"E falava uma linguagem
cantada,
monossilábica e gutural, que o
companheiro
entendia. . . Às vezes
utilizava
nas relações com as pessoas a
mesma
língua com que se dirigia aos
brutos —
exclamações, onomatopeias. Na
verdade
falava pouco." (Ramos 7,
p. 22).
ele não sabe falar direito? (.
. .) Às vezes
largava nomes arrevesados, por
embromação.
Via perfeitamente que tudo
era besteira. Não podia
arrumar o que
tinha no interior. Se pudesse.
. . Ah!
Se pudesse , atacaria os
soldados amarelos
que espancam as criaturas
inofensivas."
"Aquela maneira de
escrever comendo
os sinais indignou-me. Não
dispenso
as vírgulas e os traços. Quereriam
fazer uma revolução sem
vírgulas e traços?"
Esta preocupação com usos
estilísticos,
entretanto, não se restringe à
escrita;
ocorre também com relação ao
discurso
oral de personagens. Ê o caso,
por
exemplo, de Júlio Tavares em Angústia:
"Linguagem arrevesada, muitos
adjetivos,
pensamento nenhum." (Ramos
6, p.42 — grifei). Ou então:
"Tanta
empáfia, tanta lorota, tanto
adjetivo
besta."
E assim, o código romanesco é
de
várias maneiras problematizado
na ficção
de Graciliano Ramos, numa
crescente indagação
metalinguística que representa
a
crise da perda da confiança na
linguagem
(código e instrumento da literatura).
Mas que representa também uma
marca
de modernidade.
Daí a importância desta
postura extremamente
moderna de Graciliano Ramos,
que reflete sobre a sociedade,
sobre
o mundo, através de uma
reflexão
anterior sobre a linguagem da
sociedade
e a da própria literatura.
A norma culta se impõe como
padrão. O que não significa artificialismo.
Fala pouco e bem, ter-te-ão
por alguém.
Seu Tomás da bolandeira: de
que lhe serviu tanto livro? Morreu do estômago doente e das pernas fracas.
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