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segunda-feira, 19 de maio de 2014

LINGUAGEM EM GRACILIANO RAMOS



"E falava uma linguagem cantada,
monossilábica e gutural, que o companheiro
entendia. . . Às vezes utilizava
nas relações com as pessoas a mesma
língua com que se dirigia aos brutos —
exclamações, onomatopeias. Na verdade
falava pouco." (Ramos 7, p. 22).
ele não sabe falar direito? (. . .) Às vezes
largava nomes arrevesados, por embromação.
Via perfeitamente que tudo
era besteira. Não podia arrumar o que
tinha no interior. Se pudesse. . . Ah!
Se pudesse , atacaria os soldados amarelos
que espancam as criaturas inofensivas."

"Aquela maneira de escrever comendo
os sinais indignou-me. Não dispenso
as vírgulas e os traços. Quereriam
fazer uma revolução sem vírgulas e traços?"

Esta preocupação com usos estilísticos,
entretanto, não se restringe à escrita;
ocorre também com relação ao discurso
oral de personagens. Ê o caso, por
exemplo, de Júlio Tavares em Angústia:
"Linguagem arrevesada, muitos adjetivos,
pensamento nenhum." (Ramos
6, p.42 — grifei). Ou então: "Tanta
empáfia, tanta lorota, tanto adjetivo
besta."


E assim, o código romanesco é de
várias maneiras problematizado na ficção
de Graciliano Ramos, numa crescente indagação
metalinguística que representa a
crise da perda da confiança na linguagem
(código e instrumento da literatura).
Mas que representa também uma marca
de modernidade.

Daí a importância desta postura extremamente
moderna de Graciliano Ramos,
que reflete sobre a sociedade, sobre
o mundo, através de uma reflexão
anterior sobre a linguagem da sociedade
e a da própria literatura.
A norma culta se impõe como padrão. O que não significa artificialismo.
Fala pouco e bem, ter-te-ão por alguém.
Seu Tomás da bolandeira: de que lhe serviu tanto livro? Morreu do estômago doente e das pernas fracas.


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