Prof. Dr.
Moisés Monteiro de Melo Neto
(Universidade de Pernambuco. UPE, Universidade Estadual de Alagoas, UNEAL)
Prof. Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto
Penso na literatura como um generoso pacto
entre o autor e o leitor, mas acredito que escrever é transformar o real, e ensinar também é isto, num mundo que
pode passar bem sem a literatura e melhor ainda (risos e sisos) sem o homem. Que civilização é esta que
nós alimentamos direta ou indiretamente? Os livros correspondem a coisas para
as quais ainda não temos nomes. O professor de Literatura não pode imobilizar o
futuro na tradição das velhas estruturas. O meu amor pela literatura é
penetrante e perturbador. A literatura como mito vivo estava em vias de morrer,
ainda nos anos 1970, mas hoje ela está é mais viva do que nunca. Os sinais de
desuso ou de falta de fôlego não são tão fortes quanto podemos pensar, agora.
Lembrando que o “novo” pode ser repetitivo, principalmente dentro da arte mais
comum, hoje, a arte industrializada, consumida vorazmente. Não que eu seja tão
ortodoxo quanto Horkheimer e Adorno, mas tenho ojeriza ao modo como se dá a
mistificação das massas para glória da unificação de gosto para os consumidores
do atual sistema capitalista numa indústria de entretenimentos que apela para o
consumo fácil, vai ser muito difícil aparecerem escritores que através da
Literatura tentem uma transformação
inovadora da técnica narrativa ou da língua, como fez Guimarães Rosa.
Prof. Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto
O que pode um professor de Literatura, hoje?
Paradoxalmente os autores de hoje aproveitam conquistas do passado, mesmo sem
obedecer a regras. Longe vão os dias em que Kant anunciava que o juízo estético
é um juízo particular que almeja à universalidade. Se querem, por exemplo,
transformar a poesia, na forma de livros, num “inutensílio”, resta-nos, amantes
desta arte, o exercício da liberdade e a resistência suave dentro de uma
superada pós-modernidade. Livro serve para rir, chorar, assombrar, viajar,
pensar. Quanto a nós, professores de Literatura, que o futuro nos absorva e
absolva, pois nossa herança literária ainda nos intima à fidelidade, responsabilidade
com esta arte. E que a crítica universitária, a jornalística ou mesmo a dos
meios eletrônicos, mais individual e com fundamentos menos sólidos tentem dar
conta do seu estudo, pois uma obra literária sempre será uma pergunta ao mundo.
Então fico aqui pensando que entretenimento
é este que a literatura nos traz (dentre outras funções, como a educativa etc.)
nesta sociedade do espetáculo? Como destacar os atuais textos
superiores através do ensino nas escolas e universidades? O melhor critério talvez
seja mesmo o tempo. O que melhor podemos fazer é prolongar o trabalho dos bons
autores e fazer com que eles entrem nos nossos discursos ou que estejamos a
acrescentar-lhes páginas (a esta boa literatura, que nunca é totalmente clara e
é sentido suspenso), pois se a grande
obra não é dogmática, também o texto crítico não o deve ser.
Prof. Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto
A melhor literatura tem em si uma harmonia
que só o silêncio iguala. É um infinito de infinitos e os escritores maiores parecem místicos que não buscam mais alimento
neste mundo. há livros que nos libertam de toda expectativa todo desejo,
outros nos incitam a um vórtice que pode ser fatal, outros a cálculos de
probabilidades, há ainda os que nos tragam, quando os seguramos com a mão
enluvada da nossa consciência. Aí me questiono: por que o escritor se sente
compelido a escrever? Por que o lemos? Para encher o vazio com palavras?
Precisamos ler enfrentando lutas, como quem domestica animais voluntariosos, se
for necessário. Não há literatura sem umas boas doses de sacrifício. Quanto a
mim, ensino e escrevo literatura porque quero dar voz ao futuro.
O professor de
literatura deve alimentar o interesse pela leitura literária, e conscientizar a
todos que tal estudo passa, sim, pelo contemporâneo. Literatura tem lugar na
cultura digital. Literatura é lugar de saber, busca representar o
irrepresentável “real”, ela põe os signos em constante rotação, desautomatiza e valoriza as palavras.
Seu estudo/ ensino não deve se reduzir à linguística, retórica, estilística,
semiótica: ela não deve ser reduzida a isto. Ensinar literatura é ensinar a
ler. O mais simples aluno tem que sentir a potência da significação que ela
embute. Ela não é significado, ela opera interações com infinitas
possibilidades, nos faz conhecer o outro e a nós mesmos, em silêncio.
Desenvolve a capacidade de imaginar, criar imagens não icônicas. Capta níveis de percepção e fruição bem
diferente dos outros meios. Acreditar que a realidade dos jovens brasileiros de
hoje não permite literatura é uma injustiça social. Um livro tem muitas portas,
amplia horizontes, dá mais qualidades à vida do leitor. ipso facto (por isso
mesmo): longa vida a esta arte! E vamos celebrar com festa, trabalho e pão, porque ninguém é de ferro!
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