um trabalho intersemiótico Já dizia o Padre António Vieira:
"Com tais premissas ele sem dúvida leva-nos às primícias"
E o coração deixado
nos céus de Brasília pelo pessoal da esquadrilha da fumaça? O desfile das forças
militares.. um pequeno grupo pedindo a volta do regime militar... saíram
rápido... em Brasília, claro.
domingo, 6 de setembro de 2015
Revista E de Agosto entrevistou Jomard Muniz de Britto. Escritor, professor e cineasta fala sobre cinema pernambucano, cultura nordestina e a experiência de ter sido parte da equipe do educador Paulo Freire na década de 1960. Leia parte da entrevista
JOMARD MUNIZ DE BRITTO
ESCRITOR, PROFESSOR E CINEASTA FALA SOBRE CINEMA PERNAMBUCANO, CULTURA NORDESTINA E A EXPERIÊNCIA DE TER SIDO PARTE DA EQUIPE DO EDUCADOR PAULO FREIRE NA DÉCADA DE 1960
Intelectual de
diversas facetas, Jomard Muniz de Britto é escritor, poeta, cineasta e
professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Formado em Filosofia
pela Universidade do Recife (hoje UFPE), integrou a equipe inicial do Sistema
Paulo Freire de Educação de Adultos na década de 1960. Foi realizador de filmes
emblemáticos como O Palhaço Degolado (1977), assinou o histórico manifesto do
Movimento Tropicalista publicado em 1968 e é autor de livros como Do Modernismo
à Bossa Nova (Ateliê Editorial, 2009), Contradições do Homem Brasileiro (Tempo
Brasileiro, 1964), Atentados Poéticos (Edições Bagaço, 2002) e Arrecife de
Desejo (com João Denys; Editora Leviatã, 1994). Nesta entrevista, Jomard fala
sobre cultura, cinema pernambucano e educação no Brasil.
Você fez parte da equipe de Paulo Freire e acabou sendo afastado da universidade durante a ditadura. Como foi aquela experiência?
Nós, que éramos da
equipe inicial do Paulo Freire, fomos todos responder a um inquérito e fomos
aposentados. No meu caso, eu tinha 27 anos de idade e fui aposentado. Paulo
Freire lançou uma proposta muito curiosa em que não queria livros de leitura,
que ele achava que já estavam condicionados. Fazia-se antes uma pesquisa do
universo vocabular daqueles que seriam alfabetizados e a partir dali você via
quais palavras seriam debatidas dentro desse universo.
Para mim, o mais importante do Paulo Freire é que antes de entrar a palavra em discussão ele fazia uma apresentação sobre natureza e cultura, porque os não alfabetizados, com esse debate, chegavam à conclusão de que o ser humano, mesmo analfabeto, tinha cultura, produzia cultura. A novidade é que Paulo Freire introduziu o debate antropológico, porque eram os seres humanos diante da natureza e da cultura, como eles transformavam isso. Era tudo em círculos de cultura, não havia sala de aula. Para mim, essa é a grande originalidade do Paulo Freire.
Para mim, o mais importante do Paulo Freire é que antes de entrar a palavra em discussão ele fazia uma apresentação sobre natureza e cultura, porque os não alfabetizados, com esse debate, chegavam à conclusão de que o ser humano, mesmo analfabeto, tinha cultura, produzia cultura. A novidade é que Paulo Freire introduziu o debate antropológico, porque eram os seres humanos diante da natureza e da cultura, como eles transformavam isso. Era tudo em círculos de cultura, não havia sala de aula. Para mim, essa é a grande originalidade do Paulo Freire.
A educação, naquele momento no Brasil, dava cadeia. Hoje, mudou a visão sobre educação? Como você vê essa questão?
Nas décadas de 1960 e 1970, a palavra planejamento era considerada uma palavra perigosa, porque lembrava os planos quinquenais da Rússia, e quando o Celso Furtado falava em planejamento para o desenvolvimento, nas reformas de base, os golpistas não aceitavam nada disso por ser um processo de democratização. Os analfabetos não tinham direito ao voto e passariam a ter direito a voto. Ultimamente, o que eu vejo é que tem se enfatizado muito a importância da educação, junto da saúde e da segurança. O movimento maior que eu vi em relação a isso foi em junho de 2013, em que se falava da educação junto da saúde e da segurança.
Como professor aposentado, você acha que, no caso brasileiro, o caminho da modificação do Brasil continua sendo a educação?
Não é, porque nunca foi. No tempo do Paulo Freire, na década de 1960, não se dizia que a educação era tudo. Falava-se nas reformas de base, incluindo o processo educativo. Acho que a educação que se defende hoje é uma educação de atualização tecnológica. Acho que continua sendo tão politizado quanto na década de 1960. O problema do analfabetismo ainda continua, e é um problema sério. Não acho que exista nenhuma apropriação por governo nenhum da educação. As coisas hoje em dia não têm aquela preocupação de conscientização sociopolítica que havia na década de 1960. Hoje o Brasil é diferente e não sinto nenhuma tentativa de apropriação da educação dando uma nova tonalidade. A revolução da educação hoje é a internet, a atualização das coisas.
Quanto à internet e
essas tecnologias, como você observa que tudo isso pode ter modificado o sertão
nordestino?
Acho que ninguém tem nada ainda estudado sobre isso. Se você vai para o sertão, você vê mesmo as casas pobres com antenas parabólicas. Não estou dizendo que isso é bom nem ruim. São fontes de informação. A cultura regional nordestina como existia antigamente não existe mais. Ela existe nos folguedos, cirandas, bumba meu boi, que se movimentam, se transformam, se atualizam, são influenciados.
Tudo isso continua existindo, e é ótimo que isso esteja em transformação. Tem que estar. Agora não vamos ficar preocupados em rotular isso como sendo para melhor ou pior. Acho que é um processo. Você encontra pessoas morando no centro da cidade e muito ligadas a fazer poesia de cordel, que é uma coisa mais relacionada ao interior, a regiões mais afastadas. A poesia de cordel hoje em dia é objeto de doutorado na USP, então a literatura de cordel continua existindo e vai se transformando.
No interior de Pernambuco você encontra os cordelistas que fazem poesia dentro do esquema do cordel e usam a internet, estão antenados. As tecnologias vão atualizando essas culturas que antes a gente chamava de regionais. A coisa do regionalismo como existiu na década de 1930, 40 e 50 não existe mais. Não existe essa separação entre nordestino, regional e internacional. Tudo está existindo ao mesmo tempo.
Acho que ninguém tem nada ainda estudado sobre isso. Se você vai para o sertão, você vê mesmo as casas pobres com antenas parabólicas. Não estou dizendo que isso é bom nem ruim. São fontes de informação. A cultura regional nordestina como existia antigamente não existe mais. Ela existe nos folguedos, cirandas, bumba meu boi, que se movimentam, se transformam, se atualizam, são influenciados.
Tudo isso continua existindo, e é ótimo que isso esteja em transformação. Tem que estar. Agora não vamos ficar preocupados em rotular isso como sendo para melhor ou pior. Acho que é um processo. Você encontra pessoas morando no centro da cidade e muito ligadas a fazer poesia de cordel, que é uma coisa mais relacionada ao interior, a regiões mais afastadas. A poesia de cordel hoje em dia é objeto de doutorado na USP, então a literatura de cordel continua existindo e vai se transformando.
No interior de Pernambuco você encontra os cordelistas que fazem poesia dentro do esquema do cordel e usam a internet, estão antenados. As tecnologias vão atualizando essas culturas que antes a gente chamava de regionais. A coisa do regionalismo como existiu na década de 1930, 40 e 50 não existe mais. Não existe essa separação entre nordestino, regional e internacional. Tudo está existindo ao mesmo tempo.
Como fica a imagem do sertão diante disso tudo?
O regionalismo clássico da década de 1930 ficou lá. Essa imagem está estilhaçada. O sertão sobrevive, com toda a sua ancestralidade, mas essa ancestralidade convive com a contemporaneidade. A contemporaneidade é justamente o embaralhamento de tudo. O único que teve essa visão do Nordeste foi o Glauber Rocha, que é gênio. Agora o sertão não pode ser mais o de Euclides da Cunha [autor de Os Sertões] e nem mesmo o de Vidas Secas [livro de Graciliano Ramos]. Talvez o único que sobreviva na contemporaneidade é o sertão de Grande Sertão Veredas [livro de João Guimarães Rosa], porque psicanaliticamente trabalha com a linguagem e os significantes, não só com os significados.
Quanto ao cinema pernambucano, você observa alguma característica que una esses diversos diretores que surgiram no estado nas últimas décadas?
Não vejo isso. O Cinema Novo [movimento cinematográfico brasileiro criado nos anos 1950] por exemplo, com toda a diversidade tinha um ideário de pesquisar a linguagem para enfrentar a dominação dos cinemas nas salas de exibição. Havia uma unidade. Desde o Super-8 [movimento do cinema pernambucano que surgiu na década de 1970] duas tendências ficaram correndo paralelamente: uma linha mais documental, mais ligada ao realismo, digamos assim, e uma linha mais anarco-crítica.
Essas duas linhas do Super-8 estavam muito bem definidas. Hoje em dia a coisa é bem mais diversificada. Não diria que há um diálogo entre correntes. Cada cineasta tem a sua ou as suas propostas. É isso que eu gostaria que tivesse na abordagem da educação, esse pluralismo estético e ideológico.
A diversidade temática e estilística do cinema contemporâneo pernambucano pode ter influenciado o fato de esses cineastas estarem sendo premiados mundo afora? Isso brotou de onde?
O novo cinema pernambucano foi iniciado com Baile Perfumado (1996), um filme que vem com uma coisa da região, mas ao mesmo tempo com a mitologia, porque o Lampião já é uma figura mitológica. Acho que esse cinema sabe jogar com coisas que têm um enraizamento local, mas ao mesmo tempo um enraizamento planetário.
Todos esses cineastas passaram pelos cursos da universidade, mas todos têm a sua tendência própria, a sua pesquisa. Além disso, existe uma camaradagem. Esse grupo colabora entre si. Embora com as diferenças todas, há um sentido de colaborar.
No caso do cinema de Recife, existe uma urbanidade que aparece em diversos filmes. Que urbanidade é essa que se vê hoje no cinema de Pernambuco?
A característica principal é a das contradições. Digo que além das contradições são as contradicções, que é justamente você misturar o mito com o contramito, o ancestral com o contemporâneo, aquilo que tem um espírito de sublime com o grotesco. Mais do que uma bipolaridade, é uma transpolaridade. Toda obra de criação mostra a sua cidade e tenta descobrir a poeticidade do local, seja ela sublime ou grotesca.
O que me impressiona no cinema pernambucano são as estéticas e os olhares múltiplos. Uma coisa que acho que é pernambucana é a visão polêmica das coisas. Isso faz parte da nossa cultura. Esses filmes estão fazendo sucesso porque têm um toque que não é consensual. Não existe consenso, existe polêmica.
[...]
Essa contribuição do cinema pernambucano, que mostra uma realidade
de fora da visão do eixo Rio-São Paulo, é resultado de um Brasil contemporâneo?
E também das divisões culturais. Por exemplo, por que a Bahia, que tem cineastas incríveis na nova geração, não conseguiu ter a repercussão que o daqui teve? Aí entra um problema de marketing, entra a ligação entre cineastas e o pessoal da imprensa do Rio e de São Paulo. O cinema de Pernambuco conseguiu, realmente.
E também das divisões culturais. Por exemplo, por que a Bahia, que tem cineastas incríveis na nova geração, não conseguiu ter a repercussão que o daqui teve? Aí entra um problema de marketing, entra a ligação entre cineastas e o pessoal da imprensa do Rio e de São Paulo. O cinema de Pernambuco conseguiu, realmente.
O fundo setorial
para financiamento de audiovisual influenciou esse desenvolvimento em
Pernambuco?
Todos os estados têm esse financiamento, mas aqui isso foi muito cobrado. É interessante porque nos últimos anos as autoridades perceberam a importância desse setor do audiovisual para o próprio país. Há uma percepção de que o audiovisual conta a história e leva o país de uma maneira muito forte e muito fácil para diversos lugares.
Todos os estados têm esse financiamento, mas aqui isso foi muito cobrado. É interessante porque nos últimos anos as autoridades perceberam a importância desse setor do audiovisual para o próprio país. Há uma percepção de que o audiovisual conta a história e leva o país de uma maneira muito forte e muito fácil para diversos lugares.
“TODA OBRA DE CRIAÇÃO MOSTRA A SUA CIDADE E TENTA DESCOBRIR A POETICIDADE DO LOCAL, SEJA ELA SUBLIME OU GROTESCA. O QUE ME IMPRESSIONA NO CINEMA PERNAMBUCANO SÃO AS ESTÉTICAS E OS OLHARES MÚLTIPLOS”
“A CULTURA REGIONAL NORDESTINA COMO EXISTIA ANTIGAMENTE NÃO EXISTE MAIS. ELA EXISTE NOS FOLGUEDOS, CIRANDAS, BUMBA MEU BOI, QUE SE MOVIMENTAM, SE TRANSFORMAM, SE ATUALIZAM, SÃO INFLUENCIADOS. TUDO ISSO CONTINUA EXISTINDO, E É ÓTIMO QUE ISSO ESTEJA EM TRANSFORMAÇÃO”
“CADA CINEASTA [DO NOVO CINEMA PERNAMBUCANO] TEM A
SUA OU AS SUAS PROPOSTAS. É ISSO QUE EU GOSTARIA QUE TIVESSE NA ABORDAGEM DA
EDUCAÇÃO, ESSE PLURALISMO ESTÉTICO E IDEOLÓGICO”
“UMA COISA QUE ACHO QUE É PERNAMBUCANA É A VISÃO POLÊMICA DAS COISAS. ISSO FAZ PARTE DA NOSSA CULTURA. ESSES FILMES ESTÃO FAZENDO SUCESSO PORQUE TÊM UM TOQUE QUE NÃO É CONSENSUAL. NÃO EXISTE CONSENSO, EXISTE POLÊMICA”
“UMA COISA QUE ACHO QUE É PERNAMBUCANA É A VISÃO POLÊMICA DAS COISAS. ISSO FAZ PARTE DA NOSSA CULTURA. ESSES FILMES ESTÃO FAZENDO SUCESSO PORQUE TÊM UM TOQUE QUE NÃO É CONSENSUAL. NÃO EXISTE CONSENSO, EXISTE POLÊMICA”
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